Nota conjunta com Colômbia sobre a eleição venezuelana envergonha Brasil
O Globo | Opinião O Globo
28 de agosto de 2024
A esta altura , já está claríssimo que Maduro fraudou o pleito e precisa entregar o poder a quem venceu
Desde 28 de julho, quando os venezuelanos foram às urnas, têm sido tíbias as manifestações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de seu assessor internacional Celso Amorim e do Itamaraty sobre a fraude cometida pelo ditador Nicolás Maduro para se perpetuar no poder. No último fim de semana, a condescendência com Maduro alcançou um patamar constrangedor na nota conjunta emitida por Brasil e Colômbia.
Quase um mês depois de Maduro perder a eleição e cometer uma fraude vergonhosa, está claríssimo que ele precisa entregar o poder a quem venceu. Em vez ae exigir isso, o comunicado conjunto repete a ladainha expressa pelo governo brasileiro desde a madrugada de 29 de julho, quando, horas depois do fechamento das urnas, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), controlado pelo regime chavista, declarou Maduro vencedor sem divulgar os boletins de uma, conhecidos em espanhol como "atas". Na última semana, o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) venezuelano, também dominado pelo chavismo, validou a fraude sem sequer fingir examinar uma única ata. A nota conjunta limita-se a exigir a apresentação das atas para que o resultado possa ser aferido: "Brasil e Colômbia tomam nota da decisão do TSJ sobre o processo eleitoral. Reiteram que continuam a aguardar a divulgação, pelo CNE, das atas desagregadas por seção de votação".
A esta altura, diversas apurações independentes confirmaram a vitória do oposicionista Edmundo González com base nas atas que vieram a público. Organismos internacionais e organizações independentes de monitoramento eleitoral denunciaram a fraude de Maduro. Mas assessores de Lula continuam a defender a postura ambígua, argumentando ser importante manter um canal de comunicação aberto com o regime venezuelano, até para que Maduro entregue o poder de modo pacífico. Os fatos, porém, teimam em demonstrar que ele não tem a menor intenção de ceder.
O contraste com a reação de Argentina, Costa Rica, Chile, Equador, Estados Unidos, Guatemala, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai é vexaminoso. Juntos, os 11 países condenaram a pantomima ridícula do Judiciário venezuelano. "Rechaçamos categoricamente o anúncio do TSJ", afirma o texto conjunto. Em separado, o Departamento de Estado americano diz que a decisão "carece de toda credibilidade, dadas as provas contundentes de que González recebeu o maior número de votos em 28 de julho".
Desde a eleição, a repressão à oposição venezuelana tem sido cruel, e Maduro não dá sinal de estar disposto a negociar transição nenhuma. Enquanto a ditadura endurece, o Itamaraty segue o mesmo tom brando, sem nada conseguir. É verdade que até agora o governo brasileiro não reconheceu o resultado fraudado. Mas é pouca Pior do que não ter a menor influência na política venezuelana - ao contrário do que tenta dar a entender a dupla Lula-Amorim -, é o Brasil passar a imagem de conivente com um ditador sanguinário.