A FORÇA AÉREA BRASILEIRA FOI TRANSFORMADA
EM “UBER”.
Autoridades planejaram 64 voos da FAB com no máximo
3 passageiros em 2019
Congresso em Foco, 29 jan, 2020
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) demitiu o secretário-executivo da Casa Civil, Vicente
Santini, por ter utilizado um voo da Força Aérea Brasileira (FAB) com somente
três passageiros para ir de Brasília à Suíça, e, em seguida, à Índia. Apesar de
legal, Bolsonaro afirmou que a ação foi "completamente imoral".
Caso isso vire praxe, o presidente terá problemas com outros de seus
ministros. De abril a dezembro, foram feitas pelo menos 64 viagens oficiais,
utilizando as aeronaves da FAB, com, no máximo, três passageiros previstos. Em
três desses deslocamentos, os voos foram para destinos internacionais, sem
previsão no decreto que regulamenta o tema.
Uma das viagens internacionais foi feita pelo ministro do Meio
Ambiente, Ricardo Salles, em 21 de maio. O périplo começou em Brasília, onde
pegou um avião às 15h15 para São Paulo. Em seguida, às 19h30, pegou outra
aeronave, dessa vez em direção à capital argentina, Buenos Aires, onde
participou da XXII Reunião de Ministros de Meio Ambiente do Mercosul. Dois dias
depois, retornou a Brasília. A previsão era de três passageiros para os quatro
trechos da viagem.
As informações disponíveis no portal de dados do governo não permitem
identificar quantas pessoas efetivamente embarcaram nas aeronaves, mas indica
quantos passageiros eram esperados para a viagem.
De acordo com a legislação, presidentes da Câmara, do Senado e do
Supremo Tribunal Federal (STF), pessoas com status de ministro de Estado e
comandantes das Forças Armadas têm direito ao benefício. As solicitações de
transporte podem ser feitas por motivo de segurança e emergência médica, em
viagens a serviço, e, no caso de presidentes de Poderes, deslocamentos para o
local de residência permanente.
Estados Unidos e Colômbia
Seis meses depois, em 18 de setembro, Salles embarcou novamente em avião
da FAB com destino ao exterior, dessa vez à capital norte-americana,
Washington, onde participou de uma série de compromissos com investidores e
jornalistas e, depois, seguiu para a Europa em voos comerciais.
Dessa vez, o primeiro trecho da viagem – de Brasília a Cartagena – foi
feito acompanhado do presidente do STF, ministro Dias Toffoli. O magistrado foi
à Colômbia participar do XXV Encontro Anual de Presidentes e Magistrados de
Tribunais, Cortes e Salas Constitucionais da América Latina.
Em seguida, Salles continuou a viagem no avião da FAB. De acordo com a
planilha da Defesa, a previsão era de três passageiros.
Outro que viajou para fora do país foi o Comandante da
Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro Bermudez. Ele foi da capital brasileira a
Rionegro, na Colômbia, em 12 de julho, onde participou no dia seguinte da
Cerimônia Alusiva aos 100 anos da Força Aérea Colombiana. A previsão era de
apenas três passageiros para os trechos de ida e volta.
Nesses noves meses disponíveis no sistema de dados do governo, cinco viagens
estavam previstas para serem feitas com somente um passageiro.
Em 5 de abril, por exemplo, estava agendado que o ministro da Economia,
Paulo Guedes, viajaria sozinho de São José dos Campos (SP) para o Rio de
Janeiro. O mesmo ocorreu no dia 17 daquele mês, com o ministro do Meio
Ambiente, Ricardo Salles, que foi de Belo Horizonte (MG) a São Luis (MA).
Outros que, segundo a planilha do governo, viajaram sozinhos nas
aeronaves da FAB o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações,
Marcos Pontes, de São Paulo a Brasília, em 23 de maio; o ministro-chefe da Secretaria
Geral da Presidência da República, Jorge Oliveira, de Curitiba (PR) à capital
federal, em 21 de setembro; e o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva,
de Brasília a Canoas (RS), em 17 de dezembro.
Salles lidera viagens
Das 64 viagens com no máximo três passageiros previstos, o ministro do
Meio Ambiente foi responsável por 25 delas. De acordo com a planilha, estava
previsto que Salles viajasse uma vez sozinho, dez vezes com um acompanhante e
14 vezes com outros dois passageiros.
Em seguida vem o ministro da Economia que teria feito uma viagem só,
duas acompanhado de mais uma pessoa e 12 com mais dois passageiros.
Há ainda viagens feitas pelos ministros da Justiça, da Agricultura, da
Casa Civil, do Desenvolvimento Regional, da Saúde, das Relações Exteriores, da
Controladoria-Geral da União, da Advocacia-Geral da União, além do comandante
da Aeronáutica, do comandante do Exército e do Chefe do Estado-Maior Conjunto
das Forças Armadas.
Procuradas, as assessorias de Salles e Guedes não haviam respondido aos
questionamentos da reportagem até a publicação deste texto.