As elites brasileiras ainda não perceberam como são atrasadas
Paulo Roberto de Almeida
O Brasil adentrou o seu periodo independente com a mentalidade do espírito predatório que caracterizou os donos do poder colonial, ou seja, no início do século 19 ainda preservava estruturas mentais dos séculos 16 a 18. Quando finalmente chegou à Revolução Industrial, no século 20, suas elites ainda estavam no século 19, algumas inclusive no mercantilismo dos séculos 16 a 18, aliás até hoje.
Finalmente adentrou no século 21, mas com a mentalidade na segunda revolução industrial, aquela que começa em torno de 1870, ou seja final do século 19 e início do século 20, o mesmo processo que assiste ao início do fordismo, que encerra sua aventura no Brasil após um século de atraso.
Parece incrível, mas a indústria automotiva no Brasil, que tem mais de 70 anos, ainda é considerada “indústria infante”, e tratada como tal pelos diferentes governos, civis e militares, liberais e protecionistas, que se sucederam desde então.
Em resumo, o Brasil vem se arrastando penosamente em direção à modernidade sempre com pelo menos um século de atraso. No século em que a China reassume seu papel de grande protagonista avançado da economia mundial, não podia dar certo. A “fábrica Brasil” encerra melancolicamente suas operações por excesso de anacronismo: estava recém adentrando na terceira revolução industrial, quando o mundo já tinha ultrapassado a quarta. Eis a raiz do problema: fomos declarados carta fora do baralho antes que as elites brasileiras sequer compreendessem que eram muito atrasadas mesmo para o lento relógio da economia mundial.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 12/01/2021