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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

A diplomacia brasileira vive o seu PIOR momento - Editorial Estadão (19/02/2021)

 ‘É parte da cura o desejo de ser curado’

É muito triste constatar que a diplomacia brasileira vive o seu pior momento

Editorial Estadão | 19/02/2021, 3h

 

Sábias palavras do filósofo romano Sêneca, o Jovem, ainda no distante século 1.º. Pena que essa antiga máxima não tenha sido adotada pelo governo brasileiro ao tratar a pandemia de covid-19. Ao contrário, assumindo explícito negacionismo o presidente Jair Bolsonaro só colecionou atos contrários ao fundamental “desejo de ser curado”: o rebaixamento de uma doença nova, desconhecida e por vezes mortal a “gripezinha”, a demissão dos ministros Mandetta e Teich, culminando com a convocação de um militar especializado em logística para a pasta da Saúde. Apesar de sua “expertise”, o planejamento do atual ministro mostrou-se caótico e obscurantista: recomendou medicamentos não apropriados e foi negligente com a necessária pressa na compra de vacinas, sobretudo pelas interferências do presidente.

Não bastasse, foi de enorme gravidade o vergonhoso papel desempenhado pelo Brasil na defesa de seus próprios interesses e de potenciais aliados em causas comuns na cena internacional. Em outubro, Índia e África do Sul propuseram à Organização Mundial do Comércio (OMC) a liberação do licenciamento compulsório e temporário de patentes com vista às pesquisas de vacinas e medicamentos de combate à epidemia. O Brasil votou contra a proposta dos parceiros do Brics, contrariando uma tradição de pioneirismo nesse assunto nas últimas décadas, preferindo seguir a orientação de Donald Trump. Dado o apoio chinês e russo à proposta de liberação, o Brasil ficou totalmente isolado na entidade que agrega as potências emergentes.

A ideia de licença compulsória obrigatória de patentes numa circunstância grave que a justifique não é modismo atual. Essa possibilidade de suspensão temporária de um direito de propriedade intelectual diante de um motivo de grande interesse público foi prevista na legislação britânica contida no Estatuto dos Monopólios do Reino Unido, votado no Parlamento em 1624. Posteriormente o tema foi tratado em acordo internacional firmado em Paris em 1883, quando foram estabelecidas regras gerais de licença contra o exercício abusivo de direitos sobre patentes. Só em 1967 foram estabelecidas regras específicas, num congresso em Estocolmo.

Por fim, em 1994 foi firmado na OMC o Trade-Related Aspects in Intelectual Property Rights (Trips), ou direitos sobre propriedade intelectual relacionados ao comércio. O Trips prevê a quebra de patentes em situações emergenciais, mas antes deve ser feita uma tentativa de negociação entre governo e empresa detentora. Caso não cheguem a acordo, está prevista a liberação temporária da patente e uma compensação em royalties ao proprietário intelectual.

Rússia e China não assinaram o tratado. Índia firmou, mas conseguiu exercer por dez anos uma carência de suspensão temporária, durante a qual montou sua próspera indústria farmacêutica atual.

Já o Brasil não exigiu a carência e perdeu o bonde industrial que a Índia pegou. Mas fez insistente pressão para enfrentar as patentes dos medicamentos contra a aids, conseguindo grandes conquistas com os genéricos, liberações e preços junto aos grandes laboratórios detentores da propriedade intelectual. Essa atitude constante brasileira foi elogiada e admirada pelo mundo todo, tendo a Índia como apoiadora de primeira hora nessa direção. Dentro desse contexto histórico, foi grande a decepção na África do Sul e na Índia com a posição brasileira em plena pandemia, alinhada com os grandes laboratórios norte-americanos e europeus na reunião da OMC. Até manifestações de rua houve nesses países criticando o Brasil. Embora derrotada pelas pressões americanas e europeias, a proposta foi apoiada por mais de cem países e cerca de 400 entidades internacionais.

É realmente muito triste constatar que a diplomacia brasileira vive erraticamente seu pior momento em sua respeitada história. Herdeira da eficiente diplomacia portuguesa do século 18, conduzida por brilhantes diplomatas como dom Luís da Cunha e Alexandre de Gusmão e continuada no século 19 pelos não menos brilhantes visconde do Rio Branco e seu filho, o barão. Este último e Joaquim Nabuco adentrariam o século 20 com um trabalho decisivo na discussão e consolidação de nossas fronteiras. E no decorrer do século o Itamaraty firmou-se no cenário internacional como exemplo de boas práticas diplomáticas para todo o mundo, despertando admiração e respeito. Prestígio confirmado pela atuação de Oswaldo Aranha no comando da Assembleia-Geral da ONU em 1947/48.

O mais surpreendente nessa guinada ideológica inconsequente da nossa diplomacia é que ela contraria até a política externa praticada pelo regime militar a partir de março de 1974, no governo Ernesto Geisel. O então chanceler Antônio Azeredo da Silveira, notabilizado como Silveirinha, anunciou a nova postura diplomática do “pragmatismo responsável”, em oposição ao anterior alinhamento automático aos Estados Unidos. Ironicamente, o Brasil adotava o mesmo pragmatismo comercial praticado pelos Estados Unidos em relação aos seus interesses. Ou como dizia John Foster Dulles, experiente diplomata conservador norte-americano dos anos 1950, “não existe amizade entre os países, apenas interesses comuns”.

https://opiniao.estadao.com.br/noticias/espaco-aberto,e-parte-da-cura-o-desejo-de-ser-curado,70003620338


domingo, 20 de setembro de 2020

Os descaminhos da nossa diplomacia servil a Trump - Janaina Figueiredo (La Nación)

La gira de Pompeo fortalece el alineamiento automático de EE.UU. y Brasil


La Nación, 20/09/2020
El secretario de Estado norteamericano, Mike Pompeo
El secretario de Estado norteamericano, Mike Pompeo  Fuente: AFP
19 de septiembre de 2020  • 19:52

RÍO DE JANEIRO.- En su libro Miedo: Trump en la Casa Blanca , el periodista norteamericano Bob Woodward menciona la estrecha relación entre el presidente y su par brasileño, Jair Bolsonaro , a quien alguna vez llamó "el Trump de los trópicos" . En uno de sus relatos, Woodward asegura que en marzo pasado, cuando la pandemia de coronavirus ya era una realidad en el continente y Washington sabía de su gravedad, el republicano hizo una excepción en su agenda externa y aceptó recibir a Bolsonaro en su residencia Mar-a-Lago, en Florida . Días después, tres integrantes de la comitiva brasileña confirmaron tener Covid-19 y el consejero de Seguridad Nacional, Robert O'Brien, relató a Woodward que "temió transformarse en el responsable de exponer Trump al virus".

Lo narrado por el periodista retrata el grado de cercanía entre los dos presidentes, que para importantes dirigentes brasileños ya es consideradainconstitucional Trump es el mayor ídolo de Bolsonaro y usa al gobierno brasileño como pieza clave en su estrategia regional. En este contexto debe entenderse la visita del secretario de Estado norteamericano, Mike Pompeo, al estado brasileño de Roraima ayer. Una visita que causó polémica en Brasil y llevó el presidente de la Cámara de Diputados, Rodrigo Maia, a calificarla de"ofensa a las tradiciones de autonomía" de la política exterior nacional.

La escala en Roraima tuvo el objetivo de discutir la crisis venezolana y enviarle un fuerte mensaje a Nicolás Maduro . En un estado brasileño que tiene una amplia frontera con Venezuela , el secretario de Estado, recibido con honores por el canciller Ernesto Araújo, le pidió a Maduro que renuncie. Para Maia y otros dirigentes, el gobierno de Bolsonaro cometió un acto inconstitucional al violar los principios de independencia nacional.

Para Trump, esa escala en territorio brasileño era importante por varios motivos. Seguir estrechando el vínculo con un aliado estratégico; enviarle un mensaje a los electores latinos de Florida y a su archienemigo venezolano. La sociedad con Bolsonaro le ha dado buenos resultados al magnate. El fin de semana pasado, el apoyo indispensable de Brasil le permitió a Estados Unidos ocupar, por primera vez en sus 60 años de historia, la presidencia del Banco Interamericano de Desarrollo (BID). Con un alto nivel de abstención, fue electo el norteamericano de origen cubano Mauricio Claver-Carone.

Si Brasil hubiera presentado un candidato a la altura de las circunstancias, hubiera tenido chances de quedarse con el cargo. Muy por el contrario, propuso al empresario y banquero Rodrigo Xavier, cercano al ministro de Economía, Paulo Guedes, que, según fuentes del BID, ni siquiera habla bien español. Con el lanzamiento de la candidatura de Claver-Carone, el gobierno de Bolsonaro retiró inmediatamente a Xavier y se puso en campaña para respaldar al hombre de Trump.

La alianza entre Brasil y Estados Unidos también hizo jugadas fuertes en la Organización de los Estados Americanos ( OEA ), donde apoyaron a principios de año la reelección del uruguayo Luis Almagro como secretario general. Meses más tarde, Bolsonaro logró que Almagro diera un fuerte impulso a varias denuncias administrativas contra Paulo Abrão, ahora exsecretario general de la Comisión Interamericana de Derechos Humanos (CIDH). Abrão fue funcionario de los gobiernos del Partido de los Trabajadores (PT) y, además de eso, promovía investigaciones sobre supuestas violaciones de los derechos humanos en países como Brasil.

Para completar el cuadro, Bolsonaro acaba de enviar a su exasesor especial Arthur Weintraub a Washington para ocupar una secretaría del gabinete de Almagro. El hermano del exasesor -el exministro de Educación Abraham Weintraub, envuelto en conflictos diplomáticos con China y famoso por haber dicho que todos los jueces del Supremo Tribunal Federal (STF) deberían estar presos- fue enviado al Banco Mundial.

Queda claro que el vínculo Trump-Bolsonaro es útil a ambos. Aunque en el caso del brasileño lo sea más en temas personales y no de interés nacional. El alineamiento automático con Estados Unidos no le generó beneficios económicos o comerciales a Brasil. Todo lo contrario: el gobierno acaba de adoptar medidas que favorecerán las exportaciones de etanol y arroz norteamericano y, en este último caso, que perjudican a sus socios del Mercosur. Las barreras proteccionistas al acero aplicadas por Estados Unidos demuestran que, a la hora de priorizar, salen ganando los intereses nacionales.

Bolsonaro le sirve mucho más a Trump que viceversa. La Casa Blanca busca ampliar su influencia en la región, principalmente para contraponerse a China . Eso explica, en gran medida, el interés por la presidencia del BID, ámbito donde se toman decisiones sobre reglas de inversión.

"América Latina está muy dividida, y el símbolo de esa fragmentación es la mala relación entre Brasil y la Argentina . En ese contexto, Estados Unidos aprovecha las divisiones para imponerse", explicó a LA NACION Mauricio Santoro, profesor de Relaciones Internacionales de la Universidad Estadual de Río de Janeiro (UERJ).

El presidente brasileño tiene dedicación exclusiva a su ídolo y, como escribió recientemente un internauta en Twitter, se transformó en una especie de "Trump con cinco días de delay . Estuvieron unidos en la defensa de la cloroquina como medicamento supuestamente eficaz contra el Covid-19; minimizaron la pandemia; criticaron a la Organización Mundial de la Salud(OMS); cuestionan los organismos multilaterales, como la Organización Mundial de Comercio (OMC), y en la región sostienen el discurso más duro contra Venezuela, acompañados por la Colombia de Iván Duque , por donde pasó Pompeo.

El canciller brasileño dice públicamente que su gobierno no tendría problemas en relacionarse con una eventual administración demócrata. Pero internamente se sabe que Bolsonaro apuesta a la reelección de Trump. "¿Podrías imaginar a un secretario de Estado demócrata llegando a Roraima? Yo lo veo más visitando la Amazonia, o el Pantanal, y demostrando preocupación por los incendios", dijo Santoro.

El embajador Paulo Roberto de Almeida, tal vez el mayor crítico de Araújo en actividad, dijo que Roraima fue "un set de la campaña de propaganda de Trump". Para el embajador, una eventual derrota de Trump dejaría al presidente brasileño totalmente aislado en la región y el mundo.