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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Vacinação pode ser pontapé para conter ataques à liberdade - Paulo Gontijo (Estadão)

 Vacinação pode ser pontapé para conter ataques à liberdade

Além do coronavírus, precisamos vencer o vírus do autoritarismo, voltar a tomar as ruas

Paulo Gontijo, presidente do Livres

Estadão | 1/02/2021, 3h

O início da vacinação é o primeiro passo para o País sair da pior crise enfrentada por esta geração. Em momentos de grandes dificuldades, nossa espécie anseia por grandes líderes apontando caminhos de superação. Infelizmente, no Brasil, nós nos deparamos hoje é como gigantismo da estupidez guiando a desordem e provocando instabilidades.

Não há ação técnica coordenada entre União e Estados. Onde precisamos de um governo para preservar a vida dos brasileiros, há apenas um comitê eleitoral. No lugar de distribuir vacinas, distribuem-se palavrões em churrascarias e cenas grotescas lambuzadas de leite condensado. O preço é alto e permanecerá sendo pago em largas prestações.

Após meses de negacionismo, Jair Bolsonaro ensaiou falar o óbvio: a vacina é essencial para a retomada econômica. Mas antes que sentíssemos qualquer alívio, o presidente retomou a sua narrativa insana, defendendo a ideia de que basta ao povo coragem para voltar à normalidade e enfrentar o vírus que já vitimou mais de 220 mil brasileiros.

Há, porém, algo pior do que seus discursos irresponsáveis: o boicote à vacinação. Fruto de uma combinação entre aloprados ideológicos, generais incompetentes e a pura omissão, seja na diplomacia ou na falta de implantação de um sistema de gestão do programa de imunização. E assim seguimos patinando, com consequências graves para a vida de todos os brasileiros e também para a economia.

As piores repercussões humanitárias ainda estão a caminho. Há risco de reedições da catástrofe de Manaus. Segundo projeções do economista Daniel Duque, com o fim do auxílio emergencial e a segunda onda da doença a extrema pobreza pode atingir até 20 milhões de brasileiros e a pobreza, que antes da pandemia era a condição de menos de 25% da população, pode chegar a mais de 30%. Quando aplicadas no ano passado, políticas de transferência de renda foram consenso. Agora voltam ao centro das atenções. Interrompido sem uma transição minimamente estruturada, o auxílio emergencial acabou significando um custo fiscal muito maior em razão da desorganização, da falta de planejamento e do caos político do governo Bolsonaro.

Criar uma ampla rede de proteção com transferências diretas para os mais pobres e vulneráveis é uma política herdeira do pensamento de liberais como Thomas Paine, Stuart Mill, Friedrich Hayek e Milton Friedman. Indiscutível do ponto de vista social, essa necessidade ilumina um problema crônico e estrutural do Estado brasileiro: apesar de consumir 40% da riqueza nacional todos os anos com um orçamento trilionário, nosso poder público, engessado em despesas obrigatórias, não foi capaz de construir uma proteção minimamente robusta para os mais vulneráveis. Mudar essa realidade deveria ser o centro das preocupações políticas.

Neste momento, cabe às vozes liberais o cuidado com os mais frágeis no presente, sem lhes sacrificar o futuro. Nosso esforço de guerra contra a covid-19 não pode perder de vista o pós-guerra. A reconstrução da economia e do mundo que herdaremos será mais ágil, ampla e inclusiva na medida em que tivermos a capacidade de implementar políticas públicas que sejam fruto da urgência, mas não se contaminem pelo desespero. Não apenas é possível, como necessário, aliar sensibilidade social à responsabilidade fiscal, a reformas que aumentem a eficiência do Estado brasileiro, à proposta da Lei de Responsabilidade Social – elaborada pelo Centro de Debate de Políticas Públicas após debate surgido no movimento Livres –, que remaneja programas sociais já existentes em busca de mais efetividade.

Em direção oposta a esse esforço, porém, o que assistimos é a proposições para ampliar poderes de forma abusiva, diminuir a transparência ou simplesmente promover líderes do Executivo. São exemplos o alargamento de prazos das medidas provisórias e da Lei de Acesso à Informação, a injustificável menção a decreto de estado de defesa pelo procurador-geral da República e a ameaça aberta de insurreição antidemocrática em 2022 pelo próprio presidente, inspirado na invasão dos trumpistas ao Capitólio. Com isso, antes de avançar, é preciso assegurar que não vamos retroceder.

O alerta liberal contra excessos do poder estatal está mais pertinente do que nunca. Não à toa, nós, do Livres, ingressamos com ação civil pública para convocar Jair Bolsonaro a apresentar em juízo as provas que ele reiteradamente alega possuir sobre a suposta fraude eleitoral em 2018. Não há espaço para omissão. A credibilidade do sistema eleitoral é pilar da legitimidade da democracia liberal. Utilizar o prestígio da Presidência da República para minar as bases da democracia é um atentado à Constituição. Em meio a uma pandemia, faltam até palavras para classificar. Além do coronavírus, precisamos vencer o vírus do autoritarismo. Em ambos os casos, a vacina será o passaporte para que possamos voltar a sair de nossa casa, tomar as ruas e desfrutar, juntos, o prazer da liberdade. E, sobretudo, encarar a responsabilidade de defendê-la.

https://opiniao.estadao.com.br/noticias/espaco-aberto,vacinacao-pode-ser-pontape-para-conter-ataques-a-liberdade,70003600643

domingo, 20 de dezembro de 2020

Covid-19 – Deve ou não o governo promover a vacinação?, por Felipe A. P. L. Costa (Jornal GGN)

Covid-19 – Deve ou não o governo promover a vacinação?

 SIM, responde este biólogo, Felipe A. P. L. Costa, autor de muitos livros de biologia, evolucionismo, história da ciência, entre eles, O Evolucionista Voador e Poesia Contra a Guerra. Este artigo traz evidências históricas sobre a luta de médicos e cientistas contra as grandes epidemias que ceifaram milhares, milhões de vidas ao longo dos séculos. NÃO, a Covid não nos deixará, como foi o caso da varíola, mas os governos têm a obrigação de organização a vacinação e imunização em massa. Essa dama em trajes turcos, uma nobre ingles, participou dos esforços de erradicação da varíola. Leiam...

Paulo Roberto de Almeida 

Covid-19 – Deve ou não o governo promover a vacinação?, por Felipe A. P. L. Costa

Doenças epidêmicas não são eventos aleatórios que afligem as sociedades de modo caprichoso e sem aviso prévio. Ao contrário, cada sociedade produz suas próprias vulnerabilidades específicas.

https://jornalggn.com.br/coronavirus/covid-19-deve-ou-nao-o-governo-promover-a-vacinacao-por-felipe-a-p-l-costa/

Doenças epidêmicas não são eventos aleatórios que afligem as sociedades de modo caprichoso e sem aviso prévio. Ao contrário, cada sociedade produz suas próprias vulnerabilidades específicas. Estudá-las é compreender a estrutura dessa sociedade, seu padrão de vida e suas prioridades políticas. – Frank Snowden (2019).



A.

Seres humanos abrigam centenas de espécies de organismos infecciosos, muitos dos quais são patogênicos. A lista inclui vírus, bactérias, protozoários, fungos e vermes (helmintos). Doenças infeciosas (e.g., pneumonia, amebíase, tuberculose, Aids, malária e meningite) são responsáveis por cerca de 15% das mortes registradas anualmente em todo o mundo [1]. A maioria dessas doenças teve origem em alguma população animal, sendo então transmitida aos seres humanos por meio do consumo ou de algum outro tipo de contato íntimo ou repetido. Doenças que procedem de animais são referidas como zoonoses (do grego: zoo–, animal + –nose, doença) [2].

B.

Uma zoonose bem conhecida é a raiva, doença causada por um rabdovírus (vírus da família Rhabdoviridae). Indivíduos sadios adquirem o patógeno por meio da mordida de algum animal infectado, na maioria das vezes um cão. O vírus infecta as células do sistema nervoso central, o que quase sempre resulta em uma encefalite fatal. Em 2016, mais de 24 mil seres humanos morreram em decorrência da doença. Mordidas em regiões ricas em fibras nervosas, como a face e as mãos, são especialmente perigosas [3].

No entanto, embora ainda seja um grave problema de saúde pública, sobretudo em certas regiões da Ásia e da África (ver aqui), a raiva já não é mais o bicho-papão de outrora. Em outras palavras, ser mordido por um cão infectado já não é mais uma sentença de morte. Meios de cura e prevenção vêm sendo investigados desde o final do século 19.

Uma vacina pioneira contra a raiva, desenvolvida pelo químico e biólogo francês Louis Pasteur (1822-1895), foi aplicada pela primeira vez em um ser humano em 6/7/1885. O ‘voluntário’ foi Joseph Meister (1876-1940), então com 9 anos de idade (ver o artigo Por que o Dia Mundial das Zoonoses é comemorado em 6 de julho?). O garotinho francês, que havia sido mordido por um cão, conseguiu se recuperar. A invenção de Pasteur foi um marco na história da luta contra as doenças infecciosas. Para lembrar o feito e marcar a data, a Organização Mundial da Saúde (OMS) instituiu o Dia Mundial das Zoonoses [4].

C.

Uma zoonose de grande importância histórica é a varíola, doença causada por um ortopoxvírus (vírus da família Poxviridae). Diferentemente da raiva, trata-se de uma doença contagiosa: indivíduos infectados transmitem o parasita para novos hospedeiros pela simples proximidade ou por meio de contato físico.

O vírus da varíola infecta vários órgãos internos do corpo antes de ganhar a corrente sanguínea e ir se alojar na epiderme. O crescimento do vírus nas camadas epidérmicas da pele causa as lesões (pústulas). A letalidade da doença é das mais expressivas: cerca de 20% dos indivíduos infectados morriam.

Ademais, sendo a varíola uma doença contagiosa, os riscos de surtos epidêmicos sempre foram muito elevados. De fato, até meados do século 18, em cidades europeias densamente povoadas, como Londres e Paris, 10% ou mais de todos os óbitos eram atribuídos à doença. Entre as crianças pequenas, mais especificamente, costumava ser a principal causa de morte.

Em regiões densamente povoadas, portanto, a varíola era uma temida fonte de mortalidade. Razão pela qual havia uma justificada expectativa de que algum método de cura ou prevenção fosse inventado. Foi nesse contexto que emergiu uma discussão a respeito da variolação (= enxertia ou inoculação) [5], uma técnica rudimentar de imunização induzida que havia sido introduzida na Europa em 1721.

Entre os críticos da inoculação estava o matemático e naturalista francês Jean Le Rond d’Alembert (1717-1783). Entre os defensores estava o seu colega suíço Daniel Bernoulli (1700-1782). Na opinião desde último, o problema poderia ser colocado da seguinte maneira: Deve ou não o governo promover a vacinação de todos os recém-nascidos?

Em um artigo escrito em 1761 (mas que só seria publicado em 1766), Bernoulli confrontou os riscos e os benefícios das duas alternativas em questão: não vacinar (assumindo o risco de morrer da doença) versus vacinar (assumindo o risco de morrer em decorrência da vacinação) [6]. E concluiu a sua análise de modo afirmativo, sustentando que a inoculação deveria ser encorajada, visto que resultava em um aumento significativo na expectativa média de vida.

D.

A inoculação pode ser vista como um processo em duas etapas: (i) extrair material das pústulas de varíola de um indivíduo doente; e (ii) esfregar o material extraído sobre um arranhão feito na pele (em geral na mão ou no braço) de um indivíduo sadio.

Não era um procedimento inteiramente seguro. No entanto, visto que as probabilidades envolvidas eram desiguais (i.e., as chances de um indivíduo sadio morrer em decorrência da inoculação eram menores que as chances de um indivíduo infectado morrer da doença), o uso da técnica terminou se estabelecendo entre os médicos europeus. Tudo correndo bem, o indivíduo inoculado desenvolvia uma forma branda da doença, da qual se recuperava gradativamente. A partir de então estava protegido (imunizado).

A inoculação foi introduzida na Inglaterra – de onde foi levada para outros países ocidentais – por Mary Wortley [Pierrepont] Montagu (1689-1762), aristocrata e escritora inglesa, esposa do embaixador britânico junto ao Império Otomano (Turquia) [7].

Além de ter perdido um irmão para a varíola (1713), a própria Montagu teve a doença (1715). Enquanto esteve na Turquia (1716-1718), entrou em contato com um grupo de senhoras que aplicavam a técnica (chamada pelos turcos de enxerto). Chegou a presenciar ao menos uma sessão. O processo que Montagu conheceu – o mesmo que ela aplicaria mais tarde em seus dois filhos – já seria uma modificação do procedimento original, desenvolvido na China. Consta que crianças chinesas sadias eram preventivamente imunizadas. O procedimento consistia em fazer com que elas inalassem partículas de pó de material seco previamente retirado das feridas de algum doente. Desse modo, elas ganhariam alguma imunidade.

E.

A inoculação continuou sendo usada em toda a Europa. Não tardou muito, porém, para que um método alternativo fosse desenvolvido.

Em 1796, o naturalista e médico inglês Edward Jenner (1749-1823), ele próprio vítima da varíola durante a infância, descobriu que a forma bovina da doença (cowpox, em inglês) conferia aos seres humanos que estavam em contato com os animais alguma proteção contra a forma letal (smallpox). Após uma série de estudos e testes, Jenner desenvolveu uma técnica de imunização artificial (vacinação). Publicou seus achados em 1798.

F.

A varíola é uma doença muito antiga, havendo indicações de que o vírus esteve conosco desde tempos pré-históricos [8]. É também a única doença infecciosa que nós conseguimos erradicar. Consta que o último portador conhecido da doença (infectado de modo natural) vivia na Somália, tendo sido curado em 1977 (ver aqui). Em 1980, a OMS declarou que a varíola havia sido extinta.

É pouco provável que nós consigamos extinguir a Covid-19. Todavia, se Bernoulli estivesse vivo, não tenho dúvidas de que ele responderia à pergunta do título de modo afirmativo e bastante taxativo: “Sim, o governo deve vacinar a população. E o mais rápido possível.”

No caso brasileiro, a julgar pelo que vem ocorrendo desde o início de novembro, cada dia de atraso (deliberado) na campanha de vacinação implicará inevitavelmente na morte (criminosa) de algumas centenas a mais de brasileiros – algo entre 500-1.000 mortes/dia, levando em conta os resultados obtidos para a semana passada (7-12/12) (ver o artigo O ‘V’ da pandemia: País ladeira abaixo, estatísticas ladeira acima).

Notas.

[*] Para detalhes e informações sobre o livro mais recente do autor, O que é darwinismo (2019), inclusive sobre o modo de aquisição por via postal, faça contato pelo endereço meiterer@hotmail.com. Para conhecer outros livros e artigos, ver aqui.

[1] De acordo com as estatísticas de 2016 (WHO 2018): pneumonias (e outras infecções do trato respiratório inferior) mataram 2,96 milhões de seres humanos; diarreia (amebiana e outras), 1,38 milhão; tuberculose, 1,29 milhão; Aids, 1 milhão; malária, 446 mil; e meningite, 279 mil. Esse percentual já foi maior, tendo caído significativamente ao longo dos últimos anos: 33% (1996), 23% (2000) e 15% (2016) – ver WHO (1996) e WHO (2018).

[2] Todos os grupos taxonômicos que abrigam patógenos humanos possuem percentuais expressivos de espécies de origem zoonótica: 80% dos vírus que infectam seres humanos são de origem zoonótica, 50% das bactérias, 40% dos fungos, 70% dos protozoários e 95% dos vermes. Para detalhes, ver Taylor et al. (2001).

[3] Mesmo a lambida de um animal infectado pode ser perigosa, pois o vírus presente na saliva pode penetrar em lesões ínfimas. Para detalhes, ver Tortora et al. (2006). Sobre a estatística mencionada, ver WHO (2018).

[4] Entre nós, a data (6 de julho) passou despercebida. Quer dizer, nem mesmo a pandemia da Covid-19 (mais uma doença de origem zoonótica) foi capaz de fazer com que a nossa imprensa abrisse os olhos e saísse de sua habitual letargia. Em outros países, a imprensa costuma manter ao menos um dos olhos abertos – ver aqui.

[5] Para uma caracterização do processo, ver Fenner et al. (1988).

[6] Sobre a polêmica Bernoulli versus D’Alembert, ver Colombo & Diamanti (2015).

[7] Sobre a introdução da variolação na Inglaterra, ver Weiss & Esparza (2015); para detalhes sobre a vida e obra de MWM, ver Brunton (1991) e Soares (2018). Personagem das mais fascinantes, Montagu nos legou uma rica e variada obra literária (e.g., aqui).

[8] Há evidências de varíola em múmias egípcias com mais de 3.000 anos de idade. Do Egito a doença teria sido exportada para a Índia, há uns 2.000 anos, onde se tornou endêmica. E teria sido introduzida na China no século 1. Na Europa, a despeito de surtos ocasionais, a doença só teria se estabelecido entre os séculos 11 e 12, já durante as Cruzadas. Para detalhes, ver Fenner et al. (1988).

*

Referência citadas.

++ Brunton, D. 1991. Pox Britannica: Smallpox inoculation in Britain, 1721-1830. Tese de Doutorado. Filadélfia, University of Pennsylvania.

++ Colombo, C & Diamanti, M. 2015. The smallpox vaccine: the dispute between Bernoulli and d’Alembert and the calculus of probabilities. Lettera Matematica 2: 185-92.

++ Fenner, F. & mais 4. 1988. Smallpox and its eradication. Genebra, World Health Organization.

++ Snowden, FM. 2019. Epidemics and society: From the black death to the present. New Haven, Yale UP.

++ Soares, MJO. 2018. Mary Montagu e a inoculação da varíola na Inglaterra no século XVIII. Khronos, Revista de História da Ciência 5: 35-46.

++ Taylor LH; Latham SM & Woolhouse MEJ. 2001. Risk factors for human disease emergence. Philosophical Transactions of the Royal Society of London B 356: 983-9.

++ Tortora, GJ; Funke, BR & Case, CL. 2006. Microbiologia, 8ª ed. Porto Alegre, Artmed.

++ Weiss, RA & Esparza, J. 2015. The prevention and eradication of smallpox: a commentary on Sloane (1755) ‘An account of inoculation’.  Philosophical Transactions of the Royal Society of London B 370: 20140378.

++ WHO. 1996. World health report 1996: fighting disease, fostering development. Genebra, World Health Organization.

++ —. 2018. Global health estimates 2016: disease burden by cause, age, sex, by country and by region, 2000-2016. Genebra, World Health Organization.

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domingo, 15 de fevereiro de 2015

Vacinacao: a irresponsabilidade de pais que nao imunizam seus filhos- NY Review of Books

Eu me pergunto se pais irresponsáveis que não vacinam seus filhos perguntam a eles se preferem ficar doentes ou ser vacinados.
Paulo Roberto de Almeida

There’s No Way Out of It!

The New York Review of Books
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Collection of the John and Mable Ringling Museum of Art, State Art Museum of Florida, Florida State University Peter Paul Rubens: Achilles Dipped into the River Styx, circa 1630–1635
Even many years later, when my mother told the story, fear still showed on her face. One morning in 1954, at the age of two, I awoke and told her that my head hurt. I had a fever, and she put me to bed. Over the next days, my temperature rose, and my headache worsened. My parents called our pediatrician, who came to our small apartment in Astoria, Queens. He found that my neck was stiff and my legs were weak. Polio, he said, was a possible diagnosis. There were tens of thousands of cases of the paralytic illness each year in the United States. The doctor insisted that I be hospitalized in an isolation unit in upper Manhattan. My parents readily complied.
After a week in the hospital, my temperature fell and my legs became stronger. Tests showed that it was not polio; the infection was never identified.1
My mother and father feared debility and death due to pathogens. They were raised in immigrant New York neighborhoods at a time when diphtheria, typhoid, and tuberculosis were rife. My parents also knew that microbes were not restricted to the newly arrived and poor. Polio had struck the patrician FDR in his prime.
The world of my parents, and that of their children, dramatically improved in the latter half of the twentieth century as modern medicine introduced an array of effective vaccines and antibiotics. When the Salk vaccine against the polio virus became available a few years after my mysterious illness, I was inoculated, along with my siblings. The idea of preventing or curing dreaded infectious diseases “naturally,” relying on the body alone, hardly entered our minds.
But two generations later, such ideas have considerable traction in our society. Eula Biss, a writer who teaches at Northwestern University, seeks to understand their appeal, and whether they should be given credence. On Immunity is an effort to reconcile her divided feelings, fearing both infection and the imagined risks of vaccination. Her book weaves metaphor and myth, science and sociology, philosophy and politics into a tapestry rich with insight and intelligence.
In 2009, Eula Biss gave birth to her first child and became fixated on the many ways he might be harmed—poisoned by chemicals in his plastic bottles or suffocated in his crib by lying incorrectly. Her intense concern about such dangers coincided with the appearance of a new strain of H1N1 influenza in the United States. Much of the country was in a panic: some churches were serving wafers at Mass on toothpicks, and airlines removed pillows and blankets from their flights. “What surprises me now is how unremarkable this seemed to me at the time,” Biss writes.
It all became part of the landscape of new motherhood, where ordinary objects like pillows and blankets have the power to kill a newborn…. It was as if the nation had joined me in the paranoia of infant care.
The strain of the virus was potent for children and teenagers, not only those who typically suffer severe cases of influenza, like the elderly and diabetics. Public health officials recommended widespread vaccination. But among her group of new mothers, “every exchange about the new flu vaccine was an extension of the already existing discussion about immunization, in which all that is known of disease is weighed against all that is unknown about vaccines.”
Biss reflects on the myth of Achilles, and the profound maternal desire to make a child impervious to harm. Achilles’ mother dipped him into the river Styx, but holding him by his heel, which left him vulnerable:
Immunity is a myth, these stories suggest, and no mortal can ever be made invulnerable. The truth of this was much easier for me to grasp before I became a mother. My son’s birth brought with it an exaggerated sense of both my own power and my own powerlessness. I found myself bargaining with fate so frequently that my husband and I made a game of it, asking each other what disease we would give our child for prevention against another—a parody of the impossible decisions of parenthood.
For Biss, decisions about which, if any, vaccines should be given to her son were made “impossible” by allegations on the Internet and anecdotes from other mothers about their long-term risks:
We fear that vaccination will invite autism or any one of the diseases of immune dysfunction that now plague industrialized countries—diabetes, asthma, and allergies. We fear that the hepatitis B vaccine will cause multiple sclerosis, or that the diphtheria-tetanus-pertussis vaccine will cause sudden infant death. We fear that the combination of several vaccines at once will tax the immune system, and that the total number of vaccines will overwhelm it. We fear that the formaldehyde in some vaccines will cause cancer, or that the aluminum in others will poison our brains.
Her anxiety is amplified by a larger culture of suspicion. In contrast to my parents, who put complete trust in the integrity and authority of their doctor, Biss and her fellow mothers distrust government, pharmaceutical companies, and journalists who seek to inform and reassure the public:
The fact that the press is an unreliable source of information was one of the refrains of my conversations with other mothers, along with the fact that the government is inept, and that big pharmaceutical companies are corrupting medicine. I agreed with all these concerns, but I was disturbed by the worldview they suggested: nobody can be trusted.
One of her efforts at calm is to understand how emotions color perception of risk. Scientists typically present the risks of a vaccine by citing the numbers of people suffering side effects against the total numbers given the treatment. Reviewing the work of the scholars Paul Slovic at the University of Oregon and Cass Sunstein at Harvard Law School, Biss notes:
Risk perception may not be about quantifiable risk so much as it is about immeasurable fear. Our fears are informed by history and economics, by social power and stigma, by myth and nightmares. And as with other strongly held beliefs, our fears are dear to us. When we encounter information that contradicts our beliefs,…we tend to doubt the information, not ourselves.
How should she keep herself informed? Should she give weight to the anecdotes told by fellow mothers? Listen to mainstream doctors, among them her father, a blunt-speaking man dismissive of her crowd? Or should she trust the antiestablishment clinicians on the Internet? And might there be ethical tenets to help her make a sound choice to vaccinate, or not?
As a writer and teacher, Biss is primarily concerned with language, specifically how metaphor sculpts thought and feelings:
“Our bodies prime our metaphors,” writes James Geary in I Is an Other, his treatise on metaphor, “and our metaphors prime how we think and act.” If we source our understanding of the world from our own bodies, it seems inevitable that vaccination would become emblematic: a needle breaks the skin, a sight so profound that it causes some people to faint, and a foreign substance is injected directly into the flesh. The metaphors we find in this gesture are overwhelmingly fearful, and almost always suggest violation, corruption, and pollution.
Biss moves from the power of language to the demographics of sociology. She cites a 2004 analysis of data from the Centers for Disease Control and writes: “Unvaccinated children…are more likely to be white, to have an older married mother with a college education, and to live in a household with an income of $75,000 or more—like my child.” Such unvaccinated children generally live near one another, which means that if they contract a disease, it can be readily passed on to others. Then there are so-called undervaccinated children, those who have received some but not all of their recommended immunizations. They “are more likely to be black, to have a younger unmarried mother, to have moved across state lines, and to live in poverty.”
These demographic distinctions inform Biss’s understanding of the scientific concept of “herd immunity”:
If we imagine the action of a vaccine not just in terms of how it affects a single body, but also in terms of how it affects the collective body of a community, it is fair to think of vaccination as a kind of banking of immunity. Contributions to this bank are donations to those who cannot or will not be protected by their own immunity. This is the principle of herd immunity, and it is through herd immunity that mass vaccination becomes far more effective than individual vaccination.
Her physician father articulates the value of herd immunity in public health, and Biss extends his analysis to a political principle she holds dear:
“Vaccination works,” my father explains, “by enlisting a majority in the protection of a minority.” He means the minority of the population that is particularly vulnerable to a given disease. The elderly, in the case of influenza. Newborns, in the case of pertussis. Pregnant women, in the case of rubella. But when relatively wealthy white women vaccinate our children, we may also be participating in the protection of some poor black children whose single mothers have recently moved and have not, as a product of circumstance rather than choice, fully vaccinated them….
Immunity…is a common trust as much as it is a private account. Those of us who draw on collective immunity owe our health to our neighbors.
But do we owe so much to the collective that we should sacrifice our autonomy? I learned in On Immunity that the term “conscientious objector” came out of resistance to a British law passed in 1853 requiring the vaccination of all infants. Forty-five years later, the government added a “conscience clause,” allowing parents to apply for an exemption. The exemption clause was rather vague, requiring only that the objector satisfy a magistrate that it was “a matter of conscience.”
Biss turns to her sister, a philosophy professor at a Jesuit college who studies Kant. She explains Kant’s contention that we have a duty to ourselves to examine our conscience, the “inner judge” that unites thoughts and feelings. An individual might resist flaws in the dominant moral code and thus create the possibility for reform, or conscience can be what keeps your actions in line with publicly defendable moral standards.
Biss, while aware that a conscientious objector to vaccination may contribute to an epidemic, affirms that “our laws allow for some people to exempt themselves from vaccination, for reasons medical or religious or philosophical. But deciding for ourselves whether we ought to be among that number is indeed a matter of conscience.” Yet this seems too facile a conclusion, since the freedom to exempt oneself negates a responsibility not only to society, but to one’s own children who do not have the agency to decide for themselves.

Paul Offit, a professor of pediatrics at the University of Pennsylvania and the head of the Division of Infectious Diseases at the Children’s Hospital of Philadelphia, is one of the most courageous and sober voices arguing to protect children from exemptions made by their parents.2 Biss draws from one of Offit’s books, Autism’s False Prophets, in her examination of the ideas of the British gastroenterologist Andrew Wakefield.
In 1998, Wakefield published a study in The Lancet of twelve children indicating that vaccines caused autism. The publication was accompanied by a promotional video of a press conference in which Wakefield supported the suspicions of parents who already believed what the study suggested. Although there were caveats in the Lancet paper, it resulted in a sharp drop in vaccination against measles. Later, when the study was discredited and shown to be sloppy, Wakefield portrayed himself as the victim of establishment persecution.
Another vaccine opponent is Dr. Joseph Mercola, who heads the Mercola Natural Health Center in the Chicago suburbs. Mercola offers information on a website about the dangers of water fluoridation and metal amalgam in dental fillings, as well as speculation that AIDS is not caused by HIV. Biss notes that the site is visited by nearly two million individuals a month, and “products available for purchase range from tanning beds to air purifiers to vitamins and supplements. The website and Mercola LLC generated an estimated $7 million in 2010, and in 2011 Mercola donated $1 million to a number of organizations” that oppose vaccination.
Offit’s book debunks the claims of such antiestablishment clinicians. But his criticism extends to the morality of parental “conscience” when imposed on the health of children. Offit recounts painful tales of children dying from diseases that could be easily prevented or cured if parents had accepted the advice of doctors. In his most recent book, Bad Faith, he argues that we fail minors by giving permission to parents who seek exemptions from vaccination on religious grounds. Sacrificing the lives of vulnerable minors, he contends, negates God, since all human beings are created in His image. But, to date, legislatures and the courts have been loath to override religious beliefs that reject life-saving treatments for children.
On Immunity follows the ebb and flow of Biss’s mind, sometimes taking up a point, like herd immunity, first from a scientific perspective, then a political one, then a philosophical. Interspersed are her stories as a new mother. When she searches for a pediatrician, she is referred by her midwife to one who appears to share her “left of center” mindset:
When I asked the pediatrician what the purpose of the hep B vaccine was, he answered, “That’s a very good question,” in a tone that I understood to mean this was a question he relished answering. Hep B was a vaccine for the inner city, he told me, designed to protect the babies of drug addicts and prostitutes. It was not something, he assured me, that people like me needed to worry about.
Biss’s pediatrician may be left of center, but she discovers that he is not reliable in his reply. Biss won the 2009 National Book Critics Circle Award for Notes From No Man’s Land, a collection of essays on race, and she is alert to suggestions of stigma. She cites epidemiological data indicating that there is a decline in the incidence of hepatitis B only when all children are vaccinated against the infection:
One of the mysteries of hep B immunization is that vaccinating only “high risk” groups, which was the original public health strategy, did not bring down rates of infection. When the vaccine was introduced in 1981, it was recommended for prisoners, health care workers, gay men, and IV drug users. But rates of hep B infection remained unchanged until the vaccine was recommended for all newborns a decade later. Only mass vaccination brought down the rates of infection, and it has now virtually eliminated the disease in children….
This is a radical inversion of the historical application of vaccination, which was once just another form of bodily servitude extracted from the poor for the benefit of the privileged. There is some truth, now, to the idea that public health is not strictly for people like me, but it is through us, literally through our bodies, that certain public health measures are enacted.
Still, Biss wonders if there may be reasonable alternatives to vaccination that effectively protect children:
Some parents feel that the immunity produced by the chicken pox vaccine is inferior to immunity by natural infection because it does not last as long. To carry immunity through adulthood, when chicken pox can be quite serious, one must get a booster in adolescence. “So what?” my father says. I am trying to explain the phenomenon of chicken pox parties to him. I say, “Some people want their children to get chicken pox because,” and pause to think of the best reason to give a doctor. “They’re idiots,” my father supplies.
But Biss understands what appeals to these mothers: “I do not think they are idiots. But I do think they may be indulging in a variety of preindustrial nostalgia that I too find seductive.”
Then there is “Dr. Bob” Sears, who hews to a supposed middle ground. In The Vaccine Book, he claims to offer a compromise between vaccinating and not vaccinating. Sears endorses changes in the schedule of childhood vaccination for parents worried about overtaxing the immune system. He proposes a selective vaccine schedule, so a parent can provide only the vaccines that Dr. Bob believes most important. But Biss notes his omission of vaccines against hepatitis B, polio, measles, mumps, and rubella. Another strategy of Dr. Bob is to spread out over eight years all the vaccines a child typically receives in two years.
Biss rightly takes him to task, disputing his claims that tetanus is not a disease that affects infants and that measles is not that bad: “He does not mention that tetanus kills hundreds of thousands of babies in the developing world every year,…and that measles has killed more children than any other disease in history.”
After much indecision, the altruistic principle of herd immunity and its benefits for children of all socioeconomic and racial groups ultimately moves Biss to embrace vaccination.
We no longer see children stricken with polio in wheelchairs or hear of those suffocating from diphtheria, of babies born to mothers with rubella whose eyes are clouded by cataracts and hearts deformed. The success of protecting against such pathogens has removed a sense of their immediacy and caused many to forget their horror. But that may change, as we receive reports of outbreaks of infections due to unvaccinated children and mothers. In January, California health officials reported an infant death from pertussis and a measles outbreak among children who visited Disneyland. Currently, some 8 percent of children in California kindergartens are not adequately vaccinated.
The infection has now spread beyond California to Utah, Washington, Oregon, Colorado, and Mexico. Last year, California made the “personal belief” exemption law more stringent, requiring parents to submit a form signed by a health professional. But Governor Jerry Brown, at the last minute, added a religious exemption, so that parents who object to vaccination as a matter of faith do not need a physician’s signature.3
Countering such actions by state officials, the father of a six-year-old boy who had leukemia and still suffers from reduced immunity has asked the superintendent of his Marin County school district to keep unvaccinated children out of the classroom, since they pose a significant threat to his own son. The county health officer expressed sympathy for the father’s concern, but would not enforce such a ban on unvaccinated pupils.4
Measles in particular is one of the most contagious viruses, causing illness in more than 90 percent of those who are exposed to it. There is legitimate concern that the outbreak, which originated in California, will spread throughout the nation, particularly in locales where parents have sought exemption from vaccinating their children. Those at greatest risk for debility and death from measles have impaired immunity, like the child in remission from leukemia, or newborns whose immune systems are not yet strong enough to resist the virus. The outbreak, which is said to affect more than a hundred people in some fourteen states as of the beginning of February and is getting increasing public attention, will force the issue around parental choice and social responsibility. Governor Chris Christie of New Jersey waffled when asked whether vaccination should be mandated, asserting that there should be room for parents to choose. President Obama strongly supports the science behind vaccination, but it will take more than statements from a bully pulpit to safeguard the nation from epidemics that would be prevented through vaccination. Ultimately, either lawsuits or legislation will be needed to protect the health and welfare of children in schools and other public institutions.
My wife and I are physicians. We are acutely aware that every clinical intervention carries a potential downside. We also question clinical data from research studies and challenge the idea of a single authority that always wisely weighs risk and benefit. But we also know firsthand what infectious diseases can do. When our children were born, we vaccinated them. The natural world of unopposed pathogens is full of danger; it should not be presented as idyllic.
  1. Last autumn, there were more than a hundred reports of unexplained paralysis following viral infections in the US. See Catherine Saint Louis, “After Enterovirus 68 Outbreak, a Paralysis Mystery,” The New York Times, January 12, 2015. 
  2. See my “Libertarian Medicine: And Why It Doesn’t Work,” a review of Paul Offit’s Do You Believe in Magic? The Sense and Nonsense of Alternative Medicine, The New Republic, October 21, 2013. 
  3. Adam Nagourney and Abby Goodnough, “Measles Cases Linked to Disneyland Rise, and Debate Over Vaccinations Intensifies,” The New York Times, January 22, 2015. 
  4. Tamar Lewin, “Sick Child’s Father Seeks Vaccination Requirement in California,” The New York Times, January 29, 2015.