O grande projeto africano da China, o maior, desde o Plano Marshall
Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.
Nota sobre a conferência China-África, realizada em sua 10ª edição, revelando a ambição chinesa de construir uma relação sólida com países africanos, alcançando uma dimensão talvez similar à do Plano Marshall, de 1947-1952.
Xi Jinping celebra mais um encontro com líderes africanos, no quadro de um grandioso e importante projeto africano da China, que antecede Xi Jinping, e já é um estupendo esforço da China desde os anos 2000.
Se trata do mais importante evento da história econômica mundial, no terreno da cooperação, depois do Plano Marshall, com a diferença que este era puro desprendimento humanitário, ao passo que o projeto africano chinês é totalmente focado nos interesses de grande potência econômica da China.
O Plano Marshall, ao início da primeira Guerra Fria geopolítica - agora já estamos na segunda - mudou a história da Europa ocidental e do mundo, algo que o projeto africano da China talvez não consiga fazer, pois que significa, mal comparando, uma mera reprodução do que os europeus fizeram na África desde o final do século XIX e início do XX, sem os horrores da escravidão e da exploração mais brutal. O projeto africano da China é totalmente auto-interesse, ao passo que o Plano Marshall foi o ato “menos sórdido da história da humanidade”, como disse Churchill (talvez a propósito do Lend Lease agreements, me confundo agora).
Em todo caso, o que a China faz na África tem um impacto mais relevante na geopolítica mundial do que todas as guerras de agressão e de conquista empreendidas por Putin desde 2008, uma mera repetição do que fez Hitler e os demais fascismos expansionistas nos anos 1930-40, inclusive o militarismo nipônico.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4726, 4 setembro 2024, 1 p.