Mini-reflexão sobre o aprendizado da pandemia
Paulo Roberto de Almeida
(www.pralmeida.org; http://diplomatizzando.blogspot.com)
[Objetivo: exposição de ideias; finalidade: debate público]
Um dia, o confinamento vai passar, ainda que a pandemia seja resiliente e continue impactando vidas e trajetórias por tempo indefinido.
Cabe retirar lições dessa experiência única em nossas vidas: as crianças recuperarão o tempo perdido dos estudos, adultos talvez percam coisas ainda mais importantes que certo atraso na formação; algumas famílias, muitas, perderam entes queridos, devido à incúria dos governantes e também por irresponsabilidade individual dos vitimados.
Mas, tudo é matéria de reflexões e ensinamentos. Em tempos igualmente sombrios, dois grandes escritores, um russo e um brasileiro, escreveram suas “recordações da casa dos mortos”, suas “memórias do cárcere”, o que todos também podemos fazer com nossas “memórias da pandemia”. Escrevam, anotem!
Aprendemos algo com esta praga causada pelo desafio humano à natureza da vida?
Muitos sim, estão adquirindo um novo ou um renovado respeito que todos devemos ter para com o meio ambiente. Outros talvez ainda não.
Aprendemos também o valor da solidariedade, da compaixão, da necessidade de fraternidade para com os mais frágeis e necessitados. Alguns não aprenderam nada e reincidem no egoísmo.
Este é um momento grave e crucial na história de nossas vidas e no itinerário da nação. No início, mais de um ano atrás, não sabíamos o que fazer, o que esperar, o que pedir, ou exigir, de quem supostamente nos governa. Hoje já sabemos.
Sabemos com quem podemos contar: prioritariamente o pessoal da saúde (embora entre eles existam médicos idiotas e “enfermeiras” espertas); depois os cientistas, especialistas na área, e os pesquisadores que fizeram o prodígio de oferecer diversas vacinas em tempo recorde.
Se não fosse por esses dedicados profissionais, e pelo avanço da ciência e da tecnologia em nossa época, poderíamos estar enfrentando uma recorrência da Peste Negra ou da Gripe “espanhola”, com centenas de milhões de mortes, e uma destruição econômica ainda mais brutal.
Vamos nos recuperar com algumas cicatrizes, alguns com sequelas permanentes.
Independentemente dos efeitos diversos sobre cada um de nós, o importante é retirar ensinamentos, sobre nossos muitos fracassos, sobre nossas grandes vitórias.
Eu estou sempre aprendendo, observando, anotando, refletindo, escrevendo. Tudo o que é humano me interessa, já dizia uma conhecida frase da sabedoria dos antigos. Tudo o que desumano também: e tivemos amplas demonstrações das duas coisas neste ano que passou.
Vai demorar talvez mais um ano até que recuperemos a normalidade, pelo menos aqui no Brasil, onde a lentidão e a inépcia das elites é uma certeza.
Tenho outra certeza: a maior parte dentre nós terá uma nova consciência sobre a vida, sobre certos bens inatingíveis e, talvez, certo mal absoluto, que aprendemos a rejeitar. Pelo menos assim espero.
Parem um pouco, anotem, reflitam, escrevam. Sejam bons e fiquem em paz, nesta Páscoa de 2021, o ano que não terminará tão cedo...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4/04/2021
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Um ano atrás (4/04/2020):
Muitos escrevem para perguntar como estamos, eu e Carmen Lícia. Minha resposta padrão:
Estamos bem. Se eu não estivesse confinado em casa, onde tenho muitos livros, eu estaria confinado na biblioteca do Itamaraty, ou seja, mais ou menos a mesma coisa. Bem, aqui em casa tenho a máquina de expresso e a companhia de Carmen Lícia Palazzo, o que é muito melhor.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 3884, 4 de abril de 2021
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