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domingo, 17 de setembro de 2023

O G20 (doravante G21) NÃO É o grupo mais importante - Jim O’Neill, Paulo Roberto de Almeida (Project Syndicate)

 O criador do acrônimo BRIC em 2001 (como mera carteira de investimentos para fundos institucionais), já deformado para BRICS em 2011, e agora totalmente desfigurado para BRICS+, com a inclusão de seis novos membros muito pouco representativos, acha que nem esse “grupo” (a serviço da China), nem o G7, a coalizão formada nos anos 1970 com as economias então dominantes, representam a base de um entendimento global. Ele está totalmente enganado: a declaração final do G20 de Nova Delhi — a partir de agora G21, com a inclusão da União Africana — não reflete nenhum consenso global, nem sobre os desafios comuns (meio ambiente e problemas sociais e desequilibrios entre regiões), nem sobre o mais importante desafio à paz e segurança internacionais: a guerra de agressão contra a Ucrânia pela Rússia de Putin (sequer mencionados na Declaração). Adicionalmente, a UA não é, nem nunca será o equivalente da UE, na economia  mundiais. Jim O’Neill equivocou-se na sua análise: o mumdo está tão fragmentado atualmente como esteve na primeira Guerra Fria.

Paulo Roberto de Almeida

The G20 Wins the Group Battle

Jim O’Neill
Project Syndicate, September 16, 2023

The joint declaration that emerged from last week’s summit in New Delhi offered further confirmation that the G20 is the only body with the scope and legitimacy to offer truly global solutions to global problems. Alternative groupings such as the G7 and the new expanded BRICS look like sideshows in comparison.

London - NDON – Following the recent summit of the BRICS (Brazil, Russia, India, China, and South Africa), where the group agreed to add six new  members I argued 


that neither it nor the G7 (Canada, France, Germany, Italy, Japan, the United Kingdom, and the United States – plus the European Union) has the credibility or the capacity to tackle global challenges. That leaves the G20 (comprising 19 of the world’s largest economies, plus the EU) as the only grouping with the legitimacy to offer truly global solutions to global problems.

The joint declaration that emerged from last week’s G20 summit in New Delhi provides further confirmation of this. Member states reached a consensus to address a wide range of issues. Despite obvious challenges – such as the considerable differences in how member states operate – they managed to reassert the G20’s relevance after a lengthy period in which its role had been called into question.


We should applaud those who played the biggest roles – presumably India and the US – in pushing through the final communiqué. The New Delhi declaration could be the first step in a stronger concerted effort to address global issues like climate change, the need for a revamped World Bank, infectious disease control, economic stability, the war in Ukraine, and other matters. Though this agenda was agreed in the absence of Russian President Vladimir Putin and Chinese President Xi Jinping, the Russian and Chinese representatives who did attend would not have signed on to anything without having cleared it with their respective governments.

Many speculate that Xi skipped the summit in order to snub India – one of China’s longstanding rivals – and Indian Prime Minister Narendra Modi. Whatever the motive, his decision had the effect of undermining the significance of the recent BRICS meeting, which many saw as a victory for China.

As I argued last month, the lack of Indo-Chinese solidarity will be a major stumbling block for the new BRICS. Now, Xi’s absence from the G20 summit has deepened the divide between the two countries. If Xi wants to convince us otherwise, he will need to reach out to Modi. As matters stand, the success of the G20 meeting makes Modi the clear winner in this season of summitry. Perceptions matter, and right now he looks more like a visionary statesman than Xi does.

Moreover, the G20 achieved another subtle, but important, step by agreeing to expand its ranks to include the African Union – making it a G21. This breakthrough gives Modi a clear diplomatic victory, allowing him to burnish his image as a champion of the Global South. It also further underscores the seemingly random nature of the BRICS’ own expansion, which includes Egypt and Ethiopia, but not other, more important African countries, such as Nigeria. The big question now is whether a permanent seat at the table will make the African Union itself a more effective body.

sexta-feira, 25 de agosto de 2023

O “novo” Brics não faz sentido, segundo Jim O’Neill - Entrevista (Estadão)

‘Estou quase a ponto de dizer que o Brics acabou’, diz economista que batizou o bloco

Economista Jim O’Neill afirma não ver sentido na escolha dos novos membros do grupo, chama ideia de oposição ao G7 de ‘estúpida’ e volta a dizer que Brasil ‘padece da maldição das commodities’

O Estado de S. Paulo, 25/08/2023

Criador há cerca de 20 anos do acrônimo BRIC, que juntava as iniciais de países grandes em extensão territorial, população e potencial de liderar o crescimento global, o ex-economista do Goldman Sachs Jim O’Neill diz estar “quase a ponto de dizer que o Brics acabou”. O “quase” só não caiu da frase porque O’Neill diz, rindo, que é “seu acrônimo”, mas que o bloco, agora, não faz muito sentido.

Inicialmente formado por Brasil, Rússia, Índia e China, o grupo incorporou posteriormente a África do Sul, que não entrava nos conceitos iniciais. Agora, acaba de adotar mais seis membros: Arábia Saudita, Argentina, Emirados Árabes Unidos, Egito, Irã e Etiópia.

O’Neill diz não ver sentido na escolha dos países e que a entrada do Irã, pelo histórico de conflito com o Ocidente, pode trazer problemas ao bloco. Para ele, as adesões deixaram qualquer consenso entre 11 países bem mais difícil. Elas também não trarão qualquer benefício ao grupo.

Para o economista Jim O'Neill, líderes brasileiros fizeram coisas grandiosas nas últimas décadas, mas nunca conseguiram entregar totalmente as promessas

Professor honorário de economia da Universidade de Manchester, ele se diz surpreso com o fato de o Brasil ter aceitado as novas adesões, já que elas diminuem a relevância do País no grupo. “Eu encorajaria a nova liderança sob Lula a tentar não ter inimigos no Ocidente por causa dos Brics”, diz ele.


A seguir, os principais trechos da entrevista:


Como o sr. vê a entrada dos novos países ao Brics?


Estou um pouco atordoado. Não tenho certeza sobre o racional que foi usado. Este ano, escrevi um trabalho bem detalhado, quase acadêmico, com sugestões de que essa inclusão deveria ser feita com critérios bastante transparentes. Se olharmos para os novos países, não é óbvio o que eles têm efetivamente, seja de maneira individual ou para adicionar ao grupo. E, mais importante: por que esses países e não outros? No contexto da América Latina: por que a Argentina e não o México? Por que a Etiópia e não a Nigéria? Particularmente por causa do Irã, parece que o simbolismo do Brics está ficando mais e mais sem sentido. Porque obviamente olhando o status do Irã com relação ao Ocidente é uma situação bastante problemática. Para mim, está muito, mas muito distante mesmo, dos princípios econômicos que eu pensei, 20 anos atrás.


Mas o sr. vê algum benefício nessa entrada? Os países falam em liderar uma nova força econômica que inclua os países associados…


Não. Desde que a visão política dos Brics começou, em 2010, os países foram muito ineficazes em atingir qualquer meta — e agora será ainda mais difícil. Estou surpreso de que o Brasil tenha concordado com isso porque provavelmente diminui a própria relevância do País no grupo. O fato de a Arábia Saudita fazer parte é interessante, mas não acho que faz muito sentido.


Haverá prejuízos para os países, como um eventual aumento de endividamento por causa do banco dos Brics?


Em primeiro lugar, tirando a Arábia Saudita, nenhum desses outros cinco países é particularmente grande. Eles não estão se expandindo globalmente. Depois, para o banco dos Brics será bastante complicado porque já houve uma grande perda com a questão da Rússia (na guerra contra a Ucrânia). Há ainda a posição muito, muito difícil, das relações dos países ocidentais com o Irã, que pode causar problemas futuros politicamente. Em adição, há ainda países no Brics que não estão no G20 (o que deixa o cenário mais confuso).


Como criador do acrônimo, o sr. se sente como um pai de um filho que não deu certo?


Estou quase a ponto de dizer que o Brics acabou. O bloco está cada vez mais distante dos princípios que embasaram a teoria. Os Emirados Árabes Unidos têm uma população muito pequena. Eles têm petróleo, mas qual é o racional para ter esse país no bloco? Por outro lado, a Nigéria já é maior do que a África do Sul. Se fosse para trazer outro país do continente, por que a Etiópia e não a Nigéria? Por outro lado, se fosse para olhar todos os países por legítimo direito (de acordo com a teoria por trás do acrônimo), por que não a Indonésia? Ela já é uma das 20 maiores economias do mundo e tem grandes chances de, em 2050, ser maior do que o Brasil e a Rússia. Eu realmente não entendo o que estão tentando fazer. Quase por definição, ter 11 países, em vez de cinco, deixa cada vez mais e mais difícil de se concordar com qualquer coisa.


O sr. disse que está ‘quase’ dizendo que os Brics acabaram. O que falta para o ‘quase’ cair?


Obviamente porque é meu acrônimo (rindo). Mas em termos de lógica, não faz sentido.


O Brasil deve persistir no Brics?


Eu encorajaria a nova liderança sob Lula a tentar não ter inimigos no Ocidente por causa dos Brics. A ideia dessa oposição entre o G7 e o Brics é estúpida e eu diria que seria mais interessante tentar fortemente se inspirar no que a Índia fez com muito sucesso em relação ao Ocidente.


Entre os países do Brics, a Índia está sendo o mais bem-sucedida neste momento?


Sem dúvida. Durante esta década, a Índia terá o crescimento mais forte entre os Brics e, em 2030, provavelmente estará próxima a ultrapassar o Japão e a Alemanha. Já a China está enfrentando uma série de problemas e tenho preocupações em relação a eles pela primeira vez, em muitos anos. A China deveria priorizar o crescimento ao se engajar com a atual ordem global, em vez de criar uma ordem global alternativa, que não é muito sensato.


Mas a Índia deveria ser uma inspiração para o Brasil?


De certa maneira, sim. Digo há muitos anos que o Brasil precisa, de alguma maneira, reduzir sua dependência de commodities. O Brasil padece da maldição das commodities. Aumentar o papel da tecnologia e dos produtos que não sejam commodities seria o caminho que eu buscaria, caso liderasse o País.


O Brasil é um dos poucos países que está passando pela aprovação de reformas estruturais. Isso pode ajudar nesse sentido?


Como tudo no Brasil, dependerá de quão sério e comprometidos os formuladores de políticas estão. No decorrer dos últimos 22 anos, os líderes brasileiros, num último sentido, fizeram coisas grandiosas, mas nunca conseguiram entregar totalmente as promessas.

 https://www.estadao.com.br/economia/entrevista-jim-oneill-lula-inimigos-ocidente-brics/