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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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sábado, 29 de outubro de 2022

Retomando nossa triste história “republicana” - Paulo Roberto de Almeida

Retomando nossa triste história “republicana”

 

 

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

Nota sobre o domínio oligárquico das eleições no Brasil.

 

 

(Mas que não se pense que eu sou monarquista; apenas indiretamente, por ser parlamentarista racional, ou seja, sem qualquer ilusão.)

Este sábado, véspera do 2o. turno mais decisivo dos últimos 130 anos, promete ser o mais desagradável desta campanha, de todas as campanhas da República, talvez desde 1910, quando Rui Barbosa teve de enfrentar a mula fardada do Marechal Hermes da Fonseca. 

A Comissão de Verificação, que era quem decidia as eleições na República velha, já tinha resolvido a questão: Rui não podia ganhar, não podia ser eleito! 

Aliás, nem em 1919 ele foi “autorizado” a ganhar, enfrentando um “adversário” escolhido a dedo pelas oligarquias, que sequer fez campanha e nem no Brasil se encontrava: Epitácio Pessoa foi escolhido pelas oligarquias na morte (por gripe “espanhola”) do presidente eleito quando já estava a caminho das negociações de paz de Paris, nem programa apresentou, enquanto Rui, repetindo 1910, fazia campanha no estilo tradicional, expondo suas ideias ao grande público. Nada disso adiantou: as “elites” já tinham escolhido o seu candidato.

No Brasil atual, as “elites” econômicas também parecem ter escolhido o seu.

As elites intelectuais também fizeram a sua escolha, muito por exclusão da antidemocracia e da desumanidade.

Vamos ver se o Brasil vai voltar para a República velha, ou olhar para a frente.

Por acaso lembro agora da frase de Gilberto Amado: “Na Velha República, as eleições eram falsas, mas a representação era verdadeira.”

Se vivo fosse, hoje, talvez preferisse dizer: “Na Nova República, as eleições são perfeitamente verdadeiras, mas a representação é infelizmente falsa.”

Se a falsidade vencer, abandono a atualidade e retornarei a cuidar dos meus “clássicos revisitados”, de um passado já distante. Sugestões não faltam: Erasmo, Thomas Morus, Montaigne, Swift, Campanella, o patriota Niccolò, Tocqueville e muitos outros…

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4259: 29 outubro 2022, 2 p.