O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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domingo, 9 de maio de 2021

Gustavo Franco: Lições Amargas - novo livro

A primeira, e mais que amarga, lição é a de que, na verdade, não aprendemos nada com as lições passadas, todas desaprendidas: assim foi com o tráfico e a escravidão, a não educação, etc., etc., etc.

maior das “lições amargas” que talvez sejamos obrigados a aceitar de nossa trajetória como nação nas últimas decadas — provavelmente válido para os duzentos anos desde a independência — é justamente o aprendizado de que não aprendemos nenhuma lição com nossas frustrações contínuas em matéria de reformas de nossas mazelas: fazem 200 anos que estamos procrastinando as soluções, primeiro com o tráfico, depois a abolição da escravatura, em seguida a não reforma agrária, a não representação política, a ausência completa de educação republicana, a indiferença para com as desigualdades nacionais, regionais e sobretudo sociais, a não inserção na economia mundial pela manutenção do mercantilismo e do protecionismo, uma casta política que se tornou predatória em relação ao cidadão contribuinte, a irresponsabilidade geral das elites, as velhas e as novas. De fato, amargas lições...

Paulo Roberto de Almeida

Gustavo Franco: Lições Amargas: Uma História Provisória da Atualidade

Edição Português


 Após um ano perdido, de uma década perdida, Gustavo Franco traz um balanço lúcido e provocador da situação do país

Gustavo Franco, economista renomado e um dos formuladores do Plano Real, mobiliza sua conhecida independência intelectual, domínio dos dados e capacidade analítica para refletir não apenas sobre os problemas do país, mas sobre como a nossa forma de pensar a respeito deles vem se transformando, com profundas e imprevistas consequências.

Sob o espectro da pandemia de covid-19, o autor toma as controvérsias que se impuseram ao longo de 2020 e 2021 como ponto de partida para uma análise eclética e inovadora, que abrange desde as razões da estagnação econômica durante o Império até as consequências da adoção do bitcoin e outras moedas digitais. Gustavo disseca também a questão das reformas, sempre presentes na discussão nacional, reconhecidas como necessárias pela maioria dos protagonistas da vida pública, mas que ficam velhas antes mesmo de serem aprovadas. Com lógica implacável, ele demonstra como o próprio conceito de reforma foi cooptado pelo estamento político para a construção de um discurso pretensamente modernizador, mas, na prática, voltado para o adiamento de qualquer mudança que contrarie poderosos interesses. “Tudo parece ter ficado mais agudo e urgente, assim como parece ter reduzido a nossa tolerância com a procrastinação. Ou não?”, ele provoca.

Lições amargas transborda de ideias originais, mercadoria escassa no cenário atual dominado pelo debate raso, dissociado dos fatos, prisioneiro dos dogmas. É menos um livro sobre as nossas dificuldades, e mais sobre a nossa incapacidade secular de enfrentá-las. Com fina ironia e genuína erudição, Gustavo Franco tira lições amargas dos anos de estagnação e da nossa inelutável tendência aos remédios milagrosos, para traçar os caminhos acidentados, porém ainda possíveis, de um reencontro com a nação que desejamos ser.


domingo, 4 de abril de 2021

Mini-reflexão sobre o aprendizado da pandemia - Paulo Roberto de Almeida

Mini-reflexão sobre o aprendizado da pandemia

  

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.com)

[Objetivoexposição de ideiasfinalidadedebate público]

 

 

Um dia, o confinamento vai passar, ainda que a pandemia seja resiliente e continue impactando vidas e trajetórias por tempo indefinido. 

Cabe retirar lições dessa experiência única em nossas vidas: as crianças recuperarão o tempo perdido dos estudos, adultos talvez percam coisas ainda mais importantes que certo atraso na formação; algumas famílias, muitas, perderam entes queridos, devido à incúria dos governantes e também por irresponsabilidade individual dos vitimados. 

Mas, tudo é matéria de reflexões e ensinamentos. Em tempos igualmente sombrios, dois grandes escritores, um russo e um brasileiro, escreveram suas “recordações da casa dos mortos”, suas “memórias do cárcere”, o que todos também podemos fazer com nossas “memórias da pandemia”. Escrevam, anotem!

Aprendemos algo com esta praga causada pelo desafio humano à natureza da vida?

Muitos sim, estão adquirindo um novo ou um renovado respeito que todos devemos ter para com o meio ambiente. Outros talvez ainda não.

Aprendemos também o valor da solidariedade, da compaixão, da necessidade de fraternidade para com os mais frágeis e necessitados. Alguns não aprenderam nada e reincidem no egoísmo.

Este é um momento grave e crucial na história de nossas vidas e no itinerário da nação. No início, mais de um ano atrás, não sabíamos o que fazer, o que esperar, o que pedir, ou exigir, de quem supostamente nos governa. Hoje já sabemos.

Sabemos com quem podemos contar: prioritariamente o pessoal da saúde (embora entre eles existam médicos idiotas e “enfermeiras” espertas); depois os cientistas, especialistas na área, e os pesquisadores que fizeram o prodígio de oferecer diversas vacinas em tempo recorde.

Se não fosse por esses dedicados profissionais, e pelo avanço da ciência e da tecnologia em nossa época, poderíamos estar enfrentando uma recorrência da Peste Negra ou da Gripe “espanhola”, com centenas de milhões de mortes, e uma destruição econômica ainda mais brutal. 

Vamos nos recuperar com algumas cicatrizes, alguns com sequelas permanentes. 

Independentemente dos efeitos diversos sobre cada um de nós, o importante é retirar ensinamentos, sobre nossos muitos fracassos, sobre nossas grandes vitórias.

Eu estou sempre aprendendo, observando, anotando, refletindo, escrevendo. Tudo o que é humano me interessa, já dizia uma conhecida frase da sabedoria dos antigos. Tudo o que desumano também: e tivemos amplas demonstrações das duas coisas neste ano que passou.

Vai demorar talvez mais um ano até que recuperemos a normalidade, pelo menos aqui no Brasil, onde a lentidão e a inépcia das elites é uma certeza. 

Tenho outra certeza: a maior parte dentre nós terá uma nova consciência sobre a vida, sobre certos bens inatingíveis e, talvez, certo mal absoluto, que aprendemos a rejeitar. Pelo menos assim espero. 

Parem um pouco, anotem, reflitam, escrevam. Sejam bons e fiquem em paz, nesta Páscoa de 2021, o ano que não terminará tão cedo...

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4/04/2021

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Um ano atrás (4/04/2020):

Muitos escrevem para perguntar como estamos, eu e Carmen Lícia. Minha resposta padrão: 

Estamos bem. Se eu não estivesse confinado em casa, onde tenho muitos livros, eu estaria confinado na biblioteca do Itamaraty, ou seja, mais ou menos a mesma coisa. Bem, aqui em casa tenho a máquina de expresso e a companhia de Carmen Lícia Palazzo, o que é muito melhor.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 3884, 4 de abril de 2021