Um dos meus trabalhos mais recentes, ainda a ser revisto, se por acaso for publicado. Nada do que eu digo, obviamente, engaja qualquer posição oficial de qualquer país, ou certo país. Cada um decide o que for melhor para si, o que não me exime de expressar minha opinião a respeito, como sempre fiz.
Paulo Roberto de Almeida
3188. “O lugar dos BRICS na
agenda brasileira e internacional: reflexões, papeis e linkages”, Brasília, 3
novembro 2017, 29 p. Texto-guia para palestra no quadro do IV CIRIPE, Congresso
Internacional de Relações Internacionais de Pernambuco (7/11/2017), a convite
da Faculdade Damas,
servindo também para livro (e-book), “O Lugar dos BRICS nas relações
internacionais contemporâneas: Anais do IV Congresso Internacional de Relações
Internacionais de Pernambuco". Inserido na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/s/15ebecf062/o-lugar-dos-brics-na-agenda-brasileira-e-internacional-reflexoes-papeis-e-linkages).
O lugar dos BRICS na agenda brasileira e
internacional: reflexões, papeis e linkages
Paulo Roberto de Almeida
Introdução:
uma sigla inventada por um economista de finanças
O BRIC, depois
convertido em BRICS a partir de demanda especificamente chinesa quando de sua
segunda cúpula, adquiriu um papel relativamente importante na agenda
diplomática do Brasil nos últimos dez anos. Uma análise dessa importância, sua
adequação ou conveniência política, no quadro de uma estratégia diplomática de
maior alcance, na atualidade e nos anos à frente, impõe o dever, que me parece
ser de simples honestidade intelectual, de abstrair a retórica oficial, sempre
positiva ou otimista em relação a empreendimentos de governos, para justamente
examinar o lugar dessa nova entidade no cenário da diplomacia regional, ou de
blocos, em função dos interesses
nacionais brasileiros, um conceito que já é, por si só, de difícil
definição e avaliação.
Para
atender à demanda formulada pelos organizadores do IV Congresso Internacional
de Relações Internacionais de Pernambuco, pretendo seguir fielmente o enunciado
proposto, qual seja, o de efetuar uma análise
de cunho pessoal, formada por reflexões próprias, sobre o papel e o lugar do
BRICS na agenda brasileira e internacional, com vinculações entre as diferentes
vertentes dessa temática. (...)
(...)
Reflexões
sobre um novo animal no cenário diplomático internacional
A primeira pergunta que
vem à mente quando se menciona esse novo bloco é a seguinte: pois não, o que
pretendem os quatro do BRIC? Ou ainda: o que pensam fazer os cinco do BRICS? Qual
é a sua proposta para o mundo atual, para a economia, para a política, para as
relações políticas e econômicas entre os membros maiores e menores da
comunidade internacional, para os problemas de desenvolvimento, para os de
sustentabilidade, de combate aos ilícitos internacionais? Ou seja, qual é a
legitimidade intrínseca do BRICS para se apresentar como grupo coeso, e esperar
que os demais membros do sistema internacional o aceite como proponente de
novas ideias, respostas, soluções para os inúmeros problemas que sobrecarregam
a agenda multilateral e de relacionamento entre seus principais atores? Em uma
palavra: para que serve o BRICS? (...)
(...)
Existe
um papel para o BRICS na atual configuração de poder?
Ao
encarar o processo de formação do BRIC, na fase imediatamente antecedente à sua
formalização diplomática, em 2008, eu continuava a encarar aquele conjunto de
quatro países com o ceticismo sadio que caracteriza as minhas análises de
caráter político em quaisquer circunstâncias, ou seja, feitas tanto no terreno
profissional, quanto nas lides acadêmicas. Minha percepção continuava a ser a
de que problemas e ambições nacionais de cada um dos países eram profundamente
distintos entre si, tanto aqueles observados retrospectivamente, quanto os projetados
para o futuro.(...)
(...)
Vínculos
e efeitos futuros: um exercício especulativo
Comecemos
por descartar uma bobagem que vem sendo repetida, de forma cada vez mais
primária, desde que Friedrich List proclamou, na primeira metade do século XIX,
que as nações avançadas – à época só existia a Grã-Bretanha – pretendiam
“chutar a escada” para impedir que nações emergentes – no caso a sua Alemanha,
dividida e ainda insuficientemente industrializada – pudessem galgar,
igualmente, o paraíso do desenvolvimento. Essa noção conspiratória da história
veio sendo requentada nos últimos tempos por um economista coreano de
Cambridge, Ha-Joon Chang, que apoiou-se nas teses de Prebisch e dos modernos
opositores do Consenso de Washington para também recomendar que os países
periféricos adotassem todo o arsenal protecionista e subvencionista que
supostamente sustentou o esforço industrializador dos países agora ricos e
poderosos. Ha-Joon Chang foi um grande aliado das teses desenvolvimentistas do
período lulopetista, influenciando inclusive sua diplomacia econômica, no
sentido aqui descrito, ou seja, de tentativa de galgar a “escada do
desenvolvimento” por meio de políticas que tomavam inspiração em Hamilton, em
List, em Manoilescu, em Prebisch, em Celso Furtado e outros luminares do
nacional-desenvolvimentismo. (...)
(...)
Se tal cenário de consolidação de um
modelo não liberal de governança se confirma, não há nenhuma chance de
assistirmos a qualquer tipo de transição para um “fim da História” no sentido dado
ao termo pelo cientista político Francis Fukuyama, ou seja, o fim das
alternativas autoritárias de governança política e de intrusão ativa dos
Estados na vida econômica dos países, uma vez que o modelo do novo Império
Global, o antigo Império do Meio, representa todo o contrário, em termos de
governança democrática e de respeito aos direitos humanos. George Orwell, se
ainda estivesse vivo, teria muito material ilustrativo para uma nova edição,
revista e ampliada, do seu famoso romance 1984.
Talvez ele ainda possa inspirar romancistas do presente.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 3 de novembro de 2017
Referências bibliográficas:
Ler a íntegra deste paper na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/s/15ebecf062/o-lugar-dos-brics-na-agenda-brasileira-e-internacional-reflexoes-papeis-e-linkages).
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