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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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quinta-feira, 14 de abril de 2011

Conselhos aos aspirantes a politica (no Brasil)

O texto abaixo, postado num outro site que mantenho apenas para "depositar" textos mais longos, foi confundido recentemente por um leitor anônimo -- provavelmente um jovem iniciante -- que o interpretou literalmente, deixando de constatar sua imensa ironia e seu caráter antinômico ao que procura combater, que é uma realidade que infelizmente infectou o Brasil a partir de certo personagem desonesto, helàs muito popular.
Resolvi transcrever novamente aqui, pois suas lições permanecem plenamente válidas, sobretudo quando se vêem tantos sabujos incensando o dito cujo, cujo nome não preciso lembrar aqui.
Paulo Roberto de Almeida

CONSELHOS AOS JOVENS POLÍTICOS (e aos jovens em geral)
por Augusto de Franco
Site Diego Casagrande, Sexta-feira, Setembro 14, 2007

Você que é um jovem político, que escolheu trilhar o caminho da política na falta de uma ocupação honesta (como Jorge Luis Borges escreveu certa vez), guarde este artigo que poderá ser de grande valia para o seu sucesso nessa carreira.

PRIMEIRO CONSELHO. Se você se chama Antonio, seja antonista. Ou seja, filie-se a um partido apenas como quem cumpre exigência legal para exercer uma profissão. Mas tenha em conta que o único partido que conta é aquele que é só seu, que atende inteiramente aos seus próprios interesses.

SEGUNDO CONSELHO. Tenha como objetivo chegar ao máximo posto de poder. Se você chegar à presidência da República, entretanto, não se detenha. Seja candidato à reeleição. Se você já for um presidente reeleito, não se detenha. Você ainda pode ter mais poder. Se for possível, dê um golpe e se transforme em ditador. Ou mude a lei que proíbe a sua permanência no cargo. Tente sempre subir, ter mais poder. Se não houver para onde subir, tente ficar o maior tempo possível no cargo máximo que alcançou. Abandonar o poder por vontade própria ou em respeito a algum princípio ou regra é sempre um suicídio, mesmo que essa regra seja uma lei. Não se esqueça: toda lei pode ser mudada por quem tem o poder de mudá-la. Portanto, o essencial não é a lei e sim o poder.

TERCEIRO CONSELHO. Lembre-se: a única coisa que conta realmente é o seu partido exclusivo, não aquele ao qual você se filiou em virtude de alguma exigência legal e sim aquele que atende integralmente aos seus interesses e no qual só você manda. Mas se você puder ter um partido legal e reconhecido que se sujeite assim a você e que fique totalmente submetido às suas vontades, melhor ainda. Você terá conquistado a glória suprema de fazer com que um partido sirva apenas aos seus interesses. O partido legal cumprirá então o importante papel de recrutar gente que trabalhe de graça para você, para o seu partido pessoal. Essa última hipótese é de materialização improvável, mas você não deve ficar desanimado com isso, pois tem gente que consegue. Portanto, você não deve abrir mão de tentar concretizá-la. Pois você sempre precisará de outras pessoas que lhe sirvam para poder atingir os seus objetivos máximos.

QUARTO CONSELHO. Se você não conseguir transformar um partido inteiro em uma assessoria pessoal, que trabalhe apenas para promovê-lo (isso é difícil mesmo), organize uma tendência dentro desse partido que possa cumprir o papel de gangue política a seu serviço. Isso é obrigatório, se você quiser ter pleno sucesso.

QUINTO CONSELHO. Não dê a mínima para coisas como ética, princípios políticos, democracia, respeito às leis ou ao Estado de direito. Tudo isso é conversa-mole, usada por alguns apenas para limpar o seu caminho em direção ao poder. A regra aqui é bem clara: faça tudo o que puder. Se for necessário trair velhos amigos, traia sem a menor culpa. Se for necessário fazer exatamente o oposto do que você sempre pregou, faça-o sem qualquer vergonha. Se for necessário roubar, roube. Se for necessário matar, mate. Entenda que em política não existe nenhuma autoridade à qual você deva se curvar, pois tudo é possível desde que você tenha o poder para tornar possível mesmo o que parece ser impossível.

SEXTO CONSELHO. Roubar merece um capítulo a parte. Você não pode chegar onde quer - o poder máximo, pelo maior tempo possível - sem roubar. Existem dois tipos de roubo e - muita atenção agora! - você deve se dedicar aos dois. Há o roubo cometido em seu próprio benefício, para melhorar a sua vida (e a vida da sua família) no curto prazo. E há o roubo cometido para fortalecer a sua gangue política em benefício da sua carreira no médio e no longo prazos. Os dois são muito importantes e estão quase sempre relacionados. Muitos políticos cometem um erro grave quanto a esse ponto: roubam para si mesmos mas esquecem de roubar para a sua gangue. Se você aspira o poder máximo, nunca deve cometer esse erro. Lembre-se: articular e manter uma gangue política é uma providência absolutamente necessária em qualquer circunstância.

SÉTIMO CONSELHO. O correto exercício do roubo exige alguns cuidados. O problema não é roubar. O problema não é, nem mesmo, não fazer bem feito o malfeito e se deixar apanhar. O problema é não ter a quem chantagear caso você seja apanhado cometendo um delito. Portanto, ao exercer as duas formas de roubo - a pessoal e a grupal - tome também as providências necessárias para não ser punido. A primeira providência é acionar a sua gangue (está vendo porque você precisa ter uma?) para que monitore os roubos dos outros atores políticos. Se você mantiver relatórios atualizados dos roubos alheios certamente conseguirá escapar quando quiserem pegá-lo. A segunda providência é se associar sempre aos roubos alheios, sobretudo aos roubos grupais dos que têm mais poder do que você. Tendo participado das suas iniciativas criminosas, você poderá assegurar que eles não vão traí-lo quando for conveniente (para eles). E você poderá exigir o seu apoio caso venha a ficar em uma situação difícil.

OITAVO CONSELHO. Dedique-se diuturnamente, lançando mão de todos os meios e por todas as formas, a aumentar a sua popularidade. Ou seja, invista 24 horas por dia em ações de marketing pessoal. Use sempre os outros, sobretudo os membros da sua gangue política, para atingir seus objetivos, mas não confie em ninguém quando o assunto for esse. Assim, tome especial cuidado com seus auxiliares mais graduados ou mais salientes. Mantenha-os sempre na sua sombra e não permita que eles cresçam e apareçam mais do que o necessário para promovê-lo (e não para se autopromoverem). De tempos em tempos você deve "fritar" a camada superior dos seus colaboradores e ceifar algumas cabeças que começarem a emergir. O segredo aqui é manter seu pessoal numa espécie de pântano. Quanto mais invisível for esse pântano, melhor para você. Você é a única flor de lótus que deve ser notada e admirada. Se você tiver popularidade, terá legitimidade para fazer qualquer coisa: poderá mudar de posição, trair, roubar e até mesmo matar e colocar toda a culpa em seus auxiliares (o pântano também serve para isso). Às vezes será necessário, para manter o pântano, proteger os seus auxiliares com o manto da impunidade (do contrário as pessoas não se arriscarão a assumir a culpa para livrá-lo de alguma sanção). Mas só você deve ter a condição de inimputabilidade para fazer isso, de sorte que as outras pessoas dependam inteiramente da sua boa vontade e, assim, fiquem totalmente nas suas mãos.

NONO CONSELHO. Adquira a capacidade de mentir sem corar. Minta, minta descaradamente sem qualquer pudor. Se, por exemplo, alguma investigação apontou a sua culpa em um determinado crime, declare sempre que todas as investigações provaram que você não tinha qualquer culpa. Não se preocupe com a coerência pois em política isso não vale para nada. Nem tenha problemas de consciência: quando o assunto é poder, o superego só atrapalha. Mas, sobretudo, adquira a capacidade de dizer exatamente o oposto do que você está pretendendo. Por exemplo, se você está trabalhando para desmoralizar uma instituição, declare publicamente que tal instituição é soberana e deve ser respeitada por todos. Se você está querendo ficar no poder contra as leis do seu país, diga que jamais aceitará ficar no poder, mesmo que o povo inteiro lhe peça isso em nome felicidade geral da nação. Mais ainda: aprenda a se antecipar às conseqüências das suas ações declarando sua intenção oculta para que ela pareça ser de outrem e não sua. Assim, você inoculará na opinião pública uma vacina contra a identificação do verdadeiro culpado. Então, por exemplo, se você está querendo desmoralizar um adversário, diga antes que fica muito chateado com os que cometem a baixeza de tentar atingir a honra de seus adversários. Essa é uma sabedoria sutil e suprema: aprenda a mentir com a verdade.

Você, caro jovem normal, que não tem vocação e pretensões políticas e que está assistindo diariamente, sem entender direito, o que se passa nas instituições políticas brasileiras, aqui vai o meu conselho. Tente adaptar, para a sua vida social e profissional, os nove conselhos que acabei de dar aos jovens atores políticos. Se, para eles - a quem caberá a tarefa de nos governar e legislar - não valem quaisquer princípios e regras de bom comportamento, por que deveriam valer para você?

Postado por Paulo R. de Almeida no blog Textos PRA, Sexta-feira, Setembro 14, 2007