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quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Eleições fraudadas na Venezuela: Ex-chefes de Estado e de governo do Grupo Idea rejeitam posição do Brasil, Colômbia e México (INTELIGÊNCIA DEMOCRÁTICA)

 

Declaração do Grupo Idea sobre a Venezuela

Ex-chefes de Estado e de governo rejeitam posição do Brasil, Colômbia e México

O GRUPO IDEIA REJEITA ǪUE OS GOVERNOS DO BRASIL, DA COLÔMBIA E DO MÉXICO TOLEREM A DITADURA VENEZUELANA E ATÉ PRETENDAM PATROCINAR NOVAS ELEIÇÕES.

Os ex-Chefes de Estado e de Governo que participam na Iniciativa Democrática de Espanha e das Américas (Grupo IDEA) levantam a voz para assinalar enfaticamente que é escandaloso para a comunidade das nações democráticas das Américas ver os governos do Brasil, da Colômbia e do México se juntarem à intenção do ditador Nicolás Maduro Moros de permanecer no poder e até promover novas eleições na Venezuela. 

Tal ação, sob um regime que violou os Acordos de Barbados, proibiu a observação eleitoral e prendeu testemunhas eleitorais, tornar-se-ia um verdadeiro atentado ao direito democrático interamericano, pois anularia a vontade popular já expressa de forma inequívoca nas urnas de 28 de julho e ignoraria a inquestionável derrota da ditadura de Maduro Moros, como corroboram os Relatórios Técnicos da Organização dos Estados Americanos e do Centro Carter. 

Tanto assim que o Painel de Peritos da ONU, ao reconhecer que as actas da oposição "exibem todos os dispositivos de segurança dos protocolos originais dos resultados", afirma também que "o anúncio do resultado de uma eleição - como o feito pelo Conselho Nacional Eleitoral ao anunciar a reeleição de Maduro Moros - sem a publicação dos seus detalhes ou a divulgação dos resultados tabulados aos candidatos não tem precedentes nas eleições democráticas contemporâneas".


quarta-feira, 7 de agosto de 2024

Venezuela: a vitória da oposição e a fraude da ditadura chavista - manifesto acadêmico (Inteligência Democrática)

Reconhecer a vitória de González

Carta de teóricos da democracia reconhecendo a vitória da oposição na Venezuela

Alguns dos principais teóricos da democracia assinaram a carta revelando a fraude de Maduro. Entre eles Larry Diamond, Francis Fukuyama 

Leia abaixo a íntegra da carta aberta assinada pelos acadêmicos dedicados ao estudo da democracia.

CARTA ABERTA SOBRE A ELEIÇÃO NA VENEZUELA

“A eleição presidencial na Venezuela em 28 de julho aumentou as preocupações existentes sobre a integridade dos processos democráticos do país, há muito tempo ameaçados. Os resultados oficiais declararam Nicolás Maduro como vencedor, mas as autoridades eleitorais não divulgaram dados detalhados de votação, enquanto observadores independentes e projeções independentes confiáveis contam uma história muito diferente, indicando uma fraude massiva.

Como acadêmicos e pesquisadores dedicados ao estudo da democracia e da integridade eleitoral, estamos profundamente preocupados com as implicações para o futuro da Venezuela, e com a repressão e violência generalizadas após a eleição. Condenamos a resposta brutal das forças de segurança, resultando em muitas mortes e centenas de prisões. Exigimos total transparência e responsabilidade na contagem dos votos.

De acordo com a Tabulação Paralela de Votos AltaVista, uma iniciativa independente da sociedade civil para estimar de forma verificável e cientificamente precisa a contagem nacional de votos, o candidato da oposição Edmundo González recebeu pouco mais de 66% dos votos, enquanto Maduro recebeu apenas 31%. A iniciativa foi validada por acadêmicos internacionalmente renomados e amplamente noticiada na mídia.

Os resultados da AltaVista estão alinhados com registros de urnas eleitorais analisados pela The Associated Press e pelo The Washington Post, bem como com os dados da pesquisa de boca de urna da Edison Research, e contrastam fortemente com o anúncio oficial do Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela, que afirma que Maduro venceu com 51% contra 44% de González. Isso traz questões fundamentais sobre a integridade do processo eleitoral e a legitimidade dos resultados.

As reações de organizações internacionais com vasta experiência em observação eleitoral foram inequívocas. Tanto a Organização dos Estados Americanos (OEA) quanto o Carter Center afirmaram que a eleição foi fraudulenta e não atendeu aos padrões internacionais de integridade eleitoral. O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, pediu total transparência em relação ao resultado da eleição e demandou que o regime de Maduro publique os dados detalhados por seções eleitorais, um apelo compartilhado por muitos outros líderes mundiais.

A maioria dos países da região também condenou a falta de transparência, incluindo Chile, Guatemala, Costa Rica, Argentina, Uruguai e Peru, enquanto México, Brasil e Colômbia divulgaram uma declaração oficial pedindo às autoridades venezuelanas que tornem públicos os dados desagregados por mesa de votação.

A democracia na Venezuela está sob cerco há tempo demais, e a recente eleição levou a crise a um ponto crítico. A comunidade internacional deve apoiar o povo da Venezuela, reconhecer a vitória de González como um reflexo de sua verdadeira vontade, e fazer o máximo para promover uma transição pacífica e democrática.”

Quem assina o documento (entre os quais Larry Diamond, Francis Fukuyama e Steven Levitsky):

Alberto Diaz-Cayeros, pesquisador sênior do Centro para a Democracia, o Desenvolvimento e o Estado de Direito, da Universidade Stanford (EUA)

Beatriz Magaloni, professora de ciência política da Universidade Stanford (EUA)

Cristóbal Rovira Kaltwasser, professor da Pontifícia Universidade Católica do Chile

Francis Fukuyama, diretor do programa de mestrado em relações internacionais da Universidade Stanford (EUA)

Jennifer Cyr, professora e diretora da pós-graduação em ciência política da Universidad Torcuato Di Tella (Argentina)

Julieta Suarez-Cao, professora de política da Pontifícia Universidade Católica do Chile

Kati Martonex-diretora e atual integrante do conselho do Comitê de Proteção a Jornalistas

Kenneth Roberts, professor de sistemas de governo na Universidade Cornell (EUA)

Larry Diamond, pesquisador sênior da Instituição Hoover, think tank ligado à Universidade Stanford (EUA)

Laura Gamboa, professora da Universidade Notre Dame (EUA)

Maria Hermínia Tavares, professora emérita de ciência política da USP, a Universidade de São Paulo (Brasil)

Maria Victoria Murillo, diretora do Instituto para Estudos Latino-Americanos e professora de ciência política e relações internacionais na Universidade Columbia (EUA)

Matias Spektor, professor de política e de relações internacionais da Fundação Getulio Vargas (Brasil)

Michael Albertus, professor da Universidade de Chicago (EUA)

Pedro Telles, professor-adjunto da Fundação Getulio Vargas (Brasil) e pesquisador sênior na London School of Economics (Reino Unido)

Simon Cheng Man-kit, ativista honconguês e ex-analista de comércio e investimento do Consulado-Geral do Reino Unido em Hong Kong

Steven Levitsky, professor de sistemas de governo e diretor do  Centro David Rockefeller para Estudos Latino-Americanos da Universidade Harvard (EUA)

Susan Stokes, professora de ciência política da Universidade de Chicago (EUA)

Tulia Falleti, professora de ciência política da Universidade da Pensilvânia (EUA)


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Citação do dia :

“Nós vencemos esta eleição, sem qualquer discussão. Foi uma avalanche eleitoral, cheia de energia e com uma organização cidadã admirável, pacífica, democrática e com resultados irreversíveis. Agora, cabe a todos nós fazer respeitar a voz do povo. Procede-se, de imediato, à proclamação de Edmundo González Urrutia como presidente eleito da República”

Edmundo González e María Corina Machado
em comunicado publicado pela oposição venezuelana, e sobre o qual González terá que prestar esclarecimentos à Suprema Corte do país. Órgãos eleitorais proclamaram a reeleição de Nicolás Maduro, mas a vitória é contestada pela falta de transparência.

segunda-feira, 5 de agosto de 2024

Regimes políticos na América Latina - Augusto de Franco, Renato Cecchettini (Inteligência Democrática)

Um artigo seminal, metodológico e reinterpretativo, sobre a tipologia e a classificação empírica dos regimes políticos no mundo e na América Latina, partindo dos modelos oferecidos pelo V-Dem Institute e pela revista The Economist, por Augusto de Franco e Renato Cecchetini, como disponível em minha página na plataforma Academia.edu, no seguinte link: 

https://www.academia.edu/122610052/Regimes_politicos_na_America_Latina_2024_Augusto_de_Franco_e_Renato_Cecchettini

Regimes políticos na América Latina



Augusto de Franco (com a colaboração de Renato Cecchettini), Inteligência Democrática (05/08/2024)

Como classificar os regimes dos países da América Latina? As melhores classificações dos regimes políticos do mundo são a do V-Dem Institute (V-Dem) e a da The Economist Intelligence Unit (EIU). Poderíamos, simplesmente, aplicá-las a 21 países da América Latina. Mas antes seria interessante ver os problemas dessas classificações.

CLASSIFICAÇÕES DE REGIMES POLÍTICOS

O V-Dem classifica os regimes em quatro tipos: Liberal Democracy (Democracia Liberal), Electoral Democracy (Democracia Eleitoral), Electoral Autocracy (Autocracia Eleitoral) e Closed Autocracy (Autocracia Fechada). O regime brasileiro é classificado como Electoral Democracy. O V-Dem adota seis índices: Democracia Liberal (uma espécie de síntese, chamado LDI), Democracia Eleitoral, Componente Liberal, Componente Igualitário, Componente Participatório, Componente Deliberativo.

The Economist Intelligence Unit classifica os regimes em quatro tipos: Full Democracy (Democracia Plena), Flawed Democracy (Democracia Defeituosa), Hybrid Regime (Regime Híbrido) e Authoritarian Regime (Regime Autoritário). O regime brasileiro é classificado como Flawed Democracy. A EIU adota cinco índices: Processo Eleitoral e Pluralismo, Funcionamento do Governo, Participação Política, Cultura Política e Liberdades Civis.

Comecemos com algumas perguntas problematizadoras: Democracias (apenas) eleitorais são regimes da mesma natureza que democracias liberais? E podem ser chamadas propriamente de democracias? O que fazer com os 58 regimes que o V-Dem classifica como democracias eleitorais (1)? O que fazer com os 48 regimes que a The Economist Intelligence Unit (EIU) chama de democracias defeituosas (flaweds democracies) (2) e, ainda, com os 36 regimes que a EIU chama de híbridos (3)?

Não parecem ser todos a mesma coisa. Ainda que sejam considerados (pelo V-Dem) democracias eleitorais, o regime de Portugal não se parece com o da Bolívia e o regime do Canadá não se parece com o do México. Ainda que sejam considerados (pela EIU) democracias defeituosas, o regime da República Checa não se parece com o do Brasil e, menos ainda, com o da Nigéria (hybrid). Quais as diferenças entre eles?

(...)

Regimes políticos da América Latina

1 e 2 | AUTOCRACIAS FECHADAS | Cuba [1] é uma autocracia fechada, uma ditadura de esquerda típica do século 20 - um regime não eleitoral. O Haiti [2] também é uma autocracia fechada, mas não se pode dizer com certeza que é o mesmo tipo de regime do cubano: não se aplica a ele a distinção (anacrônica) esquerda x direita. O regime do Haiti é o caos político.

3, 4 e 5 | AUTOCRACIAS ELEITORAIS | Venezuela [3] e Nicarágua [4] são autocracias eleitorais ditas de esquerda, que começaram seu processo de autocratização depois de serem parasitadas por uma forma de populismo que surgiu no dealbar do século 21, sobretudo na América Latina (o chamado neopopulismo). El Salvador [5] também é uma autocracia eleitoral, dita de extrema-direita, que começou seu processo de autocratização ao ser parasitado por uma forma de populismo que emergiu a partir da segunda década do século 21 (o chamado populismo-autoritário ou nacional-populismo).

6, 7, 8, 9, 10 e 11 | REGIMES ELEITORAIS PARASITADOS POR POPULISMOS | México [6], Colômbia [7], Honduras [8], Bolívia [9] e Brasil [10] são regimes eleitorais, ainda chamados de democracias (apenas eleitorais, segundo o V-Dem ou defeituosas, segundo a EIU), atualmente parasitados por governos neopopulistas (ditos de esquerda). Não viraram ainda autocracias, mas estão sob risco de entrar em transição autocratizante. Argentina [11] é um regime eleitoral também parasitado por um governo populista (dito de direita). Não se sabe ao certo se é um governo populista-autoritário ou nacional-populista (como o de Orbán, na Hungria). Sabe-se, porém, que o regime argentino não decaiu para uma autocracia, embora possa entrar em risco de.

12, 13, 14, 15, 16 e 17 | REGIMES ELEITORAIS FORMAIS | Panamá [12], Paraguai [13], Guatemala [14], República Dominicana [15], Equador [16] e Peru [17] também são, atualmente, regimes eleitorais formais (democracias apenas eleitorais ou defeituosas), quer dizer, não notadamente parasitados por governos populistas. Não estão sob grande risco - neste momento - de entrar em transição autocratizante e poderiam entrar em transição democrátizante convertendo-se em democracias liberais (embora isso também não seja muito provável no curto prazo).

18, 19, 20 e 21 | DEMOCRACIAS LIBERAIS | Costa Rica [18], Chile [19], Uruguai [20] e Suriname [21] são democracias propriamente ditas, ou seja, democracias liberais - as quatro únicas da América Latina.

Ler a íntegra no link abaixo: 

https://www.academia.edu/122610052/Regimes_politicos_na_America_Latina_2024_Augusto_de_Franco_e_Renato_Cecchettini


Política externa lulopetista: Lula arrastando governos para a lama - Augusto de Franco (Inteligência Democrática)

 Lula arrastando governos para a lama

Augusto de Franco

Lula está arrastando para a lama quem ele puder para não chafurdar sozinho. Já conseguiu atrair os dois governos populistas que restaram, como o de Obrador e de Petro, depois que os outros dois, de Xiomara e Arce, não tiveram pejo de validar a fraude no primeiro momento. Agora Lula quer puxar para o buraco o governo de Boric, que não é populista. 

A alegação do governo Lula de que quer ser imparcial e mediador é uma picaretagem - só comprada e divulgada pelo jornalismo chapa-branca que perdeu completamente a compostura. Qual foi a mediação que ele fez? Qual a mediação que fará, se Celso Amorim se recusou a sequer conversar com Maria Corina? Pelo contrário, os lulopetistas alegam que Corina é de extrema-direita ou um "Bolsonaro de saias" - sendo que foi ela que obteve mais de 90% das preferências nas prévias da oposição. Isso é lá posição de mediador? 

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É a mesma lorota contada, no passado, nos casos do Irã e no caso da Ucrânia - iniciativas que deram, ambas, com os burros n'água. 

Lula nunca se qualificou para ser um árbitro entre o chavismo-madurismo e a oposição venezuelana ou entre qualquer ditadura e qualquer democracia porque, invariavelmente, toma partido das ditaduras. No caso da Venezuela é pior ainda. Lula fez as campanhas eleitorais de Chávez e Maduro, declarou que aquela ditadura era uma democracia, não protestou contra o impedimento ilegal de Maria Corina (antes, foi indelicado com ela) e nem contra as fraudes de Maduro, inclusive a mais recente, de 28 de julho. Não tem nada de equidistante na sua posição. 

O que ele está fazendo é dar tempo para Maduro permanecer no comando, até que o mundo esqueça o caso ou até que o ditador consiga fasificar as atas, talvez com a ajuda dos agentes cubanos, russos ou chineses que há tempos já infestam aquele país.

A posição do governo brasileiro é insustentável e solerte. Pior ainda é a atitude dos meios de comunicação amestrados, que resolveram cumprir o vergonhoso papel de se integrar organicamente ao sistema de governança oficial afrontando a tradição do jornalismo democrático e independente.


Nota redigida por Augusto de Franco, do staff de Inteligência Democrática.


Autocracy Inc. de Anne Applebaum, Introdução (Inteligência Democrática)

 Autocracy Inc. de Anne Applebaum

Inteligência Democrática4/08/2024

 

Reproduzimos abaixo, numa tradução automática do ChatGPT4, a introdução do mais recente livro de Anne Applebaum (2024), Autocracy Inc. Os ditadores que querem governar o mundo. O PDF com o texto integral pode ser baixado aqui: APPLEBAUM Autocracy, Inc.


 

INTRODUÇÃO

Todos nós temos em nossas mentes uma imagem caricatural de um estado autocrático. Há um homem mau no topo. Ele controla o exército e a polícia. O exército e a polícia ameaçam o povo com violência. Existem colaboradores malignos e, talvez, alguns dissidentes corajosos.

Mas, no século 21, essa caricatura pouco se assemelha à realidade. Hoje em dia, as autocracias não são dirigidas por um único homem mau, mas por redes sofisticadas que dependem de estruturas financeiras cleptocráticas, um complexo de serviços de segurança — militares, paramilitares, policiais — e especialistas tecnológicos que fornecem vigilância, propaganda e desinformação. Os membros dessas redes estão conectados não apenas entre si dentro de uma dada autocracia, mas também a redes em outros países autocráticos, e às vezes em democracias também. Empresas corruptas controladas pelo estado em uma ditadura fazem negócios com empresas corruptas controladas pelo estado em outra. A polícia em um país pode armar, equipar e treinar a polícia em muitos outros. Os propagandistas compartilham recursos — os fazendeiros de trolls e as redes de mídia que promovem a propaganda de um ditador também podem ser usados para promover a de outro — bem como temas: a degeneração da democracia, a estabilidade da autocracia, o mal dos Estados Unidos.

Isso não quer dizer que há uma sala secreta onde os caras maus se encontram, como em um filme de James Bond. Nem nosso conflito com eles é um concurso binário preto-e-branco, uma “Guerra Fria 2.0.” Entre os autocratas modernos estão pessoas que se autodenominam comunistas, monarquistas, nacionalistas e teocratas. Seus regimes têm raízes históricas diferentes, objetivos diferentes, estéticas diferentes. O comunismo chinês e o nacionalismo russo diferem não apenas entre si, mas também do socialismo bolivariano da Venezuela, do Juche da Coreia do Norte ou do radicalismo xiita da República Islâmica do Irã. Todos eles diferem das monarquias árabes e outros — Arábia Saudita, Emirados, Vietnã — que em sua maioria não buscam minar o mundo democrático. Eles também diferem das autocracias mais suaves e democracias híbridas, às vezes chamadas de democracias iliberais —Turquia, Cingapura, Índia, Filipinas, Hungria — que às vezes se alinham com o mundo democrático e às vezes não. Ao contrário de alianças militares ou políticas de outras épocas e lugares, este grupo opera não como um bloco, mas sim como uma aglomeração de empresas, vinculadas não pela ideologia, mas sim por uma determinação implacável e única de preservar sua riqueza e poder pessoal: Autocracia, Inc.

Em vez de ideias, os homens fortes que lideram a Rússia, China, Irã, Coreia do Norte, Venezuela, Nicarágua, Angola, Mianmar, Cuba, Síria, Zimbábue, Mali, Bielorrússia, Sudão, Azerbaijão e talvez outras três dúzias compartilham uma determinação de privar seus cidadãos de qualquer influência ou voz pública reais, de lutar contra todas as formas de transparência ou responsabilidade, e de reprimir qualquer um, em casa ou no exterior, que os desafie. Eles também compartilham uma abordagem brutalmente pragmática da riqueza. Ao contrário dos líderes fascistas e comunistas do passado, que tinham máquinas partidárias atrás deles e não exibiam sua ganância, os líderes da Autocracia, Inc., muitas vezes mantêm residências opulentas e estruturam grande parte de sua colaboração como empreendimentos lucrativos. Seus vínculos entre si e com seus amigos no mundo democrático são cimentados não por ideais, mas por negócios — negócios projetados para atenuar as sanções, trocar tecnologia de vigilância, ajudar uns aos outros a enriquecer.

(...) 

(+ 11 páginas)

Leia a íntegra neste link: 

https://www.academia.edu/122602843/Autocracy_Inc_Anne_Applebaum_Introdu%C3%A7%C3%A3o_2024_



sexta-feira, 2 de agosto de 2024

Governo brasileiro normalizando a ditadura da Venezuela - Roberto Freire, Eduardo Jorge, Gilberto Natalini, Augusto de Franco (Inteligência Democrática)

 Governo brasileiro normalizando a ditadura da Venezuela

Nós não aceitamos

O mundo está assistindo, ainda atônito, a uma série de fraudes cometidas pela ditadura venezuelana. Uma fraude antes das eleições, não permitindo que candidatos oposicionistas competitivos concorressem, amordaçando a imprensa e proibindo a realização de campanhas adversárias. Uma fraude durante as eleições, com o sequestro de mesas de votação e de urnas e a expulsão das seções eleitorias de fiscais da oposição. E uma fraude depois do pleito, com a tentativa de Maduro, agora em curso, de falsificar atas eleitorais para inverter o resultado das urnas.

Assistimos também o início do “banho de sangue” prometido pelo ditador Nicolás Maduro. Contam-se, até agora, 20 mortos, centenas de feridos, mais de 750 pessoas presas e muitas desaparecidas, um líder oposicionista sequestrado e a promessa do regime de encarcerar a líder María Corina e o candidato da oposição, Edmundo González.

A Venezuela se isola do mundo democrático e civilizado. Nenhuma das democracias plenas reconheceu o governo que se proclama reeleito fraudulentamente. Isso inclui as democracias liberais de Estados Unidos e Canadá, de países da União Europeia, Noruega, Suíça, Reino Unido, Japão, Coreia do Sul, Taiwan, Austrália e Nova Zelândia. Sete embaixadores de democracias latino-americanas foram expulsos do país porque pediram a divulgação das atas eleitorais. Somente reconheceram a farsa eleitoral de Maduro as piores ditaduras do planeta, como Cuba, China, Rússia e Bielorússia, Irã, Coreia do Norte, Síria, Nicarágua, além de regimes parasitados por governos populistas, como a Bolívia e Honduras. Brasil, México e Colômbia parecem estar dando tempo ao ditador para falsificar atas eleitorais.

Enquanto isso, Maduro acusa seus opositores de fascistas, golpistas e terroristas, a serviço do imperialismo norte-americano.

O PT, partido do presidente da República, além de reconhecer Maduro como presidente reeleito, culpando falsamente as sanções internacionais ao regime, que julga “ilegais”, pela desastrosa situação do país, saudou “o povo venezuelano pelo processo eleitoral... em uma jornada pacífica, democrática e soberana”.

Não bastasse tudo isso, o presidente do Brasil, Luis Inácio Lula da Silva, declarou em entrevista que "Não tem nada de grave, não tem nada de assustador" ocorrendo na Venezuela. E repetiu: "Não tem nada de anormal. Teve uma eleição. Teve uma pessoa que disse que tem 51%, tem outra pessoa que teve 40 e pouco por cento. Um concorda, o outro não, entra na Justiça, e a Justiça faz". Como se lá houvesse um poder judiciário independente da ditadura.

Ao normalizar tiranias como a da Venezuela e dos regimes ditatoriais que reconhecem seu governo ilegítimo, Lula está alinhando o Brasil ao que há de mais retrógrado e avesso à democracia no mundo. Os votos dos brasileiros e brasileiras, inclusive dos democratas, que lhe deram um terceiro mandato, não o autorizaram a fazer isso. Lula e o PT estão afrontando nossa formação histórica, nossos valores de liberdade e nossa cultura democrática, ao associar o Brasil à banda podre dos regimes políticos, obscurantista e violadora dos direitos humanos, que está por toda parte atacando as democracias.

A posição do governo brasileiro é inaceitável.

Não se trata de romper relações diplomáticas com a Venezuela - uma relação entre Estados. Não se trata de paralisar o comércio do Brasil com aquele país - e sim de não legitimar uma ditadura cruel, sanguinária, corrupta e ligada ao narcotráfico.

Não se trata, igualmente, de reincidir em velhas divisões ideológicas entre esquerda e direita. Putin e Viktor Orbán, que não podem ser considerados de esquerda, apoiam Maduro. Xi Jinping e Canel, que não podem ser considerados de direita, apoiam a ditadura venezuelana. O que está em jogo é a defesa do mundo democrático contra aqueles que querem estrangular liberdades civis e sufocar direitos políticos, em cada país e em escala global.

Trata-se, agora, de convocar todos os democratas e as democratas para que reajam diante dessa insensatez, obrigando o governo brasileiro a mudar de posição, não aceitar as fraudes da ditadura venezuelana e exigir que se cumpra a vontade, amplamente majoritária, dos eleitores da Venezuela manifestada nas urnas de 28 de julho de 2024.

Os democratas que estão se articulando na iniciativa Livres da Polarização dão um primeiro passo nessa direção, convidando todos os demais movimentos e setores da sociedade a aderirem a essa movimentação cívica por meio de debates, eventos, manifestos e abaixo-assinados, posicionamentos na mídias sociais e na grande imprensa, exigindo a mudança da posição vergonhosa do Brasil.

Nós não aceitamos o que está acontecendo, não validamos as posições de Lula e do PT e não vamos nos calar diante desse ataque ao coração da nossa democracia.

1 de agosto de 2024

Roberto Freire

Eduardo Jorge

Gilberto Natalini

Augusto de Franco