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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

terça-feira, 7 de julho de 2015

Reflexoes sobre o Brasil feitas em viagem - Paulo Roberto de Almeida


Um legado de desunião
O que foi feito do Brasil e o que cabe fazer no Brasil

Paulo Roberto de Almeida

O Brasil de 2014 se apresentava como um país profundamente dividido quando ele começou a sentir os primeiros efeitos da crise autoconstruída que se manifestaria com especial acuidade em 2015. Mas o Brasil de 2013 também já tinha sido dividido, assim como o mesmo Brasil dos anos anteriores, recuando no tempo até treze anos atrás aproximadamente. Foi naquele momento que o país começou a ser formalmente dividido em categorias sociais distintas – retoricamente separado entre “eles” de um lado, “nós” do outro – numa caracterização totalmente artificial, mas que valia de discurso político em diferentes circunstâncias, não apenas nas conjunturas eleitorais.
Esse tipo de discurso, na verdade, vigorava desde antes de 2003, mas passou a ser exercido em toda a sua exuberância a partir desse ano, quando chegou ao poder o partido salvacionista, maquiavelicamente envelopado na falsa retórica da “esperança que venceu o medo”. O discurso da separação era tradicional no partido segregacionista, na agremiação da luta de classes, no movimento maniqueísta que pretendia o resgate da profunda desigualdade social que sempre dividiu o país desde tempos imemoriais.
O discurso da separação exibia certa legitimidade, já que tinha fundamento nos dados da realidade brasileira, mas nas fileiras do partido segregacionista o argumento era defendido com ódio, com despeito, com desejos de vingança, mas sobretudo com a decisão de integrar um projeto de poder. Assim foi feito, e o Brasil mudou. Mudou para melhor? Talvez, pelo menos no plano da distribuição de alguns benefícios monetários a contingentes consideráveis de brasileiros desfavorecidos, não necessariamente porque eles constituíssem um exército de necessitados absolutos, mas porque eram uma parte assessória, mas importante, do mesmo projeto de poder.
O Brasil chegou a 2015 menos dividido do que se esperava, uma vez que parte considerável da cidadania decidiu romper com a mística fraudulenta da separação dos brasileiros entre “nós” e “eles”, ainda que para isso tenham contribuído duas crises simultâneas: a econômica, derivada dos equívocos acumulados por uma gestão particularmente inepta dos assuntos econômicos, e a política, que dela emergiu por que a sociedade que despertou do pesadelo da fraude separatista levou lideranças políticas a divergirem do partido hegemônico, convertido em partido das minorias. O legado de desunião semeado durante anos pelo partido segregacionista ainda produz efeitos no país, mas já não tem o poder de paralisar a cidadania e de determinar a agenda política. Ele sempre foi incapaz de unir, mas escondia esse fato sob a coberta do resgate social, que lhe serviu durante anos como retórica de legitimidade política. Isso agora acabou.
O Brasil de 2015 tem de recompor seu discurso político, seu tecido social, e as bases de funcionamento da governança, a começar pela restauração dos fundamentos econômicos que o coloquem novamente no caminho do crescimento, depois do imenso descalabro provocado pela inépcia dos segregacionistas. Não será uma tarefa fácil, nem pelo lado da eliminação dos desequilíbrios e desajustes econômicos, nem pela correção dos fundamentos morais da governança política, profundamente abalada pela gigantesca fraude causada por um partido composto por dirigentes eticamente delinquentes, e que ainda têm contas a ajustar com a justiça, mas sobretudo com a história.
O que falta fazer no Brasil é a recuperação do sentido moral da atividade política e a restauração da crença cidadã numa governança responsável. Para que isso seja feito, os anões morais precisam ser afastados do poder e banidos da política, abrindo espaço a que novas lideranças possam reconstruir o país segundo princípios que já figuram em sua carta maior, mas que foram vilmente ignorados e vilipendiados pelos delinquentes políticos que assaltaram o poder treze anos atrás. Os brasileiros estão prontos para banir a retórica da desunião, o discurso da separação, o apelo ao ódio de classes sociais e as falsas divisões regionais. A quase totalidade da cidadania disso já se convenceu: ela vai dar o empurrão final na classe política para que esta cumpra o seu dever.
A longa travessia do deserto dos homens e mulheres de bem, dos cidadãos simplesmente sensatos, está próxima do final. Um último esforço e o Brasil vai conseguir superar o legado da desunião.
Assim espero...

Em voo, Atlanta-Brasília, 2839: 7 de julho de 2015, 2 p.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Trapalhadas automotivas dos companheiros: Japao contra Brasil na OMC

BRASIL – OMC

Denúncia do Japão contra política industrial do Brasil surpreende governo
Assis Moreira
Valor Econômico, 6/07/2015

A denúncia feita pelo Japão contra o Brasil na Organização Mundial do Comercio (OMC), atacando as bases da política industrial no governo Dilma Rousseff, na semana passada, "causou ondas" e mal estar em Brasília. A decisão de Tóquio de comprar briga com o Brasil foi recebida com surpresa, justamente quando as duas diplomacias preparam visitas de alto nível para reforçar as relações econômicas: o príncipe herdeiro Nahurito pode ir ao Brasil entre fim de outubro e início de novembro; e a presidente Dilma Rousseff tem planos de ir ao Japão em dezembro.
Visivelmente crente de que tem um caso para ganhar, o Japão resolveu ampliar a pressão contra a política industrial turbinada por exigência de conteúdo local, que é pessoalmente defendida por Dilma Rousseff, passando de "terceira parte" na disputa aberta pela União Europeia (UE) para protagonista de seu próprio caso na OMC contra o Brasil.
Se o governo tivesse negociado com os países, que não cessaram de reclamar em comitês da OMC antes de recorrer aos juízes da entidade, provavelmente teria garantido a essência do Inovar-Auto e dos outros programas e evitado esses contenciosos. No entanto, diante da rigidez do governo, os parceiros foram adiante. Fontes do governo, ainda atônitas, dizem que houve conversas com as montadoras para mostrar que não valia questionar o Brasil na OMC por causa do Inovar-Auto, já que elas seriam ganhadoras com o programa.
O Japão, assim como fez a UE, ataca 14 programas brasileiros no total, desde o Inovar-Auto até setores de informática, automação, inclusão digital e outros. É possível que forças internas no Japão tenham prevalecido sobre as montadoras, no mínimo para evitar que o exemplo brasileiro seja copiado por outros emergentes - o que não reduz o mal estar bilateral.
Tóquio acusa o Brasil de ter adotado uma série de medidas fiscais que seriam discriminatórias contra produtos estrangeiros, e de concessão de "ajuda proibida" aos exportadores nacionais.
Esse litígio ilustra como, na ausência da reforma tributária e outras, o custo Brasil pesa tão fortemente em toda a cadeia produtiva que o jeito é inventar remendos para dar alguma competitividade, como o Inovar-Auto. Só que era possível fazer isso sem atropelar frontalmente as regras internacionais e ficar exposto a sanções dos parceiros. A própria maneira de descrever as medidas adotadas tem peso. O Ministério da Fazenda, por exemplo, sob o controle de Guido Mantega, chegou a definir o Regime Especial de Aquisição de Bens de Capital para Empresas Exportadoras (Recap) como programa para beneficiar "predominantemente companhias exportadoras", o que já coloca o Brasil na defensiva diante dos parceiros.
O histórico de 20 anos mostra que Brasil sabia usar as regras internacionais para derrubar barreiras para seus exportadores e para defender seu mercado. Foi assim que ganhou a briga do aço e de autidumping contra os EUA, do frango contra Argentina e UE, do açúcar contra a UE. Agora, a expectativa é sobre até que ponto os negociadores vão conseguir reduzir o impacto da condenação na OMC.

Academia.edu: os trabalhos mais vistos e os mais descarregados - Paulo Roberto de Almeida

Apenas para registro, como sempre. Existe alguns que não são meus: um se refere ao depoimento de um funcionário, até aqui incógnito, sobre a roubalheira na Petrobras patrocinada pelos companheiros.
Também tem o Bumerán Chávez, um relato impressionante sobre os bolivarianos mafiosos. 
Ainda, material do Ministério Público sobre o maior escândalo de corrupção do Brasil, do planeta, do universo, e da Veja, sobre o mesmo assunto. Os companheiros são mesmo universais: eles roubam até o fundo da galáxia...
O resto parece que é meu, mas só parece: qualquer disputa de copyright, eu mesmo me processo nos tribunais...
Paulo Roberto de Almeida 


Trabalhos de Paulo Roberto de Almeida
Academia.edu: documentos mais vistos e mais descarregados

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Academia.edu: estatisticas de um mes ate 5 de julho de 2015 - trabalhos Paulo Roberto de Almeida

Apenas para registro, e visualização de quais trabalhos meus têm sido os mais visitados e descarregados na plataforma Academia.edu, tal como pesquisado nesta data no Analytics, visualização de documentos.
Nem todos são trabalhos meus. Bumeran Chávez, por exemplo, é um livro do ex-guarda-costas do traficante-chefe dos bolivarianos, o presidente da Assembleia (e ele mesmo ex-várias coisas do caudilho falecido). Tem também o documento do Ministério Público sobre o caso Lava Jato, o monumental esquema de corrupção, capitaneado pelos companheiros. O resto é meu, mas apenas até os documentos que tiveram pelo menos dez acessos nos últimos trinta dias. Existem dezenas de outros com acessos em menor volume.
Paulo Roberto de Almeida 


Academia.edu - Paulo Roberto de Almeida
Estatísticas dos últimos 30 dias (de 6/06 a 5/07/2015)
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Petrolao, corrupção, sinonimos dos petralhas e seu partido totalitario- revista Veja

Registrando para a história.
Paulo Roberto de Almeida
Revista Veja, domingo, 5 de julho de 2015



Os arquivos do delator

 As anotações e as planilhas que revelam como funcionava o esquema de corrupção que unia governo, políticos e empreiteiros no saque ao caixa da Petrobras

Robson Bonin – Veja 

O engenheiro Ricardo Pessoa, dono da construtora UTC, é famoso por sua grande capacidade de organização – característica imprescindível para alguém que exercia uma função vital no chamado "clube do bilhão".

Ele foi apontado pelos investigadores como o chefe do grupo que durante a última década operou o maior esquema de desvio de dinheiro público da história do país. O empreiteiro entregou à Justiça dezenas de planilhas com movimentações financeiras, manuscritos de reuniões e agendas que fazem do seu acordo de delação um dos mais contundentes e importantes da Operação Lava-Jato. O material constitui um verdadeiro inventário da corrupção. Em uma série de depoimentos aos investigadores do Ministério Público, Pessoa detalhou o que fez, viu e ouviu como personagem central do escândalo da Petrobras. Na seqüência, apresentou os documentos que, segundo ele, provam tudo o que disse.

VEJA teve acesso ao arquivo do empreiteiro. Um dos alvos é a campanha de Dilma de 2014 e seu tesoureiro, Edinho Silva, o atual ministro da Comunicação Social. Segundo o delator, ele doou 7,5 milhões de reais à campanha depois de ser convencido por Edinho Silva. "O senhor tem obras no governo e na Petrobras, então o senhor tem que contribuir. O senhor quer continuar tendo?", disse o tesoureiro em uma reunião. O empreiteiro contou que não interpretou como ameaça, mas como uma "persuasão bastante elegante". Na dúvida, "para evitar entraves" nos seus negócios com a Petrobras, decidiu colaborar para que o "sistema vigente" continuasse funcionando — um achaque educado. Mas há outro complicador para Edinho: quem apareceu em nome dele para fechar os detalhes da "doação", segundo Pessoa, foi Manoel de Araújo Sobrinho, o atual chefe de gabinete do ministro. Em plena atividade eleitoral, Manoel se apresentava aos empresários como funcionário da Presidência da República. Era outro recado elegante para que o alvo da "persuasão" soubesse com quem realmente estava falando.

Lula e a conta secreta no exterior
O documento reproduz a movimentação de uma conta secreta na Suíça aberta pelos empreiteiros para pagar propina. Segundo Ricardo Pessoa, foi dela que saíram 2,4 milhões de reais que reforçaram o caixa da campanha do ex-presidente Lula em 2006 — dinheiro desviado dos cofres da Petrobras que chegou ao Brasil em uma operação financeira totalmente clandestina e ilegal. O delator contou que a UTC, a lesa, a Queiroz Galvão e a Camargo Corrêa formavam o consórcio que venceu a licitação para construir três plataformas de petróleo. Como era regra na estatal, um porcentual do contrato era obrigatoriamente reservado para subornos. A conta foi criada para o "pagamento de comissionamentos devidos a agentes públicos em razão das obras da Petrobras, ou seja, o pagamento de propinas", disse Pessoa. Ela também ajuda a dificultar o rastreamento de corruptos e corruptores. Foi dessa fonte clandestina que saiu o dinheiro que ajudou Lula a se reeleger.

Para comprovar a existência da conta secreta, o empreiteiro apresentou ao Ministério Público extratos com as movimentações. Batizada de "Controle RJ 53 — US$", a planilha registra operações envolvendo 5 milhões de dólares em pagamentos de propina. Além de financiar o caixa dois de Lula, a conta suíça foi utilizada para pagar os operadores do PT na Petrobras. Entre as movimentações listadas pelo empreiteiro estão pagamentos ao ex-gerente de Serviços da Petrobras Pedro Barusco, um dos responsáveis pela coleta das propinas destinadas ao PT. Os repasses à campanha de Lula foram acertados entre Ricardo Pessoa e o então tesoureiro petista, José de Filippi. Era o próprio empreiteiro que levava os pacotes de dinheiro ao comitê da campanha em São Paulo. A entrega, como VEJA revelou em sua edição passada, era cercada de medidas de segurança típicas de organizações criminosas. Ao chegar à porta do comitê, o empreiteiro dizia a senha "tulipa". Se ele ouvia como resposta a palavra "caneco", seguia direto para a tesouraria. Se confirmados pela Justiça, os pagamentos via caixa dois são a primeira prova de que o ex-presidente Lula também foi beneficiado diretamente pelo petrolão.

A planilha do caixa dois
Em sua delação, Ricardo Pessoa disse que distribuir dinheiro para campanhas políticas fazia parte da estratégia de suas empresas para permitir "que a engrenagem andasse perfeitamente, tirando as pedras do caminho e abrindo portas no Congresso, na Câmara e em todos os órgãos públicos". Em 2010, segundo a planilha de doações apresentada ao Ministério Público pelo empreiteiro, algumas dessas pedras foram removidas com dinheiro do chamado caixa dois. Na lista aparece o nome de quinze candidatos que receberam recursos "por fora", sem registro oficial. O documento é dividido em três colunas: as doações "realizadas pela UTC", as doações "realizadas pela Constran" e "pedido". É justamente nessa última coluna que o delator anotou os repasses ilegais. Nela, constam como beneficiados o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e o senador do PSDB, Aloysio Nunes. O ministro, segundo o empreiteiro, recebeu 500 000 reais em doações oficiais (250000 da UTC e 250 000 da Constran) mais 250 000 reais em dinheiro vivo para a sua campanha ao governo de São Paulo. Já o senador recebeu 300 000 reais da UTC e 200000 reais em dinheiro vivo.

Tanto o senador quanto o ministro refutaram as acusações. Mercadante admite apenas ter recebido as doações legais. Aloysio Nunes também. Além do senador e do ministro da Casa Civil, destacam-se na relação do caixa dois da UTC o ex-ministro do PMDB Hélio Costa (250000 reais), que concorria ao governo de Minas Gerais, o ex-tesoureiro petista e atual secretário de Saúde da prefeitura de São Paulo, José de Filippi Júnior (150 000 reais), o ex-deputado do PR e mensaleiro Valdemar Costa Neto (200 000 reais), o líder do PP na Câmara Eduardo da Fonte (100 000 reais) e o deputado do DEM Jorge Tadeu Mudalen (200000 reais).

A "compra" da CPI e os partidos-laranja
Quando viajou a Brasília, no ano passado, para se reunir com o então líder do PTB no Senado, Gim Argello, Ricardo Pessoa estava assustado com a possibilidade de ser convocado para depor na CPI da Petrobras. Encarar os parlamentares no meio das investigações da Lava-Jato não era uma opção. Antes de aceitar pagar a Gim Argello alguns milhões de reais para impedir a sua convocação, Ricardo Pessoa quis ter a certeza de que o senador, como vice-presidente da comissão, teria mesmo condições de entregar o prometido. Deu-se o seguinte diálogo:

— Você garante que não vou ser convocado? — perguntou Pessoa.

— Garanto! — respondeu Gim.

— 100%? — insistiu Pessoa.

— 100% ninguém pode ser. É 90%! — prometeu Gim.

O acordo foi fechado em 5 milhões de reais. Para camuflar o suborno, o dinheiro foi repassado na forma de doações eleitorais aos diretórios de quatro partidos controlados pelo senador governista no Distrito Federal — PR, DEM, PRTB e PMN. O empreiteiro entregou aos investigadores uma planilha listando as operações. A CPI terminou sem apurar nada e sem importunar Ricardo Pessoa. O delator contou que também doou 150 000 reais à campanha do deputado Júlio Delgado com o mesmo objetivo. O pagamento, segundo ele, foi realizado por intermédio do presidente do PSB de Belo Horizonte. Júlio Delgado nega o acordo e garante que não recebeu nada.

A "conta-corrente" JVN
O dono da UTC entregou muito dinheiro em espécie nas mãos de João Vaccari Neto. Precisamente 3,9 milhões de "pixulecos" — como o ex-tesoureiro do PT chamava as propinas que recebia. Os detalhes estão na planilha identificada como "JVN-PT", na qual o empreiteiro registrou as datas e os valores de onze repasses feitos ao tesoureiro entre 2008 e 2013. Ricardo Pessoa contou aos investigadores que começou a pagar propina a Vaccari depois que a Petrobras iniciou uma série de grandes investimentos no setor de óleo e gás. "A partir daí (2007), todas as obras licitadas na Petrobras passaram a representar "motivo" para novas e grandes contribuições políticas ao PT e ao PP, partidos diretamente ligados às nomeações das diretorias", informou Pessoa. O delator fez ainda uma anotação de próprio punho que não deixa dúvida sobre a natureza do documento: "caixa 2". Ou seja, Vaccari mantinha um caixa dois dentro do caixa dois do PT.

A JVN-PT era a conta que o tesoureiro tinha na UTC para bancar suas despesas de varejo. Preso há quase três meses em Curitiba, João Vaccari, o Moch, referência à sua inseparável mochila preta, mantinha negócios escusos com vários empresários, mas com Ricardo Pessoa as relações beiravam a camaradagem. O empreiteiro contou que repassou 15 milhões de reais ao tesoureiro. O pagamento foi condição para que a UTC ingressasse no consórcio escolhido pela Petrobras para construir o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). Pessoa narrou aos investigadores que pagava propina ao PT "de modo contínuo", por meio de doações oficiais e também de repasses clandestinos. Era tanto dinheiro que o delator mantinha em seu computador uma planilha exclusiva para registrar o fluxo dos recursos. Dessa conta-propina também saíam os "pixulecos" para manter o luxo de alguns dirigentes do partido, como se verá a seguir.

Propina disfarçada de consultoria
O petista José Dirceu ganhou muito dinheiro. Desde que deixou a Casa Civil abatido pelo escândalo do mensalão, em 2005, o ex-ministro recebeu cerca de 39 milhões de reais oficialmente fazendo consultorias para o setor privado. As investigações da Operação Lava-Jato, no entanto, desvendaram a verdadeira natureza dos serviços do mensaleiro. Em sua delação premiada, o empreiteiro Ricardo Pessoa apresenta documentos que mostram que as consultorias nada mais eram do que fachada para o recebimento de dinheiro desviado da Petrobras. O dono da UTC contou aos investigadores que foi procurado pelo ex-ministro em meados de 2012. Dirceu, que exercia forte influência sobre os diretores da Petrobras, ofereceu ao empreiteiro os seus serviços de consultor. Assim como no caso do pedido de Edinho Silva, negar dinheiro a Dirceu poderia ser sinônimo de problemas. Melhor não arriscar. Afinal de contas, os negócios iam muito bem. O empreiteiro fechou um acordo para pagar 1,4 milhão de reais ao mensaleiro. O objeto do contrato: prospectar negócios no exterior.

A única coisa que José Dirceu prospectou foram aditivos ao contrato. Sem nenhum tipo de serviço prestado, o consultor conseguiu mais 906000 reais da UTC no ano seguinte. Quando a última parcela desse segundo contrato venceu, Dirceu já fazia parte da população carcerária do presídio da Papuda, em Brasília. Mas nem a prisão foi capaz de atrapalhar os negócios do ex-ministro. Ricardo Pessoa contou aos investigadores que, a pedido do próprio Dirceu, assinou um segundo aditivo, de 840000 reais. O contrato foi firmado quando o mensaleiro já estava no terceiro mês de prisão. "Apenas e tão somente em razão de se tratar de José Dirceu e da sua grande influência no PT é que, mesmo sabendo da impossibilidade de ele trabalhar no contrato firmado, porque estava preso, o aditamento foi feito e as parcelas continuaram a ser pagas", disse o dono da UTC aos procuradores. O mais impressionante: como a tabela acima comprova, metade do dinheiro pago pela UTC a Dirceu foi debitada com autorização de Vaccari da conta-corrente que a empreiteira administrava para o PT. Ou seja, o ex-ministro foi pago com propina da Petrobras.

O homem que fabricava dinheiro
Para não deixarem rastros, os criminosos evitam usar o sistema financeiro e recorrem a doleiros e operadores para produzir o combustível da corrupção: dinheiro vivo. Ricardo Pessoa tinha o seu fornecedor de dinheiro, o empresário Adir Assad, que está preso há quatro meses. A Polícia Federal já sabe que Assad utilizava suas empresas para "esfriar" dinheiro. Funcionava assim: a UTC simulava a contratação de Assad para justificar a saída de recursos do seu caixa. O empresário, por sua vez, emitia uma nota fiscal e recebia uma comissão pelo serviço que não existia. Pronto, o dinheiro podia ser entregue aos corruptos sem deixar pistas de sua origem. Ricardo Pessoa entregou uma planilha de quatro páginas que demonstra o volume de recursos envolvidos no petrolão. Entre 2007 e 2013, o "fabricante de dinheiro" entregou ao dono da UTC nada menos que 76,6 milhões de reais em dinheiro vivo. A bolada serviu para fazer doações clandestinas, pagar propinas e outras finalidades nada nobres. Apenas em 2008, ano de eleições municipais, Adir Assad "fabricou" 9,1 milhões de reais para a UTC. As notas fiscais fajutas foram emitidas em nome das empresas SM Terraplenagem e Rock Star. Em 2010, durante as eleições presidenciais, Assad entregou 15 milhões de reais ao empreiteiro. Nessa época, ainda não havia pagamento de propina disfarçado de doações oficiais.

Os achacadores (Fernando Collor, Edison Lobão e...)
Empreiteiro que depende do governo, Ricardo Pessoa era um alvo preferencial de políticos e partidos que criam dificuldades para vender facilidades. Como é uma pessoa metódica, os achaques estão detalhadamente descritos em suas agendas e os pagamentos, anotados em planilhas. É desse arquivo que sai a tabela "Controle de compromissos RJ/Norte", o documento que registra os 20 milhões de reais pagos ao senador Fernando Collor (PTB-AL) e a seu operador, o empresário Pedro Paulo Leoni Ramos. Acertada depois que Collor e seu grupo ajudaram o dono da UTC a fraudar uma licitação de 650 milhões de reais na BR Distribuidora, a propina começa a cair na "conta-corrente" de Collor e "PP", como Pedro Paulo é identificado no documento, em dezembro de 2010. A tabela mostra que os pagamentos mensais se estenderam até julho de 2012. "É bom esclarecer que o valor solicitado para que a UTC garantisse a vitória no contrato só foi aceito neste patamar levando-se em consideração quem estava por trás de Pedro Paulo", diz o documento em poder do Ministério Público.

Ricardo Pessoa descreve em detalhes outras situações de achaques oriundos de dois importantes quadros do governo da presidente Dilma Rousseff. Ele contou que, no ano passado, o então ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, recebeu 1 milhão de reais apenas para não criar obstáculos à UTC na obra de Angra 3. O mesmo procedimento foi adotado com Sergio Machado, então presidente da Transpetro, que recebeu 1 milhão de reais para manter-se sensível aos pleitos da empresa na Petrobras. A lista de aproveitadores é extensa.

As valiosas informações do TCU
Pagar por informações privilegiadas e influência em órgãos estratégicos era um dos estratagemas do empreiteiro para evitar "pedras no caminho" da UTC. Filho do atual presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Aroldo Cedraz, o advogado Tiago Cedraz foi pago para atuar nessa área. "Tiago foi contratado para buscar, de forma antecipada, informações no TCU sobre questões e temas em debate que interessassem à empresa", explicou Ricardo Pessoa. Ele contou que, graças ao prestígio do pai no TCU, Tiago transitava pelos gabinetes do tribunal com rara desenvoltura. Tinha condições, portanto, de antecipar resultados de processos e até sensibilizar colegas do pai sobre os interesses da UTC. Por um serviço tão especial, Tiago Cedraz foi muito bem remunerado, como mostra a relação de pagamentos entregue por Pessoa aos investigadores. Na tabela "Tiago — BSB" estão listadas nada menos do que 25 operações que, somadas, totalizam 2,2 milhões de reais. Só pelo lobby no TCU em defesa da UTC nos contratos de Angra 3, por exemplo, Tiago recebeu um prêmio de 1 milhão de reais em espécie. A bolada foi paga em 23 de janeiro de 2014 — uma parte entregue em Brasília e a outra retirada diretamente na sede da empresa, segundo Ricardo Pessoa. Sem nenhum contrato formal, Tiago Cedraz recebia mensalmente 50000 reais em dinheiro para obter "informações de inteligência" no TCU. O advogado confirma que trabalhou para a UTC, mas nega que tenha atuado na corte presidida pelo pai.

A conta "particular" do tesoureiro de Lula
O tesoureiro José de Filippi Júnior não usava seus talentos apenas para conseguir dinheiro para a campanha do ex-presidente Lula. Ele também se valia dos empreiteiros para faturar algum para si. Ricardo Pessoa entregou aos investigadores uma planilha de pagamentos realizados a Filippi Júnior. Os valores e as datas dos repasses estão registrados no arquivo "Filipi Diadema". Segundo o empreiteiro, além de 150 000 reais "por fora" dados a sua campanha para deputado federal em 2010, o tesoureiro recebeu 750 000 reais entre 2010 e 2014. Para não chamar atenção, ele mandava um taxista buscar os pacotes de dinheiro na sede da UTC. Os pagamentos eram previamente acertados por e-mail. Pessoa explicou por que a UTC deu dinheiro a Filippi: "José de Filippi Júnior era a conexão direta com João Vaccari, pessoa com alta influência na Petrobras e também junto aos candidatos à Presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff".