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domingo, 17 de março de 2019

A diplomacia de Bolsonaro encolhe o Brasil - Miriam Leitão (O Globo, 15/03/2019)

Nova diplomacia encolhe o Brasil

Os riscos que a política externa corre neste momento são concretos. A bancada do agronegócio teme perder mercado na China, nosso maior parceiro. A ida do presidente Bolsonaro a Washington será boa por um lado, mas o perigo é o país tomar partido na guerra comercial e tecnológica com a China. O deputado Eduardo Bolsonaro representa no Brasil um movimento que se propõe a lutar contra a União Europeia, outro grande mercado brasileiro. A política externa está virando uma coleção de fios desencapados.
O embaixador Roberto Abdenur disse que a decisão de Bolsonaro de demitir 15 embaixadores para melhorar a imagem dele no exterior é uma intervenção sem precedentes:
— O presidente tem o direito de nomear ou demitir funcionários, mas, de uma vez só, decapitar 15 chefes de embaixada é um gesto muito radical. E o presidente se equivoca, porque a imagem dele não é feita no exterior, é feita no Brasil.
O embaixador Paulo Roberto de Almeida, que acaba de ser demitido do Instituto de Pesquisas de Relações Internacionais por ter postado em seu blog pessoal artigos dos quais o chanceler Ernesto Araújo não gostou, lembra outro problema:
— No caso da Venezuela, desde o começo, o chanceler demonstrou uma adesão ao aventureirismo trumpista. O chanceler foi contido e diretamente tutelado pelos militares, que fizeram um cordão sanitário, uma contenção de políticas indevidas. O general Mourão assumiu a chefia da delegação e disse claramente que não haveria intervenção. Os militares estão assumindo uma posição diplomática de respeito à Constituição e ao direito internacional.
Entrevistei os dois diplomatas na Globonews. Abdenur, enquanto esteve na ativa, assumiu postos importantes como as embaixadas da China, Alemanha, Áustria e dos Estados Unidos. Tanto ele quanto o embaixador Paulo Roberto de Almeida foram críticos de posições tomadas na política externa dos governos do PT. Divergem agora dos caminhos adotados no governo Bolsonaro. A crítica é a mesma: a interferência da ideologia — antes de esquerda e agora de extrema-direita — nas relações externas.
O ministro Ernesto Araújo, em aula aos alunos do Instituto Rio Branco, fez uma relação entre os problemas que o Brasil enfrenta em várias áreas com o aumento do comércio com a China.
— A China se tornou o maior parceiro porque é o maior demandante de produtos brasileiros e a maior consumidora desses produtos. O estranho é o chanceler correlacionar o aumento do comércio com a China a uma suposta decadência social, política e cultural. Não faz sentido nenhum — disse Paulo Roberto.
Abdenur faz um alerta sobre a visita que Bolsonaro fará aos EUA no próximo domingo:
— Me preocupa muito o que vai acontecer na semana que vem na visita do presidente a Washington, porque os Estados Unidos estão levando adiante uma confrontação estratégica dura com a China, pela supremacia tecnológica na introdução de 5G na internet — disse Abdenur, lembrando que o Brasil nada tem a ganhar ao tomar posição nessa briga.
Abdenur prevê que a visita terá resultados positivos com progressos na área de comércio, investimentos, de cooperação militar. O Brasil deve ser proclamado aliado estratégico extraOtan e os Estados Unidos podem suspender o veto à entrada do Brasil na OCDE. O temor é que o país assuma uma posição de alinhamento automático aos Estados Unidos.
Há outros riscos. Na reforma imposta ao Itamaraty, a Europa deixou de ter um departamento exclusivo, para ser misturada à África e ao Oriente Médio. O ministro Araújo, em seus discursos, chama a Europa de “vazio cultural”.
O filho do presidente Eduardo Bolsonaro tem agido como um chanceler paralelo. Ele foi nomeado pelo ex-estrategista de Trump Steve Bannon como representante na América Latina do The movement, que, instalado em Bruxelas, se propõe a lutar contra a União Europeia. Ao assumir a Comissão de Relações Exteriores, o deputado disse que Venezuela e Cuba são a escória da humanidade, ou seja, ele confunde países com governos. Pensa estar criticando o chavismo e está ofendendo o país, nosso vizinho de fronteira.
Este governo, através de atos e palavras do presidente e do chanceler, da atuação do filho do presidente, e de um assessor internacional na Presidência sem qualificação para o cargo, tem espalhado ofensas contra diversos países. Isso em diplomacia tem consequência. A de encolher o Brasil.
(Com Alvaro Gribel, de São Paulo)

Matéria publicada no jornal: 



Diplomacia brasileira: programa Miriam Leitão (14/03/2019) - Paulo Roberto de Almeida, Roberto Abdenur

Meu "trabalho" mais recente, "publicado", se ouso dizer: 

1302. “A diplomacia no governo Bolsonaro”, GloboNews Miriam Leitão, exibição em 14 de março de 2019 (24 min). O programa fala sobre as novas perspectivas das relações exteriores do Brasil no governo Bolsonaro. Participam da discussão o embaixador aposentado Roberto Abdenur e o embaixador Paulo Roberto Almeida, exonerado recentemente do cargo de diretor do Instituto de Pesquisas de Relações Internacionais (links para o programa: https://globosatplay.globo.com/globonews/v/7457062/ e https://globosatplay.globo.com/globonews/v/7457062/?fbclid=IwAR3MiNi3w4WcAsX7wAM20FyWOwiF8ttAvXmOAq6ERFL8x43xHn3avmmGyh8).

Eu mesmo não consigo assistir, por não ser assinante, ou por demandar algum outro tipo de cadastro que não disponho.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 17 de março de 2019

sexta-feira, 15 de março de 2019

Diplomacia brasileira: uma colecao de fios desencapados - Miriam Leitao (O Globo)

Diplomacia brasileira é uma coleção de fios desencapados

A política externa brasileira está virando uma coleção de fios desencapados.
A começar pelo ministro Ernesto Araújo (Relações Exteriores), que segundo a colunista Miriam Leitão, do Globo, fez o Brasil comprar uma guerra comercial com a China por questões ideológicas.
Bolsonaro
Outro nome com forte influência é Eduardo Bolsonaro, que tem agido como um chanceler paralelo.
O filho do presidente foi nomeado pelo ex-estrategista de Trump Steve Bannon como representante na América Latina do The movement, que, instalado em Bruxelas, se propõe a lutar contra a União Europeia.
Na reforma imposta ao Itamaraty, a Europa deixou de ter um departamento exclusivo, para ser misturada à África e ao Oriente Médio.
“Este governo, através de atos e palavras do presidente e do chanceler, da atuação do filho do presidente, e de um assessor internacional na Presidência sem qualificação para o cargo, tem espalhado ofensas contra diversos países. Isso em diplomacia tem consequência. A de encolher o Brasil”, diz ela, em sua coluna publicada nesta sexta-feira.

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Diplomacia de Bolsonaro encolhe o Brasil, aponta Miriam Leitão

247 – A colunista Miriam Leitão aponta o desastre econômico representado pela política externa do Brasil, que tem como pilares pessoas sem nenhuma qualificação: o chanceler Ernesto Araújo, pior diplomata do mundo segundo a Jabocin, o deputado Eduardo Bolsonaro, cabo eleitoral de Donald Trump, e o assessor Felipe Martins. "Este governo, através de atos e palavras do presidente e do chanceler, da atuação do filho do presidente, e de um assessor internacional na Presidência sem qualificação para o cargo, tem espalhado ofensas contra diversos países. Isso em diplomacia tem consequência. A de encolher o Brasil", diz ela, em sua colunapublicada nesta sexta-feira.
"Os riscos que a política externa corre neste momento são concretos. A bancada do agronegócio teme perder mercado na China, nosso maior parceiro. A ida do presidente Bolsonaro a Washington será boa por um lado, mas o perigo é o país tomar partido na guerra comercial e tecnológica com a China. O deputado Eduardo Bolsonaro representa no Brasil um movimento que se propõe a lutar contra a União Europeia, outro grande mercado brasileiro. A política externa está virando uma coleção de fios desencapados", diz a jornalista, que também entrevistou embaixadores em sua coluna.
Um deles foi Roberto Abdenur, que afirmou que a decisão de Bolsonaro de demitir 15 embaixadores para melhorar a imagem dele no exterior é uma intervenção sem precedentes. "O presidente tem o direito de nomear ou demitir funcionários, mas, de uma vez só, decapitar 15 chefes de embaixada é um gesto muito radical. E o presidente se equivoca, porque a imagem dele não é feita no exterior, é feita no Brasil."

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Globo defende demissão de Ernesto Araújo

Foto: Arthur Max/Itamaraty
247 - O jornal O Globo defendeu em seu editorial a saída do diplomata Ernesto Araújo, eleito pela revista Jacobin o pior chanceler do mundo, do Ministério das Relações Exteriores. Para o jornal da família Marinho, "o problema mesmo são as teses que o novo chanceler tem defendido". Segundo o texto, o alinhamento automático à política externa dos Estados Unidos, mais especificamente ao "trumpismo", "quando aplicado ao Brasil, país com mazelas decorrentes de uma cultura atávica de fechamento ao exterior, poderá ser trágica, atrasando ainda mais a modernização de sua economia". Mais cedo, a colunista Miriam Leitão já havia apontado os desastres resultantes da atual política externa implantada pelo chanceler. (leia no )
O editorial destaca que durante uma aula magna realizada esta semana, o chanceler "investiu contra aspectos positivos da política externa do Estado brasileiro", como o multilateralismo, o pragmatismo e a não beligerância. Ele também criticou as relações comerciais do Brasil com a China. "E foram as importações chinesas de matérias-primas que permitiram ao Brasil resgatar sua dívida externa. Uma postura inteligente, não ideológica, é manter desobstruído este canal de comércio", diz o jornal.
"Se toda esta visão isolacionista for misturada com preceitos religiosos — a "fé cristã", segundo o ministro, passa a ser um dos valores da política externa —, os espaços para a diplomacia brasileira se estreitarão. Os chamados "interesses de Estado" dependerão de ideologia e crenças", destaca o editorial.

quinta-feira, 14 de março de 2019

Notas preventivas a uma entrevista para a GloboNews - Paulo Roberto de Almeida


Notas preventivas a uma entrevista para a GloboNews

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: sintetizar questões pertinentes; finalidade: entrevista na GloboNews] 


Em decorrência de minha exoneração, por decisão exclusiva (e vingativa) do chanceler, em 4 de março, segunda-feira de Carnaval, acabei sendo solicitado, por grande número de jornalistas, a conceder entrevistas, escrever artigos, formular opiniões, sobre a política externa, sobre a diplomacia brasileira, sobre a minha própria demissão intempestiva como diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI), entidade subordinada à Fundação Alexandre de Gusmão, que é por sua vez vinculada ao Itamaraty. O “assédio” foi tão intenso que na terça-feira de Carnaval não consegui sequer tirar o pijama, pois as demandas foram intensas, da manhã à noite, simultaneamente, em dois telefones, no computador, pelas redes de comunicação social.
Várias entrevistas foram publicadas desde a própria segunda-feira 4 de março, e listo aqui, rapidamente, o que me foi possível registrar como divulgação em relação ao episódio (e descartando totalmente as dezenas de mensagens trocadas com os próprios jornalistas por essas ferramentas mais usuais de comunicação eletrônica. O início de toda o processo se deu em função da primeira postagem que eu fiz, abaixo transcrita em primeiro lugar, reunindo três textos e convidando a um debate sobre a política externa brasileira; o chanceler, provavelmente, não gostou de ter o seu artigo, disseminado unicamente em seu blog pessoal (Metapolítica 17), confrontado a dois outros textos de feitura bem mais elevada e com argumentação bem mais consistente que a sua própria.

3422. “A política externa brasileira em debate: Ricupero, FHC e Araújo”, Brasília, 4 março 2019, 18 p. Introdução, em 2 p., à transcrição de três textos relativos à política externa do governo Bolsonaro, de Rubens Ricupero (25/02/2019), de Fernando Henrique Cardoso (03/03/2019), e do chanceler Ernesto Araújo (3/03/2019). Postado no blog Diplomatizzando (4/03/2019; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/03/a-politica-externa-brasileira-em-debate.html); disponibilizado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/s/70710c9869/a-politica-externa-brasileira-em-debate-ricupero-fhc-e-araujo); disseminado no Facebook (link: https://www.facebook.com/paulobooks/posts/2346416628755107). Novamente disponibilizado através do blog Diplomatizzando (10/03/2019; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/03/ricupero-fhc-e-ernesto-araujo-em-debate.html).

3423. “Nota sobre minha exoneração como diretor do IPRI”, Brasília, 4 março 2019, 1 p. Explicando o que se passou. Divulgado no blog Diplomatizzando (4/03/2019; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/03/nota-sobre-minha-exoneracao-como.html), no Facebook (https://www.facebook.com/paulobooks/posts/2347578208638949).

3424. “‘Ernesto Araújo enganou o presidente’, diz embaixador demitido”, Brasília, 5 março 2019, 6 p. Entrevista ao jornalista Caio Junqueira da revista Crusoé (link: https://crusoe.com.br/diario/ernesto-araujo-enganou-o-presidente-diz-embaixador-demitido/); Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/03/ernesto-araujo-enganou-o-presidente-diz.html);

3425. “Chanceler exerce ‘autoritarismo inédito no Itamaraty’, diz diplomata”, Brasília, 5 março 2019, 5 p. Entrevista com Jamil Chade sobre o Itamaraty em tempos de olavismo. Publicado na Blogosfera de Jamil Chade (link: https://jamilchade.blogosfera.uol.com.br/2019/03/05/chanceler-exerce-autoritarismo-inedito-no-itamaraty-diz-diplomata-punido/), divulgado no Blog Diplomatizzando (6/03/2019; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/03/chanceler-exerce-autoritarismo-inedito.html).

3426. “Onde está política externa do Brasil?”, Brasília, 6 março 2019, 3 p. Artigo para a revista Veja. Versão revista, editada pela redação da revista. Publicada sob o título de “Cadê a política externa?”, na edição 2625 (ano 52, n. 11, 13/03/2019) de Veja, divulgada em 8/03/2019, p. 60-61, reproduzido no blog Diplomatizzando  (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/03/cade-politica-externa-paulo-roberto-de.html). Relação de Publicados n. 1301. 

3427. “Agradecimentos sensibilizados pela solidariedade na exoneração”, Brasília, 6 março 2019, 5 p. Reconhecimento geral. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/03/agradecimentos-sensibilizados-por-todo.html).

3428. “Globalismo e antiglobalismo: o que diz o sofista da Virginia?” Brasília, 6 março 2019, 4 p. Nota em resposta a postagem do sofista da Virgínia, Olavo de Carvalho, sobre a questão do globalismo. Publicado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/03/globalismo-e-antiglobalismo-o-que-diz-o.html).

3429. “Os militares criaram um ‘comitê de tutela’ para o Itamaraty”, diz diplomata”, Brasília, 5 março 2019, 9 p. Entrevista a José Fucs , divulgado no Blog do Fucs (link: https://politica.estadao.com.br/blogs/blog-do-fucs/itamaraty/). Reproduzido no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/03/os-militares-criaram-um-comite-de.html).

3430. “Uma homenagem de João Amoedo e um pequeno segredo”, Brasília, 7 março 2019, 2 p. Relato de meu encontro com equipe econômica em meados de 2018 e sobre minha recusa em ser cogitado para o governo saído das urnas. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/03/uma-homenagem-de-joao-amoedo-e-um.html).

3431. “Esclarecimentos vindos do ‘outro lado’ da história”, Brasília, 7 março 2019, 4 p. Retificação dos equívocos derivados de anúncios do Itamaraty, repercutidos por jornalistas, sobre as razões de minha exoneração, como sendo por causa de supostas ofensas ao chanceler. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/03/retificando-eliane-cantanhede-no.html).

3432. “O chanceler vestiu a carapuça”, Brasília, 7 março 2019, 5 p. Comentários em torno de notícias de jornal sobre a minha exoneração do IPRI, enviadas pelos Alertas do Google. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/03/o-chanceler-vestiu-carapuca-mas-nao-era.html).

3433. “A política externa brasileira: respostas a questionário de El País”, Brasília, 13 março 2019, 3 p. Respondendo a questões do repórter do El País sobre minha exoneração do cargo de diretor do IPRI.

3434. “Itamaraty: a animosidade pessoal se transfere ao plano institucional”, Rio de Janeiro, 14 março 2019, 3 p. Nota sobre a mudança de agenda dos eventos em torno da Semana da Francofonia, sob iniciativa do gabinete do chanceler. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/03/semana-da-francofonia-afetada-por.html), disseminado no Facebook (link: https://www.facebook.com/paulobooks/posts/2359931667403603).

Ocorre que nessa sequência eu fui contatado pela assessoria da jornalista Miriam Leitão para uma entrevista em companhia do embaixador Roberto Abdenur, a ser realizada na manhã do dia 14 de março, o que me obrigou a viajar ao Rio de Janeiro já na véspera, para não correr o risco de algum imprevisto no transporte aéreo muito em cima do horário fixado para estar nos estúdios da Rede Globo (9:45hs). No voo para o Rio, justamente, tentando prever quais perguntas me seriam feitas, eu fui tomando notas em meu Moleskine sobre quatro pontos prováveis da entrevista, e que transcrevo agora, na viagem de volta, sem que o que vai transcrito abaixo represente, efetivamente, o teor da entrevista realizada, a ser transmitida nesta noite de 14/03, às 21:30hs. Transcrevo, sem qualquer alteração, o que eu escrevi em meu caderninho.

Demissão: O nome correto é exoneração. Segunda-feira de Carnaval, logo de manhã cedo, fui despertado por telefonema do chefe de Gabinete do ministro Ernesto Araújo, comunicando-me o descontentamento do chanceler com o teor de minhas postagens sobre a diplomacia em curso e anunciando minha exoneração. Segundo disse num primeiro momento o Itamaraty, aos órgãos de imprensa que o procuraram na sequência, a substituição já estava prevista há mais tempo, o que me fez pensar porque o fariam numa manhã de Carnaval, sem sequer aguardar (aí estava uma ironia) a Quarta-Feira de Cinzas. Alertei sobre a conveniência de se postergar a exoneração em função da vinda do sogro do chanceler, embaixador Luiz Felipe de Seixas Corrêa, para palestra no âmbito da série “Percursos Diplomáticos”, que eu havia criado quando de minha assunção a diretor do IPRI, junto com o Instituto Rio Branco, em agosto de 2016. Como a explicação sobre a “exoneração já prevista há mais tempo”, mas realizada numa manhã de Carnaval, deve ter sido considerada ridícula, inventaram, em tweet do assessor presidencial em assuntos internacionais, mais conhecido como Robespirralho, a tese das “ofensas ao chanceler”. Tentei esclarecer que a expressão “fundamentalistas trumpistas” não se aplicava ao chanceler, mas a um dos Bolsokids e ao dito assessor, mas parece que não colou. Falei daquele cidadão de boné da campanha “Trump 2020”, e que havia usurpado uma indevida representação do povo brasileiro, ao afirmar, na Florida, que todos aqui apoiavam a construção do muro nas fronteiras do México.
O chanceler queria resolver a questão de imediato, disse-me o chefe de Gabinete, e assim foi feito. O fato é que, além da depreciativa referência aos “fundamentalistas trumpistas”, eu também havia “ofendido” o guru espiritual desse governo, a quem eu chamei de “sofista da Virgínia” e de “Rasputin de subúrbio”, o que provavelmente provocou a cólera do chanceler, uma vez que ele deve sua designação a quem ele respeitosamente chama de “Professor”.

Minha avaliação sobre a política externa do chanceler olavista: Todos os jornalistas formulavam essa questão, ao que sempre respondi que era impossível avaliar algo que simplesmente não existe, que foi exatamente o que eu disse em meu artigo da Veja. Não há, nunca houve, e não sabemos se haverá uma exposição clara, completa, sobre qual seria, em que consistiria, a política externa do governo Bolsonaro. O que havia eram apenas invectivas, slogans, intenções, várias vezes manifestadas, sobre a necessidade de se afastar das diplomacias anteriores, todas elas, de todos os governos, o que aliás os governos do PT já tinham feito, quase que da mesma forma, ainda que não com o mesmo conteúdo e substância (se existem).
De fato, no dia 1º. de janeiro tivemos alguns slogans altissonantes, em primeiro lugar do próprio presidente – sobre a política externa “sem ideologia”, e comércio exterior idem –, em segundo lugar do chanceler – sobre o fato de a política externa “estar fora do Brasil”, sem que saibamos o que é isso exatamente, e se isso é possível –, além de várias frases em latim, em grego e até em tupi-guarani. Mas nunca tivemos, até aqui, uma apresentação abrangente sobre quais seriam as grandes linhas da política externa do governo Bolsonaro. Para confirmar isso, eu convido todos a acessar a “aula magna” – eu preferiria dizer “palestra mínima, e confusão máxima” – do chanceler aos alunos do Instituto Rio Branco, na segunda-feira dia 11/03, fechada a todos os que não fossem estudantes, mas felizmente (ou infelizmente, não sei) gravada e disponível no YouTube, na qual ele discorre, da forma mais caótica possível, sobre o nada.
A palestra encontra-se disponível (não sei se permanecerá) no seguinte link: https://www.youtube.com/watch?v=0Qt1kCY7D0M. Imagino que deve ter sido um sofrimento terrível para os alunos do Rio Branco, aguentar duas horas de balbuciamentos erráticos sobre conceitos abstratos, uma salada inacreditável de acusações equivocadas sobre tudo o que se fez anteriormente no Itamaraty e vários eflúvios olavistas, sem qualquer sentido compreensível ou racional. Se acham que eu estou exagerando na crítica, podem conferir o vídeo, e também sofrer por duas horas.

Tutela militar sobre o Itamaraty: Não é bem sobre o Itamaraty, e sim sobre o chanceler especificamente. Aqui não é preciso inventar nada. Se havia alguma dúvida a respeito, basta ler ou ouvir o que disse o general Hamilton Mourão, vice-presidente, na reunião de Bogotá do Grupo de Lima sobre a Venezuela, na qual ele foi o chefe da delegação brasileira, sendo que só ele falou, num espanhol bastante correto, descartando por completo qualquer solução militar para o drama do país chavista, eliminando as sinalizações anteriores emitidas pelo chanceler no sentido de apoiar uma aventura americana de forçar ajuda humanitária pelas fronteiras colombiana e brasileira da Venezuela. Nesse caso, os militares estão atuando como diplomatas, defendendo princípios constitucionais brasileiros e o próprio Direito Internacional, e o chanceler parece estar empenhado em violar essas ferramentas básicas da diplomacia que ele deveria dirigir atendendo o que se julga essencial na condução da política externa.

O que estou fazendo agora? Nada de muito diferente do que já fiz durante boa parte dos governos lulopetistas entre 2003 e 2016: passar o meu tempo livre (embora involuntariamente) na Biblioteca, que é o meu habitat natural, lendo e escrevendo. Existe porém um problema: não acredito que a população brasileira, que paga o meu salário, assim como os órgãos de controle, estão de acordo em que eu receba um salário (ainda que diminuído de um quarto) sem que eu preste a contrapartida que é o trabalho na profissão para a qual eu fiz concurso, e que constitui a minha carreira primária. Acho também que o Itamaraty não merece isso.

Em voo, de Brasília ao Rio de Janeiro, 13/03/2019;
complementado em 14/03, para a lista dos trabalhos.