Sobre a mais recente obsessão em se livrar do dólar nas transações internacionais:
As palavras mágicas em qualquer tipo de negócio são três: o que for mais fácil, o que for mais barato e o que for menos arriscado nos intercâmbios.
O Brasil tem um saldo comercial bilateral de dezenas de bilhões de dólares com a China, pela simples razão de que a totalidade das commodities exportadas pelo Brasil para a China é cotada nessa moeda.
Vai demorar muito tempo para mudar essa realidade, que não foi determinada por nenhuma vontade nacional, e sim por transformações relevantes na estrutura e na geografia da economia mundial ao longo de décadas; o comércio internacional foi dominado pela libra britânica durante mais de um século, até a primeira metade do século XX (mais exatamente pelos bills of exchange realizados na praça londrina).
O Tesouro brasileiro mudou a sua delegacia externa de Londres para Nova York em 1939, e todos os pagamentos externos passaram a ser contabilizados em dólar.
A menos que nossos exportadores queiram repassar eventuais bilhões de yuans a importadores brasileiros de produtos chineses, caso decidam os governos abrir uma segunda janela nos meios de pagamentos externos, o melhor mesmo para todos é ficar com os US$: é mais fácil, é mais barato e apresenta menos riscos cambiais.
Não existem controles de capitais nos principais países emissores de divisas livremente conversíveis, e mesmo que os BCs quisessem manipular suas paridades respectivas não o conseguiriam. A massa de meio circulante está muito acima de suas capacidades de intervenção.
Em terceiro e mais importante lugar, não é função de BCs garantir riscos cambiais de transações privadas, que podem ser objeto de hedge nas letras de câmbio.
Quando o yuan for uma moeda livremente conversível, isenta de manipulações por parte do governo chinês, poderá haver interesse em manter parte de nossas reservas na moeda chinesa, como já ocorre com o euro, largamente utilizado nos intercâmbios entre o Brasil e os países da zona do euro: ainda assim, as commodities exportadas pelo Brasil continuam a ser cotadas em dólar dos dois lados do Atlântico.
Simples assim. Por que complicar?
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 13/04/2023