Balanço geral ao final de
2014: algumas estatísticas:
Contabilidade elementar de um
ano produtivo
Paulo Roberto de Almeida
Todo final de ano, assim
como os começos de um novo ano, na verdade as grandes etapas cronológicas e de
calendário civil que balizam as nossas vidas, servem invariavelmente para fazer
algum balanço quantitativo, se possível qualitativo também, do período
encerrado, com alguma contabilidade rudimentar e alguma avaliação do que foi
feito. Os mais precavidos, ou organizados – o que não é exatamente o caso deste
que aqui escreve – também aproveitam para fazer para algum planejamento para o
período mais à frente, que pode ser um ano mais, ou vários, até uma década
inteira, dependendo dos horizontes que podem ser descortinados para cada um, em
função de seus objetivos de vida, de suas prioridades, ou até de seus
compromissos já assumidos, ou de simples necessidades corriqueiras.
Não é diferente comigo, a
despeito do fato que tenho feito, regularmente, um simples registro contábil
dos trabalhos produzidos, bem como daqueles publicados, duas listas separadas,
e regularmente revistas e corrigidas, que mantenho desde o dia, aí no começo
dos anos 1980, em que percebi que eu estava me perdendo na pletora de cópias em
papel (alguns até no velho carbono, ou em xerox descoloridas) que mantinha de
meus antigos trabalhos (os que se salvaram das muitas mudanças de residência
desde a juventude), e da dispersão de vários outros, em formatos diversos, nos
lugares mais impossíveis. Comecei então a organizar esses trabalhos em ordem
cronológica, desde o mais antigo recuperado (que não era, obviamente, o mais
antigo produzido) até o mais recente salvo da desordem anterior; coloquei-os em
pastas, que eram os antigos classificadores de escritório, com os dois
tradicionais furos à esquerda, embora eles fossem de tamanhos diversos, papeis
enegrecidos por máquinas de escrever manual, até o modelo mais recente de que
dispunha então: uma IBM elétrica, de esferas, que comprei especificamente para
redigir a tese de doutorado, junto com uma copiadora pessoal, ambos me
custando, na Suíça, o equivalente de um carro usado, pelo menos.
Na verdade, comecei a
fazer o registro, e a guarda dos papeis, depois de terminada a tese de
doutorado, dois alentados volumes, em francês, sobre a revolução burguesa no
Brasil – já em transição de uma explicação tipicamente marxista, ou “florestânica”,
do processo, para uma interpretação mais eclética do fenômeno – e já de volta
ao Brasil, depois de um primeiro período como diplomata no exterior, entre a
Suíça e a Iugoslávia (com dezenas de viagens por toda a Europa, e uma reflexão
profunda sobre regimes econômicos e sistemas políticos, justamente, numa fase
de socialismo terminal). Ao dar início, ou ao retomar, uma carreira acadêmica
antes iniciada mas interrompida por razões profissionais e familiares, decidi,
portanto, colocar em ordem os papeis sobreviventes, e começar a anotar
sistematicamente tudo o que eu escrevia (de definitivo, ou seja, trabalhos
terminados) e tudo o que era publicado (até então pouca coisa, inclusive
algumas com nom de plume, dado o
regime militar). As duas listas foram continuadas invariavelmente em todas as
circunstâncias, geralmente em bases anuais, embora no começo, e
retrospectivamente, juntando vários anos, o que tem sido feito com algum
cuidado nos últimos 30 anos.
Todas essas listas
encontram-se à disposição dos poucos curiosos em meu site, onde existem,
justamente, duas seções em destaque, uma dedicada aos originais, outra aos
publicados. Nem todas as listas foram atualizadas – pois ocorreram correções
ulteriores – mas elas registram com absoluta fidelidade e transparência o que
tenho produzido como esforço intelectual, para fins profissionais (dispensando
os expedientes oficiais, obviamente), para finalidades acadêmicas, ou de
simples divertimento pessoal. Ao longo do período, melhorias tecnológicas foram
sendo introduzidas, a mais relevante sendo a passagem da máquina de escrever,
condenada ao produto único, ao computador, esse monstro obediente que veio
incrementar a produtividade e até algumas más práticas, como pode ser o recurso
exagerado ao Lavoisier (para quem não sabe, trata-se daquele sábio francês do
Iluminismo e da Revolução, que disse uma vez algo do tipo “na vida, nada se
perde, nada se ganha, tudo se transforma”).
O computador entrou na
minha vida no ano tardio de 1987 – os
chamados PCs já existiam desde o início da década, mas na época eles eram
absurdamente caros, e no Brasil o dobro, sempre o dobro, talvez até o triplo,
como vocês podem imaginar – e só quando eu já tinha um salário razoável no
exterior, e ainda assim foi caro. Lembro-me até hoje do meu primeiro, e único,
MacIntosh Plus, sem disco rígido, tudo cabendo num pequeno floppy disk de
720kb: sistema operacional, programa de redação, e todos os arquivos. Muita
coisa não cabia, obviamente, assim que a minha segunda aquisição da era da
informática foi um disco rígido externa, na época fabricado na Irlanda, e não
no México, o que chamou a minha atenção para esse pequeno país europeu que
ainda era um dos mais pobres da então Comunidade Econômica Europeia. Logo
passei a um Mac SE, com disco rígido interno (mas ainda limitado) e os mesmos
floppy disks de arquivo e transferência de dados. A internet ainda não tinha
vigência, ou pelo menos não existia comercialmente, o que veio a ocorrer no
início dos anos 1990, quando me associei à Compuserve, um dos primeiros
serviços nessa área, mas ainda dependentes de lentíssimos modens utilizando a
linha telefônica discada. Que atraso magnífico, que progressos fantásticos!
A opção pelo sistema da
Apple, excludente e exclusivamente proprietário, sempre teve um custo adicional,
em relação aos horríveis PCs, da linha MS-DOS, então disponíveis amplamente, a
um custo mais baixo; esse custo se traduzia não apenas pelo preço superior de
comercialização dos Macs, mas também pela quase ausência de comunicação direta
com o mundo dos PCs, então como agora dominantes no mundo profissional. A
decisão da Apple de nunca licenciar sua tecnologia para terceiros fabricantes
impunha esse custo adicional à sua clientela fiel, que se dispunha a pagar em
torno de um terço a mais para dispor de uma tecnologia superior. No universo
pré-Windows – que sempre foi uma cópia mal feita do Mac-OS, um Rwuindows, como
dizíamos – éramos obrigados a ter filtros especiais para transpor determinados
arquivos preparados no Mac para a plataforma MS-DOS, bem mais atrasada e
limitada.
Depois, a grande briga
entre Apple e Microsoft amainou – os processos recíprocos por infração à
propriedade intelectual descontinuados – e o diálogo se estabeleceu
perfeitamente, sem que exista, atualmente, qualquer dificuldade de transposição
de arquivos, muito embora os programas e as plataformas ainda continuem
incompatíveis em grande medida (com exceção, atualmente, das ferramentas via
web, que usam praticamente a mesma linguagem). E por que digo tudo isso?
Porque, no início de minha “vida informática” eu era a trabalhar em ambiente
hostil, no trabalho e especialmente no Brasil, onde os Macs eram raríssimos,
obrigados os usuários a se manter em contato quase que numa verdadeira
confraria de iniciados.
Mas eu me desvio do tema principal
deste texto, que é apenas dedicado ao balanço deste ano que se encerra, não a
uma história completa de minha proliferação produtiva, reconhecidamente
exagerada, sob diversos critérios. Pois bem, o que podemos sumarizar a partir
das estatísticas disponíveis? Vamos dividir este balanço segundo as grandes
seções correntemente usadas nos registros: originais, publicados e trabalhos
variados em plataformas específicas (como podem ser meus blogs e os de
terceiros). Comecei o ano de 2014 pelo trabalho de número 2.551, terminando por
este de n. 2.740, o que perfaz, portanto, 189 trabalhos completos (e eu só dou
um número quando o trabalho é considerado finalizado, deixando os incompletos
em diversas pastas de working files). Alguns desses 189 trabalhos representam
mera assemblagem de textos anteriores, o que significaria diminuir ligeiramente
o volume total, mas também seria válido considerar algumas dezenas de outros
que ficaram incompletos no decurso do ano, a despeito de acumularem um número
indefinido de páginas produzidas.
Considerando, portanto,
esses 189 trabalhos, eles totalizaram 2.641 páginas, com alguma repetição no
ano, como afirmado acima, como resultado da recuperação de trabalhos de anos
anteriores, e por incorporação de artigos já escritos anteriormente em um
volume maior (é o caso dos livros), mas que de toda forma implicaram em revisão
de cada um deles, página por página, linha por linha, e a introdução de correções
e novos acréscimos e modificações em diversas partes. Tal volume representa a
redação, ou trabalho equivalente, de 220 páginas por mês, ou cerca de 7,3
páginas por dia, o que representa esforço considerável, para todos os efeitos.
Mesmo se descontarmos todas as “repetições” (ou recuperações), ainda assim
teríamos aproximadamente cinco páginas diárias de redação, o que também
representa algum esforço de pesquisa e de reflexão.
Em termos de dimensão dos
trabalhos produzidos existe grande disparidade entre eles, já que a média
aparente representaria quase 14 páginas por trabalho. Mas aqui seria preciso
novamente considerar que a maior parte dos trabalhos permanece na casa de um
único dígito, mas os livros distorcem o número de páginas para cima. De fato,
se formos computar apenas o total de páginas dos livros produzidos, do qual já
descontei pelo menos a metade considerando a “recuperação” com breve revisão, o
número pode representar algo em torno de 1.600 páginas, não integradas de forma
completa naquela contagem acima. Desses livros, apenas um se destinou a editora
comercial, sendo quatro outros elaborados em formato digital e disponibilizados
via Kindle ou na plataforma Academia.edu, livremente, portanto. Haveria também
de considerar os capítulos de livros escritos, em total de três, tendo sido
apenas um publicado no ano (em inglês e em edição Kindle), outros dois
reservados para 2015.
Não estou computando todos
os pareceres que ofereci a revistas da minha área, alguns deles representando
certo volume de observações tópicas e considerações gerais que poderiam
facilmente agregar mais duas dezenas de páginas. Tampouco computo aqui as
dezenas, provavelmente centenas de comentários iniciais a postagens de
materiais diversos no meu blog Diplomatizzando,
o considero impossível de ser agora estimado quanto ao equivalente em número de
páginas, dado o efêmero da produção. Alguns desses comentários iniciais
acabaram representando certo esforço analítico e, talvez, originalidade, e
acabaram sendo recuperados ex-post para a série “oficial”, mas os que entram
nesse caso foram muito poucos, menos de uma dezena, dentre as centenas,
milhares de postagens com alguma “introdução” de minha parte. Apenas para se
ter uma ideia desse volume de comentários iniciais, registre-se que o blog
conheceu em 2014 mais de 3.125 postagens (digo “mais de” porque o ano ainda não
terminou e é bem provável que eu continue postando até o calendário virar
automaticamente).
Quanto à contabilidade de
trabalhos publicados, ela é mais simples já que necessariamente menos numerosa.
Se meus registros não falham – eles falham, por vezes, já que alguns trabalhos
são publicados à minha “revelia”, sem que eu saiba exatamente quando; daí a
existência de alguns números-bis na lista de publicados – eu comecei o ano com
o trabalho n. 1.119 e termino com o de n. 1.158, sendo, portanto, de 39 o
número total de trabalhos públicos, dos quais um livro por editora comercial,
um dotado de ISBN no Kindle (em inglês, em conjunto com meu amigo brasilianista
Ted Goertzel), e mais quatro outros no Kindle, apenas coletando trabalhos
anteriores, que andavam dispersos ou já não estavam disponíveis. A maior parte
dos publicados o foi em revistas, impressas ou digitais, dos quais vários com
pareceres incógnitos. Uma consulta à lista de publicados (que estou
atualizando, mas é possível que eu só receba no decorrer de 2015 alguns
periódicos que são datados de 2014) revela a diversidade de veículos e a gama
de assuntos abordados, o que corresponde ao que efetivamente leio, anoto e
acaba servindo como reflexão e matéria prima para novos trabalhos.
Quanto ao blog Diplomatizzando, especificamente, que
não foi feito para registrar ou divulgar produção – senão episodicamente – ele
se situa, como já dito diversas vezes, no quadro de diversos outros blogs
anteriores, criados e interrompidos por clara incompetência deste blogueiro
inepto. Em todo caso, ele é uma ferramenta a mais de disseminação de materiais
interessantes que acabam cruzando meu itinerário de leituras cotidianos – um
vasto mundo, feito de todos os tipos de informações diárias, boletins
especializados, estudos de instituições, e muito do recebo em minha caixa
postal, que são processadas, geralmente comentadas, ou “introduzidas”, e
postadas nesse espaço que acaba sendo uma espécie de arquivo ou repositório de
material útil, para referência em caso de necessidade (esperando que as
ferramentas de indexação não falhem na hora de alguma busca). Meu acesso às
estatísticas do blog – assim como às do site pessoal – é muito errático e
precário: de vez em quando me lembro de consultar os dados disponíveis, não
tanto para me vangloriar quanto aos números, e mais para ver o que andam
buscando como informação e trabalhos meus, para algum trabalho na base do “copy
and paste” (tampouco me dou o trabalho de verificar o que andam copiando por
aí, o que seria de toda forma inútil). Em todo caso, talvez pudesse referir
alguns números, mas não tenho nenhuma base comparativa para aferir sua
validade, nem pessoal, própria, como o que eu “tinha” anteriormente, nem com
outros blogs.
O que eu me lembro, uma
vez que ofereci um dos meus livros gratuitamente, é que em janeiro de 2012, eu
tinha alcançado 500 “seguidores”, mas não me perguntem o que isso significa, ou
se todos eles acessam ou recebem minhas postagens a cada vez: simplesmente não
sei e não me importo muito com isso. Atualmente, ou seja, quase dois anos
depois, o número de seguidores registrado numa das janelas do blog é de 797, ou
seja, quase 60% a mais (tampouco sei se existe alguma sobreposição com o
Google+).
No momento em que escrevo,
o total de visualizações de página no blog Diplomatizzando
é de 3.168.368, mas tampouco sei distinguir entre os acessos e visitas
legítimas – ou seja, de pessoas direcionadas exatamente ao que buscavam – e
aquelas “intrusões” dos instrumentos de busca ou até dos serviços de
informações de potências poderosas, para ser redundante, buscando sabe-se lá o
que neste modesto veículo. Exatamente um ano atrás, em 30/12/2013, o número de
visualizações totais marcava exatamente 1.948.037 (o blog existe com este
título desde junho de 2006).
Existem lições, ou pelo
menos alguma lição, a tirar deste pequeno relatório sobre a produção anual?
Certamente, não sei se para os leitores, mas obviamente para mim: a de que eu
devo deixar de me dispersar em dezenas de pequenos trabalhos sem maior
profundidade – e sobretudo com os divertissements
do blog e do Facebook, quando muito besteirol vem junto com uma ou outra coisa
válida – e concentrar-me nas pesquisas mais sérias que devem integrar meu
segundo volume sobre a história da diplomacia econômica no Brasil, desta vez
cobrindo o período 1889-1944 (terminando, portanto, em Bretton Woods, por
razões mais do que evidentes). Este é o programa para 2015, e vou ter de
demonstrar disciplina e foco no alvo central para tentar terminar aquilo que já
deveria ter feito há pelo menos oito ou dez anos.
Com isto encerro esta
avaliação, e desejo a todos um ano tão produtivo quanto eu espero manter
igualmente. Meus bons votos para o ano que começa em poucas horas.
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 2740, 30 dezembro 2014