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quinta-feira, 22 de outubro de 2020

O antiglobalismo derrotado nos EUA sobreviverá no Brasil? - Paulo Roberto de Almeida

O antiglobalismo derrotado nos EUA sobreviverá no Brasil? 

 

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.com)

[Objetivocomentar sobre efeitos da derrota de Trumpfinalidadediplomacia brasileira]

  

O que acontecerá com a estupidez do antiglobalismo em 2021?

A provável derrota de Trump no dia 3/11 também abre caminho para a superação do irracional antimultilateralismo na diplomacia americana, para a derrota do ainda mais esquizofrênico antiglobalismo. 

Isso significará também a rejeição dessas mesmas idiotices na diplomacia brasileira?

Provavelmente não, pois que muito dessa lamentável postura irracional é endossada pela excepcionalmente ignorante família presidencial e pelo tosco “aspone” do Planalto nessa área, que juntos controlam com rédea curta o chanceler acidental.

A bolha diplomática da franja lunática poderá, assim, continuar exercendo seus podres poderes sobre o corpo diplomático profissional do Itamaraty. 

Continuará, portanto, o duplo afundamento da política externa e da diplomacia brasileira, seu completo isolamento no continente e seu profundo desprestígio no plano internacional. 

Nunca antes na história quase bicentenária do Itamaraty — mas que só exibe essa designação há pouco mais de um século —, nós, diplomatas profissionais, tínhamos assistido não só a tal tipo de esquizofrenia antimultilateralista, como também a cenas explícitas de servilismo a uma potência estrangeira. Jamais tínhamos descido tão baixo na senda da servidão voluntária. Raras vezes, ou praticamente nunca, tínhamos nos submetido a uma submissão automática a um poder externo. 

Esta fase de nossa trajetória histórica, vergonhosa como se manifesta concretamente, não passará incólume pelos registros documentais: pretendo descrever fielmente os momentos mais baixos de nosso itinerário diplomático.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 3746, 22 de outubro de 2020

 

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Bolsonaro é derrotado na Bolívia - Hubert Alquéres (Blog do Noblat)

Como eu já escrevi, neste artigo: 

3773. “Mini-reflexão sobre as eleições bolivianas e nossa circunstância diplomática”, Brasília, 19 outubro 2020, 2 p. Notas preliminares sobre os descaminhos da diplomacia em face da vitória da oposição na Bolívia. Disponível no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/10/sobre-as-eleicoes-bolivianas-e-nossa.html).

Bolsonaro é derrotado na Bolívia

Tudo deu errado na política de Bolsonaro para a América do Sul

Por Hubert Alquéres 

Blog do Noblat, 21 out 2020

https://veja.abril.com.br/blog/noblat/bolsonaro-e-derrotado-na-bolivia-por-hubert-alqueres/

Conhecido o vencedor das eleições da Bolívia, os países do continente se apressaram em parabenizar o presidente eleito, Luis Alberto Arce, do Movimento ao Socialismo – MAS. Até Donald Trump observou a liturgia da diplomacia. Houve apenas uma dissonância, o governo brasileiro, que recolheu-se ao silêncio sem disfarçar seu profundo incômodo com o resultado. O presidente Jair Bolsonaro e seu ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, tomaram partido na disputa interna de outro país desde que Evo Morales renunciou por pressão de militares. 

O princípio da autodeterminação dos povos – pilar da política externa brasileira desde os tempos de Juca Paranhos, o Barão do Rio Branco – deveria levar o governo a, imediatamente, construir pontes com Arce, deixando de lado divergências ideológicas. Quando nada porque a Bolívia é o país com o qual temos a maior fronteira – 3.126 quilômetros –  e interesses complementares na economia. Basta citar o Gasbol, (Gasoduto Bolívia Brasil) com seus 3.150 quilômetros de extensão, dos quais 2.593 em território brasileiro. 

As primeiras declarações de Luis Arce sinalizam que não repetirá o erro de Morales de dividir os bolivianos e de atropelar a democracia, forçando um terceiro mandato, e tentando um quarto. O novo presidente diz querer fazer um governo voltado para o futuro de todos, revelando que também dialogará com empresários, o que não acontecia com Morales. Por enquanto, são intenções, mas não deixam de ser um bom sinal.

É do interesse do Brasil fortalecer essa disposição do novo governo boliviano, tanto para o bem da estabilidade da região como para o desenvolvimento dos negócios com a nação vizinha. Se não agir assim, o país aprofundará a perda de protagonismo no continente, fenômeno que vem ocorrendo em decorrência de uma política externa pautada por víeis ideológico, que pensa a divisão do mundo como se vivêssemos os tempos da guerra fria e o comunismo fosse a grande ameaça mundial.

No último sábado, véspera da eleição boliviana, o presidente estava combatendo seus moinhos de vento, em solenidade da Academia Militar das Agulhas Negra. Voltou a estigmatizar a Argentina, dizendo que ela segue o caminho da Venezuela. No caso da Bolívia, Bolsonaro se apressou em apoiar a queda de Morales e até a undécima hora atuou para unir os candidatos da direita para evitar a vitória do MAS.

A viseira ideológica da política externa de Bolsonaro e Araújo já havia nos levado a atrelar nosso destino ao de Juan Guaidó, reconhecendo um governo que não controla sequer um quarteirão na Venezuela.

De uma lado, essa política abriu mão de qualquer papel de liderança no continente e, de outro, se alinhou automática e servilmente aos Estados Unidos, como cou evidenciado na humilhante visita do secretário de Estado Mike Pompeo a Roraima, junto à fronteira com a Venezuela. O episódio provocou uma dura nota do presidente da Câmara de Deputados, Rodrigo Maia, na qual armou que a visita não condizia com a “boa prática diplomática internacional” e afrontava “as tradições de autonomia e altivez da política externa e de defesa brasileiras”.

Essa tradição da política externa era do exercício do pragmatismo responsável, pautando-se pela defesa dos interesses brasileiros e de não ingerência em questões internas de qualquer outro país. Bolsonaro fez tudo ao contrário nas eleições da Argentina e do Uruguai e agora na Bolívia.

Não se estranha, portanto que na América do Sul os aliados estratégicos do governo brasileiro sejam Guaidó e a direita boliviana. Isolamento maior, impossível.

Também em política externa não há espaço vazio. Se o Brasil abdicar do protagonismo de liderança comprometida com a estabilidade política da região, alguém desempenhará esse papel. O presidente da Argentina é forte candidato a isso, enquanto

Bolsonaro se isola até mesmo de países governados por um centro-direita democrático, como o Chile de Sebastian Piñeira e o Uruguai de Luiz Lacalle.

Tudo deu errado na política de Bolsonaro para a América do Sul. O peronismo voltou ao poder na Argentina, Maduro continua sendo o presidente da Venezuela e a direita que derrubou Morales foi derrotada pelo voto. O pior: em todas essas derrotas Bolsonaro passou recibo, com firma registrada em cartório.

Hubert Alquéres é membro da Academia Paulista de Educação. Escreve às 4as feiras no Blog do Noblat

https://veja.abril.com.br/blog/noblat/bolsonaro-e-derrotado-na-bolivia-por-hubert-alqueres/


segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Críticas de senadores à atitude subserviente do chanceler bolsolavista

 Após visita de Pompeo, senadores querem adiar sabatina de embaixadores

Grupo de parlamentares diz que, diante do impasse diplomático criado pela passagem de Pompeo a Roraima, o momento não é adequado para a votação desta segunda-feira (21/09)
Marina Barbosa
Correio Braziliense, 20/09/2020 20:30

A passagem do secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, por Roraima não só renovou as críticas à política externa do governo de Jair Bolsonaro, como pode atrapalhar a retomada das atividades presenciais do Senado, prevista para esta segunda-feira (21/09). É que o primeiro compromisso presencial dos senadores é destravar a indicação de 34 embaixadores brasileiros. Porém, um grupo de parlamentares avalia que o momento não é de fazer votações desse tipo, mas de rever a postura do Itamaraty. Por isso, ameaça não comparecer às sabatinas.

O Correio apurou que mais da metade dos 19 titulares da Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado pediu o adiamento da votação. Eles reclamam que o governo Bolsonaro adota uma política de subserviência aos Estados Unidos que ameaça a soberania e a defesa brasileira. E dizem que a "submissão" ficou clara nesta semana, quando Mike Pompeo usou um palanque montado em solo brasileiro para fazer duras críticas ao governo da Venezuela, com quem, lembram os parlamentares, o Brasil compartilha mais de dois mil quilômetros de fronteira.

"A sociedade, a diplomacia e o Parlamento estão abismados com a acelerada degradação da nossa política externa, que coloca em risco a soberania e a defesa. Não é hora do Senado aprovar embaixadores em massa. Sejamos responsáveis. É urgente fazer um balanço do Itamaraty", reclamou o senador Telmário Mota (Pros-RR), um dos que pediu a suspensão da votação desta segunda-feira. "Nossa política externa não vai bem.[...] Devemos deixar votação de embaixador para depois e reposicionar o Itamaraty", reforçou o senador Renan Calheiros (MDB-AL), nas redes sociais.

Para Calheiros, até ex-chanceleres brasileiros clamaram para que “o Senado exerça seu papel e vele pelo artigo 4º da Constituição”, segundo o qual as relações internacionais brasileiras devem ser regidas por princípios como a independência nacional, a autodeterminação dos povos, a não-intervenção e a defesa da paz. O senador se referia a uma nota conjunta divulgada neste domingo (20/09) pelos ex-chanceleres brasileiros Fernando Henrique Cardoso, Aloysio Nunes Ferreira, Celso Amorim, Celso Lafer, Francisco Rezek e José Serra.

Na nota, os ex-chanceleres lembram que foram os "responsáveis pelas relações internacionais do Brasil em todos os governos democráticos desde o fim da ditadura militar" e salientam que "temos a obrigação de zelar pela estabilidade das fronteiras e o convívio pacífico e respeitoso com os vizinhos, pilares da soberania e da defesa". "Nesse sentido, condenamos a utilização espúria do solo nacional por um país estrangeiro como plataforma de provocação e hostilidade a uma nação vizinha", acrescentam.

Os ex-ministros das Relações Exteriores ainda congratularam o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que repudiou a visita de Pompeo e foi criticado pelo atual chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, em nota divulgada nesse sábado (19/09) pelo Itamaraty, por conta disso. E pediram que, dando sequência a essa posição de Maia, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal "exerçam com plenitude as atribuições constitucionais de velar para que a política internacional do Brasil obedeça rigorosamente no espírito e na letra aos princípios estatuídos no Artigo 4º da Constituição Federal".

Presidente da CRE do Senado, Nelsinho Trad (MSD-MS) confirmou que muitos senadores ameaçaram não comparecer à votação desta segunda-feira. Porém, está tentando convencê-los a mudar de ideia, apesar de também classificar o episódio de Pompeo como “lamentável”.

"A comissão vai avaliar a competência de diversos servidores de carreira do Itamaraty de servir o país, na sua melhor das intenções. Esses diplomatas não têm culpa pelo que aconteceu e não devem ser penalizados", justificou Trad. Ele ainda lembrou que muitas das 34 indicações aguardam a avaliação do Senado há meses. E ressaltou que, devido à pandemia de covid-19, o Senado pode não ter outra oportunidade de destravar essas indicações tão cedo.

O senador Otto Alencar (PSD-BA), um dos que criticou a "invasão do nosso território por um representante norte-americano", entendeu o recado. "Alguns senadores não estão dispostos a votar, mas não vou ser radical. Porém, não podemos aceitar submissão, não podemos ficar nos ajoelhando aos pés do governo dos Estados Unidos, como faz de forma aberta o ministro Ernesto Araújo, querendo ajudar a eleição de Trump", avisou Alencar.

Trad admitiu, contudo, que será preciso aguardar o início da sessão, previsto para a manhã desta segunda-feira, para ver se os demais senadores vão seguir o plano e votar as indicações ou vão suspender a deliberação em protesto à postura do Itamaraty.

Bolsonaro
Apesar desse impasse político e diplomático, o presidente Jair Bolsonaro saiu em defesa de Mike Pompeo e do presidente americano, Donald Trump, neste domingo (20/09). Ele disse que a visita do secretário de Estado norte-americano a Roraima "representa o quanto nossos países estão alinhados na busca do bem comum" e parabenizou Trump "pela determinação de seguir trabalhando, junto com o Brasil e outros países, para restaurar a democracia na Venezuela". Nas redes sociais, o chefe do Executivo também elogiou as ações coordenadas pelo governo brasileiro para acolhida dos venezuelanos “que fugiram do regime comunista”.

https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2020/09/4876689-apos-visita-de-pompeo-senadores-querem-adiar-sabatina-de-embaixadores.html

Contra Ernesto Araújo, senadores querem cancelar sabatina com embaixadores

Por João Frey 
Congresso em Foco, 20 set, 2020 - 18:37 

Um grupo de senadores começou a se movimentar neste fim de semana para derrubar as reuniões da Comissão de Relações Exteriores do Senado destinadas a sabatinar 34 diplomatas indicados a postos de embaixador. O estopim do movimento foi a visita do secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, a Roraima, na última sexta-feira (18). Os senadores avaliam que o movimento foi um desrespeito à soberania brasileira endossado pelo chanceler Ernesto Araújo.

A tentativa de derrubar as sessões está sendo capitaneada pelos senadores Telmário Mota (Pros/RR), Renan Calheiros (MDB/AL), Randolfe Rodrigues (Rede/AP), Kátia Abreu (PP/TO), além dos senadores do PT.

Renan Calheiros
@renancalheiros
Nossa política externa não vai bem. A soberania e defesa nacional estão em risco. Os chanceleres FHC,Rezek,Lafer,Amorim,Serra e Aloísio clamam para que o Senado exerça seu papel e vele pelo art.4 da CF. Devemos deixar votação de embaixador para depois e reposicionar o Itamaraty.
1:36 PM · 20 de set de 2020

Telmário Mota
@TelmarioMotaRR
O @ernestofaraujo destrói a tradição do Itamaraty. Pisa no art. 4º da CF. Cede o território para um agente dos EUA ameaçar um país amigo. Ataca o presidente @rodrigomaia. Ex-chanceleres saem na defesa da CF. Em tamanha crise, o Senado deve suspender a aprovação de embaixadores!
1:46 PM · 20 de set de 2020

Randolfe Rodrigues 🇧🇷
@randolfeap
O Comportamento de nosso Ministro de Relaçoes Exteriores fere o artigo 4°. de nossa Constituição e a tradição do Itamaraty, nosso país não pode se tornar um pária global.    A prioridade do Senado não pode ser “votar embaixador”, mas enquadrar a nossa política externa.
5:12 PM · 20 de set de 2020

Kátia Abreu
@KatiaAbreu
“ TODOS os chanceleres da nova república repudiaram o ocorrido em Roraima : FHC gov Itamar, Rezek gov Collor,Lafer do gov FHC, Amorim do gov. Lula e Serra e Aluísio do gov. Temer. Descumprimento do artigo 4° da CF.”
1:54 PM · 20 de set de 2020

Um nota publicada neste domingo por seis ex-chanceleres cobrou esforços do Congresso no sentido de preservar o artigo quarto da Constituição, que prevê que “A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:

I – independência nacional;

II – prevalência dos direitos humanos;

III – autodeterminação dos povos;

IV – não intervenção;

V – igualdade entre os estados;

VI – defesa da paz;

VII – solução pacífica dos conflitos;

VIII – repúdio ao terrorismo e ao racismo;

IX – cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;

X – concessão de asilo político.”

https://congressoemfoco.uol.com.br/legislativo/contra-ernesto-araujo-senadores-querem-cancelar-sabatina-com-embaixadores/


Ex-titulares do Itamaraty divulgam nota de apoio a Maia
Deutsche Welle, 21/09/2020

Antigos ministros das Relações Exteriores também repudiaram visita de Mike Pompeo a Roraima. Na sexta-feira, presidente da Câmara criticou presença do americano semanas antes de eleição nos EUA.
Seis ex-ministros das Relações Exteriores do Brasil publicaram neste domingo (20/09) uma nota de apoio ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que na última sexta-feira criticou a visita do chefe da diplomacia dos EUA, Mike Pompeo, ao estado de Roraima.

Na ocasião, o secretário de Estado americano visitou um centro de acolhida de refugiados em Boa Vista e fez um discurso linha-dura contra o regime chavista, chamando Nicolás Maduro de "traficante de drogas". Ele ainda se encontrou com Ernesto Araújo, o ultraconservador ministro das Relações Exteriores de Jair Bolsonaro.

A nota de apoia a Maia é assinada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (que chefiou o Itamaraty no governo Itamar Franco) e pelos ex-ministros Francisco Rezek (governo Collor), Celso Lafer (governos Collor e FHC), Celso Amorim (governos Itamar e Lula), José Serra e Aloysio Nunes Ferreira (governo Temer).

No texto, eles compartilham a opinião de Maia, que havia criticado especialmente o timing da visita – menos de seis semanas antes da eleição presidencial dos EUA. O deputado ainda afirmou que permitir a presença de Pompeo junto à fronteira com a Venezuela – com quem os EUA mantêm uma relação hostil – estava em desacordo "com a boa prática diplomática internacional e afronta as tradições de autonomia e altivez" das "políticas externa e de defesa" do Brasil.

A nota do ex-ministros elogia Maia pelo tom crítico, e afirma que o deputado agiu como "intérprete dos sentimentos do povo brasileiro".

"Responsáveis pelas relações internacionais do Brasil em todos os governos democráticos desde o fim da ditadura militar, os signatários se congratulam com o deputado Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, pela nota de 18 de setembro, pela qual repudia a visita do Secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, a instalações da Operação Acolhida, em Roraima, junto à fronteira com a Venezuela", diz o texto.

"Conforme salientado na nota do presidente da Câmara, temos a obrigação de zelar pela estabilidade das fronteiras e o convívio pacífico e respeitoso com os vizinhos, pilares da soberania e da defesa. Nesse sentido, condenamos a utilização espúria do solo nacional por um país estrangeiro como plataforma de provocação e hostilidade a uma nação vizinha", completa o texto.

No sábado, o atual titular do Itamaraty, Ernesto Araújo, que serviu como anfitrião de Pompeo, reagiu à nota de Maia e disse que a opinião do presidente da Câmara "baseia-se em informações insuficientes e em interpretações equivocadas".

"Buscar a paz não significa acovardar-se diante de tiranos e criminosos. A independência nacional não significa rejeitar parcerias que nos ajudem a defender nossos interesses mais urgentes e nossos valores mais caros. Promover a integração latino-americana não significa facilitar a integração dos cartéis da droga", escreveu Araújo num texto disponibilizado no site do Itamaraty.

Sem citar nomes, ele ainda criticou a atuação dos seus antecessores à frente do ministério nos últimos 20 anos, afirmando que eles alternaram um "silêncio cúmplice" ou "colaboração descarada” em relação ao regime chavista. "A triste história da diplomacia brasileira para a Venezuela entre 1999 e 2018 constitui exemplo de cegueira e subserviência ideológica, altamente prejudicial aos interesses materiais e morais do povo brasileiro e a toda a América Latina."

A visita de Pompeo a Roraima na sexta-feira foi a terceira etapa de um giro pela América do Sul. Na quinta-feira, ele já havia visitado Georgetown, a capital da Guiana, e Paramaribo, no Suriname, e se reunido com os presidentes desses países. Nas duas etapas anteriores, ele também fez pesadas críticas a Maduro. Parte da imprensa americana interpretou o giro como um gesto para conquistar votos entre o eleitorado de origem latina do estado americano da Flórida, considerado decisivo nas eleições presidenciais dos EUA, previstas para o início de novembro.

https://www.dw.com/pt-br/ex-titulares-do-itamaraty-divulgam-nota-de-apoio-a-maia/a-54996409


Itamaraty rebate críticas de Maia à visita do secretário de Estado dos EUA

Segundo o ministro das Relações Exteriores, Brasil e Estados Unidos estão “na vanguarda da solidariedade ao povo venezuelano”
Por Mariana Ribeiro, Valor — Brasília
19/09/2020 12h25  Atualizado há 23 horas

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, criticou as declarações do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em relação à visita do secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, ontem, às instalações da Operação Acolhida, em Roraima, na fronteira entre o Brasil e a Venezuela.

Em nota divulgada neste sábado, Araújo diz que as falas de Maia se baseiam “em informações insuficientes e em interpretações equivocadas”.

Ontem, o presidente da Câmara divulgou nota em que diz que a visita, a 46 dias da eleição presidencial americana, "não condiz com a boa prática diplomática internacional e afronta as tradições de autonomia e altivez de nossas políticas externa e de defesa".

O ministro, por sua vez, diz que o povo brasileiro preza pela sua própria segurança “e a persistência na Venezuela de um regime aliado ao narcotráfico, terrorismo e crime organizado ameaça permanentemente essa segurança”. Ele segue dizendo que não há “autonomia e altivez”, citando a declaração de Maia, em ignorar o sofrimento do povo venezuelano ou em negligenciar a segurança do brasileiro. 

Autonomia e altivez há, sim, em romper uma espiral de inércia irresponsável e silêncio cúmplice, ou de colaboração descarada, a qual, praticada durante 20 anos frente aos crescentes desmandos do regime Chávez-Maduro, contribuiu em muito para esta que é talvez a maior tragédia humanitária já vivida em nossa região.”

Araújo destaca ainda que os Estados Unidos já doaram US$ 50 milhões para a Operação Acolhida e que, ontem, Pompeo anunciou a doação de mais US$ 30 milhões. Segundo ele, Brasil e Estados Unidos estão “na vanguarda da solidariedade ao povo venezuelano”.

Na sequência, cita a Constituição para dizer que a “prevalência dos direitos humanos” está entre os princípios que devem orientar as relações internacionais. “Nossa atuação descumpriria a Constituição se fechássemos os olhos à tragédia venezuelana."

Autonomia e altivez há, sim, em romper uma espiral de inércia irresponsável e silêncio cúmplice, ou de colaboração descarada, a qual, praticada durante 20 anos frente aos crescentes desmandos do regime Chávez-Maduro, contribuiu em muito para esta que é talvez a maior tragédia humanitária já vivida em nossa região.”

Araújo destaca ainda que os Estados Unidos já doaram US$ 50 milhões para a Operação Acolhida e que, ontem, Pompeo anunciou a doação de mais US$ 30 milhões. Segundo ele, Brasil e Estados Unidos estão “na vanguarda da solidariedade ao povo venezuelano”.

Na sequência, cita a Constituição para dizer que a “prevalência dos direitos humanos” está entre os princípios que devem orientar as relações internacionais. “Nossa atuação descumpriria a Constituição se fechássemos os olhos à tragédia venezuelana."

https://www.google.com.br/amp/s/valor.globo.com/google/amp/politica/noticia/2020/09/19/itamaraty-rebate-crticas-de-maia-visita-do-secretrio-de-estado-dos-eua.ghtml

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

A submissão automática da diplomacia bolsolavista ao presidente Trump - Juliana Dama e Fabrício Araújo (G1)

 Mais uma demonstração de servilismo vergonhoso...

Por Juliana Dama e Fabrício Araújo, G1 RR — Boa Vista

 


Mike Pompeo nas instalações do Posto de Identificação e Triagem da Operação Acolhida em Boa Vista — Foto: Juliana Dama/G1

Mike Pompeo nas instalações do Posto de Identificação e Triagem da Operação Acolhida em Boa Vista — Foto: Juliana Dama/G1 

O secretário de estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, chegou a Boa Vista às 14h desta sexta-feira (18) pela Ala 7, base aérea da cidade. De acordo com a embaixada dos EUA no Brasil, ele se encontrará com o ministro das relações exteriores, Ernesto Araújo, para discutir a imigração venezuelana. 

Ainda de acordo com a embaixada, a visita é parte de uma agenda de encontros com líderes da América Latina. 

Pompeo está conheceu o Posto de Identificação e Triagem da Operação Acolhida, localizado no bairro Treze de Setembro, zona Sul da capital. Ele chegou ao local por volta das 14h30. 

O secretário se reuniu com cinco pessoas de uma família de venezuelanos natural de Cumaná, estado de Sucre, na Venezuela. Migraram há dez meses e vivem em um dos abrigos da Operação Acolhida. Eles devem ser interiorizados para cidade de Seara, em Santa Catarina. 

A Operação Acolhida é uma força-tarefa humanitária que coordena abrigos e processos de interiorização de imigrantes venezuelanos que entram no Brasil por Roraima. O trabalho é feito desde março de 2018 pelo Exército, agências da ONU e organizações não governamentais. 

"O secretário Pompeo irá ressaltar a importância do apoio dos EUA e do Brasil ao povo venezuelano em seu momento de necessidade, visitando migrantes venezuelanos que fogem do desastre provocado pelo homem na Venezuela", diz trecho de nota da embaixada. 

Pompeo está na Paróquia de Nossa Senhora da Consolata, para conhecer a instalação Água, Saneamento e Higiene (Wash). 

O secretário atende a imprensa em coletiva às 17h15. Depois, segue para Bogotá, onde se encontra com o presidente colombiano, Ivan Duque. 

Avião da equipe de Pompeo pousou na base área de Boa Vista — Foto: Juliana Dama/G1

Avião da equipe de Pompeo pousou na base área de Boa Vista — Foto: Juliana Dama/G1