Segundo o
Relatório de Competitividade Global de 2012, o Brasil é o 53º país do mundo em inovação, cinco posições acima da que ocupa no
Índice Global de Inovação. O Barômetro Global da Inovação, que avalia a percepção do ambiente de inovação de 22 países, nos coloca no 17º lugar do grupo. Os dados são recentes, mas o quadro
nem tanto: apesar de ocupar posição louvável na
produção científica mundial (13ª), o Brasil ainda não cobriu o fosso que separa seu setor produtivo das universidades e segue com dificuldade de inovar.
As iniciativas, leis e políticas de estímulo e investimento que caracterizam o ambiente de inovação brasileiro foram o foco do Congresso da
Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica (Abipti), realizado na semana passada, em Brasília. Cientistas, representantes de instituições públicas de pesquisa e empresários discutiram aquele que consideram um dos principais gargalos nacionais: como transformar a excelência da pesquisa científica brasileira em práticas inovadoras.
“O Brasil tem boas bases científica e industrial, mas os dois caminhos se desenvolveram separadamente; as empresas nacionais nunca se preocuparam em competir no mercado global”, afirmou. “O papel das entidades de pesquisa, desenvolvimento e inovação é criar pontes entre os dois universos.”
Confira a opinião dos participantes do congresso sobre a evolução da inovação no Brasil
Beija sapo
Fechar esse ‘ciclo de inovação’ depende da superação da histórica aversão ao risco das empresas brasileiras. Segundo o diretor representante da
Fraunhofer no Brasil, Eckart Bierdümpel, somente cinco em cada mil ideias inovadoras conseguem ser lançadas com algum sucesso. “Ou seja, é preciso beijar muitos sapos para conseguir um príncipe”, completou.
Rezende: “Nas últimas décadas, as grandes questões eram a inflação e a qualidade. Só depois veio a inovação”
Para o presidente do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) Jorge Ávila, a criação de um ambiente favorável à inovação passa justamente pela redução do risco. “Isso pode ser alcançado por medidas como a coparticipação do Estado e a desoneração tributária, por exemplo”, destacou, “além de necessários avanços na área de
propriedade intelectual e industrial.”
O ex-ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação Sergio Rezende lembrou, no entanto, que a própria discussão sobre inovação é recente nas empresas. “Nas últimas décadas, as grandes questões eram a inflação e a qualidade. Só depois veio a inovação”, afirmou. “Em todo país com industrialização moderna, o governo teve papel central na criação de um ambiente favorável à inovação, com investimento educacional, estímulo à pesquisa nas empresas e à interação com a universidade, além de incentivos fiscais.”
Confira a opinião dos participantes do congresso sobre a posição do setor empresarial na cadeia de inovação
Um incentivo adicional à inovação pode estar nos resultados de uma pesquisa apresentada pela consultoria
Innoscience. O grupo acompanhou durante cinco anos as 31 empresas nacionais de capital aberto mais inovadoras e registrou uma valorização
100% maior de suas ações em relação às das empresas mais valiosas da Bolsa de Valores de São Paulo.
A política da inovação
Colocada como prioridade nos últimos governos, a inovação ganhou nos anos 2000 diversas regulamentações e iniciativas a ela direcionadas, como a própria
Lei de Inovação e a
Lei do Bem, que visam estimular a parceria público-privada e o investimento empresarial na área.
Mesmo com a proposta de elevar o investimento em C,T&I para 1,8% do PIB, governo realizou corte de mais de 20% no orçamento da área em 2012
Paradoxalmente, o país vive um
quadro de desaceleração da produção industrial nos últimos anos, destacado pelo gerente executivo de inovação e tecnologia da Confederação Nacional da Indústria, Jefferson Gomes. “Há algumas décadas, a indústria de transformação já representou quase 30% do PIB brasileiro, mas hoje não chega a 15%”, lamentou. Gomes apresentou o projeto de instalação dos
institutos Senai de inovação, que visam auxiliar as empresas brasileiras a inovar.
O próprio investimento governamental em ciência, tecnologia e inovação derrapou no início do ano. Mesmo tendo assumido o compromisso eleitoral de elevar o investimento na área para
1,8% do PIB até 2015, como lembrou Rezende, o governo federal
anunciou um corte de mais de 20% do orçamento da pasta para este ano – a princípio um reflexo da crise global que não sinaliza mudanças nos rumos da política nacional.
Confira a opinião dos participantes do congresso sobre a legislação e as políticas de inovação do Brasil
O presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) Glauco Arbix defendeu a prioridade de investimento em ciência, tecnologia e inovação, além da educação, nesse momento de crise. “Qualquer outro discurso é paliativo; precisamos agregar valor ao que produzimos ou continuaremos a viver de soluços.” Arbix também comentou sobre o
processo de transformação da Finep em uma agência de fomento, que poderá dar mais flexibilidade para a instituição atuar na gestão de risco tecnológico e no estímulo à inovação no país.
Marcelo Garcia
Ciência Hoje On-line