Brasil não deve assinar adesão à ‘Nova Rota da Seda’ na visita de Lula à China, diz Haddad
Segundo Haddad, a adesão não figura entre os documentos que serão firmados nesta sexta, quando o líder brasileiro estará em Pequim para encontros com o presidente chinês; cerca de vinte acordos devem ser assinados
Por Marcelo Ninio, O Globo — Xangai
13/04/2023
Não está prevista durante a visita do presidente Lula à China a entrada oficial do Brasil na chamada “Nova Rota da Seda”, o megaprojeto global de infraestrutura chinês que tornouse uma dos principais bandeiras da diplomacia do país asiático. É o que afirmou nesta quinta em Xangai o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, após dias de especulação de que o
Brasil poderia assinar um memorando de adesão ao plano, que este ano está completando dez anos.
Segundo Haddad, a adesão não figura entre os documentos que serão firmados nesta sexta, quando o presidente Lula estará em Pequim para encontros com o presidente chinês, Jinping, e outras autoridades do país. Cerca de vinte acordos devem ser assinados.
Fontes do governo relatam que persiste uma divisão sobre o tema nas esferas responsáveis pela tomada de decisão, sobretudo entre a Presidência e o Itamaraty. A favor está principalmente a perspectiva de um aumento de investimentos chineses em infraestrutura. O argumento contrário é de que este não seria o melhor momento para embarcar numa iniciativa chinesa com ambições geopolíticas sem uma contrapartida clara, que compense os ruídos que isso pode criar para o Brasil com parceiros do Ocidente, principalmente os EUA.
Haddad adiantou, contudo, que um cardápio de possíveis investimentos em infraestrutura está sendo preparado pela Casa Civil, e um dos principais locais de captação será a China. O plano, de acordo com o ministro, é “conciliar crescimento econômico com infraestrutura”. Além disso, uma das metas é atrair mais empresas chinesas para se instalar no Brasil, aproveitando a tendência de “descentralização” da produção industrial do país.
“As empresas da China já falam com cada vez mais liberdade da possibilidade de realizar investimentos em outros países e não centralizar aqui, por várias razões. Nós temos uma vantagem que pouquíssimos países do mundo têm, que é uma matriz muito limpa, que tende a ficar cada vez mais limpa, com energia solar, eólica”, afirmou.
Sobre o plano de Brasil e China ampliarem o volume de transações por meio de moedas locais, evitando o dólar e variações cambiais, Haddad negou que haja um componente geopolítico para o governo brasileiro, que possa levar à inclinação para um dos lados da disputa entre EUA e China.
“O Brasil não é um país alinhado no sentido tradicional do termo, é um país que sempre dialogou com todos os quadrantes sem privilegiar fortemente um lado e nunca fechou a porta para ninguém”, disse Haddad.