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domingo, 3 de dezembro de 2017

Oliveira Lima, um historiador das Americas - Paulo Roberto de Almeida e Andre Heraclio do Rego (CEPE)

Meu próximo livro, feito conjuntamente com meu colega André Heráclio do Rêgo, sociólogo e historiador. de raízes pernambucanas, publicado pela Companhia Editora de Pernambuco (Recife: CEPE, 2017, 175 p.; ISBN: 978-85-7858-561-7).


Índice
  
Apresentação: O maior historiador diplomático brasileiro
       Paulo Roberto de Almeida, André Heráclio do Rêgo

1. O Barão do Rio Branco e Oliveira Lima: vidas paralelas itinerários divergentes
       Paulo Roberto de Almeida


2. Oliveira Lima, intérprete das Américas
       André Heráclio do Rêgo

3. O império americano em ascensão, visto por Oliveira Lima
       Paulo Roberto de Almeida   

Apêndice: O Brasil e os Estados Unidos antes e depois de Joaquim Nabuco
       Paulo Roberto de Almeida   

Notas aos capítulos
Sobre os autores 


Apresentação
O maior historiador diplomático brasileiro

Paulo Roberto de Almeida
André Heráclio do Rêgo


A primeira delas, José Maria da Silva Paranhos Júnior, o barão do Rio Branco, era, ademais do negociador e do chanceler que marcou época, historiador, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Academia Brasileira de Letras. O segundo, Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo, além de haver sido o paladino do pan-americanismo e nosso primeiro embaixador em Washington, já na idade madura, após uma juventude em que deixou sua marca na História do Brasil, ao dedicar-se à causa abolicionista, era também historiador e memorialista, considerado por Gilberto Freyre como um dos maiores estilistas da língua portuguesa.
Essas duas primeiras personalidades foram consagradas ainda em vida. Nabuco, desde a campanha abolicionista; Rio Branco, desde as questões de limites. Multidões acorreram aos respectivos enterros, o de Joaquim Nabuco no Recife, em 1910, o de Rio Branco no Rio de Janeiro, ao início de 1912, ocasião na qual inclusive o carnaval teve que ser adiado.
A terceira personalidade não teve consagração em vida, e ainda hoje não alcançou completamente nem a póstuma. Trata-se de Manuel de Oliveira Lima. Pernambucano como Nabuco, Oliveira Lima era bem mais jovem do que os outros dois. Além da diferença generacional, também não compartilhava com eles a formação nos cursos jurídicos de Olinda e de São Paulo. Ao contrário, graduou-se em Lisboa, no curso superior de Letras, tendo uma formação ‘profissional’ nas áreas de História e Literatura. Terá sido, pois, na sua época, o único grande historiador brasileiro que não foi autodidata. Também ao contrário de Nabuco e Rio Branco, foi republicano na juventude e na idade madura flertou com a monarquia.
Entrou no Itamaraty no princípio da última década do século XIX, numa época em que a situação política de Rio Branco e Nabuco não era das melhores. Paralelamente à carreira diplomática, logo se iniciou na escrita da História, tendo publicado ainda nesta década dois livros, que possibilitaram sua entrada na Academia Brasileira de Letras entre os 40 primeiros integrantes, ou seja, como membro fundador, glória que, se não pode ser comparada à de Nabuco, que além de fundador foi o idealizador da instituição, ao lado de Machado de Assis, foi bem superior à de Rio Branco, que teve de esperar a abertura de uma vaga para entrar no grêmio.
Oliveira Lima poderia ter sido um êmulo do barão do Rio Branco, nosso grande chanceler e modelo da diplomacia até hoje, se tivesse mais ‘diplomático’. Sua caracterização como ‘diplomata dissidente’ é adequada; em alguns casos terá sido também um “rebelde com causa”, que foi a de sua luta pelo desenvolvimento social, político e econômico e do Brasil, para ele espelhando, mas apenas parcialmente, os magníficos progressos da nação americana, em cuja capital ele trabalhou como jovem diplomata, mas já totalmente consciente das grandes diferenças que separavam o mundo anglo-saxão do errático universo ibero-americano que ele soube analisar tão bem numa fase já madura de sua vida.
Não sendo muito diplomático e não aceitando ficar à sombra do poderoso barão, voltou-se cada vez mais para os estudos históricos, contando para tanto com a ajuda do próprio chefe desafeto, que lhe propiciava longos períodos de inatividade diplomática. Graças a esses longos períodos em disponibilidade e às longas licenças que tirava – o que certamente não agradava à chefia superior, que paradoxalmente o punia com longos períodos em disponibilidade, teve tempo para pesquisar e escrever, erguendo uma obra historiográfica mais sistemática e consistente que as de Rio Branco e Nabuco. Nela, foi muitas vezes pioneiro e precursor: da história da vida privada, por exemplo, ao indicar a utilização de romances como fonte historiográfica; da utilização das obras de viajantes estrangeiros sobre o Brasil. Sua obra antecipou, de certa forma, os escritos de Gilberto Freyre, Caio Prado Júnior, Sérgio Buarque de Holanda, Raimundo Faoro e José Honório Rodrigues, entre outros. Se passarmos para o campo da patriotada, poderíamos dizer até que ele foi precursor de Norbert Elias e de Lucien Febvre, respectivamente nos conceitos de processo civilizatório e de instrumentos mentais, e até mesmo de Georges Duby, no que se refere à caracterização tripartite da sociedade. Além disso, Oliveira Lima foi pioneiro em estudos comparatistas, e era o historiador brasileiro que mais sabia da história de Portugal, dispondo para tanto de uma capacidade de síntese sem igual.
Ele, como Nabuco e Rio Branco, foi único e incontornável, mas a História lhe foi ingrata, algumas vezes por culpa sua, por ser corajosamente sincero, ao ponto de ser incômodo. Após um começo brilhante, sua vida profissional e intelectual passou a se caracterizar por um ressaibo amargo de incompletude e de frustração, no que se poderia considerar uma trajetória interrompida. Ao contrário de Rio Branco e de Nabuco, ao seu enterro não compareceram multidões, apenas a esposa, que compartilhava com ele o ‘exílio’ em Washington, e mais uns poucos.
Aos 150 anos de seu nascimento, no Recife, em dezembro de 1867, vale examinar alguns dos seus muitos escritos com o objetivo de constatar que ele foi, efetivamente um dos grandes, senão o maior dos historiadores diplomáticos brasileiros, pesquisador incansável dos arquivos, leitor das crônicas dos contemporâneos, colecionador de manuscritos, de livros e de obras de arte, leitor da literatura de cada época, dos jornais do momento e dos grandes historiadores do passado. Sua obra completa excede as possibilidades de um único estudioso e, talvez por isso, temos de nos contentar com uma Obra Seleta, e com vários outros trabalhos, reeditados de forma dispersa e errática, ao sabor do interesse de editores, de admiradores e de alguns poucos acadêmicos devotados ao estudo de uma imensa série de livros, resenhas, notas e artigos de revista e de jornais, que pode facilmente encher mais de uma estante de livros.
Sua biblioteca, depositada na Universidade Católica de Washington, oferece um testemunho de seu voraz interesse por toda a história das civilizações ocidentais desde os descobrimentos, com um grande foco no hemisfério americano, daí o título desta coletânea por dois estudiosos e admiradores de sua obra, que é especialmente relevante no plano pessoal, não apenas pela mesma condição profissional, a de diplomatas de carreira, mas igualmente pelo que ela oferece como interpretação significativa, e ainda válida, a despeito da passagem de um século, sobre o desenvolvimento comparado dos povos das Américas. Oliveira Lima não foi apenas historiador, mas também sociólogo, cientista político, fino psicólogo dos personagens estudados – como D. João VI, por exemplo – e também uma espécie de antropólogo cultural, como tal inspirador de uma outra rica obra construída pelo conterrâneo Gilberto Freyre, que com ele conviveu em sua fase iniciante e já na fase madura e derradeira do grande historiador pernambucano.
Os trabalhos aqui coletados não podem representar a justa homenagem que lhe é devida no 150o aniversário de seu nascimento, mas eles representam, ainda assim, um testemunho de apreço, nos planos sociológico e historiográfico, pelo valor intelectual da produção ímpar do historiador e diplomata Oliveira Lima. Não temos nenhuma dúvida de que nos próximos 150 anos essa obra continuará a ser lida e a servir de inspiração a novos historiadores e sociólogos das civilizações do hemisfério americano.

Brasília, novembro de 2017



domingo, 26 de novembro de 2017

Oliveira Lima: um diplomata pouco... diplomatico - proximo livro - Paulo Roberto de Almeida, Andre Heraclio do Rego

Nosso próximo livro, sobre um colega diplomata de cem anos atrás, pouco diplomático, mas um grande historiador, e pensador, das coisas do Brasil e internacionais:

Manuel de Oliveira Lima
Um historiador das Américas



No Brasil fala-se ou muito bem ou muito mal dos Estados Unidos. Apontam-nos os seus admiradores como o único modelo a seguir... Os seus detratores culpam-nos de todos os crimes, desde a ambição devoradora de terras e de nacionalidades, até a corrupção política e social mais desbragada. […] apenas olhei para os Estados Unidos com olhos de brasileiro, ... buscando o que de aproveitável para nós poderia a meu ver resultar do exame e da confrontação.
Nos Estados Unidos, impressões políticas e sociais (1899)

Ao passo que no vosso país [Estados Unidos], sob tantos aspectos o mais progressivo do globo, [...] permanece premente tal questão [a da segregação], acendendo violências, [...] nós a temos liquidado do modo mais satisfatório, pela fusão.
América Latina e América Inglesa (1913-14)

Desde que, segundo os etnólogos, as raças puras são um erro à luz da história [...] devemos admitir que a solução ibero-americana, isto é, a da fusão das raças, é mais promissora, mais benéfica e especialmente mais humana do que a separação ou a segregação praticada pelos Estados Unidos.
Aspectos da história e da cultura do Brasil (1923)

  
Manuel de Oliveira Lima
25 de dezembro de 1867, Recife, Pernambuco
24 de março de 1928, Washington, D.C., EUA


Sumário: 

Apresentação: O maior historiador diplomático brasileiro
       Paulo Roberto de Almeida, André Heráclio do Rêgo
1. O Barão do Rio Branco e Oliveira Lima: vidas paralelas itinerários divergentes
       Paulo Roberto de Almeida
2. Oliveira Lima, intérprete das Américas
       André Heráclio do Rêgo
3. O império americano em ascensão, visto por Oliveira Lima
       Paulo Roberto de Almeida
Apêndice: O Brasil e os Estados Unidos antes e depois de Joaquim Nabuco
       Paulo Roberto de Almeida

O Itamaraty, ao final do século XIX e início do XX, reunia três grandes nomes diplomáticos e culturais. O primeiro, José Maria da Silva Paranhos Júnior, o barão do Rio Branco, era, ademais de negociador e chanceler, historiador, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Academia Brasileira de Letras. O segundo, Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo, também historiador e memorialista, paladino do pan-americanismo e primeiro embaixador em Washington, deixou sua marca na história do Brasil, ao batalhar duramente pela causa abolicionista.
O terceiro, Manuel de Oliveira Lima, não teve consagração em vida, e ainda hoje não alcançou completamente nem a póstuma. Pernambucano como Nabuco, era bem mais jovem que os outros dois. Além da diferença de idades, não compartilhava com eles a formação nos cursos jurídicos de Olinda e de São Paulo. Ao contrário de Nabuco e de Rio Branco, foi republicano na juventude e monarquista na idade madura. Poderia ter sido um êmulo do barão do Rio Branco, o grande chanceler e modelo da diplomacia, se tivesse sido... mais ‘diplomático’.
Foi um ‘diplomata dissidente’, talvez até um ‘rebelde com causa’, que foi a da luta pelo desenvolvimento social, político e econômico e do Brasil, para ele espelhando, ao menos parcialmente, os magníficos progressos dos Estados Unidos, em cuja capital trabalhou como jovem diplomata, mas já totalmente consciente das grandes diferenças que separavam o mundo anglo-saxão do errático universo ibero-americano, que ele soube analisar tão bem numa fase já madura de sua vida.
Este livro, ademais de traçar paralelos entre os itinerários de Rio Branco e de Oliveira Lima, destaca, justamente, sua obra de historiador das Américas, mas também como intérprete da ascensão do grande império econômico e comercial, que ele analisou no momento crucial em que os EUA, já curados das feridas da guerra civil, flexionavam os músculos em suas primeiras aventuras no Caribe e na América Central, e já se preparavam para adentrar no cenário geopolítico mundial. Um texto final analisa um ensaio de Joaquim Nabuco sobre o papel dos Estados Unidos na ‘civilização’ do início do século XX e segue a trajetória de desenvolvimento do Brasil ao longo do século.

Paulo Roberto de Almeida é diplomata de carreira, doutor em ciências sociais e atual Diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI-Funag), do Itamaraty. 
André Heráclio do Rego, também diplomata de carreira, é doutor em história social e autor de diversos artigos e livros nessa área, entre os quais Família e coronelismo no Brasil – uma história de poder.

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Oliveira Lima: 150 anos do nascimento - Coloquio na PUCRS, 3-4/10/2017

LECTURES, SEMINARS AND EVENTS
Colóquio Oliveira Lima 150 anos - PUCRS 2017

O evento se realizará nos dias 3 e 4 de outubro de 2017 na PUCRS em Porto Alegre em comemoração ao sesquicentenário de nascimento do diplomata e historiador brasileiro Manoel de Oliveira Lima. O Colóquio reunirá pesquisadores de diversas áreas das Ciências Humanas e Sociais para discutir a obra e o legado de Oliveira Lima.
As informações sobre o evento e chamada de trabalhos se encontram no site http://www.pucrs.br/eventos/inst/oliveiralima.
O Colóquio celebra o sesquicentenário de nascimento de Manoel de Oliveira Lima (Recife, 25/12/1867, Washington, 24/03/1928) reunindo especialistas de diversas áreas das Ciências Sociais e Humanidades para discutir as principais facetas da sua longa e prolífica carreira como diplomata, historiador, jornalista e crítico literário. A data é propícia não apenas para celebrar a vida e a obra de um dos intelectuais mais importantes de sua geração, mas também serve como parte de um esforço de resgate. Hoje, é fácil perder a noção de quem foi Oliveira Lima e do espaço que ocupou no seu tempo. Mas não é exagero colocá-lo entre os grandes intelectuais do seu tempo e um dos brasileiros mais influentes fora do país.
Um “torpedo diplomático” que sofria de “incontinência da pena” nas palavras de Joaquim Nabuco. Um “Dom Quixote gordo” aos olhos de Gilberto Freyre. Controverso, polêmico, dissidente, divergente, rebelde, são todos adjetivos comumente utilizados para descrevê-lo. Alguns são melhor empregados que outros, mas todos certamente precisam ser entendidos em relação ao contexto em que lhe foram atribuídos. Crítico mordaz, apreciador de um bom debate, polemista convicto e defensor empedernido da sua independência de opinião, chegando até as raias da intransigência e possivelmente do bom senso em algumas ocasiões, o diplomata pernambucano conquistou admiradores fieis quase na mesma medida em que granjeou inimigos e desafetos e merece uma celebração a altura da sua contribuição para a literatura, a historiografia e a diplomacia no Brasil.
O presente Colóquio, portanto, aproveitando-se da ocasião dos 150 anos de nascimento de Manoel de Oliveira Lima, se propõe a discutir, numa abordagem multidisciplinar, as principais facetas da sua carreira. Com isso, espera-se divulgar a sua obra e debater sobre o legado de Oliveira Lima para as diversas áreas em que atuou, como a historiografia, a literatura, a diplomacia e o jornalismo.
  • Aproveitar a ocasião dos 150 anos de nascimento de Manoel de Oliveira Lima para, a partir de uma abordagem multidisciplinar, discutir as principais facetas da sua carreira. Com isso, espera-se divulgar a sua obra e debater sobre o legado de Oliveira Lima para as diversas áreas em que atuou, como a historiografia, a literatura, a diplomacia e o jornalismo.
  • Analisar a obra de Oliveira Lima em suas diversas facetas, estreitando o diálogo multidisciplinar entre as diversas áreas do conhecimento implicadas em suas obras, tais como a História, a Sociologia, a Ciência Política, a Literatura e as Relações Internacionais.
  • Analisar a produção historiográfica mais recente e atualizar o debate sobre a obra e atuação diplomática de Oliveira Lima.
  • Divulgar o conhecimento histórico acadêmico produzido sobre a obra e atuação política de Oliveira Lima aos pesquisadores das áreas de História, Sociologia, Ciência Política,  Literatura e Relações Internacionais e demais interessados.
Alunos de graduação e pós-graduação e pesquisadores das áreas de História, Sociologia, Ciência Política,  Literatura e Relações Internacionais e demais interessados na vida e na obra de Manoel de Oliveira Lima.
O Colóquio Oliveira Lima 150 anos se realizará nos dias 03 e 04 de outubro de 2017 na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Escola de Humanidades (Prédio 5, sala 407.1).
Comissão Organizadora
Dr. Luciano Aronne Abreu
Dra. Nathalia Henrich
Dia 03 de outubro
Horário Atividade
9h30min às 10h Abertura
Prof. Dra. Duilia F. De Mello (The Catholic University of America)
10h às 11h30min Mesa Redonda Oliveira Lima: Historiador
Prof. Dra. Teresa Malatian (UNESP)
Prof. Dr. Marcos Galindo (UFPE)
Prof. Dra. Nathalia Henrich (PUCRS)
Moderador: Prof. Dr. Luciano Aronne de Abreu
14h às 15h30min Mesa Redonda Oliveira Lima: Crítico literário
Prof. Dr. Ricardo Souza de Carvalho (USP)
Prof. Dr. Antonio Arnoni Prado (UNICAMP)
Moderador: Prof. Dr. Helder Gordim da Silveira (PUCRS)



Dia 04 de outubro
Horário Atividade
10h às 11h30min Mesa Redonda 
Oliveira Lima: Diplomata 
Prof. Dra. Katia Gerab Baggio (UFMG)
Prof. Dr. Helder Gordim da Silveira (PUCRS)
Moderadora: Prof. Dra. Nathalia Henrich (PUCRS)
14h às 15h30min Apresentação de trabalhos


http://www.pucrs.br/eventos/inst/oliveiralima/

domingo, 22 de novembro de 2015

Erico Verissimo, americanista brasileiro - Arnaldo Godoy

Embargos Culturais

O gaúcho Erico Veríssimo foi um verdadeiro americanista brasileiro

Consultor Jurídico,
O escritor gaúcho Erico Verissimo (1905-1975) viveu nos Estados Unidos da América em duas ocasiões: uma estada curta (por dois meses, em 1941) e uma estada mais alongada (por dois anos, de 1943 a 1945). Nesta segunda oportunidade, ao lado de esposa e filhos, Verissimo viveu na Califórnia (primeiramente na Universidade de Berkeley, em Oakland) e depois em Los Angeles. Suas impressões de viagem, e da vida norte-americana, na etapa final da segunda guerra mundial, estão gravadas em delicioso livro, A volta do gato preto[1].
Esse livro tem páginas memoráveis, relativas à vida norte-americana, na impressão de um brasileiro culto. Nesse sentido, o deslumbramento de Verissimo com aspectos centrais da vida norte-americana qualificam-no, de algum modo, como um Alexis de Tocqueville brasileiro[2]. Exemplifico com corajosa passagem sobre a vida religiosa do norte-americano. Para Verissimo, o tema religioso nos Estados Unidos (na época em que lá esteve, bem entendido) não era assunto substancialmente metafísico; o norte-americano, segundo Veríssimo, não se interessava pela questão da alma e pelas qualidades intrínsecas da fé e da devoção, enquanto problemas centrais na existência. Para Verissimo, em audaciosa passagem, a religião era para o norte-americano da época “(...) um tipo de gadget, de engenhoca (...) uma espécie de máquina de ir para o céu”[3].
Ainda que Veríssimo admitisse que fixava uma caricatura, o que não excluía a “parecença”, em suas próprias palavras, porquanto caricaturas e parecenças “têm sempre sua dose de verdade”[4]. Reconhecendo que não era sociólogo ou ensaísta ou mesmo homem de ciência[5], Verissimo experimentava instrumentos de ficção para examinar problemas da realidade[6]; algumas passagens do livro são entabuladas em forma de diálogos epistolares.
Veríssimo entendia que os norte-americanos eram “extrovertidos, objetivos, arejados e práticos, de sorte que querem [queriam] ver o problema da outra vida posto sobre bases deste mundo”[7]. Indagando se havia algum santo norte-americano, o que relatava desconhecer[8], Verissimo impressionava-se com uma cultura não inclinada ao êxtase religioso[9]. O escritor gaúcho nos dava conta do pragmatismo e do realismo, enquanto filosofias nacionais dos Estados Unidos.
O modo como os norte-americanos se relacionavam com o tempo também intrigava nosso célebre escritor. Para Veríssimo “o problema do tempo é muito sério num país que descobriu tantas formas de divertimentos, tantas atividades, e que não encontra tempo suficiente para gozar desses divertimentos e exercer essas atividades”[10]. Essa curiosa questão também atormentou Max Weber, calcado no mote de Franklyn, para quem o tempo seria também expressão do dinheiro.
Assim, para Veríssimo, os norte-americanos inventavam coisas que simplificavam a vida e que espichavam o tempo[11]. Ilustrava essa premissa com a máquina de lavar roupa: “Você compra uma dessas engenhocas, pega o livro que traz as instruções para o seu manejo, coloca a roupa suja no lugar indicado, aperta o botão, tudo de acordo com as recomendações do livrete, e a máquina começa a funcionar: você pode ir tratar doutra coisa, na certeza de que no momento devido a roupa sairá lá do outro lado, alva, limpa, imaculada, numa economia de tempo, esforço e preocupação”[12].
Religião, administração do tempo, cultura cívica, cinema, literatura, gastronomia, estética, relações interpessoais, política, guerra, são vários os tópicos que ocuparam a privilegiada especulação de Erico Verissimo, em livro absolutamente atemporal, porquanto captou no efêmero, no contingente e no fato diverso transitório, o que imanente, permanente e marcante numa civilização. Essa constatação realça a importante posição de Erico Verissimo em nossa história literária.
 
[1] Verissimo, Erico, A Volta do Gato Preto, São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
[2] Esse pequeno ensaio foi inspirado após rápida conversa em Brasília com Paulo Roberto de Almeida, diplomata, um dos mais preparados intelectuais brasileiros da atualidade, que me chamou a atenção para outras expressões culturais brasileiras, que se revelariam como americanistas, a exemplo de Hipólito da Costa Pereira e Oliveira Lima. Hipólito deixou-nos “Diário da Minha Viagem para Filadélfia (1798-1799) e Oliveira Lima escreveu “Nos Estados Unidos- Impressões Políticas e Sociais”. Esse último livro conta com prefácio de Paulo Roberto de Almeida, cuja leitura é imprescindível introdução para compreensão das opiniões e idiossincrasias de Oliveira Lima, também diplomata e americanista.
[3] Verissimo, Erico, cit., p. 259.
[4] Verissimo, Erico, cit., loc. cit.
[5] Cf. Verissimo, Erico, cit., loc. cit.
[6] Cf. Verissimo, Erico, cit., loc. cit.
[7] Verissimo, Erico, cit., loc. cit.
[8] Cf. Verissimo, Erico, cit., loc. cit.
[9] Cf. Verissimo, Erico, cit., loc. cit.
[10] Verissimo, Erico, cit., p. 260.
[11] Cf. Verissimo, Erico, cit., loc. cit.
[12] Verissimo, Erico, cit., loc. cit.