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sábado, 18 de maio de 2013

CNPq se sujeitou ao racismo oficial do governo: debate no meio academico

Obviamente, os burocratas chefes do CNPq se dobraram às ordens políticas dos mandantes de plantão, que por sua vez se dobraram à militância negra-racista organizada politicamente.
Sua missão é clara: a pretexto de igualdade racial, estão criando o Apartheid racial no país. Se são a favor da raça negra, como dizem, é porque desejam impedir que a raça negra se misture com esses brancos racistas que ainda dominam economicamente e socialmente (mas não mais politicamente).
A persistir o racismo do CNPq, minha proposta é muito clara: que todos os cientistas se declarem negros, simples assim. Seremos todos negros, daqui para a frente.
Seria a única forma de desmascarar, ridicularizar, denunciar o racismo ordinário de quem pretende dividir a comunidade científica, e o país, em raças.
Paulo Roberto de Almeida


Qual a sua raça/cor?

Obrigatoriedade de responder a essa pergunta na Plataforma Lattes provoca indignação em parte da comunidade científica e renova a discussão sobre a ideia de raça e políticas afirmativas.
Sofia Moutinho
Ciência Hoje online, 13/05/2013
A Plataforma Lattes ganhou um campo obrigatório sobre raça/cor. A medida vale para qualquer documento ou formulário de órgãos federais. (imagem: reprodução)



O pesquisador que tentou atualizar seu currículo na Plataforma Lattes recentemente se deparou com a obrigatoriedade de preenchimento do novo campo ‘raça/cor’. O requisito tem levantado discussões na comunidade científica e gerado protestos nas redes sociais. 
Muitos cientistas, especialmente de áreas biológicas, não concordam com a inclusão do campo por acreditarem que o conceito de raça não é respaldado pela ciência e, portanto, não seria condizente com a plataforma científica. 
“Esta categoria de classificação cientificamente não aceita só faz aumentar o racismo”, postou a bióloga Flávia Rocha em sua página do Facebook. “Sou bióloga, pesquisadora, professora, brasileira. Isso já deveria ser o suficiente."
A novidade não é exclusiva do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), órgão que gerencia o Lattes. O quesito ‘raça/cor’ passou a ser campo obrigatório nos registros administrativos, cadastros, formulários e bases de dados do governo federal por determinação de um aviso circular emitido em dezembro do ano passado pelas ministras Gleisi Hoffmann (Casa Civil), Luiza Bairros (Igualdade Racial) e Miriam Belchior (Planejamento). 
Segundo a Sepir, a medida serve para que os órgãos públicos possam monitorar as ações de promoção da igualdade racial 
Segundo a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Sepir), a medida serve para que os órgãos públicos possam monitorar e avaliar as ações de promoção da igualdade racial previstas na lei 12.288, de 2010, que institui o Estatuto da Igualdade Racial.
“As desigualdades presentes no grau de alcance e de impacto das políticas públicas na realidade de mais da metade da população brasileira, que é negra, faz do quesito raça/cor um instrumento fundamental da ação governamental no planejamento, na avaliação e no alcance de tais políticas públicas”, explica a secretária de Políticas de Ações Afirmativas da Sepir, Angela Nascimento, em comunicado oficial.

Repercussão 

O geneticista Sérgio Danilo Pena, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é dos cientistas mais críticos à mudança no Lattes. Ao saber da novidade, enviou um e-mail ao CNPq manifestando sua opinião. 
“Disse a eles que a história está crivada de lamentáveis episódios em que a ciência se curvou perante demandas irracionais da política, com consequências invariavelmente dramáticas”, conta. “Ao contrário de colaborar imediatamente com essa imposição racialista e anticientífica, o CNPq deveria ter se recusado a obedecer a essa circular (que não está lastreada na Lei) e protestado fortemente através de sua Procuradoria Jurídica. Afinal, o CNPq deveria ser o primeiro a proteger a ciência, em vez de se curvar perante os burocratas do governo.”
Em e-mail à Ciência Hoje On-line, o CNPq respondeu que apenas acatou a decisão dos ministérios e que ainda “não há definição do uso desses dados”.
A indignação de Pena se explica pela sua linha de pesquisa. Há anos o geneticista estuda a ancestralidade genética da população brasileira e vem demonstrando que, biologicamente, não é possível falar em raças humanas. Outro ponto sustentado pelo trabalho de Pena é que, devido à ampla mistura de genes entre a população brasileira, não existe correspondência entre a cor da pele e a ancestralidade, podendo uma pessoa descendente de europeus ter pele escura e vice-versa. 
Com base nesses dados, o pesquisador toca a campanha internacional We are no race pela ‘desracialização’. Ele acredita que o fato científico da inexistência de raças deveria ser incorporado pela sociedade como forma de extinguir o racismo.
We are no race
O geneticista Sérgio Pena promove uma campanha contra a permanência do conceito de raça. (imagem: reprodução)
“Ações afirmativas são virtuosas e devem ser implementadas, mas é um contrassenso que, em prol de ações reparadoras, as próprias vítimas do racismo no passado queiram agora usá-lo como base para suas políticas de ação afirmativa”, diz. “A única opção é eliminar o conceito de raça completamente e criar uma sociedade ‘desracializada’, onde as diferenças individuais sejam valorizadas.”
A implementação do novo campo no Lattes também gerou desconforto para o antropólogo Roberto DaMatta. O pesquisador não vê razão para a mudança e acredita que o preenchimento do novo campo acaba reforçando a discriminação racial.
Pena: “É um contrassenso que as próprias vítimas do racismo queiram agora usá-lo como base para suas políticas de ação afirmativa”
Sempre fui favorável às cotas étnicas. Cansei de testemunhar o fato de não brancos só terem uma presença exemplarmente ausente das elites do Brasil”, escreveu em sua coluna no jornal O Globo. “O que me intriga nessa obrigatoriedade é descobrir o que a autoclassificação étnica tem a ver com pesquisa acadêmica e científica. Qual é o propósito de saber se sou desta ou daquela etnia quando registro no meu Lattes um artigo que acabo de publicar? Não estaríamos correndo o risco de promover racismo quando nosso objetivo seria liquidá-lo?”

Ciência x sociedade

A antropóloga Ilana Strozenberg, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), concorda com a defesa de Pena por uma sociedade sem raça, mas lembra que esse conceito, apesar de não ter bases científicas na atualidade, já foi disseminado pela própria ciência e tem ainda hoje um forte peso social que não pode ser ignorado. 
“A raça é uma construção social que foi legitimada pela medicina, sobretudo no início do século 20”, lembra a antropóloga. “Durante muito tempo a cultura encontrou na ciência um respaldo para dizer que raça fazia sentido; hoje é o contrário. Com o avanço das pesquisas genéticas, se percebeu que a raça é uma falácia do ponto de vista da ciência, mas a noção permanece na maneira como as sociedades lidam com as diferenças entre pessoas. Quando um cientista faz questão de mostrar que a raça não existe é porque ele de alguma forma se dá conta de que a confirmação da existência das raças num determinado momento gerou uma justificativa para violência e descriminação.”
Strozenberg: “Quanto menos se enfatizar a ideia de raça e quanto mais se criticar essa ideia como critério para marcar a diferença entre seres humanos, melhor”
Ainda assim, Strozenberg acredita que a desracialização é uma forma válida de combater o racismo. “É importantíssimo divulgar que do ponto de vista da ciência a raça não faz sentido”, defende. “Pensar que a ciência vai ter essa influência no âmbito cultural é uma utopia, mas uma utopia em direção à qual devemos trabalhar. Quanto menos se enfatizar a ideia de raça e quanto mais se criticar essa ideia como critério para marcar a diferença entre seres humanos, melhor.”
A antropóloga, que escolheu a opção "não desejo declarar" (cor ou raça) ao preencher o Lattes, questiona os usos que poderão ser feitos com os dados fornecidos no novo campo. Ela teme que eles sejam tomados como base para justificar políticas de acesso ao ensino superior que focam a ideia de raça, mas deixam de lado a questão socioeconômica.
“A divulgação desses dados pode ser utilizada tanto para dizer que os negros não têm capacidade de inserção no ensino superior quanto para dizer que os negros são excluídos do ensino superior”, comenta. “A primeira opção seria o apocalipse e a segunda parte do pressuposto de que essas pessoas só são excluídas porque se identificam como negras. Esse discurso ignora todos os problemas da educação pública voltada para camadas de baixa renda. O impedimento ao acesso à universidade não é uma questão de cor, é uma questão socioeconômica, devido à falta de boas condições de vida e ensino público de qualidade.”
Já o economista da UFRJ Marcelo Paixão, responsável por propor cotas raciais nessa instituição, não vê razão para alarde e defende o preenchimento do novo quesito. 
Paixão: “A variável cor/raça não é novidade e constitui um importante mecanismo para mensurar as desigualdades sociais”
“A variável cor/raça não é novidade, faz parte dos sistemas de produção de dados estatísticos do país desde a década passada e constitui um importante mecanismo para mensurar as desigualdades sociais em nosso país”, afirma. “Sem elas, não saberíamos que grandes mazelas nacionais como o trabalho infanto-juvenil, o desemprego e a falta de acesso à terra têm incidência mais elevada para os pretos, pardos e indígenas. O mesmo ocorre no meio acadêmico brasileiro, que veio se notabilizando pela sua escassa presença de pessoas de peles escuras.”
Para Paixão, a geração de informações sobre a presença/ausência de pardos e negros na academia é importante para embasar ações direcionadas a superar o “monocromatismo de nosso ambiente acadêmico, potencializando que o sistema científico do país abrigue, dentro das salas de aulas e laboratórios, a mesma diversidade que caracteriza nossa população”.
Sofia MoutinhoCiência Hoje On-line

sábado, 27 de abril de 2013

CNPq adere ao novo Apartheid: tornou-se racista, como boa parte do governo e os militantes da nova causa racialista

O novo RACISMO do CNPq

Incrível: o Brasil caminha de fato para construir um novo Apartheid, oficial, tanto quanto o era o da África do Sul, antes do regime de maioria negra (teoricamente multirracial), quando o Estado promovia ativamente a separação da população em categorias raciais.

Ao acessar nesta data meu Currículo Lattes, para atualizar os dados com as últimas publicações, fui confrontado (este é o termo) com a afirmação de que a escolha de minha classificação racial era OBRIGATÓRIA, como antigamente se fazia no regime do Apartheid da África do Sul, ou na Alemanha nazista, ambos de triste memória.
Não tinha escolha, a não ser indicar a "minha raça", pois o sistema, de tão fascista, me obriga a fazer uma escolha, antes de poder dar prosseguimento ao que vim fazer no site do CNPq.
Gostaria de colocar raça humana, ou nenhuma, mas lá estavam todas das supostas raças que "dividem" a população brasileira.

Infelizmente, como último recurso, escolhi justamente a última opção, que simplesmente se refere a "Não desejo declarar".
PROTESTO: fica parecendo uma negativa de minha parte frente a uma determinação OBRIGATÓRIA de um ESTADO que se tornou RACISTA.

Não é que eu "Não desejo declarar".
Eu quero, sim, declarar que ABOMINO esse tipo de RACISMO numa instituição que se toma por científica.
Esse é mais um avanço fascista da minoria de militantes racialistas, os novos partidários do Apartheid, que pretendem dividir o país em categorias raciais absolutamente esquizofrênicas:

Branca
Parda
Preta 
Indígena
Amarela

Será que é isso que desejamos para o nosso país: o novo Apartheid?

Protesto veementemente contra o racismo dos companheiros, fascistas enrustidos, que pensam que são progressistas, quando são reacionários autoritários, fazendo o Brasil recuar mais de um século na escala civilizatória.
RACISTAS!

Paulo Roberto de Almeida 
Hartford, 27 de Abril de 2013

sexta-feira, 9 de março de 2012

Academicos querem permanecer na torre de marfim (mais comodo...)

Quando um acadêmico começa a falar em "lógica do mercado", pode sair debaixo que lá vem bobagem.
Essas pessoas acham que a sociedade precisa pagá-las regiamente e não pedir nada em troca, e eles, de forma muito condescendente, se por acaso produzirem algo de útil, quem sabe poderão prestar contas à sociedade do que fizeram?
Inúteis, preguiçosos, irresponsáveis...
Paulo Roberto de Almeida 

TENDÊNCIAS E DEBATES

A universidade a serviço do mercado?

Nova ferramenta da plataforma eletrônica do Lattes quer obrigar cientistas a 'prestarem contas' à sociedade. Mas seria dever do pesquisador apresentador resultados palpáveis? 

Por Bolívar Torres

Opinião e Notícia, 9/03/2012
O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) anunciou que irá acrescentar duas novas abas para divulgação pública no Lattes, plataforma eletrônica que exibe currículos e atividades de 1,8 milhão de pesquisadores de todo o país. A partir de agora, os cientistas brasileiros também deverão descrever, além de informações básicas pessoais e acadêmicas, iniciativas de divulgação e de educação científica – o que significa, na prática, fazer a promoção de seus projetos ao público não especializado e, segundo a instituição, “ligar o trabalho a inovações que contribuam com as políticas públicas e até mesmo para a criação de novos produtos a serem lançados no mercado”. Apresentada como um grande benefício à sociedade, a obrigação de prestar contas não agradou a diversos pesquisadores e professores, que veem nas novas abas um sintoma dos rumos da pesquisa no país.
Em entrevista à Agência Brasil, o presidente do CNPQ, Glaucius Silva, justificou o proposta: “No século 21, o cientista reconhece seu papel de engajamento na sociedade. Ele sabe que está sendo pago e financiado e que deve uma prestação de contas sobre o que faz. Ainda há um fosso grande entre aqueles que fazem ciência e aqueles que consomem e financiam a ciência. A sociedade não conhece com profundidade toda a riqueza com que a ciência brasileira tem contribuído para o desenvolvimento nacional”.
Em outras palavras, o cientista deverá se explicar para a sociedade, justificando o seu financiamento. Seria a nova proposta um passo importante para uma relação mais transparente entre os cientistas e o grande público, ou, ao contrário, uma inoportuna intromissão no trabalho científico?
“A tendência geral é subordinar a ciência a uma lógica de mercado e produtividade. Acho isso fortemente desaconselhável”, avalia o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, professor do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Se for opcional não vejo porque não fazê-lo, desde que não se julgue o pesquisador por não fazer a auto-propaganda. O fundamental é que não percamos tempo demais promovendo e vendendo a pesquisa a tal ponto de não termos mais tempo de fazê-la. Esse é o maior problema”.
Já para Bruno Gripp, professor de Letras da UFF, a proposta, longe de “ajudar a ciência”, vai de encontro à própria noção de universidade.
“Não se estuda, por exemplo, física teórica ou filosofia analítica na busca de um produto palpável, de um resultado que a sociedade pode ver”, argumenta . “É impossível para pesquisadores de áreas mais áridas como essa simplesmente serem compreendidos por seus pares, quanto mais atingirem o grande público. É bom notar que, por mais nobre que seja, a divulgação científica não é ciência em si, é apenas algo que fica no lugar da ciência, serve para introduzir, entreter e motivar ao estudo, mas apenas para isso”.
A ‘utilidade’ da ciência
Gripp acredita que há um erro muito comum em todos os lados do espectro político, de tentar ver na educação uma “função” e um “objetivo”.
“Educa-se a população para ‘crescimento econômico’, ‘justiça social’ ou qualquer dessas palavras de ordem que um governo elege para si e é eleito por elas. Mas na verdade essa maneira de ver a educação impede de ver aquilo que ela realmente é: formadora de pessoas. E isso é válido em todos os escalões do sistema educacional, desde o primário até a pós graduação. A exigência de que o pesquisador traga resultados palpáveis é desprezar uma das características mais importantes do conhecimento: ele é um objetivo por si só”.
Alguns acadêmicos também veem na proposta uma submissão perversa à lógica de mercado. Desiludido com os rumos da universidade brasileira, um professor de filosofia da Universidade Federal do Paraná, que preferiu não se identificar, acredita que o “engajamento na sociedade” proposto pela instituição é interpretado segundo “o modelo político-econômico da relação entre produção e consumo”, como se os resultados da pesquisa científica pudessem assumir a forma da mercadoria sem se desfigurar completamente.
“Isso se manifesta de forma bem evidente na vida acadêmica”, explica. “Os cursos de graduação e pós-graduação têm se tornado inteiramente dependentes da adesão à lógica mercadológica imposta pelas agências financiadoras da pesquisa. Sem isso, eles simplesmente não dispõem de recursos para funcionar. Concretamente, essa condição influencia o trabalho de professores e estudantes de forma decisiva: as atividades burocráticas se assomam às da pesquisa, de forma a sobrepor-se a estas, o professor tendo de atuar como administrador de recursos financeiros destinados à pesquisa, e o estudante, como funcionário da ‘empresa’”.
Estabeleceria-se assim, segundo ele, um tipo de hierarquia claramente mercadológica, uma “mentalidade desenvolvimentista” que, ao excluir agentes formadores não quantificáveis, provocaria uma homogeneização do trabalho acadêmico e um consequente decréscimo da qualidade das pesquisas.
“É incrível como, atualmente, o grande assunto entre os professores que trabalham na pós-graduação (falo, a princípio, a partir de minha própria experiência na área de ciências humanas) é a competição entre os programas por verbas e prestígio institucional”, desabafa. “O foro em que se decide essa competição são as cúpulas e as coordenações das áreas de pesquisa no CNPq, onde entram em disputa, inclusive por parte de pesquisadores-líderes, interesses políticos e fisiológicos externos à pesquisa acadêmica, sem que nisso os projetos de pesquisa sejam avaliados preferencialmente segundo o mérito e, como seria ainda mais desejável, conforme um espírito pluralista de respeito e cultivo da diversidade das perspectivas teóricas. Mesmo quem discorda desse sistema, e não são todos, é constrangido a colaborar, para manter seu posto na pós-graduação como pesquisador e orientador dos trabalhos dos estudantes”.
Libânio Cardoso, professor de filosofia, da Unioeste (Paraná), acredita que os pressupostos errados têm produzido efeitos nocivos em todos os níveis, inclusive na formação escolar.
Educar vs. profissionalizar
“É decisivo lembrar que esta ideia de produção e consumo, de quantificação e avaliação de resultados objetivos, e agora de ‘prestação de contas’, corrói o ensino fundamental e o ensino médio, porque lança sobre eles valores e conceitos que nada têm a ver com a paixão pelo estudo e pela investigação científica livres. Já há escolas para crianças que ‘se’ divulgam como formadoras de líderes, de empreendedores, como se fossem campos de profissionalização. Isto deveria ser imediatamente objeto de escândalo e de intervenção pública e é, no entanto, chancelado pela concepção errônea de educação que temos operado, no ensino superior. Educar não é profissionalizar, nem formar líderes sociais, empreendedores, pesquisadores utilizáveis para fins – não é formar gente como instrumento social. Educar é fazer ver que o grande problema do Homem, em qualquer época e situação, é tornar-se integralmente humano. Só depois desse aprendizado alguém pode assumir uma profissão”.
Ainda em entrevista à Agência Brasil, o presidente do CNPq defendeu outra medida polêmica, em vigor desde junho de 2011: a exigência de que os relatórios eletrônicos de concessão científica sejam escritos em “linguagem para não especialistas”, apresentando-os de forma atraente e simplificada.
“Com isso, eu passo a ter um banco fantástico para alimentar [com os dados] os jornalistas”, disse Silva.
A exigência, porém, poderia implicar um outro efeito nocivo, o de nivelar a pesquisa de acordo com a demanda. Não haveria o risco de se fomentar, por causa disso, um vício jornalístico em buscar e publicar informações “mastigadas”, praticamente cópias de release? Para Eduardo Viveiros de Castro, seria muito mais útil o CNPq promover cursos e formação para jornalistas científicos do que transformar pesquisadores em jornalistas.
“Não acho que criar bancos de dados para jornalistas seja uma necessidade urgente do sistema”, pontua. “Dependendo da pesquisa, em áreas de matemática avançada e física avançada, não vejo como tornar a linguagem acessível sem trair a pesquisa. E o talento para divulgação não é dado a todo mundo. Há cientistas que sabem fazê-lo, mas é um mérito secundário, não um pré-requisito. Um cientista não deve ser julgado pelos seus talentos de divulgação. O que ele tem que fazer bem é aquilo que não é inteligível ao leigo. Se o que tem para dizer fosse acessível a todos, então, para que dizê-lo?”
Procurado pelo Opinião e Notícia, o presidente do CNPq, Glaucius Silva, não retornou o pedido de entrevista.