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segunda-feira, 14 de julho de 2014

O Brasil depois da Copa: amor proprio ferido - Milton Simon Pires

Já se escreveu muito sobre a Copa e eu não pretendo retomar aqui tudo o que li, inclusive porque é sobre futebol, e futebol não me interessa muito, ou pelo menos não tanto quanto o Brasil e os brasileiros. Acho, por exemplo, que torcer é um pouco irracional, ainda que todos nós façamos isso, pois temos preferências e gostos. Mas o mundo é mais complexo do que o protagonismo dos jogadores, de qualquer esporte. O que eu tenho horror, na verdade, é de torcida organizada, pois esse tipo de coletivo costuma abrigar vândalos da pior espécie.
Tenho certa distância também, em relação aos comentários de jogadores, de jornalistas, de técnicos, pois as banalidades que ouvimos são de arrepiar...
Mas, não é isto que eu quero falar.
De tudo o que eu li sobre a Copa, e seus resultados, e não postei nada, só gostei desta crônica de um médico de Porto Alegre, de quem reproduzo habitualmente os escritos, pois os acho bem preparados para a situação do Brasil atual, um país afogado em sentimentos contraditórios, e que não consegue ver direito quais são os seus problemas, e onde está a solução.
Ele enxergou direito quais são os problemas e sabe qual é a solução.
Mas, como ele, eu também sei que a solução não aparecerá por milagre, ela é muito dificil...
Paulo Roberto de Almeida 


O FORA QUE LEVAMOS DE NÓS MESMOS
Milton Pires

Quando eu tinha 18 anos de idade conheci, no início da faculdade de medicina, uma colega por quem em pouco tempo me apaixonei. Evidentemente sem retribuir em nada ao meu sentimento e constrangida com os constantes convites para sair,  a moça, um dia muito preocupada, me disse: “Milton, acho que tu estás confundindo as coisas: não quero te magoar, sabe?”
Não preciso dizer para vocês como fiquei me sentindo depois. Todos nós, homens ou mulheres, já levamos “foras” nessa vida. Lembro que, acima de tudo, eu pensei o seguinte: “aguenta firme: ninguém é obrigado a gostar de ti. Além disso, mulheres mudam de ideia com relação a esse tipo de coisa..” Pois bem, meus amigos – não houve “mudança de ideia” no meu caso. O que aconteceu foi o seguinte: não contente com aquilo que havia me dito, a tal “moça” resolveu tornar “conhecida” de todos os nossos colegas de aula essa história que contei a vocês..
O nome do sentimento que fiquei e que descrevi no primeiro parágrafo é humilhação. A humilhação é um sentimento individual. Não acredito que possa ser compartilhado de maneira plena. Pergunto  (e aí entro no assunto do texto) portanto como explicar essa sensação que percorre o Brasil inteiro depois do sete a um que tomamos da Alemanha e do terceiro lugar que cedemos à Holanda. A resposta não está na importância do futebol nem no despreparo do nosso time. A categoria que une a minha história na faculdade com a relação que temos com o futebol é a “paixão”.
Não existe termo mais distorcido, mais mal empregado e desconhecido no mundo ocidental do que “paixão”. Paixão é, antes de tudo, a impossibilidade da razão. Não faz diferença alguma se tratamos de amor ou futebol: todo apaixonado – concretizando ou não sua paixão – é um infeliz...é alguém incapaz de guardar para si mesmo aquela quantidade de amor mínima para se poder amar alguém ou alguma coisa: o amor-próprio. Se conseguirmos aceitar nossa paixão pelo futebol, conseguiremos compreender que depositamos na correria atrás de uma bola a autoestima da nossa nação, a visão que temos de nós mesmos e a nossa capacidade de nos reerguermos depois de cada tombo levado.
Meus amigos, o Brasil pagou um preço imenso pela Copa do PT. O que se desviou de dinheiro púbico, o que se superfaturou com obras sem licitação e realizadas na última hora..o que se perdeu na economia em dias parados por causa de jogos da seleção ainda está sendo contabilizado, mas não há dúvida que foi um momento ímpar na história do sentimento que o brasileiro pode (ainda) ter pelo seu país...Foi uma espécie de “Milton, tu estás confundindo as coisas e eu não quero te magoar” que pegou 200 milhões de apaixonados de 18 anos desprevenidos, totalmente abestalhados e hipnotizados pelo seu “amor inventado”...
É muito triste, mesmo para um escritor amador, tentar fazer a crônica de uma sociedade através do esporte. Nunca gostei do jornalismo desportivo..Aliás, em se tratando do Brasil, não gosto de jornalismo algum, mas é patética a necessidade de me remeter ao futebol para tirar as devidas conclusões necessárias sobre a nossa relação com a ideia de país. A síntese necessária é a seguinte: nós não temos “ideia alguma” do que venha a ser amor a pátria e respeito pela nação. Nós não somos capazes de nos mobilizar por mais nada que não seja carnaval e futebol..Nós não guardamos pelas nossas mulheres o respeito mínimo que nos faria mandar para o inferno o jornal americano que descreveu a paixão delas por “estrangeiros” durante a Copa...Nós já esquecemos o viaduto de Belo Horizonte e a filha da motorista esmagada por ele..Nós não reparamos mais nas obras pela metade nem no silêncio sobre o Decreto 8243 que promete nos transformar, a todos, numa espécie de União Soviética que fala português...tudo isso já foi esquecido: o sete a um que levamos da Alemanha e o terceiro lugar cedido à Holanda também vão ser...Fica só a  humilhação..o sentimento de ridículo que eu tive na faculdade de medicina...é a Copa de  2014 contando para o mundo inteiro o que PT fez conosco...Dor de cotovelo depois do... Fora que levamos de nós Mesmos

Dedicado à “mulherada furiosa” do Inglourious..Sou apaixonado por vocês...não espalhem...

Porto Alegre, 13 de julho de 2014.