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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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quarta-feira, 28 de março de 2018

Eleicoes presidenciais 2018 - mais um blog Paulo Roberto de Almeida

Como costumo fazer a cada eleição presidencial, sigo atentamente os programas e propostas dos candidatos, para fazer minhas próprias análises, mas também posto notícias da imprensa em geral, apenas uma seleção das matérias que considero mais importantes, pois o volume seria enorme.
O que me interessa, na verdade, é a dimensão da Política Externa, e o impacto das eleições nas relações internacionais do Brasil.
Informo, por oportuno, que compilação numa edição de autor meus trabalhos mais importantes sobre a interface partidos, campanhas e política externa, neste registro:

Brasil, Eleicoes presidenciais 2018


Coloco aqui o sumário das mais recentes postagens neste blog especializado, pelas quais se pode registrar um fenômeno que já tinha ocorrido com a candidatura Trump nos EUA: o candidato mais atacado é o que vem sendo objeto de maior foco por parte da mídia:

IPSOS: popularidade de Bolsonaro segue consistente
FSP entrevista eleitores de Bolsonaro (25/03/2018)

Financiamento eleitoral: um abuso contra o contribuinte - Jairo Nicolau

sábado, 23 de dezembro de 2017

Que tal, antes de escolher o candidato, verificar o que ele pretende fazer?

Convite a um debate menos confrontacionista e mais cordato sobre os candidatos à PR

Paulo Roberto de Almeida

Existe uma maneira fácil – para um debate entre pessoas normais, razoáveis, entenda-se – de dirimir qual o melhor candidato dentre os que estão se apresentando fora do espectro tradicional dos grandes partidos: postar uma declaração, um manifesto, um artigo, um ensaio, um discurso, uma nota, uma carta, qualquer escrito mais ou menos estruturado, num Português aceitável, que exponha claramente os propósitos do dito candidato, suas intenções, seu programa para uma eventual presidência que venha a ganhar, no qual esse candidato diga, em suas palavras – portanto sem esses recursos a marqueteiros políticos que embelezam o discurso – e de modo sincero o que, exatamente, ele pretende fazer se chegar à PR. 
Por exemplo, existem questões já postas, às quais ele NÃO PODE fugir: crise fiscal, reforma da Previdência, papel do Estado na economia, investimentos em infraestrutura, segurança, relações exteriores (isto é, abertura econômica, ou fechamento, liberalização comercial, ou protecionismo), o que fazer com as estatais, com a Embraer, com a corrupção, todas essas questões são absolutamente OBJETIVAS, e não dependem do candidato gostar delas ou não, pois terá de enfrentá-las uma vez sentado na cadeira presidencial.
Para tudo isso, não basta declarações gerais, demonstrações de "vou fazer, vou acontecer", "eu sou o único", etc. 
Se os apoiadores (que já se manifestam, alguns até de forma raivosa), conseguirem postar esses "manifestos pré-eleitorais" de eventuais candidatos, será possível manter um debate civilizado, ordenado, objetivo, sobre questões relevantes para a vida de todos a partir de 2019.
Aceito qualquer proposta minimamente coerente, clara, objetiva, sem propaganda encomiástica...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 23 de dezembro de 2017

domingo, 10 de dezembro de 2017

Dez coisas que eu faria se tivesse poder (2002) - Paulo Roberto de Almeida

Trata-se de um artigo idealista, provocador, totalmente "oportunista"– no bom sentido da palavra – pois que concebido e publicado no fatídico ano eleitoral de 2002, quando eu pensava que os companheiros podiam ser relativamente honestos e realmente dedicados à transformação social do país. Na verdade, eu já sabia que eles eram corruptos, mas não imaginava que fossem TÃO CORRUPTOS. Por isso, imaginei que eles pudessem ser "educados" para as boas políticas públicas, no que eu me enganei redondamente e quadradamente.
A razão de eu estar divulgando agora é porque o veículo onde este artigo foi originalmente publicado, a revista digital Espaço Acadêmico – com a qual colaborei durante dez anos, até que os companheiros se cansaram de minhas provocações à esquerda acadêmica, tão estúpida quanto a esquerda sindical ou política, me despediram do rol de colaboradores –, foi totalmente reestruturada, e passou a abrigar os antigos artigos em novos servidores, com o que mudou o link de disponibilidade, como registro abaixo.
De toda forma, transcrevo o artigo em sua íntegra, pois quem sabe algumas medidas ainda são válidas (acho que todas, pois os companheiros não fizeram NADA como reformas, só roubaram).
Paulo Roberto de Almeida


906. “Dez coisas que eu faria se tivesse poder (licença poética imaginária, mas justificada em uma fase pré-eleitoral)”, Charlottetown (Ilha do Príncipe Edward, Províncias Atlânticas do Canadá), 1º e 2 de jun. de 2002, 9 p. Lista de mudanças a serem implementadas por um governo com orientação social-reformista. 
Incorporado ao livro A Grande Mudança: consequências econômicas da transição política no Brasil (São Paulo: Códex Editora, 2003).  
Divulgado no blog Diplomatizzando (22/10/2017; link: https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/10/propostas-pra-para-um-programa-de.html). 
  
(licença poética imaginária, mas justificada em uma fase pré-eleitoral)

Paulo Roberto de Almeida

As indicações constantes da lista a seguir, explicitadas mais abaixo, devem ser consideradas como propostas modestas para melhorar o índice de desenvolvimento humano no Brasil, bem como a qualidade do relacionamento de seu povo com o mundo externo. Trata-se, obviamente, de mera expressão da vontade pessoal do autor, mas que expressa, com grau razoável de clareza, uma certa concepção do mundo e dos modos possíveis pelos quais o Brasil poderia ser organizado para aperfeiçoar o nível de bem estar de seu povo. Como eu, também obviamente, não tenho poder, a lista pertence mais ao reino da utopia do que a uma plataforma de propostas realizáveis no imediato, mas ela pode servir igualmente de critério de aferição da qualidade da agenda de transformações que políticos em geral propõem como base de sua ação em prol da Nação.
Quem quiser pode elaborar sua própria lista de propostas e confrontá-la, por exemplo, às medidas que estarão sendo inscritas nas plataformas de campanha política dos principais candidatos nas próximas eleições presidenciais, como forma de verificar se o seu “pequeno poço de desejos coletivos” ou se sua “lista de prioridades de reforma social” encontra correspondência nesses documentos programáticos. Trata-se de um exercício que pode ser considerado como de “cobrança preventiva” de resultados.
Vejamos, em primeiro lugar, minha lista sintética de propostas – a serem implementadas não necessariamente na ordem aqui seguida –, para passarmos depois a seu detalhamento e explicitação.

1. Mudaria o hino nacional, colocando bem-estar e desenvolvimento em seu âmago;
2. Acabaria com os chamados “direitos adquiridos”;
3. Tornaria a educação pública de base as cinco primeiras prioridades exclusivas de governo durante uma geração inteira;
4. Transformaria o Estado em agente do bem estar coletivo, retirando-o de atividades produtivas ou de setores dotados de melhor eficiência quando de caráter privado;
5. Mudaria o caráter e a orientação das forças armadas;
6. Aprofundaria a abertura econômica e a inserção internacional do País;
7. Elaboração e execução orçamentária totalmente transparentes, visíveis na Internet;
8. Reforma tributária radical, com imposto único de transações financeiras e poucas taxas seletivas de natureza social;
9. Abertura de creches públicas em todos os perímetros dotados de uma certa densidade potencial de mães;
10. Abertura de bibliotecas públicas infantis em todos os perímetros dotados de uma certa densidade potencial de crianças.

A maior parte dessas propostas fala por si e elas deveriam ser autoexplicativas à sua simples leitura, mas para facilitar a discussão em torno de sua implementação possível (ou hipotética), vejamos agora o que poderia servir de rationale para sua adoção e efetivação, em qualquer governo dotado de um grau razoável de comprometimento com os níveis de bem estar da população, com esta qualificação importante de que elas devem ser vistas como simples meio de atingir o objetivo maior de melhoria no índice de felicidade do povo, não como uma finalidade em si mesmas. 

1. Mudaria o hino nacional, colocando bem-estar e desenvolvimento em seu âmago.

Trata-se, obviamente, de objetivo não prioritário e totalmente não relevante para o atingimento das demais finalidades de bem estar superior da população, mas totalmente congruente com o espírito no qual elas são formuladas, válido aliás não apenas para o Brasil, mas para a ampla maioria dos países. Os hinos nacionais expressam, como se sabe, o chamado “espírito nacional”, representando a síntese da história daquele povo, sua forma de se conceber enquanto Nação e uma defesa de seus objetivos prioritários.
Ora, todos sabem que a maior parte desses hinos foi concebida numa fase de lutas políticas e militares em prol da independência e unidade nacionais e traduzem, em sua grande maioria, um espírito militar e de ufanismo “patrioteiro” totalmente ultrapassados em função dos avanços da consciência cidadã e do direito internacional. Eles se referem a glórias nos combates, incitam os instintos guerreiros – “aux armes citoyens!” – e falam de um país ideal que está muito longe do sonho dos simples cidadãos reais da atualidade. Por isso, ganhariam em ter suas letras ·– em alguns casos a própria música – mudados para algo que expressasse o consenso da nacionalidade presente com o progresso social, o bem estar da população, a cooperação internacional, a paz e a justiça universais.

2. Acabaria com os chamados “direitos adquiridos”.

Os chamados “direitos adquiridos” representam, em grande medida, privilégios corporativos transformados em garantia legal de caráter vitalício, sem qualquer correspondência com as reais possibilidades da economia ou sua extensão universal, e nada mais são, portanto, do que um tratamento discriminatório em relação ao conjunto da população, em especial suas frações mais pobres. Eles hoje estão concentrados em geral na previdência do setor público (e assemelhados), que precisa ser reformada para torná-la compatível com o caráter verdadeiramente universal e impessoal da legislação. Uma simples emenda constitucional poderia, e de fato deveria, acabar com os privilégios remanescentes, ainda que preservando os direitos dos atuais beneficiários e seus dependentes imediatos, mas introduzindo a partir daí um regime universal dotado de legitimidade pois que livre de discriminações abusivas que comprometem o equilíbrio das contas públicas em favor de uma minoria de trabalhadores. 

3. Tornaria a educação pública de base as cinco primeiras prioridades exclusivas de governo durante uma geração inteira.

Todos sabem que o Brasil, país totalmente industrializado, dotado de economia pujante e diversificada, é um campeão de iniquidades sociais e de injustiças praticadas contra seus próprios cidadãos. Ora, as políticas diretamente redistributivas apresentam efeitos indesejados em matéria de investimentos e alocação de recursos e nem sempre conseguem atingir os objetivos a que se propõem. É também consenso praticamente universal que a educação é a melhor forma possível de elevação dos padrões de vida, em primeiro lugar ocupacionais, da maioria da população, contribuindo assim para uma correção efetiva, ainda que não imediata, das distorções em matéria de repartição da renda. O que se propõe, portanto, é a concentração dos recursos educacionais na educação pública de primeiro e segundo grau (ou num grande ciclo básico ampliado), bem como nas escolas técnicas profissionalizantes, com extensão da presença e da permanência escolar efetiva do aluno carente, com oferta de bolsa-escola onde e quando pertinente (esta deve ser concebida como algo a ser reduzido e, em última instância, eliminado, pois que representando na verdade uma confissão de nossas mazelas sociais, a serem eliminadas via emprego e renda, não mediante assistência social suscetível de manipulação política).
Se possível, ademais, esse esforço – que deve continuar como prioridade absoluta por pelo menos uma geração inteira, para produzir resultados efetivos em termos de redução da pobreza e correção das iniquidades distributivas – deve concentrar igualmente os recursos de promoção de programas setoriais de atividades econômicas (geralmente usados para beneficiar grupos industriais ou agrícolas de interesse restrito) ou aqueles hoje não mobilizados por motivo de isenções fiscais não justificadas socialmente de maneira ampla e não discriminatória. Como regra de princípio, o dinheiro público deve ser utilizado para promoção de atividades de interesse social universal – daí a razão de se concentrar o dispêndio na educação do conjunto da população, não em atividades de cunho econômico que apresentam interesse apenas setorial – pois esta é a melhor forma de elevar o nível geral de qualificação da população, em especial de seus segmentos mais pobres, e seu consequente índice de remuneração monetária.

4. Transformaria o Estado em agente do bem estar coletivo, retirando-o de atividades produtivas ou de setores dotados de melhor eficiência quando de caráter privado.

Consolidar o modelo de privatização de setores que não têm diretamente a ver com a orientação geral do Estado enquanto agente social de atividades de interesse coletivo, como a educação, a saúde, o saneamento básico (água e esgoto), justiça e segurança pública e assistência social, onde e quando pertinentes. Creio que existe já um razoável consenso social em torno das novas funções regulatórias do Estado – e não diretamente produtor de bens ou serviços, ainda que “públicos” – para insistir neste ponto de aceitação praticamente universal hoje em dia. Que não se assista mais ao ridículo de se ver políticos de projeção nacional opondo-se à privatização das telecomunicações ou da exploração do minério de ferro, por considerá-las “atividades de caráter estratégico para o futuro do País”, que isso ofende à inteligência do cidadão menos educado. Estratégico é colocar toda criança na escola, alimentada pelo menos com arroz e feijão, e não pagar regiamente burocratas de alto coturno em funções que estariam melhor sob direção e responsabilidade privadas, concentrando-se os recursos públicos naquelas atividades que são típicas do Estado como as indicadas acima. 

5. Mudaria o caráter e a orientação das forças armadas.

Ainda que exista um grau razoável de “consenso” em torno dos argumentos tradicionais – do tipo: todo “grande país” necessita de forças armadas compatíveis com sua “importância no mundo”; como “não se pode prever o futuro”, daí a razão de “se preparar para qualquer eventualidade”, que terminam por justificar a manutenção de uma panóplia completa de instrumentos militares, altamente custosos e de eficácia apenas relativa em função dos riscos reais, eu seria francamente a favor de uma outra linha de argumentação: quais as ameaças reais – não as percebidas – à soberania e independência do País? Elas emergem do nosso imediato entorno geográfico ou mesmo de potências hegemônicas que pretenderiam “subalternizar” o País ou impedir seu desenvolvimento econômico e social?
Como não acredito no tipo de raciocínio que pretende preparar a Nação para qualquer hipótese de conflito ou ameaças imponderáveis – inclusive por considerar os dados da realidade internacional e nosso tipo de relacionamento com o mundo –, preferiria diminuir o grau de comprometimento dos recursos disponíveis com a defesa exclusivamente “nacional” e, em contrapartida, aumentar de maneira significativa o nível de envolvimento do País com as operações de paz das Nações Unidas, tanto as de “peace keeping” como, de modo inédito até aqui, as de “peace making” – compatível com nossa aspiração a uma cadeira permanente no Conselho de Segurança –, adaptando em consequência nossos requerimentos militares para esse tipo de situação e de “confronto” bélico. Ameaças residuais do tipo guerrilhas vizinhas ou narcotráfico estariam contempladas no novo esquema, mas não a defesa do território pátrio contra invasões hipotéticas ou uma guerra em grande escala (que nunca é aquela imaginada pelos generais). O cenário cooperativo com os vizinhos e também com as grandes potências deve ser pensado na perspectiva da promoção da paz e da cooperação em prol do desenvolvimento econômico e social, não como a partir da hipótese do conflito com algum inimigo externo não percebido como real ou em função da afirmação unilateral do “interesse nacional”.

6. Aprofundaria a abertura econômica e a inserção internacional do País.

Existe igualmente grau razoável de consenso em que a abertura “unilateral” dos anos 90 estimulou o mais intenso e rápido processo de modernização econômica e de competitividade tecnológica já conhecido na história do País, trazendo novos patamares de produtividade, tanto no setor industrial, como nas várias áreas do primário e do hoje imenso setor de serviços. Os argumentos quanto ao “desmantelamento tarifário sem barganha” são inconsistentes com a experiência comercial e de integração do Brasil, em escala mundial e regional, e não levam em conta os efeitos benéficos efetivamente verificados da abertura, tanto para os produtores como para os consumidores.
Nenhum economista razoável, inclusive nas fileiras da oposição oficial, acredita ser possível hoje continuar o processo de modernização da economia brasileira em uma situação de isolamento em relação aos mercados internacionais. Vários partidários da “soberania econômica nacional” acreditam, entretanto, ser possível algum grau razoável de proteção para indústrias ditas – pelo burocrata governamental – “estratégicas”, assim como doses “moderadas” de incentivos e isenções fiscais, de molde a estimular setores considerados competitivos a partir do apoio governamental. Além das distorções do jogo econômico e dos desvios das regras de concorrência provocados por esse tipo de política, trata-se provavelmente do mais seguro caminho para a volta aos padrões antigos de estruturação industrial do País, bem como de má alocação dos recursos públicos, com o efeito adicional de enviar sinais contraditórios aos investidores nacionais e estrangeiros, que ficarão aguardando – ou farão pressão em prol de – medidas especiais de estimulo a novas inversões nos setores pertinentes, cada um podendo esperar pela classificação de “estratégico”.
Em contraste, uma sinalização clara em favor da continuidade da abertura e da inserção internacional dá um recado transparente a todos os agentes econômicos, ou seja, o de que o jogo econômico será pautado pelas regras da concorrência, sem outras regras especiais. Esta é a melhor maneira de assegurar o prosseguimento da modernização e de modo geral e o aumento da produtividade da economia de modo particular. 

7. Elaboração e execução orçamentária totalmente transparentes, visíveis na Internet.

A manutenção da estabilidade econômica é ameaçada não tanto pela chamada preservação da “memória inflacionária” por parte dos agentes econômicos como pelas práticas eventuais de permissividade emissionista e/ou prodigalidade nas despesas por parte dos próprios agentes do poder político, legisladores ou executivos, dependendo da conjuntura. Com efeito, o descontrole inflacionário, raiz de tantos e tão perversos males sociais no passado econômico brasileiro – como a inflação renitente, causa principal e fonte primeira da desigualdade extrema na distribuição de renda –, tem sido provocada, quase invariavelmente, pelos péssimos hábitos orçamentários do Estado brasileiro, cujos governos, desde Juscelino pelo menos, tinham criado uma curiosa compulsão por gastos não cobertos pelo orçamento ordinário. Brasília, aliás, foi construída sem sequer estar prevista no orçamento, criando um ciclo ficcional nas contas do Estado que recém começa a ser encerrado pelos últimos anos de ajuste fiscal.
Por isso, o primeiro e principal dever do agente público, como de resto de todo cidadão politicamente consciente, seria o de exigir transparência total na formulação e na execução do orçamento público, em todos os níveis e etapas do processo de elaboração e implementação das contas públicas, das receitas originais às despesas finais. O objetivo, que pode ser alcançado em tempo real via Internet, tem por finalidade assegurar limpidez e correção na elaboração desse importante instrumento das políticas públicas, e não deveria ter qualquer limitação técnica para seu estabelecimento e funcionamento.

8. Reforma tributária radical, com imposto único de transações financeiras e poucas taxas seletivas de natureza social.

Um dos mais poderosos fatores de “deseconomia” na estrutura produtiva do Brasil é o seu sistema tributário, caracterizado pela cumulatividade, pela incidência em cascata e pela regressividade implícita na tributação indireta, ademais de aspectos pouco louváveis, no plano da aplicação e eficácia, como os altos graus de evasão e de elisão fiscais. Diferentes propostas de simplificação e de racionalização não têm logrado obter apoio dos diferentes setores políticos (sobretudo dos governos estaduais) em vista das incertezas associadas à federalização de alguns tributos e eliminação de outros.
Como o consenso se torna muito difícil em torno do sistema “ideal”, talvez o mais factível seria uma mudança radical nas próprias bases conceituais do regime tributário, a partir da eliminação pura e simples de todos os impostos e tributos e sua substituição por uma contribuição única sobre as transações financeiras, a mais eficiente possível de todas as formas impositivas, uma vez que insonegável e de custo praticamente zero no que respeita a máquina arrecadatória (eliminando, portanto, todos os focos possíveis de corrupção e de desvio, nas diversas pontas do sistema). Ela seria complementada, apenas para fins de “dissuasão do vício”, por taxas seletivas sobre tabacos e bebidas, bem como, para fins de “indução ao transporte coletivo”, por um imposto adicional sobre os combustíveis de transporte individual.
Os efeitos negativos – cumulatividade e incidência em cascata, igualmente – da nova CPMF (permanente e única) seriam compensados por uma desgravação parcial baseada numa simulação econométrica a partir de uma espécie de matriz de Leontieff construída para cada tipo de cadeia produtiva em causa, segundo as transações operadas tradicionalmente naquela atividade. A repartição funcional e social das receitas – uma vez que a base territorial do novo sistema seria unicamente a federação – seria decidida pelo Parlamento, com base na arrecadação estadual e municipal e sistemas de compensação para correção de desigualdades estruturais e para programas de investimentos sociais previstos nos planos plurianuais e nas diretrizes orçamentárias votadas pelo corpo legislativo. 

9. Abertura de creches públicas em todos os perímetros dotados de uma certa densidade potencial de mães.

Uma das desigualdades mais persistentes do gênero humano é aquela justamente baseada na distinção de gêneros, característica estrutural que insiste em discriminar as mulheres a despeito de todos os progressos sociais e culturais realizados nas últimas décadas – ou séculos – de conquistas femininas e feministas. Quotas e reservas fazem pouco para diminuir a desigualdade de chances nos mercados de trabalho e no mercado político, uma vez que a mulher tem de carregar o peso e as responsabilidades da gestação natural e da criação social dos descendentes. Uma vez que os homens parecem pouco dispostos a dividir os encargos domésticos e os inerentes à paternidade conjunta, uma forma de liberar a mulher das restrições impostas por uma longa maternidade seria a multiplicação de creches de boa qualidade onde necessário, como forma de prover um ambiente sadio para as crianças de mães trabalhadoras, até que a pré-escola possa assumir o encargo no seguimento dos primeiros serviços infantis de provimento público.

10. Abertura de bibliotecas públicas infantis em todos os perímetros dotados de uma certa densidade potencial de crianças.

Trata-se de outra medida corretiva das desigualdades de chance associadas a um nascimento em lares menos afortunados. Sendo eu mesmo filho de família modesta e tendo complementado minha educação em escolas do sistema público pela frequentação assídua e contínua de uma biblioteca infantil de bairro, sei avaliar o quanto esse tipo de oportunidade pode fazer a diferença entre o sucesso e o fracasso no acesso ao ensino superior e depois, na vida profissional adulta. Associada às escolas públicas de boa qualidade, a disponibilidade de bibliotecas, junto com sistemas on-line em ambos os ambientes, pode efetivamente reduzir um pouco o imenso gap de oportunidades que separa os filhos das classes A e B dos demais estratos sociais menos privilegiados. É uma proposta sem dúvida modesta, mas compatível com a modéstia de recursos disponíveis no Brasil para promoção social.
Para terminar com os livros, e aproveitando para retomar minha licença poética neste planejamento utópico do futuro brasileiro, recordemos a recomendação de um verdadeiro profeta da redenção do povo, Castro Alves, o mais libertário dos poetas brasileiros: “Ó bendito quem semeia, livros, livros à mão cheia, e manda o povo pensar. Por que o livro caindo n’alma, é germe que faz a palma, é chuva que faz o mar!”

Resumo: Ensaio politico no estilo das propostas utópico-realistas, sob a forma de lista de mudanças a serem eventualmente implementadas por um governo com orientação social-reformista no Brasil. Coloca-se na perspectiva de declaração de intenções em período pré-eleitoral. Palavras-chave: Brasil. Mudanças politicas e sociais. Propostas para melhoria do Índice de Desenvolvimento Humano. Política econômica.
Paulo Roberto de Almeida
Charlottetown, Ilha do Príncipe Edward, Províncias Atlânticas do Canadá;
1º e 2 de junho de 2002; Relação de Trabalhos nº 906


domingo, 22 de outubro de 2017

A politica externa e a campanha presidencial de 2002 - Paulo Roberto de Almeida

Mais um dos textos, este bem mais curto, resumindo a informação e análise sobre as plataformas dos diferentes candidatos em temas de política externa e relações internacionais do Brasil nas eleições presidenciais de 2002. Como nos outros casos, nunca foi divulgado, pois eu os fazia para minha própria informação em primeiro lugar, como registro para trabalhos posteriores, o que de fato ocorria em artigos de cunho acadêmico, ou em algum dos meus livros.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 22 de outubro de 2017


A política externa e a campanha presidencial de 2002

Paulo Roberto de Almeida

A campanha presidencial de 2002 teve início em meio a uma ameaça de crise financeira, com a provável negociação de um novo acordo de apoio por parte do FMI, como aliás já tinha acontecido durante a campanha anterior, em 1998. O debate sobre a crise financeira tinha sido em grande parte eludido durante a campanha presidencial de 1998, graças a uma atuação relativamente hábil do Governo FHC. Com efeito, seu governo soube combinar uma política econômica ortodoxa — juros altos e mecanismos de atração do capital estrangeiro de curto prazo — ao apoio externo do sistema financeiro internacional — com promessas de sustentação por parte do FMI e do G-7 — e uma retórica política tranquilizadora na frente interna — como a preservação do poder de compra da moeda e a prioridade na luta contra a inflação.
O Governo FHC logrou assim delongar um inevitável processo de ajuste que já vinha sendo anunciado desde vários meses antes das eleições pelo candidato Ciro Gomes, em especial no que se refere à opção pela flexibilização cambial. A preservação da semi-rigidez cambial foi, com efeito, um dos principais elementos em que se apegaram economistas de “esquerda” e de “direita” para condenar um dos elementos centrais do programa de estabilização monetária conduzido desde 1994, e que tinha sido em grande medida responsável pela vitória fácil do candidato FHC em ambos os escrutínios.
O rompimento da camisa de força cambial, em janeiro de 1999,1 quase no imediato seguimento do primeiro memorando de entendimento com o FMI — no final de 1998 — não foi todavia devidamente capitalizado pelos aparelhos partidários de oposição, talvez porque essa ruptura tenha ocorrido no bojo de uma perturbação “semi-populista” do sistema político de atuação “normal” dos grupos partidários no âmbito congressual ou através da mídia, qual seja: o anúncio da moratória da dívida estadual pelo recém empossado governador de Minas Gerais, Itamar Franco. Some-se a isso as dificuldades subsequentes de constituição de uma frente de oposição ao Governo FHC que conseguisse unir interesses conjunturais de caráter econômico-orçamentário — bastante fragmentados aliás, em vista de situações diversas no plano administrativo —e interesses de mais longo prazo no terreno político-eleitoral.
O debate político, em que pese as advertências formuladas anteriormente pelo candidato Ciro Gomes e por economistas da oposição, deslocou-se de certo modo dos aspectos conceituais da política econômica para mergulhar em aspectos mais prosaicos de caráter jornalístico, como os meandros da desvalorização cambial, os extraordinários lucros alcançados na passagem ao regime de flutuação por grandes grupos financeiros e a atuação do Banco Central em ações especialmente nebulosas nesse período nervoso em que foi mergulhado o Brasil de meados de janeiro a meados de março de 1999. Com a relativa estabilização da paridade cambial sob o regime de flutuação, a urgência do debate nessa área perdeu muito de sua natureza “ideológica”, deixando praticamente a questão de ser explorada pelos partidos de oposição. Ganharam realce, sobretudo, os aspectos eventualmente lesivos dos acordos com o Fundo Monetário Internacional e com os países do G-7.
De modo geral, não se pode dizer que os desenvolvimentos recentes de “política prática” no Brasil, em especial os desdobramentos da crise financeira e seus efeitos na agenda congressual, tenham alterado de modo substancial as posições dos ex-candidatos e atuais participantes do jogo político-partidário no que se refere às principais “soluções” escolhidas por cada um deles para enfrentar os dilemas da conjuntura econômica e às opções de mais longo prazo que devem — ou deveriam — orientar a inserção internacional do Brasil. Grosso modo, o presidente FHC continuou a ser partidário de uma ativa participação do Brasil nos processos de globalização e de integração regional, aceitando as implicações da interdependência combinadas a uma moderada postura de controle no caso dos chamados capitais voláteis. O principal líder da oposição também continuou a condenar de forma veemente a “submissão” do governo brasileiro aos “ditames” do FMI e sua abertura ao “capital internacional”, mas a retórica não esconde uma posição sobretudo pragmática em relação, por exemplo, aos investimentos diretos estrangeiros.
Pouco a pouco, porém, com a continuidade da fragilidade financeira do Brasil, sua relativa baixa competitividade nas exportações, os exemplos patentes de protecionismo comercial (em especial agrícola) por parte dos principais parceiros nas negociações comerciais externas e, sobretudo, os desastres ocorridos na Argentina a partir do momento em que se tornou evidente a insustentabilidade de seu modelo de conversibilidade cambial, os principais líderes políticos foram assumindo uma postura mais realista em matéria de política econômica externa, aliás necessária em vista da complexidade dos desafios que se colocam ao Brasil no plano internacional.
De novo mesmo, na campanha presidencial de 2002, é a notável diminuição do número de candidatos, com as exceções de praxe (dois representantes sem qualquer importância social de partidos insignificantes de extrema esquerda). Como um dos aspectos saudáveis, também, a confirmação de que, se o jogo político se apresenta ainda relativamente personalizado, a construção de alianças e os esquemas eleitorais seguem linhas claramente partidárias, consolidando, portanto, um espectro partidário que passa a apresentar as linhas clássicas dos sistemas pluripartidários mais avançados: grandes agrupações à direita e à esquerda do cenário e um bloco de tipo centrista, ainda que fragmentado, que dá sustentação ao governo em exercício.
Outro aspecto que merece destaque na campanha de 2002 é a relativa convergência observado em temas econômicos ou mesmo de política externa, como a demonstrar que as duas administrações FHC conseguiram, de fato, alterar a agenda interna e externa do País, no sentido de esterilizar os velhos debates principistas contendo mais slogans do que ideias e suscitar uma discussão responsável em torno de algumas opções fundamentais para o país: entre elas se situava a responsabilidade fiscal, o respeito aos contratos constituídos (e portanto o repúdio à moratória tão facilmente aventado anteriormente) e a “desideologização” das relações com o FMI.
Do ponto de vista da campanha eleitoral, estavam registrados seis candidatos, dos quais quatro com estruturas e lideranças representativas do leque político-partidário, sendo que um deles, o candidato Anthony Garotinho (PSB), tinha muito poucas propostas no plano da política externa e das relações internacionais.
De fato, eram três as coalizações e candidatos que merecem análise detalhada nesse particular: (a) Luís Inácio “Lula” da Silva, desta vez com uma coalização que incluía, além dos tradicionais partidos de extrema esquerda, um pequeno partido de “direita” (PL); (b) Ciro Gomes, ainda vinculado ao pequeno PPS, mas desta vez representando uma coalização trabalhista que incluía ademais o PDT e o PTB, mas contando também com o apoio de setores do PFL e do próprio PSDB; (c) José Serra, ex-ministro do Planejamento e da Saúde nos dois governos FHC, defendendo parte da antiga coalizão governista numa aliança entre o PSDB e o PMDB.


1. Lula e o novo realismo diplomático

Ainda que partindo na frente de todos os demais candidatos, tanto em termos de candidatura oficiosa como no que se refere aos índices de aceitação eleitoral, o candidato do PT e o próprio partido foram desta vez extremamente cautelosos na formulação das bases da campanha política, a começar pela aliança contraída com o pequeno Partido Liberal para viabilizar uma sustentação “centrista” ao candidato tradicional das esquerdas, apoio personificado no candidato a vice-presidente, o industrial e senador por Minas Gerais José de Alencar. Lula foi também bastante cauteloso na exposição de sua ideias, ainda que algumas delas, ainda no início da campanha, tenham sido exploradas por seus adversários (como por exemplo o apoio às políticas subvencionistas da agricultura europeia ou a proposta de que o Brasil deveria deixar de exportar alimentos até que todos os brasileiros pudessem se alimentar de maneira conveniente). Nessa fase, ele ainda repetia alguns dos velhos bordões do passado (contra o FMI e a Alca, por exemplo), que depois foram sendo corrigidos ou alterados moderadamente para acomodar as novas realidades e a coalizão de forças com grupos nacionais moderados que se pensava constituir de forma inédita.
Em matéria de política externa, mais especificamente, a intenção – aliás partilhada com os demais candidatos e, de certa forma, implementada pelo governo FHC – era a de ampliar as relações do Brasil com outros grandes países em desenvolvimento, sendo invariavelmente citados a China, a Índia e a Rússia (sic). No plano econômico, o compromisso – também expresso pelos demais candidatos – era o de diminuir o grau de dependência financeira externa do Brasil, mobilizando para tal uma política de promoção comercial ativa, com novos instrumentos para esse efeito (possivelmente uma secretaria ou ministério de comércio exterior). Segundo a “Carta ao Povo Brasileiro”, divulgada por Lula em 22 de junho, o povo brasileiro quer “trilhar o caminho da redução de nossa vulnerabilidade externa pelo esforço conjugado de exportar mais e de criar um amplo mercado interno de consumo de massas”. De maneira ainda mais enfática, nesse documento, Lula afirmou claramente que a “premissa dessa transição será naturalmente o respeito aos contratos e obrigações do País”.
Depois de algumas ameaças iniciais de se retirar das negociações da Alca (que seria “mais um projeto de anexação [aos EUA] do que de integração”), Lula passou a não mais rejeitar os pressupostos do livre-comércio, exigindo apenas que ele fosse pelo menos equilibrado, e não distorcido em favor do parceiro mais poderoso, o que constituiu notável evolução em relação a afirmações de poucas semanas antes. O principal assessor econômico do candidato, deputado Aloizio Mercadante foi bastante cauteloso na qualificação das eventuais vantagens da Alca: “Esta não deve ser vista como uma questão ideológica ou de posicionamento pró ou contra os Estados Unidos, mas sim como um instrumento que pode ou não servir aos interesses estratégicos brasileiros” (Valor Econômico, 15.07.02). Os contatos mantidos pela cúpula do PT com industriais, banqueiros e investidores estrangeiros  tendiam todos a confirmar esse novo realismo diplomático, e sobretudo econômico, do candidato.
De fato, os principais dirigentes do PT começaram, em plena campanha, a se afastar cautelosamente das propostas tendentes a realizar um plebiscito nacional sobre a Alca (a ser presumivelmente organizado pela CUT, pelo MST e pela CNBB), uma vez que ele teria resultados mais do que previsíveis, todos negativos para a continuidade dessas negociações. De modo ambíguo, porém, o assessor Mercadante parecia acreditar na possibilidade de um acordo bilateral com os EUA, sem explicar como e em que condições ele poderia ser mais favorável do que o processo hemisférico: “é importante que, independentemente da Alca, o Brasil e os Estados Unidos iniciem um processo de negociação bilateral direcionado para a ampliação do seu intercâmbio comercial e a distribuição mais justa de seus benefícios”.
O PT parece ter iniciado, ainda que de maneira hesitante, o caminho em direção ao reformismo moderado, o que foi amplamente confirmado pela divulgação de seu programa oficial (disponível no website de campanha do candidato: www.lula.org.br). Talvez mais importante para medir a distância entre a antiga retórica militante e a nova postura moderada seja uma leitura desse programa em confronto com as resoluções que tinham sido aprovadas em convenção do partido realizado no Recife, em dezembro de 2001, e na conferência de elaboração de diretrizes programáticas, realizada no final do primeiro semestre de 2002.2 De fato, o programa constitui uma solução essencialmente pragmática para encaminhar os dilemas de um partido ainda relativamente dividido entre os compromissos de esquerda assumidos até 2001 e o novo realismo necessário a uma agremiação que se coloca como alternativa de poder.


2. Ciro Gomes e o trabalhismo reformista: inovação cautelosa

Apoiado numa coligação que unia o seu pequeno PPS aos “irmãos-inimigos” trabalhistas PDT e PTB, Ciro Gomes lançou-se novamente desde cedo como candidato da oposição “responsável” ao governo FHC. Ele foi também o primeiro a organizar o seu website de campanha e apresentar um programa estruturado, ainda que parcial em determinados aspectos. Ele recomendava, por exemplo, negociar a Alca “sem pressa e sem medo”, afirmando também que o Brasil deve fortalecer seu poder de barganha nesse processo negociando simultaneamente com a UE, a China e a Índia. De fato, para ele, o Brasil “rejeita a ideia de inevitabilidade da Alca”, pois que a “formação de um espaço das Américas transcende os interesses apenas comerciais”, mas ele indicava que, em seu governo, a diplomacia brasileira “insistirá em condicionar a integração comercial a políticas igualizadoras seguindo nisso o modelo da UE e não o do Nafta” (sem explicar contudo como tal mudança no formato das negociações poderia ser materializada).
Essas alianças estratégicas também teriam um sentido mais elevado, buscando a própria reforma da ordem mundial, uma vez que a nova diplomacia deveria “aproximar-nos estrategicamente de outros grandes países periféricos, sobretudo a China e a Índia, e buscar aliados para a luta pela reforma da ordem econômica e política mundial”. Essa luta seria em prol de “um mundo pluralista, mais aberto à diversidade de trajetórias nacionais de desenvolvimento”, sem elucidar, contudo, a aparente contradição entre a busca de uma coalizão com outros parceiros “periféricos” com o objetivo de preservar “trajetórias nacionais”.
Ao propor mais especificamente uma política externa ativa, de “integração do Brasil com o mundo”, o candidato começava por uma proposta aparentemente em sentido contrário às tendências liberalizantes e privatizantes dos anos 90 ao afirmar que a “indústria de armamentos será integralmente estatizada e posta sob o controle das Forças Armadas.” Um certo irrealismo quanto à relação de forças também se desenhava em uma de suas principais propostas: “O Brasil trabalhará com os outros grandes países continentais marginalizados - a China, a Índia, a Rússia e a Indonésia - para reformar as organizações do sistema Bretton Woods (o FMI, o Banco Mundial e a Organização Internacional [sic] do Comércio). Atuará, junto com seus parceiros políticos e econômicos, para impedir que essas organizações sirvam de instrumentos para a imposição das políticas de desenvolvimento preferidas pelas potências dominantes e pelos países ricos.” Da mesma forma, sem considerar as dificuldades práticas no que se refere à reforma da Carta da ONU, Ciro Gomes pretendia que o Brasil proponha o “revigoramento e reorganização do sistema das Nações Unidas para refletir as realidades e as ansiedades atuais, inclusive por meio do redimensionamento do Conselho de Segurança.”

3. José Serra: continuidade sem continuísmo
Apoiado numa coalização governista que reunia apenas o PSDB e o PMDB, como grandes partidos (uma vez que o PFL, desgostoso com o tratamento dado a sua pré-candidata, a governadora do Maranhão, resolveu afastar-se do governo), Serra demorou a apresentar seu programa, mas adotou um atitude cautelosa em relação às políticas e práticas do governo FHC. Aparentando endossar a maior parte das posições de política econômica e de política externa da administração que lhe dava apoio político, Serra também deixava em aberto, como Ciro Gomes, as opções do Brasil no processo da Alca.
De forma geral, sua política externa seria, em grande medida, uma política econômica externa, com forte ênfase na promoção das exportações e numa política industrial capaz de substituir importações. Revelando sua intenção de criar um Instituto do Comércio Exterior, o candidato Serra confirmou sua intenção de, via incentivos fiscais, gastos públicos e investimento em infraestrutura, privilegiar a exportação e a substituição de importações. Ao contrário de outros candidatos, Serra não vê a globalização como problema, mas como um dado da realidade, embora enfatize que esse processo deva ser compatível com os interesses e as possibilidades da economia nacional. A trajetória desta última precisa ser inserida num contexto progressivo de redução da vulnerabilidade externa do Brasil, basicamente derivada de sua fragilidade financeira.
Serra, em lugar de avançar posições principistas ou slogans políticos contra a Alca, faz um diagnóstico basicamente correto desse desafio para o Brasil. Como ele declarou em entrevista, a “Alca vai depender mais dos Estados Unidos que do Brasil. Os EUA são amplamente protecionistas pelo mecanismo não-tarifário e o Brasil não tem praticamente esses mecanismos” (revista Época, 1/07/02). Ele ostenta, por outro lado, à diferença dos demais candidatos, uma atitude relativamente cética em relação ao Mercosul, baseado na premissa de que se avançou rápido demais e de que o Brasil precisaria recuperar sua liberdade de fazer política comercial sozinho.
Com efeito, na sua mais explícita crítica ao bloco do Cone Sul, Serra disse que “fortalecer o Mercosul significa revisá-lo de maneira criteriosa. (…) O Mercosul quis fazer em quatro anos o que a União Europeia fez em 40. Acabou não dando certo. (…) Mas deveremos enfatizar a zona de livre-comércio e dar mais liberdade no que se refere à tarifa externa comum. Até porque assim o Brasil vai poder negociar com o resto do mundo tratados de livre-comércio autônomos. Hoje, para fazer isso, é preciso levar o Mercosul junto” (idem).
Em outros termos, pode haver um certo retorno a políticas dirigistas, com tinturas desenvolvimentistas, como convém a um antigo expoente do pensamento cepaliano. Pelo exposto, confirma-se portanto a ideia de que a diplomacia terá forte viés “economicista”, com o uso das políticas comercial, industrial e tributária como forma de fazer avançar os interesses exclusivos do Brasil, o que de certa forma pode significar uma reversão das linhas de política externa seguidas desde a administração Sarney, baseadas numa aliança com a Argentina e na afirmação do caráter estratégico do projeto de integração regional.
=
Paulo Roberto de Almeida
Washington, 929: 30/07/2002

Notas:
1. Procedi a uma análise detalhada do impacto das crises financeiras sobre o Brasil em um dos capítulos de meu livro Os primeiros anos do século XXI: o Brasil e as relações internacionais contemporâneas. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2002, tema anteriormente tratado no artigo “O Brasil e as crises financeiras internacionais, 1929-2001”, Cena Internacional. Brasília: vol. 3, nº 2, dezembro 2001, pp. 89-114. Uma análise de mais longo fôlego histórico sobre as relações entre os partidos políticos e a política externa no sistema político brasileira foi feita em meu livro Relações internacionais e Política externa do Brasil. 2ª ed.: Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2002.

2. Coletei os programas oficiais e os principais documentos de campanha dos principais candidatos em meu site acadêmico, www.pralmeida.org, onde eles podem ser consultados na rubrica “Dossiê Eleições 2002”.

segunda-feira, 14 de março de 2016

Podem os EUA (ja nem digo o Brasil) ser uma Dinamarca? Bernie Sanders computou os custos? - Steven Pearlstein (WP)

Os nossos keynesianos de botequim apontam para as maravilhas dos escandinavos para dizer que se pode, sim, ter altas taxas e excelentes serviços coletivos fornecidos pelo Estado. Eu, mesmo quando era um keynesiano moderado, nunca achei que o Brasil pudesse se converter facilmente num país escandinavo, a começar que não tínhamos a moderação demográfica, as tradições democráticas, a ausência de corrupção e, sobretudo, a alta educação (e produtividade) dos escandinavos.
Mas, o candidato Bernie Sander acha que sim, que os EUA poderiam ser uma espécie de Dinamarca. Ele só esqueceu de informar sobre os custos de um United States of Scandinavia, e, mais ainda, quem iria pagar...
Mas a principal razão evidenciada por um especialista consultado para esta matéria de Steven Pearlstein é que os EUA não são um país homogêneo como a Dinamarca. Bem, o que pensar do Brasil então?
Paulo Roberto de Almeida

Wonkbook: Can Bernie Sanders turn the United States into Denmark?
By Steven Pearlstein
The Washington Post, March 14, 2016

Government-provided health insurance. Free college tuition. A $15 minimum wage. Stronger unions. High gas taxes. Guaranteed parental leave.  It sounds as though Bernie Sanders wants to turn America into Denmark or Sweden.

“And what’s wrong with that?” the Democratic presidential candidate replied when ABC’s George Stephanopoulos asked that question.

Indeed, a number of countries with bigger governments, higher taxes and more income equality than the United States are as prosperous, healthy and happy — in some cases, more so. Cross-country studies have found that big government is not a guarantee of a country’s economic success, but neither is it a barrier. Even here at home, the pollsters at Gallup found that most Democrats — and a near majority of all Americans — would be open to voting for a socialist.

According to economists, however, the question is not whether it is theoretically possible for Americans to adopt Scandinavian policies and still be prosperous. The issue is whether Americans would be willing to accept the tradeoffs that go along with such a system — higher taxes and unemployment rates, open trade, slower growth, more income redistribution — and whether Sanders has overestimated the benefits and underestimated the costs of adopting it.

“There’s nothing wrong with it other than that Americans are not Danes,” said Princeton’s Alan Blinder, a top economic adviser to President Bill Clinton.

“The number one reason why these policies are feasible in Denmark is that the country is extremely homogenous,” explained Jacob Kierkegaard, a Dane who is a senior fellow at the Peterson Institute of International Economics in Washington.  “The perception among the electorate is that the government will provide for me and for people who, in a linguistic, cultural and ethnic sense, are just like me.” And because Danes view themselves as 'shareholders' in the state, he said, government is viewed as benign and trustworthy.”
“That situation is not present, nor has ever been present, in the United States,” Kierkegaard said.

Luigi Zingales, an Italian economist now at the University of Chicago, contrasts high-tax, high-trust socialist countries such as Denmark and Sweden with high-tax, low-trust countries where populations are ethnically and culturally diverse, politics are fractious and government is incompetent and corrupt. In terms of social trust, he said, the Americans are somewhere in between.
“The danger for the United States is that it would wind up looking more like Italy and Greece than Denmark and Sweden,” Zingales said.
Attitudes toward globalization is another difference. Free trade is so widely accepted in Scandinavia that it even has strong support from organized labor. “Their unions recognize that for their workers to have a job, companies need to export to grow and be successful,” Kierkegaard said. By contrast, Sanders has made common cause with American unions in proposing to roll back every trade treaty signed since the North American Free Trade Agreement (NAFTA) in the 1990s.
The world, in fact, may be better off when different countries adopt different economic systems, argue Daron Acemoglu, Thierry Verdier and James Robinson in a widely noted paper, “Can’t We All Be More Like Scandanavians?”
The United States, with its more “cutthroat” form capitalism, they argue, plays a unique role in the global economy because it generates a disproportionate share of innovative new technologies and business practices that are quickly adopted by other countries. If Americans were to embrace Denmark’s  “cuddly” form of capitalism, they fear, there would be less of that disruptive innovation and both Americans and Danes would be worse off. A robust global economy requires the co-existence of both systems trading with each other.
Although economists are sympathetic to the direction of many of the individual policies that make up Sandernomics, even those who lean liberal worry they go too far.
The best example is the single-payer health plan that would effectively replace today’s private and public insurance programs with comprehensive medical, dental and optical services with no co-payments or deductibles for all Americans.  Every other advanced country does it that way, at significantly lower cost and better health outcomes. Why, Sanders asks, can’t we do the same?

An analysis done for the Sanders campaign by Gerald Friedman, a University of Massachusetts economist, concluded that the single-payer plan would shave $1 trillion off what would otherwise be $6 trillion in national health spending by 2026, a decade after enactment—even after extending coverage to tens of millions of Americans who now are uninsured or underinsured.
The reduction, he calculates would come primarily from eliminating most of the billing and administrative expenses at doctors offices, hospitals, pharmacies and insurance companies—an immediate savings of 12 percent.  Additional savings would come from government bargaining and controls that reduce – and slow the growth of -- prices for drugs and medical services.
The average family, Friedman estimated, would save nearly $6,000 a year, even after paying a new 8.4 payroll tax to the government instead of premiums and co-payments to insurance companies.  At the same time, employers who offer insurance would save more than $9,000 per employee.
But Kenneth Thorpe, a widely respected health economist at Emory University, argues that Friedman overestimated the administrative savings and reduction in drug prices that the government could negotiate on generic drugs and home health care, both fast-growing segments.  And he said that Friedman badly underestimated the additional demand for medical services induced by the total elimination of co-payments and deductibles, creating the health care equivalent of an all-you-can-eat buffet.
Thorpe is no stranger to single-payer health plans.  His cost analyses lead Sanders’ own state of Vermont to scrap its plans for a statewide single-payer system. Sanders’ plan, he calculated, would require another trillion dollars a year in new taxes on top of the $1.3 billion that Sanders had proposed to fund the system.
Beyond the financial challenges are the political ones. Health economists predict the Sanders plan would reduce incomes for doctors, hospital administrators and drug company shareholders, much as happens in other countries. Warren Gunnels, Sanders’ policy director, acknowledged as much but argued that Canadian and British doctors and nurses still lived “very comfortably.”

Keeping a tighter rein on health spending could also result in fewer tests and procedures if they fail to meet strict cost-benefit guidelines, or longer wait times for non-urgent care, which are also common in other countries.  Gunnels said that kind of rationing will be minimal and, in any case, is preferable to the kind of rationing of health care that  now leaves 60 million Americans uninsured or underinsured.
Economists have also questioned Sanders plan for free tuition at all public colleges and universities.
Ron Ehrenberg, a Cornell University expert on higher education, notes that because of existing federal and state assistance, low- and moderate-income students already pay little or no tuition. Much of the tuition benefit, he predicts, will go to students from middle- and upper-income families.
“I’m not sure this is a wise thing,” Ehrenberg said.  “It won’t affect the ability of lower income students to get higher education.”
Others predict that the plan could strain the capacity of public institutions as large numbers of students shift from private to public colleges.  They also warn that the extra demand probably would ive up the annual cost of the program well beyond the $75 billion Sanders has projected. A recent study by the bipartisan Tax Policy Center found that the financial transaction tax which Sanders relies on to pay for the tuition-free initiative could raise, at most, $50 billion a year. Setting the tax as high as Sanders proposes, they warn, would simply cause investors and speculators to make fewer trades, or drive the trading offshore.
A cornerstone of Sandernomics is a promise to raise the national minimum wage to $15 an hour — enough to lift any full-time worker out of poverty.  Other proposals — pay equity for women, stricter overtime enforcement and rules making it easier for workers to unionize—are also meant to push up working-class wages.  These regulatory changes would increase average wages by 8 percent within a decade, according to Friedman at UMass.

Liberal economists auxh A Princeton’s Alan Krueger, former chief economist in the Obama White House, have long thought that, in modest doses, such policies can largely pay for themselves because of the reduced turnover and increased worker productivity that result from higher pay.  But even Krueger has been reluctant to push the minimum wage as high as $15, calling it a “risk not worth taking.”
In his speeches, Sanders suggests the higher incomes at the bottom will be paid for in the form of lower incomes for shareholders and executives who have captured all of the benefit of economic growth in recent decades. But even Friedman estimates that about half of the cost of these wage-boosting policies will eventually be passed on to workers, in the form of higher prices for what they buy, smaller pay raises or higher unemployment as firms replace workers with new technology.
Certainly the most aggressive aspect of Sandernomics is the senator’s plan to collect an additional $1.6 trillion a year in taxes—the equivalent of 7 percent of GDP.  Although all households would pay higher taxes, 40 percent of the extra taxes would come from households in the top 1 percent —those with annual incomes above $500,000, according to a Tax Policy Center analysis.  Those households would see their overall federal tax bite rise from 34 percent to 55 percent.
Sanders argues that it is misleading to look at the tax increase he proposes without also considering the money households would not have to spend on health insurance premiums and co-payments as a result of his plan.  A study by the liberal-leaning Citizens for Tax Justice found that 95 percent of American households—those with incomes below $225,000—would have more money to spend on everything other than taxes and health care.
But Sanders makes no apologies for the dramatic tax increase he wants to impose on “the billionaire class,” whose after-tax income would fall 40 percent, according to the Tax Policy Center.
For households with annual incomes above $10 million, the combined income and payroll tax bite on the last dollar of salary income— what economists call the marginal rate—would be 77 percent (after adding in the employer share of payroll taxes, as most economists would do). That compares to 43 percent today. For investment income—typically the bulk of income for wealthy households—the marginal rate would be 64 percent, compared to 24 percent today. None of those numbers includes state and city income taxes, which in some places could add another 10 percentage points to the tax bite.
Even households with incomes as low as $250,000 would face a marginal rate of 62 percent for earned income and 50 percent for investment income, significantly above today’s levels.
For years, mainstream economists have argued that governments could raise top marginal rates on salary income as high as 60 percent, and investment income to 30 percent, without causing high-income households to change their economic behavior. But with combined state and federal marginal rates reaching 70 or even 80 percent, they warn, it is likely that some business executives, hedge fund managers and well-paid professionals—or their spouses—will decide to hang it up and head for the beach.  For sure they will hire armies of lawyers and accountants to help them convert salary income to lower-taxed investment income—and then move investment income offshore, where it is not subject to any U.S. tax.
“You will just never be able to tax [investment income] that highly,” warns Princeton’s Blinder, as European countries discovered years ago.  Today, European tax rates on investment income are now half of what Sanders proposes.
And it’s not just rich people who would be affected by Sanders’S tax increases at the top. “Almost any economist would say that those taxes on investment will have a negative impact on economic growth,” said Len Burman, director of the Tax Policy Center.  “It raises the costs for business of making new investment, so they will invest less.  And it makes investors less inclined to own [stocks].”
Indeed, it would be surprising if Sanders’s plan for steep increase in taxes on investment income, corporate profit and financial transactions did not cause stock prices to fall significantly, reducing household wealth and, with it, consumer spending.
Sanders thinks this is nonsense. By redistributing spendable income to the poor and middle class and increasing government investment for infrastructure and education, he promises that Sandernomics would supercharge economic growth.  According to Friedman’s analysis, it would add 25 million jobs over a decade, increase the income of the average household by more than $20,000 and drive the unemployment rate down to 3.8 percent.
Even Democratic economists, however, are skeptical of such claims.
Christina Romer, another former adviser to President Obama, with her husband, David, released a paper last week concluding that there just weren’t enough unemployed workers and unused capacity left in the economy to make it possible for the economy to grow 5 percent each year for a decade, as Sanders imagines. The more likely result, they said, would be dramatically higher inflation, not growth.
“A realistic examination of the impact of the Sanders policies on the economy’s productive capacity suggest[s] those effects are likely to be small at best, and possibly negative,” wrote the Romers, both professor at the University of California at Berkeley.  The higher inflation would prompt the Federal Reserve to raise interest rates, further depressing business investment, they warned.  And by providing free tuition to students and guaranteed health care to everyone, it was unlikely, they concluded, that Sanders would succeed in greatly expanding the workforce.
Some economists, such as Jamie Galbraith of the University of Texas, think the Romers are working from an outdated economic model.
At a time when there is slow economic growth because of a glut of savings and too few opportunities for private investment, shifting money to well-targeted public investments such as infrastructure and education would surely increase growth, Galbraith said.
Moreover, in the newly globalized economy, there is a greatly reduced inflation risk. If wages are pushed high enough, Galbraith says, there are plenty of students, retirees, stay-at home parents, under-employed freelancers and Mexican immigrants who could be lured back into the American workforce.
That, however, is not what generally happens in Denmark and Sweden.  In those countries, higher wages, free tuition and universal health care come in an economic package that generally also includes modest growth, higher unemployment, limited immigration and significantly higher middle-class taxes. The problem with the Sanders program, say its critics, is that it promises all the good parts of the Scandinavian model without any of the bad parts — all dessert, no spinach.
As Denmark’s Kierkegaard sees it, in the modern world, existing social, economic, political and cultural institutions are so complex and interdependent that it’s not possible to bring about radical change in one area without changing everything else.  And even if Sanders did manage to pull off all those changes, he said, the process would generate disruption and uncertainty that would slow the economy for years.
“Revolutions in advanced economies are extraordinarily costly,” he said. “That’s why incremental change is preferred.”

Steven Pearlstein is a business and economics columnist who writes about local, national and international topics.