Os europeus se descobrem assustadoramente sós, com três ditadores à espreita
Paulo Roberto de Almeida
Tudo o que existe de modernidade na atualidade foi criado pelos europeus, não só criação própria, ciência e tecnologia, mas também apropriação de outros povos, via descobertas, colonização, exploração, dominação imperial, conquistas, guerras, opressão. Eles não só mataram outras culturas e civilizações, mas se mataram entre si, uns aos outros, desde o estabelecimento de reinos na própria Europa, na Idade Média, passando pelas guerras de religião e guerras nacionais, até chegarmos aos dois conflitos globais na primeira metade do século XX, que começaram ali e logo se espalharam pelo mundo, envolvendo outros povos, inclusive o império que flexionava seus músculos no início daquele século.
Sim, os europeus dominaram o mundo durante quatro séculos e criaram todos os problemas que se abateram sobre eles mesmos e o mundo a partir da Grande Guerra, abrindo espaço para a bipolaridade sugerida cem anos antes por Tocqueville. São questões estruturais, as chamadas “forças profundas” de que falava Duroselle.
Mas existem fatores contingentes, ou seja, a ação pessoal de líderes poderosos, que podem desviar o curso “natural” do mundo — que seria integração, cooperação, globalização— e tendem a reforçar o elemento imperial de suas políticas externas. Agora temos três líderes ambiciosos que se empenham em reforçar poderios exclusivos, mas apenas a China me parece preservar uma visão global de integração econômica. Os outros dois me parecem nacionalistas canhestros.
Agora que foram traídos pelo império que parecia amigo, os europeus se descobrem sozinhos e necessitando prover sua própria segurança. Tempos duros pela frente, mas cabe fazer, pois não existem melhores alternativas.
Paulo Roberto de Almeida
Brasilia, 9/03/2025