Manuel de Oliveira Lima
Um historiador das Américas
No Brasil fala-se ou muito bem ou muito mal
dos Estados Unidos. Apontam-nos os seus admiradores como o único modelo a
seguir... Os seus detratores culpam-nos de todos os crimes, desde a ambição
devoradora de terras e de nacionalidades, até a corrupção política e social
mais desbragada. […] apenas olhei para os Estados Unidos com olhos de
brasileiro, ... buscando o que de aproveitável para nós poderia a meu ver
resultar do exame e da confrontação.
Nos Estados Unidos, impressões políticas e sociais (1899)
Ao passo que no vosso país [Estados Unidos],
sob tantos aspectos o mais progressivo do globo, [...] permanece premente tal
questão [a da segregação], acendendo violências, [...] nós a temos liquidado do
modo mais satisfatório, pela fusão.
América Latina e América Inglesa (1913-14)
Desde que, segundo os etnólogos, as raças
puras são um erro à luz da história [...] devemos admitir que a solução
ibero-americana, isto é, a da fusão das raças, é mais promissora, mais benéfica
e especialmente mais humana do que a separação ou a segregação praticada pelos
Estados Unidos.
Aspectos da história e da cultura do Brasil (1923)
Manuel
de Oliveira Lima
25 de dezembro de 1867, Recife, Pernambuco
24 de março de 1928, Washington, D.C., EUA
Sumário:
Apresentação:
O maior historiador diplomático brasileiro
Paulo Roberto de
Almeida, André Heráclio do Rêgo
1. O Barão do Rio Branco e Oliveira Lima: vidas paralelas
itinerários divergentes
2. Oliveira Lima, intérprete das Américas
André Heráclio do Rêgo
3. O
império americano em ascensão, visto por Oliveira Lima
Paulo Roberto de
Almeida
Apêndice:
O Brasil e os Estados Unidos antes e depois de Joaquim Nabuco
Paulo Roberto de
Almeida
O Itamaraty, ao final do século XIX e início do XX, reunia três grandes nomes
diplomáticos e culturais. O primeiro, José Maria da Silva Paranhos Júnior, o
barão do Rio Branco, era, ademais de negociador e chanceler, historiador,
membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Academia Brasileira
de Letras. O segundo, Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo, também
historiador e memorialista, paladino do pan-americanismo e primeiro embaixador
em Washington, deixou sua marca na história do Brasil, ao batalhar duramente
pela causa abolicionista.
O terceiro, Manuel de Oliveira Lima, não teve consagração em vida, e
ainda hoje não alcançou completamente nem a póstuma. Pernambucano como Nabuco,
era bem mais jovem que os outros dois. Além da diferença de idades, não
compartilhava com eles a formação nos cursos jurídicos de Olinda e de São
Paulo. Ao contrário de Nabuco e de Rio Branco, foi republicano na juventude e monarquista
na idade madura. Poderia ter sido um êmulo do barão do Rio Branco, o grande
chanceler e modelo da diplomacia, se tivesse sido... mais ‘diplomático’.
Foi um ‘diplomata dissidente’, talvez até um ‘rebelde com causa’, que
foi a da luta pelo desenvolvimento social, político e econômico e do Brasil,
para ele espelhando, ao menos parcialmente, os magníficos progressos dos
Estados Unidos, em cuja capital trabalhou como jovem diplomata, mas já
totalmente consciente das grandes diferenças que separavam o mundo anglo-saxão
do errático universo ibero-americano, que ele soube analisar tão bem numa fase
já madura de sua vida.
Este livro, ademais de traçar paralelos entre os itinerários de Rio
Branco e de Oliveira Lima, destaca, justamente, sua obra de historiador das
Américas, mas também como intérprete da ascensão do grande império econômico e
comercial, que ele analisou no momento crucial em que os EUA, já curados das
feridas da guerra civil, flexionavam os músculos em suas primeiras aventuras no
Caribe e na América Central, e já se preparavam para adentrar no cenário
geopolítico mundial. Um texto final analisa um ensaio de Joaquim Nabuco sobre o
papel dos Estados Unidos na ‘civilização’ do início do século XX e segue a
trajetória de desenvolvimento do Brasil ao longo do século.
Paulo Roberto de Almeida é diplomata de carreira, doutor em ciências sociais e atual Diretor do
Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI-Funag), do Itamaraty.
André Heráclio do Rego, também diplomata de carreira, é doutor em história social e autor de
diversos artigos e livros nessa área, entre os quais Família e coronelismo no Brasil – uma história de poder.


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