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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Raymond Aron: uma influência decisiva em minha formação - Paulo Roberto de Almeida

Um trabalho que permaneceu inédito até aqui:  

Raymond Aron: uma influência decisiva em minha formação

 

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.com)

Brasília, 18 de fevereiro de 2018

 [Objetivo: Respostas a consulta de professor da Faculdade de Educação da Unicamp, do Departamento de Ciências Sociais na Educação da UniCampfinalidadeinfluência de Raymond Aron no meu trabalho intelectual.]

 

 

1. Introdução: consulta sobre Raymond Aron

 

Este roteiro de questões diz respeito tanto à pesquisa de mestrado (...) sobre a influência do pensamento de Raymond Aron (1905-1983) na consolidação do pioneiro programa de Pós-graduação em Relações Internacionais na UnB na década de 1970 - que se encontra em andamento no Programa de Pós-graduação em Educação da Unicamp, quanto às pesquisas do orientador do estudo (...) centradas no pensamento político e sociológico de Aron.

A proposta de trabalho de mestrado (...) centra-se, de um lado, no exame do conjunto de teses e dissertações defendidas na UnB tendo como parâmetro o uso dos conceitos aronianos a partir das principais obras que dedicou às RI – Paz e Guerra entre as Nações (1962) e Pensar a Guerra: Clausewitz (1976) e, de outro, na influência mais ampla de seu pensamento no Brasil, em especial a partir de meados da década de 1970 -  culminando com sua visita ao país em um seminário promovido pela UnB em 1980.

Aron é sempre citado como exemplo de potência e coerência intelectual. A maneira pela qual sustentou posições liberais num contexto de franco alinhamento político e ideológico dos mais importantes intelectuais de sua época com o marxismo em suas diversas expressões (em especial na França) acabaram por inverter, após a sua morte em 1983, a máxima segundo a qual seria “preferível errar com Sartre a acertar com Aron”.

Autor de diversos interesses, Aron não fez escola em nenhuma das áreas a que se dedicou intelectualmente: nem o filósofo promissor que publicava, já em 1938, o opus Introduction à la philosophie de l’histoire, nem o sociólogo e analista político autor de livros monumentais e tampouco o influente teórico das RI. O maior legado de Aron, para além do conjunto de uma obra a um só tempo fragmentária e erudita (de alguém que também escreveu por 35 anos na imprensa francesa), parece ter sido o engajamento de uma vida em nome de valores inegociáveis.

No Brasil, a influência de seu pensamento ainda não foi devidamente mensurada ou estudada. O clássico As etapas do pensamento sociológico (1967) é adotado como livro base na maior parte dos cursos de introdução à sociologia, ao passo que a sua trilogia sobre a sociedade industrial, conjunto de aulas proferidas na Sorbonne da década de 1950 que foram publicadas na década subsequente, já não aparece com a mesma regularidade de outrora à guisa de leitura obrigatória para os estudantes brasileiros de ciências sociais. Via de regra, Aron é menos associado às obras que escreveu que aos posicionamentos políticos que em vida assumiu.

O primeiro contato de Aron com o Brasil ocorre da década de 1930, quando Júlio de Mesquita Filho o procura em Paris aparentemente interessado no estudo dos filósofos alemães. Daí floresceria uma amizade que resultaria na colaboração com O Estado de S. Paulo por quase duas décadas (268 artigos no total entre 1960 e 1980). A primeira visita de Aron ao Brasil ocorre em 1962, entre os dias 12 a 28 de setembro. Amplamente noticiada por diversos jornais brasileiros, a visita parece estar relacionada ao contexto político internacional, mais especificamente ao encontro do então presidente Goulart com Kennedy, nos Estados Unidos - mediado por Roberto Campos, que servia à época na embaixada em Washington. Neste período, Aron gozava de um período sabático em Harvard, no qual se dedicava à escrita de Paz e Guerra entre as Nações. Bem relacionado com as autoridades norte americanas e amigo pessoal do assessor da presidência americana Henry Kissinger (que também visita o Brasil no mesmo ano), Aron desembarca no Rio de Janeiro e, recepcionado pelo diplomata Francisco Lima e Silva, realiza diversas palestras e conferências em universidades e em órgãos públicos. 

A palestra proferida no Itamaraty tem como assunto o Mercado Comum Europeu, mesma pauta da conversa de Kissinger com Celso Furtado na Sudene e também de Goulart com Kennedy. O programa Aliança para o Progresso, lançado por Kennedy em 1961 com o propósito de supostamente desenvolver o progresso econômico da américa latina e refrear o avanço do comunismo, representa o pano de fundo para todas as ações deste cenário.

A segunda visita de Aron ao Brasil ocorre em 1980 como principal convidado do evento patrocinado pela UnB sob o título de “Encontros Internacionais”. Esses encontros ocorreram entre 1976 e 1984 e contaram com a participação de mais de cinquenta intelectuais de diversos países, entre eles Karl Deutsch, Henry Kissinger, Ernest Gelner, F. A. Hayek, Laszek Kolakowski, Maurice Duverger, Robert Dahl, Giovanni Sartori, Hélio Jaguaribe, Celso Lafer, Norberto Bobbio, Afonso Arinos, Gilberto Freyre entre outros.  As conferências realizadas por Aron no encontro, assim como as entrevistas aos jornais e os textos dos intelectuais convidados como debatedores foram reunidos no livro Raymond Aron na UnB: Conferência e comentário de um simpósio internacional realizado de 22 a 26 de setembro em 1980, publicado no mesmo ano pela editora da UnB. Após o compromisso em Brasília, Aron viaja a São Paulo onde, recepcionado pelo neto de Júlio de Mesquita, o então jovem jornalista Fernão Lara Mesquita, proferiu palestras no jornal O Estado de S. Paulo

Aron teve algumas de suas principais obras publicadas no Brasil pela coleção “Pensamento Político”, editada pela Editora da UnB na década de 1980 – O ópio dos intelectuais (1980), Estudos Políticos (1985), Paz e guerra entre as nações (1986) e Pensar a guerra, Clausewitz (1986) – com prefácios, respectivamente, de intelectuais ligados a ele por laços de amizade ou admiração intelectual: Roberto Campos, José Guilherme Merquior e Antonio Paim – este tanto para Paz e Guerra como para Clausewitz.

Tendo em vista o panorama brevemente descrito, as relações intelectuais e políticas de Aron pensadores brasileiros, bem como a influência que exerceu como pensador liberal nesse período, propomos algumas questões que serão trabalhadas nas pesquisas em andamento sobre Aron e a influência de seu pensamento no Brasil.

 

2. Respostas de Paulo Roberto de Almeida às questões recebidas:

 

I.       Como se deu o seu primeiro contato com Raymond Aron ou com a sua obra? Em quais circunstâncias?

 

PRA: Meu primeiro contato com a obra e o pensamento de Raymond Aron se deu ainda em meados dos anos 1960, jovem adolescente frequentando o “colegial” (ou seja, a segunda etapa do secundário, ou curso médio, depois do ginasial, no então chamado “clássico”, em contraposição ao “científico”, preparatório ao terceiro ciclo de estudos), mas já leitor de obras típicas dos cursos universitários em humanidades. Estudando de noite e trabalhando de dia, eu comprava o jornal “reacionário” O Estado de S. Paulo todos os fins de semana, especialmente aos domingos, interessado nos suplementos culturais do sábado, e nos grandes artigos internacionais do domingo. Minha atenção para os temas internacionais tinha sido despertada pouco tempo antes por uma palestra do cientista político e editorialista do Estadão Oliveiros da Silva Ferreira, feita ainda no ginásio (em 1964 ou 1965), sobre a crise dos foguetes soviéticos em Cuba e o contexto geral da Guerra Fria. A partir desse momento, passei a comprar o Estadão nas bancas, todo fim de semana, e passava as tardes lendo e estudando os grandes artigos traduzidos de grandes intelectuais internacionais. Entre eles se encontrava obviamente Raymond Aron, e ao que me lembre eram artigos traduzidos do semanário L’Express ou de outros periódicos publicados na França. Nessa época, eram poucas as revistas brasileiras sobre temas internacionais, e eu ignorava obviamente a existência da Revista Brasileira de Política Internacional, publicada no Rio de Janeiro desde 1958, mas que não circulava nos circuitos comerciais de varejo. Foi nas páginas do Estadão de domingo, portanto, que eu tomei contato, pela primeira vez, com os artigos eruditos de Raymond Aron e de Roberto Campos, duas leituras obrigatórias, ainda que com grandes restrições de caráter ideológico, uma vez que eu me considerava um aderente precoce da doutrina marxista, e portanto “inimigo” do pensamento de “direita” representado pelos dois intelectuais. Este foi o meu primeiro contato com as ideias “direitistas” de Raymond Aron, intelectual que nunca deixei de ler, mesmo tentando me contrapor, como também era o caso em relação a Roberto Campos, aos seus argumentos enquadrados no pensamento geopolítico da Guerra Fria, durante a qual eu mantinha um posicionamento anticapitalista, mesmo sem necessariamente aderir ao comunismo de tipo soviético, que sempre desprezei. 

 

II.     Em sua opinião, qual a influência do pensamento de Aron tendo em vista as temáticas intelectuais às quais ele se dedicou?

 

PRA: Posso dizer que essa influência foi enorme, mesmo a contragosto, se ouso dizer, uma vez que, numa primeira fase, o marxismo juvenil, de certo modo ingênuo, me levava a considerar que o lado correto era o do intelectual esquerdista Jean-Paul Sartre, não o de Raymond Aron, classificado entre os partidários da “direita”. Pouco antes de sair do Brasil, no final de 1970, em direção à Europa, eu já considerava indispensável ler suas obras, que conhecia de nome, mas que ainda não havia lido nem em francês – língua que eu dominava mal – nem em eventuais traduções em português, que ignorava existir. Sabia de seus livros resultantes das aulas na Sorbonne desde meados dos anos 1950, mas não tinha tido ainda oportunidade de ler.

Estimo que sua influência foi apenas parcialmente importante, no conjunto da academia até o final dos anos 1960, ou até mais além, uma vez que as humanidades no Brasil sempre estiveram bem mais vinculadas ao pensamento marxista do que às teses e argumentos “atlantistas” ou “liberais” de intelectuais como Raymond Aron ou, no caso, brasileiro, Roberto Campos, Eugênio Gudin, ou outros. Ainda se achava basicamente correta a postura de “estar errado com Jean-Paul Sartre, em lugar de acertar com Raymond Aron”, e 1968 era considerado um passo na direção correta, a de recusar a sociedade burguesa e construir uma sociedade solidária; esta não estava alinhada com as posturas do comunismo tradicional, mas sim com a Escola de Frankfurt, com Herbert Marcuse, com Wilhelm Reich e outros teóricos libertários. 

Na época “áurea” da Guerra Fria, Raymond Aron estava estritamente alinhado com os esquemas atlantistas da OTAN e dos EUA, então envolvidos na guerra do Vietnã, e portanto condenados por toda a esquerda mundial, da qual, uma parte pelo menos apoiava a “revolução cultural” da China de Mao, considerada uma etapa superior de construção do comunismo, acima do burocratismo do sistema soviético. Nesse contexto, Aron era cultivado apenas num pequeno circulo de iniciados, uma vez que a maior parte dos acadêmicos se alinhava com as posições “progressistas” da esquerda ocidental. 

 

III.   Aron ainda pode ser considerado, em termos intelectuais, autor atual e influente?

 

PRA: Absolutamente: todas as suas obras, sejam as de filosofia da história, ou as de sociologia industrial, e ainda as de geopolítica no contexto das doutrinas realistas, são pertinentes e indispensáveis a um debate intelectual da mais alta qualidade sobre os problemas sociais, políticos e geopolíticos das sociedades contemporâneas, mesmo no pós-Guerra Fria, uma vez que as características e tendências fundamentais da geopolítica mundial, e das sociedades industriais permanecem válidas mesmo após o declínio irresistível dos projetos socialistas de cunho marxista-leninista. Aron preserva uma lucidez impressionante em relação ao simples debate entre liberais e socialistas de cunho reformista (lassalianos, fabianos, ou seja II Internacional), e mantém coerência em relação às escolhas fundamentais que devem ser feitas no plano interno (democracia de mercado) e no contexto internacional (defesa dos valores ocidentais, contra propostas autoritárias de ordenamento político e social). 

 

IV.    Quando aluno, Aron aparecia como bibliografia nos cursos de graduação e/ou pós-graduação que você frequentou? Como professor, você utiliza ou utilizou obras de Aron como bibliografia em cursos de graduação e/ou pós-graduação? Nos dois casos, quais obras?

 

PRA: Frequentando cursos de Ciências Sociais no Brasil (USP) e no exterior (ULB, em Bruxelas), não me lembro de ter sido recomendado expressamente a ler Raymond Aron, mas como ele era um referência indispensável nos debates políticos da época, fui levado a buscar voluntariamente seus livros sobre a sociedade industrial, e seus debates com os intelectuais marxistas. Nessa época, início dos anos 1970, ainda procurava me alinhar mais com os autores marxistas (sobretudo da Europa ocidental), mas nunca deixei de ler Raymond Aron, como o contraponto necessário aos argumentos dessa linha. Junto com Aron, lia Karl Popper e outros “liberais”, embora tendesse a aderir bem mais às teses anticapitalistas dos socialistas franceses e ingleses, tipo Nikos Poulantzas, Christopher Hill, Perry Anderson e outros. Aron era o antagonista preferido de toda essa tropa de marxistas acadêmicos, aos quais eu aderia residualmente, sem deixar de me referir a Aron (ou Alain Peyrefitte, por exemplo) em sua contestação às principais teses dos esquerdistas. Aos poucos, Aron deixou de ser o “inimigo ideológico” para se converter no “adversário político”, mais adiante convertido em “interlocutor indispensável”, nas reflexões sobre as vias abertas às sociedades do Ocidente e as do Terceiro Mundo.

 

V.      Durante sua segunda visita ao Brasil, em 1980, Aron foi a figura central do simpósio “Raymond Aron na UnB”. Em relação ao homenageado, em sua opinião e tendo em vista o contexto da época, quais as principais motivações para o convite? Em que medida, tais motivações teriam estado ligadas ao contexto político nacional (início do processo de redemocratização) e ao contexto internacional, ainda marcado pela tensão bipolar entre os EUA e a URSS - para além das questões propriamente intelectuais?

 

PRA: Nessa fase, início dos anos 1980, eu já tinha ingressado na carreira diplomática (desde 1977) e me encontrava em postos no exterior, de 1979 a 1984, entre Berna e Belgrado, e tinha retomado minha tese de doutoramento em sociologia política, iniciada em 1976, mas interrompida em 1977 na volta ao Brasil. Posso dizer que Aron foi decisivo no plano puramente bibliográfico, pois passei todos esses anos lendo uma enorme bibliografia em história e sociologia, para completar uma tese sobre as revoluções burguesas, mas num sentido totalmente contrário ao que tinha quando fiz o projeto e iniciei os trabalhos entre 1976 e 1977. Não só Aron, mas Weber, Fernand Braudel, Barrington Moore Jr., Albert Hirschman, os revisionistas históricos sobre as revoluções burguesas, influenciaram minha conversão do marxismo acadêmico a uma análise mais realista dos processos políticos e sociais que levaram as sociedades do Ocidente moderno a sistemas políticos pluralistas e abertos. Aron, entre vários outros, foi essencial nessa revisão interpretativa sobre a natureza do poder político e suas relações com a base social e econômica no processo de modernização contemporânea.

Não tomei conhecimento da vinda de Raymond Aron ao Brasil senão depois de 1985, ao retomar ao Brasil e começar a dar aulas na UnB e no Instituto Rio Branco (a academia diplomática do Itamaraty) de sociologia política, exatamente. Aron era, não preciso dizer, uma referência indispensável, junto com Weber, Marx e outros teóricos, na construção das aulas e nas reflexões sobre nossa transição democrática pós-regime militar. Foi nesse momento que abandonei completamente os esquemas marxistas de reflexão em favor de uma visão mais eclética, inevitavelmente influenciada por intelectuais como Raymond Aron.

 

VI.    Também à época de sua segunda visita, a Editora da UnB traduziu e publicou a principal obra de Aron dedicada ao tema das relações internacionais, Paz e Guerra entre as nações, além de diversos outros títulos de autores tidos como conservadores ou liberais. Em sua opinião, qual a importância deste esforço editorial tendo em vista o ambiente intelectual brasileiro da época?

 

PRA: O esforço empreendido no âmbito da UnB, sobretudo por um dos integrantes do Conselho Editorial da Editora da UnB, o diplomata Carlos Henrique Cardim, foi absolutamente magnífico, no sentido de trazer ao Brasil as mais importantes obras do pensamento político e de relações internacionais, até então inacessíveis ao público local, em especial os cientistas sociais brasileiros. Simplesmente não se tinha acesso a essas obras, a não ser trazidas do exterior pelos próprios acadêmicos que estudavam fora, mas os estudantes estavam praticamente excluídos desse universo. De repente, no espaço de poucos anos – primeira metade dos anos 1980 – todas essas obras ficaram disponíveis, com traduções de qualidade, feitas por diplomatas e professores. Se quisermos mensurar esse aporte em termos de PIB intelectual, pode-se dizer que a riqueza intelectual trazida por essas edições situou-se na faixa de 10 a 20% de acréscimos bibliográficos, senão mais. Mas não só as edições: a própria presença de eminentes intelectuais trazidos para debates pessoais com acadêmicos brasileiros representou um empreendimento intelectual até hoje inigualado nas proporções que essas iniciativas da UnB representaram à época e nos anos subsequentes. A série “[Fulano] na UnB” ofereceu uma apresentação sintética do pensamento de cada um dos intelectuais trazidos ao Brasil, que pode ser considerada inédita no plano mundial, uma vez que não existe depoimentos do gênero dos que foram feitos na UnB nas edições estrangeiras.

 

VII.  O livro ‘Paz e Guerra entre as nações’ foi adotado pelo MEC como leitura obrigatória nos cursos de graduação em relações internacionais a partir dos anos 2000. Como você avalia a influência desta obra em particular para o campo das RI? Aron pode ser considerado um autor original ou influente a partir das reflexões contidas no livro?

 

PRA: Os poucos geopolíticos existentes no Brasil, mas muitos outros professores de relações internacionais, são obrigados a recorrer ao pensamento de Aron, pois ele é incontornável no debate a respeito das grandes questões da guerra e da paz no plano mundial. A bibliografia necessariamente parte de Morgenthau e vai diretamente a Aron, como referência indispensável na discussão da temática geopolítica. O seu realismo “frio”, construído a partir de uma potência de primeiro plano, mas diminuída depois dos conflitos napoleônicos (clausewitzianos) e sobretudo com a ascensão da Alemanha, oferece um contraponto necessário à bipolaridade da era nuclear capitaneada pelos EUA e pela União Soviética. Nesse contexto bipolar, a França foi a nação que escolheu ter uma defesa própria, independente do campo ocidental, e com isso representa um tipo de soberanismo geopolítico talvez adequado a um país como o Brasil, também cioso de sua autonomia em relação aos blocos então existentes.

 

VIII.       Ainda no campo dos estudos das relações internacionais, Aron alinha-se à tradição dos pensadores realistas. Poderíamos vislumbrar afinidades eletivas entre o pensamento reinante no Itamaraty, cuja origem remete a Paulino Soares de Sousa, o Visconde de Uruguai - leitor sistemático de Tocqueville, e as posições liberais que Aron sustentou ao longo do século XX?

 

PRA: Aron era o que eu chamo de “realista flexível”, ou seja, consciente de que o equilíbrio entre grandes potências e potências médias, ainda que fortes (como a França), não poderia ser estudado e considerado apenas com base em premissas teóricas, mas sobretudo com base num itinerário específico no plano das experiências concretas. Essa era, também, a perspectiva de Tocqueville, que estudou os Estados Unidos em sua dimensão própria, ainda que contrapondo suas estruturas políticas e sociais às de sua França e Europa aristocráticas – ainda que transformadas, ambas, pelas grandes rupturas da revolução e da era napoleônica – e podia assim fazer uma análise original da formação política e social americana, apontando-a como o futuro da Europa igualmente (no que estava enganado). Aron tinha plena consciência do quantum de liberdade que os homens e as sociedades dispõem para determinar o seu futuro, e não alimentava nenhum determinismo fatalístico quanto a isso. Sua compreensão da doutrina marxista, e também da weberiana, o habilitava a distinguir os imponderáveis da história.

Nisso, ele foi totalmente distinto dos demais intelectuais franceses (ou de quaisquer outros países) de gabinete, pois temperava suas leituras dos clássicos e contemporâneos com uma reflexão original sobre os itinerários concretos das sociedades. Importante nessa originalidade teórico-prática foi a sua estada na Alemanha no início dos anos 1930, quando assistiu à ascensão do nazismo, constatando a deriva de algumas sociedades para o populismo, a demagogia, o autoritarismo e outras falácias e tragédias, o que o colocou à frente de todos os demais intelectuais puramente acadêmicos. Sua estada em Londres, durante a guerra, também foi importante ao dar uma dimensão eclética ao seu pensamento, absolutamente original no contexto francês. 

Não estou habilitado a avaliar, por não conhecer, essa influência de Tocqueville nas concepções do grande diplomata que foi Paulino Soares de Souza, certamente um dos maiores diplomatas do Império, junto com Miguel da Silva Paranhos, o Visconde do Rio Branco. Todos eles foram realistas flexíveis, podendo ser considerados, nesse sentido, “aronianos avant la lettre”, como também o foi o filho do Visconde, o Barão do Rio Branco, menos doutrinário do que Rui Barbosa, por exemplo. Nenhum deles têm sucessores claros no século XX, a não ser parcialmente: Oswaldo Aranha, um realista sem qualquer elaboração doutrinal (a não ser um estrategista instintivo), San Tiago Dantas, um pensador original, infelizmente desaparecido precocemente, e talvez Roberto Campos, um realista da tecnocracia planejadora antes de se converter em um liberal pragmático; pode-se agregar o nome de José Guilherme Merquior, mas este bem mais no terreno teórico do que prático. Todos eles passaram a integrar plenamente minhas reflexões de natureza política, econômica e geopolítica, e meus escritos.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 18 de fevereiro de 2018

 

sábado, 16 de maio de 2015

Os tremeliques de um departamento de filosofia: solidariedade ou pesames aos alunos?

Caro Leitor,
Você que é uma pessoa culta, ou pelo menos medianamente bem informada -- do contrário não estaria lendo este post agora -- sabe distinguir algo compreensível de outro algo meio arrevesado, digamos assim, ou então muito estranho, bizarro, ou diretamente imcompreensível.
Pois bem, sendo uma pessoa racional, tente entender o que pretende o autor desta peça filosófica cujo resumo apresento a seguir:

Trata-se de discutir a centralidade do trabalho como categoria de reconhecimento através da problematização de sua natureza disciplinar. Isto nos levará a um duplo movimento: primeiro, a categoria de trabalho em Marx será relida à luz não apenas da temática da espoliação econômica da mais-valia, mas também da espoliação psíquica das relações de estranhamento (unheimlichkeit) entre sujeito e objeto; segundo, as modificações recentes no mundo do trabalho e as modalidades de sofrimento psíquico a elas associadas serão interpretadas a partir do impacto social de tal forma de espoliação.

Entendeu?
Não entendeu?

Quem sabe pelo título, e pelas palavras chave você poderá penetrar nos arcanos do pensamento do seu autor:

O trabalho do impróprio e os afetos da flexibilização

Não entendeu ainda?
Deixe-me ajudá-lo. Vou colocar o título em inglês, pelo meno no inglês do autor, e quem sabe você agora descobre o que está tentando nos dizer esse autor tão profundo:

The Labor of Improper and the Affections of Flexibilization

E com as palavras-chave, dá para entender?

Depressão. Flexibilização. Trabalho. Reconhecimento. Marx.

Não deu ainda, mas não se preocupe, o problema não está com você, mas com quem tortura os seus alunos com coisas como essa aí.
Pois é, eu entendi o que quer dizer o autor, mas o que ele quer dizer é tão confuso, apenas um amálgama de palavras, que simplesmente não significa absolutamente nada.

Minha solidariedade, e ao mesmo tempo meus pêsames aos alunos do professor em questão. Sua disciplina já tinha falecido há muito tempo, mas esqueceram de enterrar.
Um dia isso acontece...
Paulo Roberto de Almeida

terça-feira, 3 de junho de 2014

Crise do Capital e Fundo Publico: uma pesquisa recusada pela Capes, porser uma piada pronta...

...mas iria custar muito aos fundos publicos: mais de 430 mil reais do seu, do meu, do nosso dinheiro.
O argumento indignado dos autores do projeto aloprado representa uma confirmação do acertado da recusa da Capes.
Leiam.
Paulo Roberto de Almeida 

Compas
Divulgar amplamente
Abs [Fulana]


A tod@s
Todo apoio às (aos) companheir@s pesquisadorxs. Inadmissível uma Agência de fomento à pesquisa dar um parecer pautada em preconceito e negação de um método de conhecimento, análise e interpretação da realidade, o materialismo histórico e dialético. Sugiro além dos questionamentos à Capes, um posicionamento de nossas entidades contrários à essa postura obscurantista que nega a possibilidade do pluralismo, da crítica e da contribuição científica ao pensamento e à práxis.
Lamentável a postura dos pareceristas da CAPES, destituida de qualquer argumento científico Pela liberdade de expressão, manifestação e perspectiva crítica face a realidade social.
Professora Xxxxxxxxx Xxxxxxxxx - Coordenadora do NEAM-Núcleo de Estudos e Aprofundamentos Marxistas-Pós Graduação da PUCSP
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Prezados/as Pesquisadores/as do Serviço Social Brasileiro,

É com muita tristeza e indignação que socializamos com todos/as vocês o parecer da CAPES relativo ao Projeto "Crise do Capital e Fundo Públioco: Implicações para o Trabalho, os Direitos e as Políticas Sociais", apresentado ao Edital Procad 071/2013.
O Projeto envolve a UnB, UERJ e UFRN, 19 docentes, 09 doutorandos/as, 15 mestrandos/as e 27 graduados/as

Nossa indignação não se refere à não recomendação em si, mas à justificativa utilizada pelo parecerista: o projeto não teria mérito técnico-científico porque fundamentado no método dialético-materialista histórico, o qual o parecerista não considera científico. A partir deste posicionamento ideológico e político, e não científico, todos os demais quesitos foram desqualificados superficial e inconsistentemente pelo parecerista, como vcs podem ler no parecer que socializamos em anexo.

No dia 30 de maio, conforme o Edital, impetramos recurso na plataforma Sicapes. Contudo, o espaço disponível de apenas 5000 caracteres com espaço não nos permitiu a exposição de motivos que demonstra, em detalhes, o caráter anticientífico, sectário e desrespeitoso para com as Ciências Humanas e Sociais, o projeto e seus autores. Por isso, enviamos um documento de recurso mais detalhado ao presidente da CAPES e o socializamos em anexo. 
 
A equipe de docentes do Projeto decidiu denunciar este inaceitável patrulhamento ideológico e tratamento desrespeitoso a todos que adotam o método crítico dialético, dentro e fora da nossa área.  

Vocês verão que não se trata apenas de recusar um projeto, mas de desqualificar qualquer pesquisa fundada nessa perspectiva, tratada como não científica e, portanto, desprovida de mérito técnico científico.

Neste momento, nos importa fundamentalmente denunciar esse impropério e defender veementemente a pluralidade, liberdade ideopolítica e o respeito ao método dialético marxista, e a todo seu legado científico, que tanto vem contribuindo para pensar criticamente a sociedade brasileira, a crise contemporânea e seus dilemas.

Vale registrar, também, que nenhum projeto do Serviço Social foi aprovado neste Edital, e que dos 62 aprovados, mais de 90% são das áreas de exatas e biomédicas.

Por fim, pedimos que este email e seus anexos sejam amplamente divulgados nas ciências sociais em geral, pois este fato mostra o ambiente hostil ao pensamento crítico.

O parecer: 

Instituição Proponente: Crise do Capital e Fundo Público: implicações para o trabalho, os direitos e a política social
Valor solicitado: R$ 437.203,37

Etapa realizada: Análise de Mérito
Observação do item: Projeto afirma basear-se no método marxista histórico-dialética. Julgo q a utilização deste método não garante os requisitos necessários para que se alcance os objetivos do método científico

Observação do item: Considerando a metodologia a ser empregada - cujos requisitos científicos não tem unanimidade - a proposta pode ser considerada pouco relevante.

Item: Contribuição para a Educação Básica
Observação do item: Não se aplica
Item: Formação e aperfeiçoamento de recursos humanos
Observação do item: Sim, entretanto, a formação proposta estaria no âmbito do método marxista histórico-dialético, cuja contribuição 'a ciencia brasileira parece duvidosa.
Item: Importância do projeto em níveis institucional, regional e nacional
Observação do item: O consenso sobre a importância científica do projeto não é consensual

Observações da Coordenação: Justificativa para a não recomendação da proposta: as equipes proponentes e associadas acabaram de participar de um PROCAD com duração de 4 anos; diante do elevado número de propostas com mérito que ainda não participaram do Programa, parece de bom senso que esta não seja contemplada.

O recurso das "pesquisadoras": 

Recurso ao Parecer de Análise de Mérito Emitido pela CAPES/PROCAD ao Projeto “Crise do
capital e fundo público: implicações para o trabalho, os direitos e as políticas sociais”

Ref. Edital n. 071/2013 – Programa Nacional de Cooperação Acadêmica 2013
Projeto: Crise do capital e fundo público: implicações para o trabalho, os direitos e as políticas sociais
N0 da Proposta: 163936

Contestação ao Parecer Geral
A equipe do Projeto “Crise do capital e fundo público: implicações para o trabalho, os direitos e as políticas sociais” - composta por 03 Instituições de Ensino Superior Públicas (UnB, ERJ e UFRN), 19 docentes pesquisadores (sendo 4 pesquisadores bolsistas PQ do CNPq), 09  doutorandos/as, 15 mestrandos/as e 27 discentes da graduação, vem apresentar recurso ao parecer negativo à recomendação da proposta apresentada.
O parecer da análise do mérito não recomenda a Proposta sob a seguinte justificativa: “as equipes proponentes e associadas acabaram de participar de um PROCAD com duração de 4 anos; diante do elevado número de propostas com mérito que ainda não participaram do Programa, parece bom senso que esta não seja recomendada”. A nota atribuída à Proposta foi 77,5.
Este parecer foi repetido nas “Observações da Coordenação” e validado pela Coordenação Geral, que se pronuncia: “De acordo com o parecer de mérito”. Ou seja, com base no disposto no parecer disponibilizado na plataforma SICAPES, fica evidente que a avaliação de mérito foi emitido por um (ou mais de um, o que não fica claro no formulário) parecerista e avalizado por duas instâncias de Coordenação da CAPES.
A equipe considera que o argumento acima apontado não tem fundamentação legal, além de ser improcedente, e não pode ser utilizado para justificar a não recomendação da referida Proposta, pelos seguintes motivos:
1. O Edital 071/2013 não apresenta como critério de recomendação e/ou não recomendação a participação anterior em outros editais PROCAD. Se a CAPES tivesse por política priorizar grupos e/ou docentes que não tiveram projetos aprovados por mérito em outros editais, este deveria ser um item estabelecido neste edital. Nenhum concurso público, seleção ou edital público pode se reger pelo “bom senso”, de caráter eminentemente subjetivo. Introduzir o “bom senso” como critério de não recomendação ao final do processo, inclusive penalizando...

(seguem mais páginas e páginas de besteirol, inclusive o que vai abaixo)

Parecer: “Sim, entretanto, a formação proposta estaria no âmbito do método marxista histórico-dialético, cuja contribuição `a ciência brasileira parece duvidosa” (erro de digitação está no texto do parecer)
Questionamento: A natureza deste parecer é absolutamente tendenciosa, ideologicamente posicionada e preconceituosamente desrespeitosa com as ciências humanas e sociais e sua incorporação histórica do método dialético materialista. Não podemos aceitar que a CAPES mobilize pareceristas e avaliadores que desconheçam a importância de contribuições históricas fundadas neste método para a compreensão da realidade brasileira e mundial. E mais do que isso, que avalize posições que negam, desconsideram e desrespeitam uma importante tradição teórico-metodológica no Brasil e no mundo. Não se trata aqui de solicitar que o parecerista e a CAPES concordem com tal abordagem, mas de questionar o desconhecimento e/ou desrespeito a este Método. Já argumentamos suficientemente sobre seu caráter científico quando questionamos o item 1 do parecer. Aqui, vamos nos deter na argumentação que afirma que o uso deste método teria uma contribuição “duvidosa” para a ciência brasileira. Podemos começar perguntando à CAPES o que seria das ciências sociais e do estudo da Formação Social, Econômica e Política Brasileira se não dispusessem de obras de autores como Florestan Fernandes, Caio Prado, Octávio Ianni, Paulo Freire, Carlos Nelson Coutinho, Francisco de Oliveira, Leandro Konder, Roberto Schwarz, Antonio Cândido, Jacob Gorender, Nelson Werneck Sodré, Marilena Chauí, Emir Sader e José Paulo Netto, para citar alguns autores que fizeram e fazem ciência social baseados no Método do Materialismo Histórico
Dialético? São autores reconhecidos mundialmente como essenciais na formação de gerações que pensam criticamente a realidade social e contribuíram e contribuem enormemente para desvendar o Brasil e as reais e múltiplas determinações da desigualdade econômica e social, para explicar os processos de estratificação social e concentração de propriedade, renda e poder, além do amplo universo de reivindicações de direitos presentes em praticamente todas as cidades brasileiras, bem como em nível mundial.

Por aí vai...
Assim anda a nossa academia...
Paulo Roberto de Almeida 



domingo, 2 de junho de 2013

As "umanidadis" na construcao do comunismo: belo exemplo da mediocridade academica

Em nome da liberdade acadêmica, nossos cursos de "Ciências Humanas" (aspas triplas) têm abrigado alguns absurdos grotescos. O que vai abaixo foi revelado pelo Klauber Pires:

Libertatum, 01 Jun 2013 01:50 PM PDT

Que as universidades brasileiras se converteram nas últimas décadas em centros de propagação das ideologias e mitologias da esquerda é fato que hoje ninguém mais ignora. O que muita gente não sabe é que a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) abriga, oficialmente, um “Centro de Difusão do Comunismo”.
Não é piada, não. Vejam aqui.

O Centro de Difusão do Comunismo (CDC) está vinculado ao curso de Serviço Social da UFOP, e desenvolve (ou desenvolvia até 2012), sob a coordenação do Prof. André Luiz Monteiro Mayer, dois projetos de extensão: a Liga dos Comunistas e a Equipe Rosa Luxemburgo. O primeiro (que tem, ou teve, apoio do CNPq) se apresenta como um “núcleo de estudo e pesquisa sobre o movimento do real, referenciado à teoria social de Marx e à tradição marxista”; e o segundo como um grupo “de Debate e Militância Política Anticapitalista”.
Não se trata, portanto, de um centro destinado a estudar o comunismo. O CDC existe para difundi-lo. Seu objetivo é “lutar por uma sociedade para além do capital!”
A Liga dos Comunistas da UFOP possui, é claro, um Manifesto, que termina assim:
A Liga dos Comunistas vem manifestar a sua radical opção: desejamos a morte das relações sociais impostas pelo capital; lutaremos pela sua ruína e superação com todas as armas que forem possíveis; e esperamos poder contribuir com a emancipação humana, rumo a outro modelo de sociedade "para além do Capital", no qual as relações sociais serão construídas para atender as necessidades básicas, material e espiritual, do ser social.
Morte ao Capital!
O problema é que, em vez do Capital -- que continua aí, firme e forte, alimentando os Andrés Luízes da vida --, o que os comunistas mataram foi gente de carne e osso. Uns 100 milhões, mais ou menos, só no séc. XX.
Agora deem uma olhada no currículo do Prof. André Luiz Monteiro Mayer (dados informados pelo próprio):
Militante Comunista. Doutor em Serviço Social pela UFRJ (Concentração em Teoria Social). Professor do Curso de Serviço Social da UFOP. Coordenador do Programa: Centro de Difusão do Comunismo (CDC-UFOP) com quatro ações vinculadas: (...) Tem experiência na área de assessoria aos movimentos sociais e nas seguintes áreas de ensino: teoria social, pesquisa, serviço social (projeto pedagógico). Debate principalmente os seguintes temas: capital, relações sociais, reificação, comunismo, serviço social (fundamentos teórico-metodológicos da vida social).
Pelas aulas que dá e pela militância que desenvolve na UFOP -- uma universidade pública, mantida com dinheiro de impostos pagos por toda a população --, o Prof. André Mayer recebe, de acordo com o Portal da Transparência, R$ 8.839,53 por mês.

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Alegres e risonhos na construção do comunismo. Certamente merecem ganhar uma ou duas passagens (ou tantas quantas quiserem dar), para cortar cana em Cuba, ou trabalhar na Coreia do Norte...
Paulo Roberto de Almeida

CDC – UFOP

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
PRO-REITORIA DE EXTENSÃO – PROEX
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL – ICSA
CENTRO DE DIFUSÃO DO COMUNISMO (CDC – UFOP)
 APRESENTAÇÃO
O CDC-UFOP é um PROGRAMA vinculado à PROEX, com 04 ações de extensão articuladas para estudar, debater e realizar a crítica à ordem do capital.
OBJETIVO
Lutar por uma sociedade para além do capital!
ATIVIDADES
O CDC – UFOP articula suas ações em 02 projetos de extensão e 02 cursos de extensão e conta com a participação de 20 bolsistas.
1 – Liga dos Comunistas – Núcleo de Estudos Marxistas (CNPQ/UFOP) (projeto)
2 – Mineração e exploração dos trabalhadores na região da UFOP (curso)
3 – Equipe Rosa Luxemburgo. Grupo de debate e militância anticapitalista. Responsável pela coordenação do CDC (projeto)
4 – Relações sociais na ordem do capital. As categorias centrais da teoria social de Marx (curso) 
* As atividades são gratuitas, abertas à comunidade e realizadas duas vezes ao ano no ICSA (Mariana), com editais no início de cada semestre.

Liga dos Comunistas

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO – UFOP
PRÓ-RETORIA DE EXTENSÃO – PROEX
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL – ICSA 
LIGA DOS COMUNISTAS. NÚCLEO DE ESTUDOS MARXISTAS 
APRESENTAÇÃO
Liga dos Comunistas. Núcleo de Estudos Marxistas (CNPQ) é um PROJETO vinculado ao PROGRAMA CENTRO DE DIFUSÃO DO COMUNISMO (CDC – UFOP). Pretende ser um núcleo de estudo e pesquisa sobre o movimento do real, referenciado à teoria social de Marx e à tradição marxista.
JUSTIFICATIVA
Aberto à participação de alunos, professores e funcionários da UFOP e aos trabalhadores da região, a construção de um núcleo de estudo vinculado à tradição que se inspira em Marx e que defende o comunismo tem um objetivo seminal: a transformação da realidade. Nesse momento histórico e determinado, essa realidade é dominada por um “sistema de controle do metabolismo social” específico, o capital.
METODOLOGIA
Através do núcleo de estudos, realizar encontros quinzenais para leitura de textos de Marx e da Tradição marxista sobre o “movimento do capital”, seguidos de debate sobre o tema, além de incentivar a investigação científica (pesquisa), a produção de artigos e a divulgação em eventos e revistas.

Equipe Rosa Luxemburgo

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO – UFOP
PRO-REITORIA DE EXTENSÃO – PROEX
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL – ICSA
EQUIPE ROSA LUXEMBURGO
APRESENTAÇÃO
Equipe Rosa Luxemburgo é um PROJETO vinculado ao PROGRAMA CENTRO DE DIFUSÃO DO COMUNISMO (CDC – UFOP) e se propõe a ser um Grupo de Debate e Militância Política Anticapitalista, com especial apoio ao movimento dos trabalhadores da mineração na região e às lutas próprias à educação na UFOP. Cabe à Equipe Rosa Luxemburgo a coordenação do PROGRAMA CDC – UFOP.
JUSTIFICATIVA
Existe na região de abrangência da UFOP um significativo número de trabalhadores na área da mineração que tem o direito de receber apoio da UFOP para fortalecer suas lutas. Dentro da UFOP também, alunos, professores e funcionários tem o direito de receber apoio em suas reivindicações.
 METODOLOGIA
- Formação de uma equipe de debate anticapitalista que envolva estudantes, professores, funcionários e trabalhadores da região da UFOP.
- Apoio ao movimento dos trabalhadores e suas ações públicas.
- Encontros semanais para monitoramento do PROGRAMA CDC – UFOP (planejamento e avaliação das ações a serem desenvolvidas).
 

  
    
    

Curso Mineração e Exploração

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO – UFOP
PRO-REITORIA DE EXTENSÃO – PROEX
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL – ICSA
CURSO DE EXTENSÃO: MINERAÇÃO E EXPLORAÇÃO DOS TRABALHADORES NA REGIÃO DA UFOP
* EM PARCERIA COM O SINDICATO METABASE INCONFIDENTES – MARIANA.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

A dificuldade de inovar no Brasil - Ciencia Hoje online



A dificuldade de inovar

Apesar das políticas voltadas para a inovação, distância entre universidade e empresa continua grande e produção industrial brasileira desacelera. Governo, academia e indústria debatem estratégias para tornar a ciência brasileira mais competitiva.
Por: Marcelo Garcia
Ciência Hoje online, em 21/08/2012 
A dificuldade de inovar
Superar a resistência histórica das empresas à inovação pode impulsionar a competitividade do país no mercado internacional. Hoje, o Brasil importa tecnologia e produtos industrializados em diversas áreas. (foto: Flickr/ MorBCN – CC BY-NC-SA 2.0)
Segundo o Relatório de Competitividade Global de 2012, o Brasil é o 53º país do mundo em inovação, cinco posições acima da que ocupa no Índice Global de Inovação. O Barômetro Global da Inovação, que avalia a percepção do ambiente de inovação de 22 países, nos coloca no 17º lugar do grupo. Os dados são recentes, mas o quadro nem tanto: apesar de ocupar posição louvável na produção científica mundial (13ª), o Brasil ainda não cobriu o fosso que separa seu setor produtivo das universidades e segue com dificuldade de inovar.
As iniciativas, leis e políticas de estímulo e investimento que caracterizam o ambiente de inovação brasileiro foram o foco do Congresso da Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica (Abipti), realizado na semana passada, em Brasília. Cientistas, representantes de instituições públicas de pesquisa e empresários discutiram aquele que consideram um dos principais gargalos nacionais: como transformar a excelência da pesquisa científica brasileira em práticas inovadoras.
Presente ao evento, o ministro de Ciência e Tecnologia Marco Antonio Raupp destacou a importância de fortalecer a relação entre universidade e setor produtivo e voltou a defender o papel das instituições científicas e tecnológicas nesse processo.
“O Brasil tem boas bases científica e industrial, mas os dois caminhos se desenvolveram separadamente; as empresas nacionais nunca se preocuparam em competir no mercado global”, afirmou. “O papel das entidades de pesquisa, desenvolvimento e inovação é criar pontes entre os dois universos.”

Confira a opinião dos participantes do congresso sobre a evolução da inovação no Brasil


Beija sapo

Fechar esse ‘ciclo de inovação’ depende da superação da histórica aversão ao risco das empresas brasileiras. Segundo o diretor representante daFraunhofer no Brasil, Eckart Bierdümpel, somente cinco em cada mil ideias inovadoras conseguem ser lançadas com algum sucesso. “Ou seja, é preciso beijar muitos sapos para conseguir um príncipe”, completou.
Rezende: “Nas últimas décadas, as grandes questões eram a inflação e a qualidade. Só depois veio a inovação”
Para o presidente do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) Jorge Ávila, a criação de um ambiente favorável à inovação passa justamente pela redução do risco. “Isso pode ser alcançado por medidas como a coparticipação do Estado e a desoneração tributária, por exemplo”, destacou, “além de necessários avanços na área de propriedade intelectual e industrial.”
O ex-ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação Sergio Rezende lembrou, no entanto, que a própria discussão sobre inovação é recente nas empresas. “Nas últimas décadas, as grandes questões eram a inflação e a qualidade. Só depois veio a inovação”, afirmou. “Em todo país com industrialização moderna, o governo teve papel central na criação de um ambiente favorável à inovação, com investimento educacional, estímulo à pesquisa nas empresas e à interação com a universidade, além de incentivos fiscais.”

Confira a opinião dos participantes do congresso sobre a posição do setor empresarial na cadeia de inovação

Um incentivo adicional à inovação pode estar nos resultados de uma pesquisa apresentada pela consultoria Innoscience. O grupo acompanhou durante cinco anos as 31 empresas nacionais de capital aberto mais inovadoras e registrou uma valorização 100% maior de suas ações em relação às das empresas mais valiosas da Bolsa de Valores de São Paulo. 

A política da inovação

Colocada como prioridade nos últimos governos, a inovação ganhou nos anos 2000 diversas regulamentações e iniciativas a ela direcionadas, como a própria Lei de Inovação e a Lei do Bem, que visam estimular a parceria público-privada e o investimento empresarial na área.
“Inovar para competir, competir para crescer”, lema do Plano Brasil Maior, política industrial lançada no ano passado, reflete bem esse ímpeto inovador – também representado pela criação de redes como o Sistema Brasileiro de Tecnologia e de iniciativas como a Empresa Brasileira de Inovação Industrial e o Código Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, em tramitação no Congresso Nacional.
Mesmo com a proposta de  elevar o investimento em C,T&I para 1,8% do PIB,  governo  realizou corte de mais de 20% no orçamento da área em 2012
Paradoxalmente, o país vive umquadro de desaceleração da produção industrial nos últimos anos, destacado pelo gerente executivo de inovação e tecnologia da Confederação Nacional da Indústria, Jefferson Gomes. “Há algumas décadas, a indústria de transformação já representou quase 30% do PIB brasileiro, mas hoje não chega a 15%”, lamentou. Gomes apresentou o projeto de instalação dos institutos Senai de inovação, que visam auxiliar as empresas brasileiras a inovar. 
O próprio investimento governamental em ciência, tecnologia e inovação derrapou no início do ano. Mesmo tendo assumido o compromisso eleitoral de elevar o investimento na área para 1,8% do PIB até 2015, como lembrou Rezende, o governo federal anunciou um corte de mais de 20% do orçamento da pasta para este ano – a princípio um reflexo da crise global que não sinaliza mudanças nos rumos da política nacional.

Confira a opinião dos participantes do congresso sobre a legislação e as políticas de inovação do Brasil

O presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) Glauco Arbix defendeu a prioridade de investimento em ciência, tecnologia e inovação, além da educação, nesse momento de crise. “Qualquer outro discurso é paliativo; precisamos agregar valor ao que produzimos ou continuaremos a viver de soluços.” Arbix também comentou sobre o processo de transformação da Finep em uma agência de fomento, que poderá dar mais flexibilidade para a instituição atuar na gestão de risco tecnológico e no estímulo à inovação no país.
Marcelo Garcia
Ciência Hoje On-line