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quinta-feira, 17 de agosto de 2017

O que e', exatamente, um professor universitario? - Marco Mello

Postado aqui, desformatado, um ano atrás, alguém viu e me lembrou. Vale a pena ler.
Paulo Roberto de Almeida


O que é um professor universitário?
Marco Mello
Blog Sobrevivendo na Ciência, em 12/02/2015

No Brasil, é comum ouvir bizarrices como “O Prof. Fulano reclama de dar aulas demais, mas o cargo dele é de professor, né?”. Ou seja, há muita confusão sobre quais seriam as reais atribuições de um professor universitário. Como esse é o cargo mais importante na carreira acadêmica, vale a pena dedicar um post inteiro a esclarecer essa questão.

É claro que, na prática, o que cada professor faz no dia a dia varia muito entre universidades. Na verdade, há uma enorme variação mesmo entre professores de uma mesma universidade. As atribuições também vão mudando, conforme se progride verticalmente na carreira: substituto > assistente > adjunto > associado > titular. Aqui não vou tocar em problemas como concursos-gincana, acomodação, estabilidade fácil, isonomia salarial, salário defasado em relação à inflação etc., que merecem outros posts. Vou focar no sentido maior do cargo.
Em outros idiomas e culturas, a diferença entre um professor universitário e outros tipos de professor fica clara já no vocabulário. Por exemplo, no inglês, o termo professor se aplica apenas ao professor universitário, enquanto teacher é o professor de escola e lecturer é o docente universitário, geralmente com doutorado, mas sem título de professor. Sim, nos EUA, Inglaterra e outros países, professor, mais do que um cargo, é um título. No alemão também se diferencia o professor universitário através do termo Professor, enquanto quem dá aulas em escolas é um Lehrer e quem dá aulas na universidade sem ter o título de professor é um Dozent. Não é uma questão de qual tipo de professor é melhor do que o outro, blablabla. Cada professor tem o seu papel no sistema educacional e todos são importantes. É apenas uma questão de diferenciar as carreiras e títulos, para se definir claramente o que se espera de cada professor.
Então o que diferenciaria o professor universitário dos outros? Simples: esse cargo foi inventado para ser ocupado por profissionais que associam pesquisa e ensino. Sim, essas duas atividades são indissociáveis no conceito original de professor universitário. Mas, por que, Marco? Porque espera-se que um professor universitário esteja sempre na vanguarda da sua área. Espera-se que ele atue na formação de profissionais de nível superior, ensinando-lhes não apenas o conhecimento já sedimentado, mas também as novidades e macetes.
Para se formar em uma profissão de nível superior, o aluno tem que ser apresentado tanto aos fundamentos quanto à vanguarda. Acima de tudo, espera-se que um professor universitário produza ele mesmo algumas novidades. Sim, um professor universitário tem a obrigação não apenas de transmitir, mas também de produzir conhecimento. E a transmissão de conhecimento se dá principalmente em sala de aula, passando informações  consolidadas para os aspiras, e também divulgando descobertas em revistas técnicas indexadas e revisadas por pares. Então um professor universitário tem que fazer pesquisa também? Sim, claro! Ninguém se atualiza tanto em uma área, quanto alguém que precisa disso para fazer as próprias pesquisas, porque ama a ciência.
And the plot thickens… Pelas leis brasileiras federais e estaduais, a carreia de professor universitário envolve, em geral, cinco pilares:
§  Ensino: coordenação e participação em disciplinas de graduação e pós-graduação, presenciais ou à distância.
§  Pesquisa: investigação científica ou tecnológica para produção de conhecimento. Na verdade, a área da pesquisa envolve mais um monte de coisas além da investigação e publicação, como revisão de artigos, editoração de revistas científicas, organização de congressos, administração de sociedades científicas, consultoria para agências de fomento, assessoria à imprensa, assessoria política dentro da área em que é perito e muito mais.
§  Orientaçãoformação de novos cientistas através de estágios e projetos orientados de iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado.
§  Extensão: assessoria e divulgação de conhecimento científico e técnico para o público externo à universidade através de consultoria, palestras, cursos, exposições, museus etc.
§  Administração: cargos de chefia em geral, cargos em órgão representativos da universidade (câmaras, conselhos, congregações), gerenciamento de projetos, captação de verbas externas, contabilidade, direção de laboratórios, etc.
Dependendo da universidade e do seu regimento interno, espera-se que o professor universitário envolva-se com no mínimo dois ou três desses pilares. Os melhores professores acabam se envolvendo com todos. O único pilar obrigatório é o ensino. Só fica desobrigado parcial ou totalmente de dar aulas quem ocupa altos cargos administrativos, como chefe de departamento, diretor de instituto, pró-reitor ou reitor. Significa que, na prática, nem todo professor universitário é obrigado a fazer pesquisa.
Vamos destrinchar um exemplo mais concreto: as universidades federais brasileiras. De acordo com a lei que rege essas instituições, o professor universitário “padrão” (sem cargo de chefia ou outras condicionantes) é obrigado a dar de 8 a 12 créditos por semestre. Cada crédito representa mais ou menos 15 h em sala de aula. Ou seja, o sujeito é obrigado a passar dentro de sala entre 120 e 180 h por semestre. Um professor dedicado, que de fato gasta tempo e energia com as aulas, precisa de no mínimo 2 h de preparação (slides, leituras, material biológico para aulas práticas, preparação de computadores etc.) para cada 1 h em sala. Vamos considerar que uma disciplina obrigatória de graduação tem 4 créditos (60 h) e costuma ser organizada de forma a ocupar 4 h em sala por semana. Logo, das 40 h de trabalho semanais determinadas por lei, o professor acaba passando pelo menos 12 h envolvido com a disciplina. Isso, fora as horas gastas com atendimento de alunos e correção de trabalhos. Assim, a conta pode facilmente chegar a 16 h por semana ocupadas com cada disciplina e piora na época das provas e entrega de trabalhos, se o professor não contar com ajudantes. Supondo uma turma com cerca de 60 alunos, imaginem a seriedade da ralação. E, já que o mínimo são 8 créditos, o que nós, professores, enfrentamos é isso vezes dois, pelo menos.
Para se ocupar com 2 disciplinas de 4 créditos por semestre, totalizando 8 créditos, e realmente ministrá-las com qualidade, o professor universitário não poderia se envolver com mais nada! A quem estamos enganando? A única forma de aliviar essa carga é através da ajuda de pós-graduandos que atuam como tutores e graduandos que atuam como monitores. Mas nem todo professor ou toda disciplina contam com o apoio de auxiliares. Os tutores remunerados conhecidos internacionalmente como “TAs” (teaching assistants), comuns nos EUA, Alemanha, França e UK, chegaram a ter uma versão brasileira temporária durante o Reuni. Só que o programa foi planejado para durar apenas cinco anos. Só para variar, nada é pensado a longo prazo neste país, tudo é paliativo, tudo é jeitinho. Como alguém pode se dedicar de verdade à pesquisa de ponta tendo sobre os ombros o peso de uma carga didática massacrante como essa? Como alguém pode fazer extensão e atender de outras formas o mundo real fora da Academia, sendo obrigado a dar aulas igual a um burro de carga? Na verdade, como seria possível conciliar qualquer um dos outros quatro pilares da carreira com um ensino de qualidade em grande quantidade?
O Brasil tem um verdadeiro fetiche pela sala de aula! Em universidades de ponta, a carga semestral obrigatória do professor não ultrapassa 4 créditos. Na prática, os professores e alunos passam muito menos tempo em sala, justamente porque se dá mais valor à independência dos aspiras. O bom aluno do ensino superior gasta a maior parte do seu tempo estudando por conta própria, sozinho ou em grupo, através de tarefas orientadas ou leitura espontânea. O momento em sala com o professor na aula teórica (lecture ouVorlesung) serve para apresentar ou consolidar o conteúdo principal, receber orientações, tirar dúvidas e passar tarefas.
No Brasil, castramos a individualidade, a criatividade, a autonomia, a iniciativa e o livre pensamento, porque insistimos em adestrar os alunos em cativeiro. Ok, estou divagando. Voltando ao ponto de vista do professor, dá para entender porque nunca chegaremos ao mesmo nível de qualidade em ensino e pesquisa do primeiro mundo? Ficou claro porque estamos fadados a enxugar gelo e ficar sempre dois passos atrás dos nossos colegas mais afortunados?
Por favor, nunca mais diga que um professor universitário brasileiro não pode reclamar de dar aulas demais, porque “tem cargo de professor”. Isso é tão estúpido quanto dizer que um professor universitário que tem bolsa de produtividade está desrespeitando a dedicação exclusiva, porque é também “pesquisador do CNPq”.
Leia também:


 Fonte: PRISM.
Blog criado em 2012, onde publico textos escritos por mim, Prof. Marco Mello, e colaboradores eventuais. A origem do blog está em pequenos manuais que eu escrevia para os meus alunos desde 2007.

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segunda-feira, 2 de março de 2015

Ciencia Politica na UFMG: professores desempregados, ou aspirantes a se-lo (professores, nao desempregados...)

Aos que podem, aos que querem, aos que acham interessante ser professor, uma profissão que já foi nobre, e hoje eu não sei bem o que é...
Paulo Roberto de Almeida

Concurso para Professor Adjunto na área de POLÍTICA INTERNACIONAL E COMPARADA
Departamento de Ciência Política - Universidade Federal de Minas Gerais

Número de vaga(s): 01 (uma).
Área de conhecimento: Política Internacional e Comparada.
Regime de trabalho: Dedicação Exclusiva.

Ti t u l a ç ã o: Doutorado em Ciência Política ou áreas afins.

Perfil desejado do candidato: Doutorado em Ciência Política ou áreas afins.
Período de inscrição: até 20 de abril de 2015 [60 (sessenta) dias a partir da publicação do Edital].
Endereço: Secretaria Geral da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas
Av. Antônio Carlos, 6627 - Pampulha - Belo Horizonte - MG - CEP 31270-901.
Horário: Das 09:00 às 11:00 e das 14:00 às 16:00, nos dias úteis.
Contato Telefone(s): (31) 3409-5016.
Correio eletrônico: secgeral@fafich.ufmg.br.

Tipos de prova: 
Prova de Títulos, Prova Escrita com caráter eliminatório e Apresentação de Seminário.
Escopo do Seminário: Apresentação de um projeto de pesquisa, incluindo sua base teórica e desenho metodológico.
Período de realização do Concurso/Datas prováveis para realização das provas: De 30 (trinta) a 90 (noventa) dias, contados a partir da data de encerramento das inscrições.
PROGRAMA
1) Método comparativo: controvérsias recentes
2) Regimes políticos domésticos e internacionais em perspectiva comparada
3) Instituições democráticas, governos e estabilidade em perspectiva comparada
4) Conflitos, contestação pública e atores políticos em perspectiva comparada
5) Política internacional e análise comparativa de políticas externas
6) Economia política internacional, globalização e regionalismos
7) Democracias e redistribuição no contexto latino-americano
Edital publicado no Diário Oficial da União:http://www.cienciapoliticaufmg.com.br/…/Edital_145_-_Profes…
Mais informações: http://www.cienciapoliticaufmg.com.br

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Professor universitario tem de ser doutor; vai se perder muita gente capaz, sem titulacao...

Câmara aprova MP que exige doutorado para professor universitário

A medida provisória também autoriza fundações de apoio à pesquisa a celebrar contratos com entidades privadas

21 de agosto de 2013 | 16h 40
Agência Câmara
O plenário da Câmara dos Deputados aprovou nessa terça-feira, 20, a Medida Provisória (MP) 614/13, que exige doutorado para ingresso na carreira de professor universitário. A matéria agora segue para o Senado. Hoje é possível requisitar somente o diploma de graduação, mas as pontuações obtidas com as titulações, previstas nos editais dos concursos, favorecem os mais titulados.
Para facilitar o preenchimento de vagas em alguns locais, porém, a MP permite à instituição dispensar a exigência do título de doutor no edital, substituindo-o por mestrado, especialização ou graduação. A medida faz ajustes na Lei 12.772/12, que trata das carreiras no magistério federal.
Convênios. A MP também autoriza as fundações de apoio à pesquisa a celebrar contratos e convênios com entidades privadas para auxiliar em projetos de ensino, pesquisa e desenvolvimento tecnológico nas instituições federais de ensino superior e demais instituições científicas e tecnológicas.
Empresas públicas, sociedades de economia mista e organizações sociais também poderão apoiar essas fundações, geralmente ligadas a universidades. Pelo texto, os convênios ainda podem prever atividades de gestão administrativa e financeira necessárias à execução dos projetos previstos nos contratos.
Segundo a legislação vigente, os contratos e convênios dessa natureza somente podem ser celebrados com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e com as agências financeiras oficiais de fomento.
Veto ao nepotismo. Pela proposta, as fundações de apoio não poderão contratar cônjuges, companheiros ou parentes até terceiro grau de servidores das instituições federais de ensino que atuem na direção das fundações ou de dirigentes das instituições contratantes. A proibição vale ainda para a contratação, sem processo licitatório, de pessoa jurídica que tenha proprietário, sócio ou cotista nessa mesma condição.