Na verdade, Edward Gibbon, em sua monumental história do Declínio e Queda do Império Romano já tinha feito um relato excelente sobre as disfunções econômicas do Império, o extrativismo estatal, a inflação, a desorganização monetária, a corrupção, etc.
Recomendo ler os muitos comentários dos leitores que estão na postagem original do Instituto Mises Brasil, neste link: https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1348
Vou dar uma aula sobre isso, com base neste texto.
Paulo Roberto de Almeida
Mises, do alto de sua impressionante sabedoria e inteligência, aponta em uma palavra a verdadeira causa deste fenômeno: intervencionismo. Por essas e outras considero Mises o maior economista de todos os tempos. Genialidade é isso: simplificar e sintetizar de forma impressionantemente esclarecedora um fenômeno complexo.
Mas devo dizer que não é a simplicidade que o faz genial, mas a verdade. Muitas pessoas tem respostas simples e erradas para as mais diversas questões. Mas este texto analisa o problema em foco sem forçar os argumentos, sem distorcer a história, sem tentar levar o leitor a crer em coisas improváveis.
É interessante notar que os romanos não tinham a menor idéia do que estava os destruíndo. Só muitos séculos depois Adam Smith começaria a explicar como funciona o mercado. Quanto mais os imperadores romanos percebiam a doença de sua sociedade, mais tomavam o veneno, pensando que fosse remédio. Seu autoritarismo doentio e sua demagogia empolada teriam conseqüências que eles nunca imaginariam.
A disciplina de História se modificou e evoluiu bastante desde os tempos de Mises e outros economistas de seu tempo. Apesar de tudo isto, hoje, pelo menos nos meios acadêmicos, é praticamente obrigatório a especialização em uma área da História, o que acarreta em uma séria dificuldade de alunos de graduação se aprofundarem em questões mais integrais de grandes processos históricos (como é o caso da queda do império romano). Um dos maiores problemas quando se analisam tais processos, e disto eu tenho experiência, é uma quase inexistente estudo de motivos econômicos para certos acontecimentos. Quando ocorre de o historiador mediano se utilizar da histórica econômica, é para sustentar alguma afirmação marxista ou socialista, o que é lamentável, pois nega qualquer outra metodologia de análise histórica no campo econômico.
Concluindo, o artigo em muito me auxilia e a outros muitos historiadores que se interessam ou trabalhem com o tema Império Romano. Nunca havia ouvido de minha professora de história antiga (e tive muitas aulas com ela sobre Roma) esta razão econômica de derrocada do Império Romano. Me auxiliou muito este artigo, tanto para refletir certo processo histórico em sua integralidade como para me esclarecer, sob novas perspectivas metodológicas, fatos históricos (que o site mises.org.br tem me ajudado bastante). Mas como havia citado, não podemos restringir a história a certos campos disciplinares ou certas metodologias. Você certamente poderá encontrar diversos outros autores que tem ótimo embasamento e fontes para teorias diferentes das da escola austríaca para a derrocada de Roma. Mas certamente todas são muito importantes para contribuir com uma melhor visão de certo momento histórico.
Quem quer que esteja em busca de explicações para a queda da civilização romana, mas ignore por completo os fatores econômicos da época, estará apenas construindo um conto de fadas.
Quanto a Roma, o fator econômico parece realmente ter sido preponderante. Mas gostaria de contra-argumentar, pois você fez uma afirmação de âmbito universal.
Certamente uma sociedade pode entrar em colapso por fatores totalmente externos. Uma invasão por um inimigo, que destrua fortemente grande parte da população, a maior parte dos meios de produção, e grande parte dos registros escritos, pode levar uma sociedade a um colapso. Você dirá que a destruição dos meios de produção foi o fator preponderante, mas é importante analisar a causa dessa destruição.
Um país próspero pode entrar em decadência por motivos primariamente culturais e morais, pois a destruição de uma cultura de confiança será um grave entrave ao funcionamento do mercado. Vemos que foi a cultura de liberdade e responsabilidade que tornou possivel um mercado tão aberto nos EUA. E as grandes restrições ao funcionamento do mercado que aconteceram no último século, tiveram também razões culturais.
Note que o ambiente político de culto ao imperador, e demagogia sem fim, tornou possivel a adoção de medidas tão restritivas ao funcionamente normal de economia. Não digo que uma coisa levou à outra, mas digo que uma coisa tornou a outra possível, e até provável.
Veja que a causa primeira da má condução da política econômica normalmente é uma cultura doente. Portanto, o campo real de batalha é a cultura, e a economia seguirá.
Isso só acontece em uma sociedade já debilitada economicamente. Sociedades ricas e pujantes não são atacadas e dominadas.
"Um país próspero pode entrar em decadência por motivos primariamente culturais e morais, pois a destruição de uma cultura de confiança será um grave entrave ao funcionamento do mercado. [...] Veja que a causa primeira da má condução da política econômica normalmente é uma cultura doente."
Ok, mas aí você confirmou o que eu disse. No final, o que será decisivo será a economia. Agora, se a economia degringolou por causa de medidas governamentais ou se foi por causa de uma deterioração da cultura da população, isso é algo secundário. A causa última será econômica. E a função do economista não é dar conselhos morais, mas apenas explicar como as coisas funcionam.