Papo reto
Elio GaspariO Globo, 24/07/2022
Didaticamente o porquê tudo ser resolvido no 1o turno.
A eleição para a Presidência da República este ano tem um componente diferente. É a civilização contra a barbárie, estes 3 últimos anos têm sido terríveis para qualquer pessoa com o mínimo de bom senso, e isso não se aplica a ser de direita ou de esquerda. Isso se aplica a ser civilizado. Eu adoraria estar num processo eleitoral "normal" para escolher entre aquele que eu acredito plenamente no seu projeto de governo e os outros.
Mas, infelizmente, a barbárie instalada neste país nos últimos 3 anos faz com que a escolha definitiva seja logo no primeiro turno.
São 33 milhões de brasileiros passando fome, são mais de 60 milhões em insegurança alimentar média e leve, são milhões de desalentados, inflação de dois dígitos, o país sucateado, o "orçamento secreto" (a corrupção oficializada) fazendo a festa de deputados que eram "antissistema" (sabe-se lá o que isso é na cabeça dessa gente tosca), a Educação sem um projeto definido, a Saúde pessimamente administrada como nunca aconteceu, o Meio Ambiente destruído, até o Itamaraty conseguiu ficar desmoralizado na atual gestão.
Isso sem falar no aumento do número de feminicídios, crimes homofóbicos, racismo escancarado, misoginia e agora até crimes por motivação política escancarados.
A barbárie não pode vencer, a barbárie não pode sequer ter a chance de um segundo turno. Sei que para muitos votar no Lula seja difícil, mas temos que ver as composições políticas e extremamente pragmáticas ele está fazendo. Não haverá muita possibilidade de uma reviravolta, Lula já foi presidente por duas vezes, a sordidez e a perversidade não fazem parte de seu perfil.
A "Marcha para Jesus", ontem, no ES, que tinha uma arma como símbolo mostra exatamente o que esse governo é. Nunca a fé foi tão perversamente explorada.
Repetir que as coisas estão mal no mundo inteiro e no Brasil não seria diferente revela uma incapacidade de reflexão sobre o todo assustadora, a total falta de conhecimento sobre o processo histórico, a eliminação da capacidade de observação, é a barbárie fazendo o seu papel, minando pouco a pouco o que resta do civilizatório.
Não é histeria, não é messianismo, é pragmatismo. Eu não vou dar chance para a barbárie.