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sexta-feira, 8 de março de 2013

Hugo, I (e unico?); ou "Peron No Muere", 2

Ufa! Até que enfim: 60 anos depois de Evita, a América Latina, finalmente, retoma a religião dos embalsamados.
E nós que pensávamos que ficaríamos de fora do circuito turístico-necrófilo das visitas a tiranos embalsamados, como já existe na Rússia e em diversas paragens da Ásia, estávamos obviamente enganados.
A América Latina, ainda bem, se rende a esse costume benéfico, que sempre pode render dólares a mais no balanço de pagamentos, e muitos pirulitos, garrafas d'água e retratos dos cadáveres vendidos na porta de mausoléus faraônicos, e retoma o espetáculo da devoção política-fundamentalista. Estávamos precisando dessa última demonstração de modernidade e de gratidão.
Vamos passar a figurar nos guias turísticos dos necrófilos anônimos, e logo, logo, assim que o mausoléu gigantesco, faraônico, ficar pronto em Caracas, multidões vão se espremer para contemplar a cara brilhante do comandante. Teremos voos charter a partir do Brasil para os companheiros que choram a perda do guia espiritual (e financiador eventual).
Comovente...
Paulo Roberto de Almeida

07/03/2013 às 21:36
Os comunas fazem questão de oprimir como um pesadelo o cérebro dos vivos

Os comunistas e esquerdistas de maneira geral são tão materialistas, mas tão materialistas!, que não se despedem deste mundo nem mortos. Nicolás Maduro, o presidente ilegal e ilegítimo da Venezuela, anunciou que o corpo de Chávez será embalsamado — “como o de Lênin”, ele foi claríssimo. As honras fúnebres durarão sete dias.

Que coisa! Alguns esquerdistas xexelentos de Banânia (os há não xexelentos?) dizem aqui e ali que a direita já foi muito melhor! Referem-se sempre, claro! a pessoas mortas — não sei se vocês entendem a sutileza de pensamento… Pode ser. Mas e a esquerda, hein? Tá bom! Nunca foi muito melhor, mas talvez já tenha sido menos pior, hehe.

Chávez embalsamado? O farsante cucaracha vem numa sequência de outras múmias homicidas, todas comunas: Lênin, Stálin, Kim Il Sung, Ho Chi Min, Mao Tse-Tung… Os vampiros morais ficam lá, expostos, com a sua face de cera. Curioso, não é?, quando nos lembramos que o comunismo é oficialmente ateu…

Como não recuperar as palavras quase iniciais de Marx em “O 18 Brumário”? Reproduzo:
“Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem segundo a sua livre vontade; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha, e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos. E, justamente quando parecem empenhados em revolucionar-se a si e às coisas, em criar algo que jamais existiu, precisamente nesses períodos de crise revolucionária, os homens conjuram ansiosamente em seu auxilio os espíritos do passado, tomando-lhes emprestado os nomes, os gritos de guerra e as roupagens (…)”

Notem: os líderes comunistas foram embalsamos no período ainda da Guerra Fria. Exceção feita à Coréia do Norte, onde Kim Il-Sung ainda é tomado como referência incontrastável e a quem se atribuem verdadeiros milagres, as outras múmias não são mais do que atração turística hoje em dia. Repetir, em pleno século 21, o embalsamamento de um líder para que sirva de objeto de culto dá conta da degradação intelectual e moral a que chegou a política na Venezuela.

Vejam estas três imagens.
(...)
(http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/os-comunas-fazem-questao-de-oprimir-como-um-pesadelo-o-cerebro-dos-vivos/)

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A comissão de frente do Bloco dos Bufões Bolivarianos capricha na pose de quem virou órfão e viúvo de uma vez só
Augusto Nunes, 7/03/2013

Branca Nunes

Três titulares absolutos da comissão de frente do Bloco dos Bufões Bolivarianos começaram já nesta quarta-feira, na Venezuela, o aquecimento para o último desfile puxado por Hugo Cháves. No primeiro ensaio, a argentina Cristina Kirchner combinou o vestido preto-angústia com a maquiagem de Viúva-de-Tango. Sócio recente do clube dos liberticidas, o uruguaio Jose Mujica já aprendeu que é proibido usar gravata. Logo o Tupamaro-de-Fusca aprenderá que também paletó é coisa de burguês.

Sabe disso há muito tempo o boliviano Evo Morales, informa o blusão que virou uniforme de presidente e acaba de ganhar um novo adereço: apareceu na concentração em Caracas enfeitado pelo rosto de Che Guevara. Como atesta a foto, tanto o Lhama-de-Franja quanto seus parceiros capricham na pose de quem foi golpeado simultaneamente pela viuvez e pela orfandade. Estocadas nos cantos dos olhos, lágrimas furtivas estão prontas para descer ao som dos cliques que denunciam fotógrafos em ação.

A dor simulada pelos canastrões de longo curso é mais convincente do que a esboçada por Nicolás Maduro, fantasiado de bandeira venezuelana dois ou três metros atrás. Há alguns anos, o sucessor do bolívar-de-hospício era motorista de ônibus. Nomeado vice-presidente por Hugo Chávez, agora pilota um país. Sabe que precisa ficar triste, mas a euforia não para de pedir passagem e a alma hesita entre o pranto e a gargalhada. Caçula da turma, o bolívar-de-picadeiro tem muita coisa a aprender com os mestres que completam o grupo de elite.

Além da trinca à beira do caixão, a comissão de frente inclui a dupla brasileira Lula e Dilma, o iraniano Mahmoud Ahmadinejad, o cubano Raúl Castro, o nicaraguense Daniel Ortega, o equatoriano Rafael Correa, o paraguaio Fernando Lugo, o hondurenho Manuel Zelaya e outras maravilhas da fauna permanentemente em guerra contra o estado democrático de direito, os Estados Unidos e o Código Penal. (Se soubessem o que significa a expressão muito frequente no Rio dos tempos de Nelson Rodrigues, seria fascinante conferir a reação dos enlutados fora-da-lei ao berro perturbador: “Olha o rapa!”)

Para que o homenageado pudesse ser visto pela multidão em companhia dos melhores amigos, o herdeiro Maduro prolongou o velório por mais sete dias e revogou o enterro. Numa urna de vidro, o corpo embalsamado ficará  exposto à visitação pública pelos próximos anos, décadas ou séculos. Logo aparecerão devotos jurando que foram curados pelo milagreiro imortal. Se forem muitos, é improvável que Hugo Chávez resista à tentação de ressuscitar para um agradecimento de pelo menos cinco horas.

Ele merece. A plateia também.