O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 30 de agosto de 2020

A diplomacia brasileira e o comércio internacional - Paulo Roberto de Almeida

A diplomacia brasileira e o comércio internacional


Paulo Roberto de Almeida
[ObjetivoPalestra online para estudantes de economia]
  
Sumário: 
1. O Brasil e o comércio exterior: características básicas em perspectiva histórica
2. As políticas comerciais brasileiras da era bilateral ao Gatt e aos blocos comerciais
3. Mercosul, Rodada Uruguai, Rodada Doha e os impasses atuais
4. O acordo Mercosul-UE e seu provável bloqueio temporário
5. Quais políticas comerciais para o Brasil e para o Mercosul? 

1. O Brasil e o comércio exterior: características básicas em perspectiva histórica
O Brasil sempre foi, continua sendo, atualmente, e provavelmente vai continuar sendo, no futuro previsível, um dos maiores países protecionistas do mundo, comprovadamente. Não só mediante tarifas altas, mas também todo um conjunto de medidas restritivas, introvertidas e dirigistas, ao longo da história. A partir dos anos 1970, depois de certa concentração em alguns poucos parceiros preferenciais, o Brasil diversificou suas exportações para um número expressivo de países, a despeito de ter uma pequena participação no comércio internacional, na faixa de 1% do comércio global. Até a era Lula, o comércio era relativamente bem equilibrado e repartido aos quintos para as grandes regiões do planeta. Neste século, a China avançou na sua participação e desde 2009 se tornou o primeiro, e de longe o principal, parceiro comercial, assim como o principal provedor de saldos comerciais, a despeito de uma assimetria profunda nos fluxos de parte e outra. 
Em 2018 e em 2019, o volume total de comércio com a China (incluindo HK e Macau) foi de 66 bilhões de dólares aproximadamente, ao passo que o comércio com os EUA foi de apenas 28 e 29 bilhões, ou seja, menos da metade, sendo que com os EUA o Brasil ostenta, desde muitos anos um déficit considerável, ao passo que com a China, o saldo favorável ao Brasil é de mais da metade do volume total. Nesses mesmos anos, o volume de comércio total com a União Europeia, foi reduzido de 42 a 35 bilhões de dólares, e o volume de comércio total com o Mercosul reduziu-se igualmente, de 20 para 14 bilhões de dólares, com saldo brasileiro, mas o grosso do volume é com a Argentina, também responsável pela queda. Canadá e México reunidos respondem por cerca de 8 bilhões de dólares de volume total de comércio, um pouco mais do montante dos países da Comunidade Andina de Nações. A Ásia no seu conjunto, excluindo o Oriente Médio, responde por cerca de 100 bilhões de dólares do comércio exterior brasileiro, que nesses dois anos referidos, ascendeu a 240 e a 225 bilhões de dólares. 

2. As políticas comerciais brasileiras da era bilateral ao Gatt e aos blocos comerciais
Descrevi todas as políticas comerciais brasileiras nestes livros: 
Formação da diplomacia econômica no Brasil: as relações econômicas internacionais no Império (3ª edição; Brasília: Funag, 2017; 2 volumes; 964 p.; ISBN: 978-85-7631-675-6); Relações internacionais e política externa do Brasil: a diplomacia brasileira no contexto da globalização (Rio de Janeiro: LTC, 2012, 309 p.; ISBN 978-85-216-2001-3); O Brasil e o multilateralismo econômico (Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, na coleção “Direito e Comércio Internacional”, 1999, 328 p.; ISBN: 85-7348-093-9).

3. Mercosul, Rodada Uruguai, Rodada Doha e os impasses atuais
Tenho diversos ensaios sobre essas questões, assim como nestes livros: 
O Mercosul no contexto regional e internacional (São Paulo: Edições Aduaneiras, 1993, 204 p.; ISBN: 85-7129-098-9); Mercosul: Fundamentos e Perspectivas (São Paulo: Editora LTr, 1998, 160 p.; ISBN: 85-7322-548-3).
Existem muitos outros textos neste link de Academia.edu: 
e mais recentemente neste ensaio: 

4. O acordo Mercosul-UE e seu provável bloqueio temporário
Uma única observação: dificilmente esse acordo vai entrar em vigor durante a presidência Bolsonaro, basicamente em função da obra destruidora no meio ambiente, ataques a líderes estrangeiros, a jornalistas, e desrespeito em matéria de liberdades democráticas e de direitos humanos.

5. Quais políticas comerciais para o Brasil e para o Mercosul? 
Desafio da China, que se tornou o primeiro parceiro comercial da Argentina, como já é de diversos outros países latino-americanos. Ou seja, a Argentina sai, pela primeira vez em mais de 30 anos, da chamada “Brasil dependência” que dominou o cenário comercial no Cone Sul desde o nascimento do Mercosul. Nas condições atuais de falta de diálogo entre as administrações do Brasil e da Argentina parecem existir poucas possibilidade de se discutir seriamente as grandes linhas das reformas no Mercosul – na sua TEC, na agenda regulatória – com o objetivo de enveredar por políticas de abertura econômica e de liberalização comercial dentro do bloco e com todos os demais parceiros. 
Política comercial americana: a exacerbação do protecionismo, do mercantilismo, das ilegalidades unilaterais americanas. Trump cometeu arbitrariedades contra o sistema multilateral de comércio, contra a própria economia americana: denúncia do TPP, abandono de um acordo transatlântico com a UE, denúncia do NAFTA e de outros acordos de livre comércio; aplicação abusiva e ilegal de salvaguardas comercial, contra a China, contra os próprios parceiros do NAFTA, e terceiros países (como o Brasil), não apenas em aço e alumínio, mas em uma série de outros produtos também, a pretexto de “segurança nacional”, o que é uma mentira. Revisão do Nafta e acordos bilaterais com o México e Canadá, e adoção de cláusulas de emprego nos EUA, o que vai redundar em custos maiores para as indústrias e os consumidores americanos.
Relação comercial com os EUA: Subserviência geral aos EUA, fez o Brasil abandonar o status de economia de país em desenvolvimento, com benefícios da cláusula de tratamento preferencial e mais favorável (SGP, etc.); ilusão do apoio americano para o ingresso na OCDE (que foi traído logo em seguida, e apenas revertido por causa das eleições argentinas, que colocaram um peronista novamente no poder); acordos em aço foram traídos, igualmente; a nota do Itamaraty e da Economia de 29/08 aceitando as novas reduções (cotas), é vergonhosa, por apoiar as medidas unilaterais dos EUA, e desejar restabelecimento da economia do aço nos EUA (nota sobre expropriação da Petrobras na Bolívia, em 2006); a postura do Brasil não poderia ser mais servil, mas é uma consequência da aceitação já feita, explicitamente, de sanções unilaterais. 
Quanto ao Mercosul, não parecem existir condições, no momento, sequer para uma retomada das consultas internas com vistas à reforma da TEC, finalização do livre comércio (açúcar e automóveis), acabamento da União Aduaneira, e sobretudo novas iniciativas de acordos comerciais. Não existe sequer perspectiva de entrada em vigor do Acordo entre o Mercosul e a União Europeia, mas isto exclusivamente em virtude das atitudes do presidente com respeito ao meio ambiente. 

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 3743, 28-30 de agosto de 2020

O Boom do Cronista Misterioso - Crônicas do Itamaraty Bolsolavista

Poucas vezes na história deste modesto blog puramente pessoal, dedicado a coisas inteligentes para pessoas inteligentes, assisti um fenômeno de afluxos maciços a postagens relativas a um assunto normalmente marginal: a vida inteligente (sob pressão) no Itamaraty.
O gráfico abaixo reflete o acesso exponencial das postagens que fiz com transcrições de pequenos petardos semanais a respeito do ambiente esquizofrênico (existe algum termo mais apropriado?) existente atualmente no Itamaraty.



Continuo aguardando a remessa de novas crônicas, com a recepção que cada um conseguir: deleite ou depressão.
Transcrevo abaixo os links para cada uma das treze crônicas recebidas entre 20 e 21 de agosto, assim como para a brochura que compus na sequência: 


As "crônicas:  são estas: 

01) O papel do asno na sociedade brasileira (semana 01)
02) Gusmão rendido  (semana 02)
03) Pela restauração! (semana 03)
04) Franjas lunáticas (semana 4)
05) O Anti-Barão (semana 05)
06) Alienáveis alienígenas (semana 06)
07) Nobel (semana 07)
08) Sussurram os Corredores (semana 08)
08bis) Bolo de Laranja Lima (semana 08-bis)
09) Meu caro amigo (semana 09)
10) Aos fatos (semana 10)
11) Kejserens nye Klæder (semana 11) [As Roupas Novas do Rei]
12) A Era do Rádio (semana 12)

Minha postagem geral: 

3737. “Crônicas do Itamaraty bolsolavista”, Brasília, 21 agosto 2020, 17 p. Consolidação das crônicas de um diplomata desconhecido sobre o Itamaraty atual, com minha Introdução geral e as introduções parciais a cada uma das crônicas. Feita postagem resumo no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/08/um-cronista-misterioso-anima.html) e postagem em arquivo pdf na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/43909791/Cronicas_do_Itamaraty_bolsolavista_Cronista_misterioso_2020_). Estatísticas de acesso às postagens nas duas plataformas, postadas (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/08/o-cronista-misterioso-do-itamaraty-teve.html).

Postagens:

Aguardem, vem mais por aí...

Cultura e barbárie no Terceiro Reich - José Cabrita Saraiva

Cultura e barbárie no Terceiro Reich

José Cabrita Saraiva
jose.c.saraiva@sol.pt

https://sol.sapo.pt/artigo/706956

Quando o Presidente Paul von Hindenburg apontou Hitler como chanceler, a 30 de janeiro de 1933, de imediato o aparelho nazi pôs em marcha um plano para imprimir os seus preceitos e valores em todas as dimensões da vida alemã. «As revoluções nunca se limitaram à esfera puramente política», defenderia Joseph Goebbels, o infame ministro da Propaganda, em novembro desse ano. «Estendem-se a todas as áreas da existência social humana. A economia e a cultura, a academia e as artes, não estão ao abrigo do seu impacto».
Não por acaso, algumas das primeiras medidas postas em prática visaram aquilo a que os nacional-socialistas chamavam ‘bolchevismo cultural’. Por um lado, porque o novo poder acreditava que estas criações transmitiam valores errados ao povo alemão, e assim inquinavam a pureza da alma germânica; por outro lado, porque era aí que se concentravam, além de judeus ou de bolchevistas propriamente ditos, muitos pacifistas, socialistas e figuras independentes, que jamais se identificariam com o novo regime.
Logo em 1933 foi levada a cabo uma «purga enorme dos artistas judeus, abstratos, semiabstratos e de esquerda, aliás, de quase todos os artistas alemães com fama internacional», escreve Richard J. Evans em O Terceiro Reich no Poder, recentemente editado em Portugal pelas Edições 70. Artistas como Oscar Kokoschka, Vassily Kandinsky ou Paul Klee, com as suas distorções e o seu compromisso com a liberdade, eram encarados como uma influência perniciosa para a sociedade.
Hitler e Goebbels tinham as suas próprias conceções acerca da vida cultural e não iam permitir que um grupo de «charlatães» e «incompetentes» – como o Führer chamava aos artistas que não lhe agradavam – comprometessem os seus objetivos. Com um misto de dura repressão e generosos incentivos, foi promovida uma estratégia concertada que atingiu os jornais, a rádio, o cinema, a música e a literatura, as artes plásticas, os museus e galerias. Na segunda parte – ‘A Mobilização do Espírito’ – deste segundo volume da sua trilogia, hoje considerada a grande obra de referência sobre o nazismo, Evans faz uma síntese magistral da vida cultural e espiritual na Alemanha no tempo de Hitler.
‘Uma guerra de limpeza implacável’
A dimensão estética do movimento nazi foi notória desde o início, com a sua aposta em símbolos impactantes, como a suástica, e os seus impressionantes desfiles noturnos à luz dos archotes. Com a chegada ao poder, esse aspeto acentuou-se e foi afinado. Heinrich Himmler, por exemplo, quando tinha sob a sua alçada toda a Polícia alemã, definiu ao pormenor como deviam ser as fardas dos guardas.
Hitler tinha especiais pretensões a esse nível. Afinal, ele próprio se dedicara à pintura durante a juventude – e há mesmo quem o veja como um artista frustrado, o que não andará longe da verdade. Depois de lhe ser recusado o ingresso na Academia de Belas Artes de Viena, sobreviveu, no limiar da miséria, como pintor de postais e de pequenos quadros de paisagens naturais ou edifícios antigos, que, embora não convençam os críticos, revelam alguém não completamente destituído de dotes.
Não será abusivo supor que o fracasso como artista lhe suscitou um inultrapassável ressentimento contra esta classe. Logo no famoso discurso do Grande Comício de Nuremberga, em setembro de 1933, «Hitler proclama que era chegada a altura de uma nova arte, de uma arte alemã», nota Richard J. Evans. Infelizmente, ao contrário da maioria dos políticos, Hitler cumpriu muitas das suas promessas, e tinha ao seu serviço uma máquina terrivelmente eficaz para as levar a cabo.
A célebre exposição de ‘arte degenerada’ (‘Entartete Kunst’), que abriu portas a 19 de julho de 1937 em Munique, foi o culminar de um processo de perseguição e difamação da arte moderna que conhecera muitos episódios anteriores. Diretores de museus e de galerias afetos ao partido nazi já haviam organizado mostras semelhantes, mas de menor dimensão e mediatismo, com títulos agressivos como ‘Câmara dos Horrores Artísticos’ ou ‘Espelhos da Decadência na Arte’.
Em Munique, as cerca de 650 obras confiscadas para o efeito foram selecionadas por diferentes motivos: umas por serem «borrões» mal executados; outras por terem sido criadas por artistas judeus; outras sob a acusação de serem pornográficas; outras ainda por atentarem contra Deus. Mas, no fundo, talvez o que mais incomodasse os responsáveis nazis fosse a forma como os artistas se estavam nas tintas para a tradição, desrespeitavam as convenções e desafiavam a autoridade. Por outras palavras, jogavam pelas suas próprias regras.
Hitler visitou a exposição antes de esta abrir ao público e emitiu uma opinião muito clara. Num discurso que teve lugar na véspera da inauguração declarou: «Travaremos uma guerra de limpeza implacável contra os últimos elementos de subversão da nossa cultura […]. No que nos diz respeito, estes pré-históricos e antediluvianos da Idade da Pedra e estes gagos da arte podem regressar às suas cavernas ancestrais para lá continuarem com os seus rabiscos».
A publicidade, ainda que negativa, teve efeitos espetaculares. «O aviso de que as crianças e adolescentes não podiam entrar porque as obras eram demasiado chocantes acrescentou um elemento de excitação que atraiu o público», nota Evans. A exposição de arte degenerada saldou-se por um sucesso estrondoso, com mais de dois milhões de visitantes em Munique e perto de três milhões quando a digressão que se seguiu chegou ao fim.
Uns queriam ver a ‘arte proibida’ porque a apreciavam e sabiam que tão cedo não teriam outra oportunidade para ver reunidas obras de mestres como Paul Klee, Henri Matisse ou Pablo Picasso; outros queriam apenas mostrar o seu desprezo pelos subversivos. Alguns chegaram a enviar telegramas para o Ministério da Propaganda a mostrar a sua indignação. Evans transcreve um desses comentários: «Os pintores deviam ter sido amarrados ao lado dos seus quadros para que todos os alemães lhes cuspissem na cara». Qualquer semelhança com a Revolução Cultural chinesa, que ocorreria três décadas depois, não será mera coincidência.
‘Vocês estão todos malucos’
Paralelamente à dos artistas proscritos, foi organizada uma outra exposição, para mostrar aqueles que mereciam ser apreciados. O título dizia tudo – Grande Exposição de Arte Alemã. Com pinturas e esculturas que veiculavam os valores ortodoxos defendidos pelo Estado, era o equivalente do que representava o Salon de Paris na França dos séculos XVII, XVIII e XIX.
Alguns artistas eram generosamente recompensados, como Arno Breker, o escultor favorito de Hitler, autor das duas enormes estátuas que ladeavam a entrada da chancelaria, e de monumentos espalhados por todo o território alemão. Outros viam as suas obras serem confiscadas, ridicularizadas ou mesmo queimadas em grandes piras que faziam lembrar as queimas de livros.
Mas a grande paixão de Hitler, que realmente o arrebatava, era a arquitetura. Talvez mais ainda do que um pintor frustrado, o Führer seria um arquiteto frustrado, como aliás confidenciou a Albert Speer, o arquiteto com quem passava horas e horas a discutir os seus planos megalómanos para Berlim – tão ambiciosos, de resto, que a transformariam numa nova cidade, Germania. «Todas as grandes eras encontram a expressão conclusiva dos seus valores nos seus edifícios», defendia.
«Em Munique, foram lançados os alicerces de uma gigantesca estação de comboios central destinada a ser a maior estrutura de aço do mundo, com uma cúpula mais alta do que os campanários gémeos do marco arquitetónico da cidade, a Frauenkirche», escreve Evans. «Outras cidades também seriam transformadas em enormes afirmações pétreas do poder e da permanência do Terceiro Reich. Hamburgo seria ornamentada com um arranha-céus – a nova sede regional do Partido Nazi – mais alto do que o Empire State Building em Nova York e encimado por uma enorme suástica de néon que serviria de farol para a navegação». A nova chancelaria tinha uma galeria que Hitler dizia com orgulho ter o dobro do comprimento da Sala dos Espelhos, em Versalhes. Por essas e por outras, quando Speer mostrou os novos projetos ao seu pai, este comentou: «Vocês estão todos malucos». Possivelmente não sabia como estava perto da verdade.
‘Algo positivamente inumano’
Para levar a cabo os planos do seu líder – que previa que as obras tivessem mudado a face de Berlim já na década de 50 – a Alemanha precisava de recursos que o seu território não poderia fornecer. Os sonhos megalómanos de Hitler acicataram a sede de conquistas do Terceiro Reich, mergulhando a Europa numa explosão de violência e destruição. A energia libertada pela eleição de Hitler acabaria por revelar-se fatídica a vários níveis.
No final do conflito, em 1945, a Alemanha ver-se-ia reduzida a escombros. Em cidades como Dresden ou Colónia pérolas da arquitetura do passado foram obliteradas pelos bombardeamentos dos Aliados. E os grandes edifícios públicos de Berlim não tiveram melhor sorte. As esculturas colossais de Arno Breker, que deviam transmitir virtudes viris de força, coragem e combatividade, acabaram derrubadas com facilidade. A arquitetura sólida da chancelaria nada poderia contra o poder do Exército Vermelho. Os projetos de Speer para a capital Germania, como a sua torre mais alta que o Empire State Building, não passariam nunca de um devaneio destinado a sobreviver apenas na escala miniatural de maquetes. E, ironia maior, acabariam por ser os soviéticos a ajudar a reconstruir muitos edifícios históricos transformados pelo excesso de ambição de Hitler em ruínas fumegantes.
No final, as políticas nacional-socialistas para a cultura não apenas tinham afunilado e mutilado a vida espiritual da Alemanha, como aquilo que pretendiam ser uma arte mais pura, edificante e elevada se desmoronou com estrondo.
Mas o Terceiro Reich, que tanta importância atribuía à dimensão estética, revelaria uma face ainda mais horrenda: a dos campos de concentração, onde milhões de seres humanos foram progressivamente explorados até se tornarem pouco mais do que almas penadas de pele e osso, e na maior parte dos casos literalmente reduzidos a cinzas nos crematórios.
Ainda hoje é estranho como estas imagens de puro horror não se tornaram insuportáveis para a sensibilidade de Hitler, o arquiteto frustrado que se dedicara à pintura na juventude; de Goering, que gostava de se rodear de belos objetos confiscados no seu pavilhão de caça; de Goebbels, que ficava chocado com a arte degenerada mas não com o sofrimento alheio; e de Heinrich Himmler, o arquiteto da Solução Final, que tivera uma educação esmerada da classe média culta.
William Shirer, um correspondente norte-americano (e autor do clássico The Rise and Fall of the Third Reich) que presenciou o Grande Comício de Nuremberga em 1934, a que assistiram 700 mil apoiantes, ficou «um pouco chocado com os rostos em especial das mulheres olhavam para ele como se fosse um messias, com as caras transformadas em algo positivamente inumano». No fundo, assim haveria de revelar-se o verdadeiro rosto do Terceiro Reich quando lhe caiu a máscara: distorcido, chocante e inumano.

sábado, 29 de agosto de 2020

Metropolitan Museum of NY is BACK: happy New Yorkers and visitors

Mas, vistas online são sempre possíveis...

Paulo Roberto de Almeida


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Welcome back!The Met Fifth Avenue opens today.
On April 13, 1870, The Metropolitan Museum of Art was founded. It had no building and not a single work of art, but it did have a mission: to expand the cultural landscape of New York City.

Now, after an unprecedented five-month closure, our doors are open. To protect our staff and our visitors, we have worked closely with state, city, and public health leaders to develop comprehensive social-distancing measures. Use our website to easily purchase or reserve timed tickets for your visit.

We look forward to seeing you in the galleries, where 5,000 years of art and creativity—on view across our two-million-square-foot building—can once again provide solace, inspiration, and joy. 
New exhibitions
Making The Met, 1870–2020
August 29, 2020–January 3, 2021
The Met Fifth Avenue
The signature exhibition of The Met's 150th-anniversary year takes visitors on an immersive, thought-provoking journey through the history of one of the world's preeminent cultural institutions. Making The Met, 1870–2020 features more than 250 superlative works of art of nearly every type, from visitor favorites to fragile treasures that can only be displayed from time to time. Organized around transformational moments in the evolution of the Museum's collection, buildings, and ambitions, the exhibition reveals the visionary figures and cultural forces that propelled The Met in new directions since its founding. Rarely seen archival photographs, engaging digital features, and stories of both behind-the-scenes work and the Museum's community outreach enhance this unique experience.
The Roof Garden Commission: Héctor Zamora, Lattice Detour
August 29–December 7, 2020
The Met Fifth Avenue
Mexican artist Héctor Zamora (born 1974) has created a site-specific work for The Met's Iris and B. Gerald Cantor Roof Garden. For The Roof Garden Commission: Héctor Zamora, Lattice Detour, the artist invites us to reconsider the panoramic view of the surrounding Manhattan skyline and the implications of obstruction and permeability within a social space by utilizing one of the defining symbols of our time: the wall.

Jacob Lawrence: The American Struggle
August 29–November 1, 2020
The Met Fifth Avenue
Jacob Lawrence: The American Struggle will present a striking and little-known series of paintings by the esteemed American modernist Jacob Lawrence titled Struggle: From the History of the American People (1954–56). The exhibition marks the first time in more than half a century that the powerful multi-paneled series is being reunited. The series reveals the artist's prescient visual reckoning with the nation's complex history through iconic and folkloric narratives.

See all current exhibitions →
The Met's New Safety Guidelines
The Met is delighted to welcome visitors back to the museum! Watch this video to learn about our new safety guidelines.

Entry to the Museum will be by timed ticket or reservation only and capacity will be limited. See the visitor guidelines page for more information on reserving or buying tickets in advance.
Buy or reserve your tickets now →
The Met Fifth Avenue New Public Hours
From The Met Store
The Met
Fifth Avenue


1000 Fifth Avenue
New York, NY 10028
The Met
Cloisters


99 Margaret Corbin Drive
Fort Tryon Park
New York, NY 10040
metmuseum.org


sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Trump’s difficult legacy - Jean Pisani Ferry

Trump’s International Economic Legacy
If US President Donald Trump loses November’s election, he will most likely leave an insignificant imprint on some parts of the global economic system. But in several others – especially US-China relations – his term in office may well come to be seen as a major turning point.
Jean Pisani-Ferry
Straits Times, Singapura – 28.8.2020

Paris -  It would be foolish to start celebrating the end of US President Donald Trump’s administration, but it is not too soon to ponder the impact he will have left on the international economic system if his Democratic challenger, Joe Biden, wins November’s election. In some areas, a one-term Trump presidency would most likely leave an insignificant mark, which Biden could easily erase. But in several others, the last four years may well come to be seen as a watershed. Moreover, the long shadow of Trump’s international behavior will weigh on his eventual successor.
On climate change, Trump’s dismal legacy would be quickly wiped out.Biden has pledged to rejoin the 2015 Parisclimate agreement “on day one” of his administration, achieve climate neutrality by 2050, and lead a global coalition against the climate threat. If this happens, Trump’s noisy denial of scientific evidence will be remembered as a minor blip.
In a surprisingly large number of domains, Trump has done little or has behaved too erratically to leave an imprint. Global financial regulation has not changed fundamentally during his term, and his administration has flip-flopped regarding the fight against tax havens. The International Monetary Fund and the World Bank have carried on working more or less smoothly, and Trump’s furious tweeting did not prevent the US Federal Reserve from continuing to act responsibly, including by providing dollar liquidity to key international partners during the COVID-19 crisis. True, Trump has repeatedly spoiled international summits, leaving his fellow leaders flummoxed. But such behavior has been more embarrassing than consequential.
But, Trump will be remembered for his trade initiatives. Although it has always been difficult to determine the real aims of an administration beset by infighting, three key goals now stand out: reshoring of manufacturing, an overhaul of the World Trade Organization, and economic decoupling from China. Each objective is likely to outlast Trump’s tenure, at least in part.
Reshoring looked like a costly fantasy four years ago, and it still is in many respectsAs my Peterson Institute colleague Chad Bown has documented, Trump’s chaotic trade war with the world has often hurt US economic interests. But reshoring as a policy objective has gained new life after the pandemic exposed the vulnerability entailed by depending exclusively on global sourcing. Biden has endorsed the idea, and “economic sovereignty” – whatever that means – is now a near-universal new mantra.
US Trade Representative Robert Lighthizer claims that a “reset” of the WTO has been a high priority for the administration. If so, it has made some headway. The other G7 countries now share the long-standing US dissatisfaction with the WTO’s leniency toward China’s government subsidies and weak intellectual-property protection. There is also a recognition that some US grievances against WTO dispute-settlement procedures (and in particular the so-called Appellate Body) are valid. But whether the battle ends with a reset or the deconstruction of the multilateral trading system remains to be seen.
The major watershed is US-China relations. Although bilateral tensions were apparent before Trump’s election in 2016, nobody spoke of a “decoupling” of two countries that had become tightly integrated economically and financially. Four years later, decoupling has begun on several fronts, from technology to trade and investment. Nowadays, US Republicans and Democrats alike view bilateral economic ties through a geopolitical lens.
It is not clear whether Trump merely precipitated a rupture that was already in the making. He is not responsible for Chinese President Xi Jinping’s authoritarian assertiveness, and he did not devise the Belt and Road Initiative, China’s massive transnational infrastructure and credit program. But it was Trump who ditched his predecessor Barack Obama’s carefully balanced China strategy in favor of a brutally adversarial stance that left no scope for events to take a different course. Whatever the cause of decoupling, there won’t be a return to the status quo.
A Biden administration would also not find it easy to achieve its goal of restoring ties with US allies, like-minded democracies, and partners around the world. Until Trump’s presidency, much of the world had become accustomed to regarding the US as the main architect of the international economic system. As Adam Posen, also of the Peterson Institute, has argued, the US was a sort of chair-for-life of a global club whose rules it had largely conceived, but still had to abide by. The US could collect dues, but was also bound by duties, and had to forge a consensus on amendments to the rules.
Trump’s trademark has been to reject this approach and treat all other countries as competitors, rivals, or enemies, his overriding objective being to maximize the rent that the US can extract from its still-dominant economic position. “America First” epitomizes his explicit promotion of a narrow definition of the national interest.
Even if the US under Biden were willing to make credible international commitments again, its outlook may change lastingly. The former Trump adviser Nadia Schadlow recently argued that Trump’s tenure will be remembered as the moment when the world pivoted away from a unipolar paradigm to one of great-power competition.
It is by no means obvious that if Biden wins, he will be able to restore the trust of America’s international partners. For all its aberrations, Trump’s presidency may indicate a deeper US reaction to the shift in global economic power, and reflect the American public’s rejection of the foreign responsibilities their country assumed for three-quarters of a century. The old belief among US allies and economic partners that Americans will “ultimately do the right thing,” as Winston Churchill reputedly said, may be gone.
In any event, Trump’s peculiar behavior has made it easy for America’s allies to postpone hard choices. That seems particularly true of Europe. A Biden-led US might seem like a familiar partner to most European leaders. But if it asked them to take sides in the confrontation with China, Europe would no longer be able to put off its own moment of decision.

Jean Pisani-Ferry, a senior fellow at Brussels-based think tank Bruegel and a senior non-resident fellow at the Peterson Institute for International Economics, holds the Tommaso Padoa-Schioppa chair at the European University Institute.

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

O Brasil é a Argentina amanhã? Assim parece... - Joaquín Morales Solá

El adiós a los moderados
Joaquín Morales Solá
La Nación, Buenos Aires – 27.8.2020

¿Cómo saber cuándo terminó una era? ¿Cómo, cuando otra era comenzó? Tal vez debamos detenernos en el lunes 17 de agosto para fijar una fecha en la que el Presidente les dijo adiós a los moderados. Incluso, a los peronistas moderados que habían confiado en él y que esperaban que prevaleciera sobre el proyecto cristinista. Estos peronistas no son mansos; son pragmáticos. Saben que de la mano de la expresidenta caminan hacia una probable derrota electoral y, otra vez, hacia la eventual pérdida del poderNadie sabe por qué, pero Alberto Fernández se aferró a su vicepresidenta, a sus métodos y a sus ideas. Sin embargo, lo hizo para sorpresa de hasta muchos argentinos que votaron por él creyendo que era distinto de su mentora. El Presidente llegó a tener, al principio de la cuarentena, índices de valoración del 80 por ciento. Aunque bajó de tales niveles hace mucho tiempo, lo cierto es que no se llega a esos picos sin haber conquistado hasta muchos que votaron por Mauricio Macri. A ellos también les acaba de decir adiós.
Veamos la cronología a partir de ese lunes de multitudinarias manifestaciones opositoras, que enojaron más de lo que aceptan a casi todo los que mandan. El martes 18, Cristina Kirchner apuró en el Senado la aprobación en comisiones del proyecto de reforma judicial con una cláusula nueva (de la que se hizo cargo Oscar Parrilli, el viejo portavoz de la expresidenta), que obliga a los jueces a denunciar al "poder mediático". La oposición no pudo leer el texto definitivo antes de la aprobación en comisiones. El Presidente consideró ese hecho como "ocioso". Es decir, lo dejó pasar. En la noche del viernes 21, Alberto Fernández firmó un decreto de necesidad y urgencia por el que declaró "servicio público" a la provisión de internet, telefonía celular y televisión por cable. Al mismo tiempo, congeló los precios hasta el 31 de diciembre. El domingo 23, denostó al expresidente Mauricio Macri y reveló supuestos contenidos de conversaciones privadas entre ellos. Fue algo inédito, aun en una política tan disparatada como la argentina. En esa política inverosímil, se acaba de ver a un expresidente, Eduardo Duhalde, ir a un estudio de televisión, sentarse con cierto desparpajo, cruzar las piernas y pronosticar un golpe de Estado como quien anticipa la próxima medición de la inflaciónLos golpes de Estado son parte del pasado, no del futuro ni del presente del país. Pero el peronismo habita en el pasado siempre que está en el poder.
La cláusula Parrilli no es ociosa; es vaga. En la vaguedad se esconde el peligro. Según esa modificación de Parrilli al proyecto de reforma judicial, los jueces estarán obligados a denunciar ante el Consejo de la Magistratura la presión de varios actores de la vida pública, incluido el "poder mediático". ¿Qué significa presión del "poder mediático"? ¿Acaso que un diario, un canal, una radio, un medio o un periodista informen sobre los avances de una investigación de corrupción de funcionarios públicos?¿O que un periodista o un medio critiquen la gestión de un juez sobre determinada causa o sobre varias causas? ¿Qué hará el Consejo de la Magistratura luego? ¿Denunciará penalmente al medio o al periodista o a los dos juntos? Posiblemente ninguna causa de esta naturaleza tenga destino, pero ya que un periodista deba presentarse cinco, diez o quince veces en los tribunales es una condena por sí misma. Están buscando la autocensura del periodismo, que es la manera más eficaz de llegar a la censura. La batalla por la libertad parecía terminada en el país, pero aquí ninguna guerra termina nunca.
En ese contexto, apareció de pronto el guillermomorenismo en la economía. El DNU de Alberto Fernández sobre internet, telefonía celular y televisión por cable vuelve a colocar al Estado dentro de las empresas privadas; hurgará en la cadena de costos y establecerá luego las tarifas. Esto es: el Estado será el que repartirá el capital del sector privado. El Presidente argumentó que seis mil niños se quedaron sin clases a distancia durante la cuarentena porque no tenían servicio de internet (o no podían pagarlo) y que eso lo llevó a firmar ese decreto. ¿Seis mil niños es todo el problema? En ese caso, y aunque fueran más los argentinos que no acceden a internet, el único camino posible era analizar con las empresas un subsidio compartido para que esos niños no queden fuera de la modernidad. Pero ¿por qué en nombre de seis mil niños se subsidiará a los usuarios de los barrios elegantes o a los sectores pudientes de la sociedad? El caso semeja a la vieja frase de Guillermo Moreno: "Hay que cuidar la mesa de los argentinos". Con esa premisa, se prohibió la exportación de carne y se le puso precios máximos en el mercado interno. El resultado fue que la Argentina liquidó en poco tiempo su stock ganadero. El ejemplo podría multiplicarse por decenas de casos.
Si bien se mira el mundo TIC (tecnología de la información y la comunicación), que incluye la telefonía móvil, el mercado reúne las condiciones de la competencia. Hay varios prestadores (incluidas pequeñas cooperativas en el interior) y existe la posibilidad de que se sumen nuevos, lo que genera incentivos para la inversión y precios competitivos. Es el mercado más dinámico e inversor del mundo. De hecho, Donald Trump se olvidó de la guerra comercial con China, pero centró su ataque a la potencia asiática en la competencia por la banda 5G. En pocos años, se saltó del 3G al 5G, del cable a la fibra óptica y ahora a la conexión satelital. Si bien se asocia a estas tecnologías con el entretenimiento (y, por cierto, están muy asociadas), lo cierto es que también involucran derechos fundamentales, como la libertad de expresión o la libertad de prensa. Esa tecnología es la herramienta del presente y del futuro para que la sociedad esté informada y pueda expresarse.
¿Qué necesidad había de un decreto para garantizar el acceso a internet o a la telefonía celular? Ninguna. Según datos del Indec, el 84 por ciento de los argentinos tiene teléfonos celulares y el 80 por ciento usa internet. Más de la mitad de los hogares argentinos, en cambio, no tiene acceso a los servicios de agua corriente, cloacas o gas natural. Durante los últimos años mejoraron sustancialmente la velocidad promedio de internet, la cantidad de hogares con ese tipo de conexión, la cantidad de localidades con 4G y la cantidad de kilómetros con fibra óptica. En los últimos diez años (2010-2020) la industria de las TIC invirtió 20.000 millones de dólares. La inversión incluye a los grandes operadores (Telecom, Telefónica y Claro) y a 1500 operadores medianos y pequeños. Segú datos de Telecom, esta empresa invirtió en los últimos años 3500 millones de dólares en internet de banda ancha, telefonía fija y móvil y televisión paga. Telefónica informó que en el trienio 2017-2019 invirtió en la Argentina 38.500 millones de pesos, una cifra mayor que la que había invertido en 2015 y 2016, que alcanzó los 30.000 millones de pesos. El incremento del tráfico de datos entre 2015 y 2019 fue de un 600 por ciento.
En el mundo se están comenzando a licitar y desplegar las redes de quinta generación conocidas como 5G. Chile acaba de anunciar la licitación del 5G. Podría significar, según el gobierno chileno, inversiones en el país trasandino por 3000 millones de dólares. En la Argentina, que es más grande y tiene más habitantes que Chile, se esperaba que la licitación se hiciera para fines de este año. La inversión hubiera sido superior a la de Chile. Ahora los operadores nacionales y extranjeros en la Argentina se han retraído. ¿Cómo invertir en una industria en la que el Estado decidirá cómo será la inversión y cuánto ganará cada empresa? ¿Cómo, en un país donde se sacó la competencia de los precios y se pusieron tarifas reguladas por el Estado? Alberto Fernández ha hundido en el pasado a la industria del futuro. Nada bueno puede resultar de semejante anomalía.
El 17 de agosto cambiaron la era y el Presidente. Ese día de rebeldía callejera (antes, propiedad exclusiva del peronismo) molestó especialmente al jefe del Estado. Menos le gustaron la cobertura que hicieron diarios, radios y canales de noticias de las masivas manifestaciones opositoras. Clarín, pero no solo Clarín, estuvo en el centro de su fastidio. Clarín es un actor importante en el mundo TIC. Tampoco le perdonó a Macri la adhesión de este a esas marchas. Puso en su boca una frase increíble ("que se muera quien tenga que morir") por la pandemia y la cuarentena. Macri aseguró que ese relato es falso. Es fácil creerle no solo por lo que él dice, sino también por la información oficial de ambos lados de esa conversación telefónica entre ellos del 19 de marzo, según la reconstrucción que hizo la nacion. Solo hubo buenas ondas entre los dos. ¿Alberto se hubiera guardado seis meses semejante frase de Macri? Improbable, si no imposible. La difusión de una conversación privada compromete seriamente al Presidente para futuros diálogos con los opositores. ¿Quién hablaría con él en el futuro, en confianza y con claridad, si esa conversación podría ser divulgada luego? El Presidente también dijo que a la Argentina le fue mejor durante la pandemia que con Macri. Mostró estadísticas comparando lo que sucedió en un año con lo que pasó en un trimestre. Chicanas de política barrial. El problema es más grande. La pandemia significó que se terminaron prematuramente muchas vidas, que hay familias que sufren y que muchos de los que se recuperaron deberán soportar una larga y dolorosa recuperación. La vida no es comparable con ninguna estadística, que se puede leer, como toda estadística, del derecho o del revés. La vida no es comparable con simples datos de la economía. Hay 7500 muertos, señor Presidente. Merecen su respeto.

What Putin fears: Russians and Belarusians are tired of backwards-looking autocrats - Editorial Economist

What Putin fears
Russians and Belarusians are tired of backwards-looking autocrats


The old tools of truncheon and syringe may keep them in power. But for how long?


The Economist, Leaders, August 29, 2020
Nothing is as inspiring as seeing people take to the streets to demand their freedoms—and nothing is as terrifying for the dictators they are defying. In Belarus, among scenes that recall the revolts of 1989, people are turning out in their hundreds of thousands after a blatantly rigged election, heedless of the threat of state violence. In the Russian city of Khabarovsk tens of thousands march week after week to protest against the arrest of the local governor and the imposition of Moscow’s rules. Vladimir Putin is rattled. Why else is Alexei Navalny, an anti-corruption crusader and Mr Putin’s greatest popular rival for the Russian presidency, lying poisoned in a Berlin hospital bed?

Regimes that rule by fear, live in fear. They fear that one day the people will no longer tolerate their lies, thieving and brutality. They try to hang on with propaganda, persecution and patronage. But it looks increasingly as if Mr Putin is running out of tricks, and as if Alexander Lukashenko, his troublesome ally in Minsk, is running out of road (see article). That is why, despite the Kremlin’s denials, they are falling back on the truncheon and the syringe. And it is why, as the protests roll on, they must be wondering whether state violence can secure their regimes.
Start with the economy. Belarus retains a theme-park version of the old Soviet system. When Mr Lukashenko went to gather support among the workers, he flew off to a state-owned tractor factory like some latter-day Lenin. The country’s exports largely consist of potash and petroleum products refined from Russian oil that used to be discounted. Russia is different from Belarus. Its economy is more open and less monolithic. Yet the commanding heights of industry and finance are in the hands of the oligarchs in the Kremlin’s trusted circle. Mr Putin has thus been unable to unleash competition and dynamism without upsetting the relationships that keep him in power. He has failed to diversify away from hydrocarbons, so the recent double shock of low oil prices and covid-19 has sent the economy reeling. As belts tighten, he has nothing to offer but nationalism and nostalgia.
That cocktail is losing its potency. For two decades Mr Putin has invoked an imaginary past of glory, plenty and certainty in the days of the Soviet and tsarist empires. His regime is a pioneer of disinformation. It invented the troll factory, and has created a media environment where, as one commentator put it, “nothing is true and everything is possible”. Yet Mr Putin’s offering looks tired next to that of Mr Navalny, whose popular YouTube videos are as skilful as the regime’s, but resonate with a growing sense of frustration. They are also grounded in exhaustive research into the regime’s corruption—and thus, in reality.
As well as failing to bring about economic and cultural renewal, both Mr Putin and Mr Lukashenko have failed to renew their regimes. Neither has a plausible successor. Mr Lukashenko has taken to trotting out his 15-year-old son, most recently in combat gear. Mr Putin cannot easily groom a successor lest it upset the factions he must keep sweet. This year he attempted to solve the problem by changing the constitution to allow himself to stay in power until 2036, when he will be 84. But that, too, was a sign of exhaustion. Mr Navalny, by contrast, has been busy organising opposition votes for regional elections to be held on September 13th. He may have been removed from the stage because if Russia had seen a popular movement like that in Belarus, he would have been its most plausible leader.
What can other countries do about all this? The answer begins with defending the principle of human rights. Germany has correctly offered asylum to Mr Navalny. Its doctors can explain what was done to him—and be believed by ordinary Russians. The European Union and America have properly declined to recognise the results of Mr Lukashenko’s stolen election. Their refusal may be spun by propagandists in Minsk and Moscow as evidence that the protests are a covert operation by the West, but the people in the street do not believe it. Outside powers should warn Russia that any use of force in Belarus would be followed by severe sanctions. Mr Putin and Mr Lukashenko will not be restrained by moral, legal or diplomatic norms, but if they spill blood to stay in office there must be consequences.
How long these two dismal regimes will survive is anyone’s guess. Backward-looking autocracies can cling on for years. Mr Putin and Mr Lukashenko are not alone in taking power and promising a return to an imagined era of lost glory. But the pattern is clear. Although this may feel good at first, the people eventually become, in the words of one Belarusian protester, “sick of them”. And that is when dictators should be afraid.
This article appeared in the Leaders section of the print edition under the headline "What Putin fears"