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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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domingo, 27 de outubro de 2019

Crise de 1929: 90 anos da mãe de todas as crises - Bianca Pinto Lima e Victor Boyadjian (GloboNews)

O maior mérito do capitalismo é essa sua assustadora capacidade de gerar crises constantes, por estar sempre procurando a eficiência e o seu ponto de equilíbrio (Ricardo Bergamini).


Quebra da bolsa de Nova York completa 90 anos

Em 24 de outubro de 1929, quebra da bolsa de NY abalou os mercados financeiros e jogou os EUA na Grande Depressão. Ecos dessa crise também chegaram ao Brasil e mudaram o rumo da economia e da política do país.

Por Bianca Pinto Lima e Victor Boyadjian
GloboNews, 24/10/2019 


Quebra da Bolsa de Nova York completa 90 anos
Há noventa anos, a economia global enfrentava uma quinta-feira turbulenta. O dia 24 de outubro de 1929 foi marcado pela quebra da Bolsa de Nova York, que abalou os mercados financeiros de todo o mundo. Os ecos dessa crise também chegaram ao Brasil e mudaram – por completo – a economia e a política do país.

Antes da quebra da bolsa, os Estados Unidos estavam embalados pela vitória na Primeira Guerra Mundial e por um crescimento industrial e urbano sem precedentes. Esse sonho de prosperidade levou muita gente a se endividar para comprar ações na bolsa de valores. Só que essa bolha especulativa cresceu e estourou. Logo na abertura dos negócios, naquele 24 de outubro de 1929, o índice Dow Jones recuou 11%. Era apenas um prenúncio do que estava por vir.

Ao todo, o índice amargou quatro anos seguidos no vermelho, o que foi suficiente para anular os ganhos de quase uma década. E os prejuízos não ficaram restritos ao mercado financeiro. A economia dos Estados Unidos mergulhou na Grande Depressão: famílias inteiras ficaram na miséria, empresas e bancos faliram e fábricas fecharam.

O vice-diretor da Escola Brasileira de Economia e Finanças, da Fundação Getulio Vargas, Aloisio Araujo, diz que a reação do governo americano acabou não sendo das melhores.

"A reação foi muito ruim. Chegaram a aumentar os juros, os sindicatos ficaram mais fortes, com medo do desemprego, o que causava mais inflexibilidade do mercado de trabalho", afirma Araujo. "A taxa de juros alta subia mais do que a oferta de crédito. Os países entraram em guerras comerciais, cada um querendo proteger seu mercado de trabalho, mas, com todos fazendo o mesmo, piorava a economia."

Impactos no Brasil

Os impactos dessa crise acabaram alcançando o Brasil, que praticamente só exportava café. O país perdeu compradores e mergulhou junto na recessão. A queda nas vendas enfraqueceu a oligarquia cafeeira que sustentava a República velha.

Exatamente um ano depois, em 24 de outubro de 1930, na esteira da crise, Getúlio Vargas dava um golpe e assumia o governo do país. Para tentar segurar o preço do café, Vargas adotou uma medida radical: queimou milhões de sacas, reduzindo a oferta.

A medida, porém, teve pouco efeito. O rombo nas contas externas disparou e, em outubro de 1931, o Brasil era capa do New York Times, declarando a sua primeira moratória.

Os efeitos da quebra de bolsa de Nova York persistiram até o fim da Segunda Guerra. Outras turbulências vieram depois, como a crise do petróleo na década de 60 e a bolha da internet nos anos 2000, mas outro crash de grande impacto ainda estava para acontecer.

Em 2007, foi vez o estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos levar pânico aos mercados financeiros. Desta vez, porém, os países se uniram, em uma reação global coordenada. Uma das soluções encontradas foi o aumento do endividamento de países e empresas.

Em 2008, a dívida dos países somava US$ 37 trilhões. Dez anos depois, saltou para mais de US$ 65 trilhões, uma alta de 76%. Já a dívida das empresas (não financeiras) quase triplicou no mesmo período: passou de US$ 27 trilhões para US$ 72 trilhões.

"O que os economistas aprenderam foi muito importante. Em outras crises, já houve uma preocupação muito grande de diminuir a taxa de juros, não houve guerras comerciais e os países se entenderam", afirma Araujo. "Isso ajudou bastante a ter uma recuperação rápida. Foi custosa, mas pelo menos não foi nada comparado à crise de 1929."


Endividamento — Foto: Arte/G1
Futuro da economia mundial

Com toda essa injeção de dinheiro, a economia mundial acelerou. Os Estados Unidos, por exemplo, vivem hoje o período mais longo de crescimento da história. Mas há quem diga que esta prosperidade esteja novamente ameaçada.

Há uma semana, esse foi o recado do presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi. Ele falou em sinais leves de valorização exagerada nos mercados financeiro e imobiliário da zona do euro. Em outras palavras: uma bolha.

Draghi deixa o cargo no fim desse mês com o mérito de ter ajudado a salvar a região de um naufrágio econômico, mas às custas de uma enxurrada de dinheiro barato.

Não existe consenso, entre os especialistas, sobre a existência de uma bolha, mas, é fato que a economia mundial está desacelerando. O recado foi reforçado pela economista-chefe do Fundo Monetário Internacional, Gita Gopinath, na semana passada. Ela demonstrou preocupação com as guerras comerciais e disse que os países precisam pensar em alternativas além do corte de juros.

E o Brasil – que andou na contramão nos últimos anos e enfrentou uma recessão enquanto o mundo inteiro crescia – agora também tenta seguir na direção oposta. Queda dos juros, inflação sob controle e aprovação da reforma da previdência são alguns pontos favoráveis, mas certamente, o país não vai passar ileso pela desaceleração global.

"Há uma certa estabilidade macroeconômica acontecendo na economia brasileira. A inflação baixa ajuda no processo de retomada de investimento, de consumo para 2020. O crescimento do ano que vem vai ser melhor do que este ano", afirma o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale. "A possível recessão nos EUA e no mundo tira um pouco desse ritmo de crescimento, então em vez de crescer 2%, a gente acaba crescendo um pouco menos, em torno de 1,5%."

domingo, 17 de março de 2019

Diplomacia brasileira: programa Miriam Leitão (14/03/2019) - Paulo Roberto de Almeida, Roberto Abdenur

Meu "trabalho" mais recente, "publicado", se ouso dizer: 

1302. “A diplomacia no governo Bolsonaro”, GloboNews Miriam Leitão, exibição em 14 de março de 2019 (24 min). O programa fala sobre as novas perspectivas das relações exteriores do Brasil no governo Bolsonaro. Participam da discussão o embaixador aposentado Roberto Abdenur e o embaixador Paulo Roberto Almeida, exonerado recentemente do cargo de diretor do Instituto de Pesquisas de Relações Internacionais (links para o programa: https://globosatplay.globo.com/globonews/v/7457062/ e https://globosatplay.globo.com/globonews/v/7457062/?fbclid=IwAR3MiNi3w4WcAsX7wAM20FyWOwiF8ttAvXmOAq6ERFL8x43xHn3avmmGyh8).

Eu mesmo não consigo assistir, por não ser assinante, ou por demandar algum outro tipo de cadastro que não disponho.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 17 de março de 2019

quinta-feira, 14 de março de 2019

Notas preventivas a uma entrevista para a GloboNews - Paulo Roberto de Almeida


Notas preventivas a uma entrevista para a GloboNews

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: sintetizar questões pertinentes; finalidade: entrevista na GloboNews] 


Em decorrência de minha exoneração, por decisão exclusiva (e vingativa) do chanceler, em 4 de março, segunda-feira de Carnaval, acabei sendo solicitado, por grande número de jornalistas, a conceder entrevistas, escrever artigos, formular opiniões, sobre a política externa, sobre a diplomacia brasileira, sobre a minha própria demissão intempestiva como diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI), entidade subordinada à Fundação Alexandre de Gusmão, que é por sua vez vinculada ao Itamaraty. O “assédio” foi tão intenso que na terça-feira de Carnaval não consegui sequer tirar o pijama, pois as demandas foram intensas, da manhã à noite, simultaneamente, em dois telefones, no computador, pelas redes de comunicação social.
Várias entrevistas foram publicadas desde a própria segunda-feira 4 de março, e listo aqui, rapidamente, o que me foi possível registrar como divulgação em relação ao episódio (e descartando totalmente as dezenas de mensagens trocadas com os próprios jornalistas por essas ferramentas mais usuais de comunicação eletrônica. O início de toda o processo se deu em função da primeira postagem que eu fiz, abaixo transcrita em primeiro lugar, reunindo três textos e convidando a um debate sobre a política externa brasileira; o chanceler, provavelmente, não gostou de ter o seu artigo, disseminado unicamente em seu blog pessoal (Metapolítica 17), confrontado a dois outros textos de feitura bem mais elevada e com argumentação bem mais consistente que a sua própria.

3422. “A política externa brasileira em debate: Ricupero, FHC e Araújo”, Brasília, 4 março 2019, 18 p. Introdução, em 2 p., à transcrição de três textos relativos à política externa do governo Bolsonaro, de Rubens Ricupero (25/02/2019), de Fernando Henrique Cardoso (03/03/2019), e do chanceler Ernesto Araújo (3/03/2019). Postado no blog Diplomatizzando (4/03/2019; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/03/a-politica-externa-brasileira-em-debate.html); disponibilizado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/s/70710c9869/a-politica-externa-brasileira-em-debate-ricupero-fhc-e-araujo); disseminado no Facebook (link: https://www.facebook.com/paulobooks/posts/2346416628755107). Novamente disponibilizado através do blog Diplomatizzando (10/03/2019; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/03/ricupero-fhc-e-ernesto-araujo-em-debate.html).

3423. “Nota sobre minha exoneração como diretor do IPRI”, Brasília, 4 março 2019, 1 p. Explicando o que se passou. Divulgado no blog Diplomatizzando (4/03/2019; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/03/nota-sobre-minha-exoneracao-como.html), no Facebook (https://www.facebook.com/paulobooks/posts/2347578208638949).

3424. “‘Ernesto Araújo enganou o presidente’, diz embaixador demitido”, Brasília, 5 março 2019, 6 p. Entrevista ao jornalista Caio Junqueira da revista Crusoé (link: https://crusoe.com.br/diario/ernesto-araujo-enganou-o-presidente-diz-embaixador-demitido/); Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/03/ernesto-araujo-enganou-o-presidente-diz.html);

3425. “Chanceler exerce ‘autoritarismo inédito no Itamaraty’, diz diplomata”, Brasília, 5 março 2019, 5 p. Entrevista com Jamil Chade sobre o Itamaraty em tempos de olavismo. Publicado na Blogosfera de Jamil Chade (link: https://jamilchade.blogosfera.uol.com.br/2019/03/05/chanceler-exerce-autoritarismo-inedito-no-itamaraty-diz-diplomata-punido/), divulgado no Blog Diplomatizzando (6/03/2019; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/03/chanceler-exerce-autoritarismo-inedito.html).

3426. “Onde está política externa do Brasil?”, Brasília, 6 março 2019, 3 p. Artigo para a revista Veja. Versão revista, editada pela redação da revista. Publicada sob o título de “Cadê a política externa?”, na edição 2625 (ano 52, n. 11, 13/03/2019) de Veja, divulgada em 8/03/2019, p. 60-61, reproduzido no blog Diplomatizzando  (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/03/cade-politica-externa-paulo-roberto-de.html). Relação de Publicados n. 1301. 

3427. “Agradecimentos sensibilizados pela solidariedade na exoneração”, Brasília, 6 março 2019, 5 p. Reconhecimento geral. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/03/agradecimentos-sensibilizados-por-todo.html).

3428. “Globalismo e antiglobalismo: o que diz o sofista da Virginia?” Brasília, 6 março 2019, 4 p. Nota em resposta a postagem do sofista da Virgínia, Olavo de Carvalho, sobre a questão do globalismo. Publicado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/03/globalismo-e-antiglobalismo-o-que-diz-o.html).

3429. “Os militares criaram um ‘comitê de tutela’ para o Itamaraty”, diz diplomata”, Brasília, 5 março 2019, 9 p. Entrevista a José Fucs , divulgado no Blog do Fucs (link: https://politica.estadao.com.br/blogs/blog-do-fucs/itamaraty/). Reproduzido no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/03/os-militares-criaram-um-comite-de.html).

3430. “Uma homenagem de João Amoedo e um pequeno segredo”, Brasília, 7 março 2019, 2 p. Relato de meu encontro com equipe econômica em meados de 2018 e sobre minha recusa em ser cogitado para o governo saído das urnas. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/03/uma-homenagem-de-joao-amoedo-e-um.html).

3431. “Esclarecimentos vindos do ‘outro lado’ da história”, Brasília, 7 março 2019, 4 p. Retificação dos equívocos derivados de anúncios do Itamaraty, repercutidos por jornalistas, sobre as razões de minha exoneração, como sendo por causa de supostas ofensas ao chanceler. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/03/retificando-eliane-cantanhede-no.html).

3432. “O chanceler vestiu a carapuça”, Brasília, 7 março 2019, 5 p. Comentários em torno de notícias de jornal sobre a minha exoneração do IPRI, enviadas pelos Alertas do Google. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/03/o-chanceler-vestiu-carapuca-mas-nao-era.html).

3433. “A política externa brasileira: respostas a questionário de El País”, Brasília, 13 março 2019, 3 p. Respondendo a questões do repórter do El País sobre minha exoneração do cargo de diretor do IPRI.

3434. “Itamaraty: a animosidade pessoal se transfere ao plano institucional”, Rio de Janeiro, 14 março 2019, 3 p. Nota sobre a mudança de agenda dos eventos em torno da Semana da Francofonia, sob iniciativa do gabinete do chanceler. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/03/semana-da-francofonia-afetada-por.html), disseminado no Facebook (link: https://www.facebook.com/paulobooks/posts/2359931667403603).

Ocorre que nessa sequência eu fui contatado pela assessoria da jornalista Miriam Leitão para uma entrevista em companhia do embaixador Roberto Abdenur, a ser realizada na manhã do dia 14 de março, o que me obrigou a viajar ao Rio de Janeiro já na véspera, para não correr o risco de algum imprevisto no transporte aéreo muito em cima do horário fixado para estar nos estúdios da Rede Globo (9:45hs). No voo para o Rio, justamente, tentando prever quais perguntas me seriam feitas, eu fui tomando notas em meu Moleskine sobre quatro pontos prováveis da entrevista, e que transcrevo agora, na viagem de volta, sem que o que vai transcrito abaixo represente, efetivamente, o teor da entrevista realizada, a ser transmitida nesta noite de 14/03, às 21:30hs. Transcrevo, sem qualquer alteração, o que eu escrevi em meu caderninho.

Demissão: O nome correto é exoneração. Segunda-feira de Carnaval, logo de manhã cedo, fui despertado por telefonema do chefe de Gabinete do ministro Ernesto Araújo, comunicando-me o descontentamento do chanceler com o teor de minhas postagens sobre a diplomacia em curso e anunciando minha exoneração. Segundo disse num primeiro momento o Itamaraty, aos órgãos de imprensa que o procuraram na sequência, a substituição já estava prevista há mais tempo, o que me fez pensar porque o fariam numa manhã de Carnaval, sem sequer aguardar (aí estava uma ironia) a Quarta-Feira de Cinzas. Alertei sobre a conveniência de se postergar a exoneração em função da vinda do sogro do chanceler, embaixador Luiz Felipe de Seixas Corrêa, para palestra no âmbito da série “Percursos Diplomáticos”, que eu havia criado quando de minha assunção a diretor do IPRI, junto com o Instituto Rio Branco, em agosto de 2016. Como a explicação sobre a “exoneração já prevista há mais tempo”, mas realizada numa manhã de Carnaval, deve ter sido considerada ridícula, inventaram, em tweet do assessor presidencial em assuntos internacionais, mais conhecido como Robespirralho, a tese das “ofensas ao chanceler”. Tentei esclarecer que a expressão “fundamentalistas trumpistas” não se aplicava ao chanceler, mas a um dos Bolsokids e ao dito assessor, mas parece que não colou. Falei daquele cidadão de boné da campanha “Trump 2020”, e que havia usurpado uma indevida representação do povo brasileiro, ao afirmar, na Florida, que todos aqui apoiavam a construção do muro nas fronteiras do México.
O chanceler queria resolver a questão de imediato, disse-me o chefe de Gabinete, e assim foi feito. O fato é que, além da depreciativa referência aos “fundamentalistas trumpistas”, eu também havia “ofendido” o guru espiritual desse governo, a quem eu chamei de “sofista da Virgínia” e de “Rasputin de subúrbio”, o que provavelmente provocou a cólera do chanceler, uma vez que ele deve sua designação a quem ele respeitosamente chama de “Professor”.

Minha avaliação sobre a política externa do chanceler olavista: Todos os jornalistas formulavam essa questão, ao que sempre respondi que era impossível avaliar algo que simplesmente não existe, que foi exatamente o que eu disse em meu artigo da Veja. Não há, nunca houve, e não sabemos se haverá uma exposição clara, completa, sobre qual seria, em que consistiria, a política externa do governo Bolsonaro. O que havia eram apenas invectivas, slogans, intenções, várias vezes manifestadas, sobre a necessidade de se afastar das diplomacias anteriores, todas elas, de todos os governos, o que aliás os governos do PT já tinham feito, quase que da mesma forma, ainda que não com o mesmo conteúdo e substância (se existem).
De fato, no dia 1º. de janeiro tivemos alguns slogans altissonantes, em primeiro lugar do próprio presidente – sobre a política externa “sem ideologia”, e comércio exterior idem –, em segundo lugar do chanceler – sobre o fato de a política externa “estar fora do Brasil”, sem que saibamos o que é isso exatamente, e se isso é possível –, além de várias frases em latim, em grego e até em tupi-guarani. Mas nunca tivemos, até aqui, uma apresentação abrangente sobre quais seriam as grandes linhas da política externa do governo Bolsonaro. Para confirmar isso, eu convido todos a acessar a “aula magna” – eu preferiria dizer “palestra mínima, e confusão máxima” – do chanceler aos alunos do Instituto Rio Branco, na segunda-feira dia 11/03, fechada a todos os que não fossem estudantes, mas felizmente (ou infelizmente, não sei) gravada e disponível no YouTube, na qual ele discorre, da forma mais caótica possível, sobre o nada.
A palestra encontra-se disponível (não sei se permanecerá) no seguinte link: https://www.youtube.com/watch?v=0Qt1kCY7D0M. Imagino que deve ter sido um sofrimento terrível para os alunos do Rio Branco, aguentar duas horas de balbuciamentos erráticos sobre conceitos abstratos, uma salada inacreditável de acusações equivocadas sobre tudo o que se fez anteriormente no Itamaraty e vários eflúvios olavistas, sem qualquer sentido compreensível ou racional. Se acham que eu estou exagerando na crítica, podem conferir o vídeo, e também sofrer por duas horas.

Tutela militar sobre o Itamaraty: Não é bem sobre o Itamaraty, e sim sobre o chanceler especificamente. Aqui não é preciso inventar nada. Se havia alguma dúvida a respeito, basta ler ou ouvir o que disse o general Hamilton Mourão, vice-presidente, na reunião de Bogotá do Grupo de Lima sobre a Venezuela, na qual ele foi o chefe da delegação brasileira, sendo que só ele falou, num espanhol bastante correto, descartando por completo qualquer solução militar para o drama do país chavista, eliminando as sinalizações anteriores emitidas pelo chanceler no sentido de apoiar uma aventura americana de forçar ajuda humanitária pelas fronteiras colombiana e brasileira da Venezuela. Nesse caso, os militares estão atuando como diplomatas, defendendo princípios constitucionais brasileiros e o próprio Direito Internacional, e o chanceler parece estar empenhado em violar essas ferramentas básicas da diplomacia que ele deveria dirigir atendendo o que se julga essencial na condução da política externa.

O que estou fazendo agora? Nada de muito diferente do que já fiz durante boa parte dos governos lulopetistas entre 2003 e 2016: passar o meu tempo livre (embora involuntariamente) na Biblioteca, que é o meu habitat natural, lendo e escrevendo. Existe porém um problema: não acredito que a população brasileira, que paga o meu salário, assim como os órgãos de controle, estão de acordo em que eu receba um salário (ainda que diminuído de um quarto) sem que eu preste a contrapartida que é o trabalho na profissão para a qual eu fiz concurso, e que constitui a minha carreira primária. Acho também que o Itamaraty não merece isso.

Em voo, de Brasília ao Rio de Janeiro, 13/03/2019;
complementado em 14/03, para a lista dos trabalhos.