Mais recente capítulo de livro publicado:
1514. “Formação do capital humano na diplomacia brasileira: de 1995 a 2021”, In: Albuquerque, José Augusto Guilhon de (org.); Uehara, Alexandre (ed.), 25 Anos de Política Externa Brasileira, 1996-2021. São Paulo: Fonte Editorial, 2023; ISBN: 978-65-00-74044-8, p. ). Relação de Originais n. 4160.
Formação do capital humano na diplomacia brasileira: de 1995 a 2021
Paulo Roberto de Almeida
Diplomata, professor; diretor de publicações no IHG-DF.
(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)
[Colaboração à obra 25 Anos de Política Externa Brasileira, 1996-2021; José Augusto Guilhon de Albuquerque (org.); Alexandre Uehara (ed.); São Paulo: Fonte Editorial, 2023]
Sumário:
1. Introdução: a formação do capital intelectual do Itamaraty
2. O contexto político-diplomático do Brasil a partir de 1995
3. O Instituto Rio Branco vinte anos depois de sua instalação em Brasília
4. Mudanças curriculares, aperfeiçoamentos institucionais: o rito de iniciação do CAE
5. Reflexos das inflexões políticas na política externa e no processo de formação
6. Reflexos da formação do capital humano na formulação-execução da política externa
7. Conclusões: o Bildung do diplomata brasileiro, não isento de interferências
Bibliografia e referências
1. Introdução: a formação do capital intelectual do Itamaraty
Discorrer sobre a formação do capital humano do Itamaraty no último quarto de século implica dissertar brevemente sobre o que foi e como evoluiu o ambiente político doméstico, como isso se refletiu na diplomacia e repercussões no recrutamento, formação e treinamento da mão-de-obra com que conta o serviço exterior brasileiro, seu principal ativo e quase único instrumento de trabalho. Não é uma novidade reafirmar que a diplomacia é basicamente capital intelectual, uma vez que todo o resto do seu “patrimônio” é constituído de meios técnicos – escritórios, computadores, meios de comunicação, recursos para manutenção e o desempenho das tarefas – que são indiferentes aos objetivos a que servem. O Itamaraty é a expressão do trabalho dos seus diplomatas enquanto agentes do Estado.
A diplomacia é descrita por três funções principais: informação, representação e negociação. Mais importante, contudo, é a qualidade do pessoal que manipula, transforma e se serve das informações com o fito de oferecer aos negociadores insumos indispensáveis ao desempenho das duas outras tarefas, o que requer um pessoal especializado, seletivamente recrutado, treinado e testado. O foco é o conhecimento, isto é, pessoal capacitado e preparado para cumprir as atividades externas ao ambiente burocrático doméstico no qual trabalha.
Tal conhecimento já vinha “embutido” na antiga categoria dos diplomatas do Império e da velha República, que permaneciam no exterior, antes da unificação das três carreiras na era Vargas. O pessoal diplomático passou a ser recrutado e formado pelo Instituto Rio Branco a partir de 1945, quando foi criado o “monopólio” legal da seleção e formação dos candidatos à carreira, através do processo seletivo para o seu curso, além de poucos “concursos diretos”.
Este ensaio discutirá algumas questões pertinentes a essa formação, em conexão com a evolução da política externa e da própria diplomacia no último quarto de século, ou seja, desde a administração Fernando Henrique Cardoso até o início do governo Bolsonaro. Ele tem por base uma consulta detida aos relatórios anuais do IRBr, cabendo registrar, entretanto, uma lacuna dessas publicações anuais entre 1991 e 2012, período parcialmente suprido com consultas temáticas (professores, concursos) em outras fontes ou anos.
2. O contexto político-diplomático do Brasil a partir de 1995
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