O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 30 de junho de 2013

Hitler reencarnado, por ele mesmo - uma ficção política alema - Timur Vermes

German fiction

Could Hitler come to power today?

COULD Adolf Hitler come to power today? Timur Vermes poses this question in his debut novel “He’s Back” (“Er Ist Wieder Da”). Told in the first person, the plot sees Hitler randomly wake up from a 66-year sleep in 2011 Berlin. There is no explanation for how or why this has happened, but that is hardly the point. Hitler begins to muddle his way through this new Germany, and people can’t help but notice his unusual appearance, his uncanny likeness to the late Führer. Assuming no one would guilelessly decide to look like Hitler, many start to assume he is engaged in some kind of comedic performance art. Sure enough, Hitler begins to develop a following, appears on television, appeals to youth on YouTube and becomes a media star. Eventually he dabbles in politics—with a fervent campaign against dog muck on the streets, for example—and continues his professional advance. “He gets quite far,” says Mr Vermes at a bookstore in Munich's Marienplatz. “You have somebody with no means, no money, he looks like Hitler, he is Hitler. You tend to underestimate him, like he was underestimated back in 1920.”
Mr Vermes has clearly struck a chord: the book has been a bestseller in Germany since its release in late 2012, and it is being translated into 32 languages, with an English-language version due next year. The film rights have been sold.
The book’s fans and critics often point to the same thing: the way in which it humanises Hitler. “People try to see Hitler as a monster. The monster is just an easy explanation for us not to feel guilty,” says Mr Vermes. “The more powerful he is the less chance we had to resist. That is why we want to keep this monster.” By confronting readers with Hitler’s charisma, the author highlights the role that public popularity played in Hitler’s rise to power. 
One chapter sees Hitler make an appearance on a comedy show with an ethnically Turkish host. Told from Hitler’s perspective, an encounter with a female stagehand is a fine example of the kind of awkward social interactions that populate the text. The stagehand’s informality clearly shocks the resurrected German leader:  
“‘You’ve been on television before, Mr Hitler?’ she asked after a while. I noted that first names were no longer on the agenda. She had presumably been awed by my Führer ’s aura.
‘Several times,’ I said, ‘but all rather a long time ago.’
‘Oh,’ she said, ‘anything I might have seen you in?’
‘I suspect not,’ I said. ‘It was here in Berlin, at the Olympic Stadium...’
‘Were you the warm-up man for a headlining-act?’
‘Was I what?’ I asked her, but she had stopped listening.”
Amusing as this may be, the book’s satire has a serious point. “At first it was just fun, but while writing it I realised there is something more in it,” says Mr Vermes. “It’s his side. We have his logic, his explanations. With this you can bring the reader to almost agree with him. You can see how it is to be seduced, to follow, how easy it was to connect with him. You are the only one who can say ‘no’.”
Mr Vermes, a 46-year-old born of a Hungarian father and German mother, formerly worked as a journalist in what he describes as “the yellow press”. It was there that he honed his skills for provoking readers. “In those tabloids you have to attract the buyer every new day,” he says. His idea for a Hitler book came about when he came across a copy of Hitler’s little known “Second Book”, written after “Mein Kampf” in 1928. Mr Vermes was inspired to write a third book by Hitler, and set about studying the man’s speeches and writings to better reproduce the Führer’s voice.
Despite the book’s provocative premise, Mr Vermes figured “He’s Back” would find a niche audience. He was mistaken. It has sold at least 600,000 copies in print and another 200,000 or so in ebook downloads and audio books.
Yet any attempt to delve into the psychology of the Third Reich comes with controversy. Areview in the Munich-based Süddeutsche Zeitung called Mr Vermes “politically naïve” and alleged that his readers may not be fully in on his joke. “Most of the people who have negative reactions haven’t even read the book. That is my experience,” said Christoph Stempl, a manager at the Hugendubel bookstore on Munich’s Marienplatz.
Stacked in the front window of most German booksellers, the book’s stylish cover draws the eyes in. It features a white background overlaid with a slicked black hairdo, its title written to resemble Hitler’s boxy moustache. The price is €19.33, the year the Führer became chancellor 80 years ago. Mr Vermes is facing calls for a sequel, something he finds highly unlikely. “I already thought about sending him to America, but then it is like the movie ‘Terminator 2’ or something. It gives you nothing new to think about.”

O estupro politico do Brasil pelo PT - Editorial Estadao, Merval Pereira

OK, o título do post não é o do editorial do Estadão, esse jornalão reacionário do PIG, como gostam de dizer os petralhas estupradores. Ele é meu, mas é o que se pode deduzir da trajetória desse partido neobolchevique que pretende se eternizar no poder não pelos meios legítimos do voto livre, mas pela manipulação das consciências, pela compra das vontades, pela prostituição das instituições, por toda sorte de falcatruas e trapaças nas quais eles são expertos confirmados.
O Estadão escreve que o governo do PT "Despolitizou o Parlamento". Não é bem verdade. O Parlamento continua a fazer política, ainda que seja a política da chantagem recíproca. O executivo compra nacos inteiros do parlamento, bancadas completas, e os parlamentares chantageiam o governo, só votando depois de novos pagamentos. Quanto mais venal for o político, melhor para a dominação dos neobolcheviques, como demonstram as presidências respectivas da representação (des)proporcional e dos entes federados.
Tudo isso em face de uma oposição amorfa, anêmica, desorientada, passiva, medíocre, incompetente e, provavelmente também, de rabo preso em práticas similares, quando não semelhantes de venalidade política.
O que falta, na verdade, às oposições e também à maior parte dos partidos da base governista é a organização bolchevique do PT, o sentido de disciplina cega, os métodos stalinistas, o uso deliberado da fraude, da mentira e de manipulações escusas para comprar apoios, silenciar aliados e impor sua vontade sobre a nação.
Só que eles não conseguiram entregar o que mentirosamente prometiam.
Eles, na verdade, são totalmente incompetentes para dirigir um governo, quanto mais uma nação; só conseguem dirigir o PT pelo uso dos métodos stalinistas acima descritos.
Começaram mentindo sobre o neoliberalismo e a "herança maldita" e roubando o software do governo anterior, já que não tinham nada, absolutamente nada, para governar economicamente o Brasil. O que tentaram fazer, no plano econômico ou administrativo, foi um fracasso completo. Só tiveram sucesso na ampliação do assistencialismo porque simplesmente unificaram e ampliaram, à desmesura, programas existentes, criados pelo governo anterior. Claro, aparelharam todo o Estado, cada uma das agências públicas (e criaram dezenas de novas), com milhares de seus militantes de base -- não os universitários gramscianos, pois estes ainda possuem alguns neurônios e poderiam não se revelar confiáveis -- e com mercenários a soldo (alguns dos quais aqui comparecem para me ofender anonimamente, pensando que me intimidam).
Continuaram, justamente, pela compra do parlamento, dos partidos, dos movimentos (ditos) populares, das ONGs (todos eles, na verdade, aparelhados e comprados com o dinheiro público). Extorquiram empresas, seduzidas com projetos, e autorizadas a superfaturar. No meio de tudo isso, claro que existem os que fazem negócios para si próprios, mas o partido neobolchevique prefere que se mantenham limites, sob risco de derrapagem (como o demonstram os casos de Campinas e Santo André).
Ou seja, fizeram de tudo para consolidar o seu poder. Só não tinham competência para governar.
Chega um momento em que a população se cansa de pagar e não receber. Mas mesmo no meio das manifestações de descontentamento, o partido dos neobolcheviques tenta desviar tudo isso a seu favor, e aproveitam para propor, como único polo organizado da política brasileira, a sua própria agenda de "reformas", como forma de fazer no meio da confusão aquilo que não conseguiram fazer no processo político normal (já deformado por suas práticas).
É isso que eu chamo de estupro político do Brasil.
Como vêem, eu sou muito mais direto do que o Estadão, que talvez não se permita usar palavras mais fortes.
Como eu nunca escondo o que penso, à diferença de certas pessoas que esperam não ser hostilizadas, eu digo aquilo que vejo, apenas isto.
Segue também um artigo de Merval Pereira, sobre o golpe que o PT pretende aplicar no país, contra o país...
Paulo Roberto de Almeida

A política nas ruas

Editorial O Estado de S.Paulo, 30/06/2013

As manifestações populares que tomaram as ruas nas últimas semanas, entre os resultados concretos que já produziram - como a redução das tarifas dos transportes - e outros que certamente ainda provocarão, colocam a nu a monumental realização de Lula e do PT em pouco mais de dez anos no poder: a debilitação, quase a anulação, do debate político em seu maior foro institucional, o Parlamento.
Na falta de quem exprimisse seus anseios e necessidades mais prementes - captá-los e processá-los é função dos políticos, numa democracia representativa -, o cidadão saiu às ruas para dizer ele próprio o que pensa e o que quer do governo. É simples assim. Menos mal, é claro, que vivemos num país em que o cidadão tem a liberdade de sair às ruas para se manifestar. Mas é muito ruim que seja forçado a esse exercício democrático porque se cansou de ver obstruídos os canais institucionais que, por definição, existem para representá-lo.
Esse gravíssimo sintoma do mau funcionamento do sistema democrático só pode ser debitado na conta de quem tem a responsabilidade de manejá-lo: o governo.
E o simples fato de o governo ter sido constrangido a vir a público para admitir que o coro das ruas tem razão e para anunciar providências emergenciais para atendê-lo leva à inescapável conclusão: se o governo tivesse tido a competência de fazer antes, no tempo certo, o que está tentando fazer agora, sob a pressão do clamor popular, os brasileiros estariam hoje celebrando em paz o país de sonho que o PT prometeu e não entregou.
O fato é que o lulopetismo, do alto de sua soberba, messiânico e populista, a partir de 2003 tomou enorme gosto pelo poder e passou a cultivar a obsessão de nele se perpetuar. Uma ambição até legítima, se sustentada de forma genuinamente democrática.
Mas está longe de ser democrático quem sustenta seu poder - para ficarmos apenas no caso do Congresso Nacional - por meio da subjugação das instituições, exatamente aquelas que têm a missão constitucional de representar os cidadãos (a Câmara dos Deputados) e as unidades federadas (o Senado Federal), além de fiscalizar os atos do Executivo. Pois foi exatamente essa a tarefa a que, inicialmente sob o desastrado comando do mensaleiro José Dirceu, o PT se dedicou com afinco: transformar o Congresso Nacional num mero balcão de negócios, silenciando a discussão das grandes questões políticas do País com a generosa distribuição de toda sorte de vantagens pessoais, inclusive de nacos de poder. Afinal, para que debate, se os iluminados donos do poder sempre souberam perfeita e exatamente o que o povo quer?
É claro que, a partir do instante em que senadores e deputados se mostram incapazes e desinteressados de atuar em sintonia com o sentimento popular, se abre espaço para o clamor das ruas. Trata-se de reação saudável do ponto de vista da democracia, mas obviamente excepcional. A necessária participação popular nos sistemas democráticos tem à sua disposição mecanismos e foros adequados, de organizações não governamentais e entidades associativas aos partidos políticos. Mas é nos Parlamentos que devem desaguar as aspirações populares.
Por essa razão é que, por meio da cooptação puramente fisiológica dos partidos no Congresso Nacional, o lulopetismo vinha tentando impor-se absoluto e incontrastável na missão de definir os rumos do País. Vinha - até que as ruas se tingiram de verde-amarelo e chamaram para si a definição da agenda política prioritária e aos atônitos governantes não restou senão correr atrás do prejuízo.
A teoria da separação e autonomia dos Poderes constitui o núcleo duro do sistema democrático de governo. Sua prática, entretanto, depende da competência com que os atores da cena política logram equilibrar o jogo de interesses conflitantes inevitável em qualquer tipo de convivência humana. Aqui, lamentavelmente, o lulopetismo alterou em seu benefício o equilíbrio entre os Poderes da República ao impor o fisiologismo como moeda corrente da vida pública nacional. Despolitizou o Parlamento. O resultado está nas ruas.
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O golpe do PT

Merval Pereira
O Globo, 29/06/2013
Quando os manifestantes nas ruas dizem que não se sentem representados pelos partidos políticos, e criticam a defasagem entre representante e representado, estão falando principalmente da reforma política
Mas há apenas uma razão para que o tema tenha se tornado o centro dos debates: uma manobra diversionista do governo para tentar assumir o comando da situação, transferindo para o Congresso a maior parte da culpa pela situação que as manifestações criticam.
O governo prefere apresentar o plebiscito sobre a reforma política como a solução para todos os males do país e insistir em que as eventuais novas regras passem já a valer na eleição de 2014, mesmo sabendo que dificilmente haverá condições de ser realizado a tempo, se não pela dificuldade de se chegar a um consenso sobre sua montagem, no mínimo por questões de logística.
A presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministra Cármen Lúcia, convocou para terça-feira uma reunião com todos os presidentes dos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) para começar a organizar a logística para um possível plebiscito.
Ao mesmo tempo, a diretoria de Tecnologia do TSE já começou a estudar qual a maneira mais rápida de montar uma consulta popular nas urnas eletrônicas.
Só depois dessas reuniões, o TSE terá condições de estimar o tempo previsto para implementar o plebiscito, e até mesmo sua viabilidade, já que o sistema binário (de sim ou não) pode não ser suficiente para a definição de temas tão complexos quanto o sistema eleitoral e partidário.
Mas já há movimentos dentro do governo no sentido de que o prazo mínimo de um ano para mudanças nas regras eleitorais, definido pela Constituição, seja reduzido se assim o povo decidir no plebiscito.
Ora, isso é uma tentativa de golpe antidemocrático que pode abrir caminho para outras decisões através de consultas populares, transformando-nos em um arremedo de república bolivariana. A questão certamente acabará no Supremo, por inconstitucional. A insistência na pressa tem boas razões.
O sonho de consumo do PT seria mudar as regras do jogo com a aprovação das candidaturas em listas fechadas, em que o eleitor vota apenas na legenda, enquanto a direção partidária indica os candidatos eleitos.Como o partido com maior apelo de legenda, o PT teoricamente seria o de maior votação.
Mas, se as mudanças não acontecerem dentro do cronograma estabelecido pelo Palácio do Planalto, será fácil culpar o Congresso pela inviabilização da reforma política, ou o TSE.
Já no 3º Congresso do PT, em 2007, o documento final — que Reinaldo Azevedo, da “Veja”, desencavou — defende exatamente os pontos anunciados pela presidente Dilma em seu discurso diante dos governadores e prefeitos. Ela própria admitiu que gostaria que do plebiscito saíssem o voto em lista e o financiamento público de campanha. Até mesmo a Constituinte exclusiva, que acabou sendo abortada, está entre as reivindicações do PT desde 2007.
“Para que isso seja possível, a reforma política deve assumir um estatuto de movimento e luta social, ganhando as ruas com um sentido de conquista e ampliação de direitos políticos e democráticos”, diz o documento do PT.Para os petistas, “a reforma política não pode ser um debate restrito ao Congresso Nacional, que já demonstrou ser incapaz de aprovar medidas que prejudiquem os interesses estabelecidos dos seus integrantes”.
A ideia de levar a reforma para uma Constituinte exclusiva tem como objetivo impedir que “setores conservadores” do Congresso introduzam medidas como o voto distrital e o voto facultativo, “de sentido claramente conservador”, segundo o PT.
De acordo com o mesmo documento, “a implantação, no Brasil, do financiamento público exclusivo de campanhas, combinado com o voto em listas preordenadas, permitirá contemplar a representação de gênero, raça e etnia”.
Portanto, a presidente Dilma está fazendo nada menos que o jogo do seu partido político, com o agravante de ser candidata à Presidência da República na eleição cujas regras pretende alterar.

Tom Friedman on manifestations (NYT)

OP-ED COLUMNIST

Takin’ It to the Streets



THE former C.I.A. analyst Paul R. Pillar asked this question in a recent essay in The National Interest: Why are we seeing so many popular street revolts in democracies? Speaking specifically of Turkey and Brazil, but posing a question that could be applied to Egypt, Israel, Russia, Chile and the United States, Pillar asks: “The governments being protested against were freely and democratically elected. With the ballot box available, why should there be recourse to the street?”
It is an important question, and the answer, I believe, is the convergence of three phenomena. The first is the rise and proliferation of illiberal “majoritarian” democracies. In Russia, Turkey and today’s Egypt, we have seen mass demonstrations to protest “majoritarianism” — ruling parties that were democratically elected (or “sort of” in Russia’s case) but interpret their elections as a writ to do whatever they want once in office, including ignoring the opposition, choking the news media and otherwise behaving in imperious or corrupt ways, as if democracy is only about the right to vote, not rights in general and especially minority rights.
What the protesters in Turkey, Russia and Egypt all have in common is a powerful sense of “theft,” a sense that the people who got elected are stealing something more than money: the people’s voice and right to participate in governance. Nothing can make a new democrat, someone who just earned the right to vote, angrier.
Here is what the satirist Bassem Youssef, the Jon Stewart of Egypt, wrote in the Egyptian daily Al Shorouk last week, on the first anniversary of the election of President Mohamed Morsi of the Muslim Brotherhood’s party: “We have a president who promised that a balanced constituent assembly would work on a constitution that everyone agrees on. We have a president who promised to be representative, but placed members of his Muslim Brotherhood in every position of power. We have a president and a party that broke all their promises, so the people have no choice but to take to the streets.”
A second factor is the way middle-class workers are being squeezed between a shrinking welfare state and a much more demanding job market. For so many years, workers were told that if you just work hard and play by the rules you’ll be in the middle class. That is just not true anymore. In this age of rapid globalization and automation, you have to work harder, work smarter, bring more innovation to whatever job you do, retool yourself more often — and then you can be in the middle class. There is just so much more stress on people in, or aspiring to be in, the middle class, and many more young people wondering how they’ll ever do better than their parents.
Too few leaders are leveling with their people about this shift, let alone helping them navigate it. And too many big political parties today are just vehicles for different coalitions to defend themselves against change rather than to lead their societies in adapting to it. Normally, this would create opportunities for the opposition parties, but in places like Turkey, Brazil, Russia and Egypt the formal opposition is feckless. So people take to the streets, forming their own opposition.
In America, the Tea Party began as a protest against Republicans for being soft on deficits, and Occupy Wall Street as a protest against Democrats for being soft on bankers. In Brazil, a 9 cent increase in bus fares set off mass protests, in part because it seemed so out of balance when the government was spending some $30 billion on stadiums for the Olympics and the World Cup. Writing in The American Interest, William Waack, an anchorman on Brazil’s Globo, probably spoke for many when he observed: “Brazilians don’t feel like their elected representatives at any level actually represent them, especially at a time when most leaders fear the stigma of making actual decisions (otherwise known as leading). ... It’s not about the 9 cents.”
China is not a democracy, but this story is a sign of the times: In a factory outside Beijing, an American businessman, Chip Starnes, president of the Florida-based Specialty Medical Supplies, was held captive for nearly a week by about 100 workers “who were demanding severance packages identical to those offered to 30 recently laid-off employees,” according to Reuters. The workers feared they would be next as the company moved some production from China to India to reduce costs. (He was released in a deal on Thursday.)
Finally, thanks to the proliferation of smartphones, tablets, Twitter, Facebook and blogging, aggrieved individuals now have much more power to engage in, and require their leaders to engage in, two-way conversations — and they have much greater ability to link up with others who share their views to hold flash protests. As Leon Aron, the Russian historian at the American Enterprise Institute, put it, “the turnaround time” between sense of grievance and action in today’s world is lightning fast and getting faster.
The net result is this: Autocracy is less sustainable than ever. Democracies are more prevalent than ever — but they will also be more volatile than ever. Look for more people in the streets more often over more issues with more independent means to tell their stories at ever-louder decibels.

O insuportavel charme de um livro odioso: Mein Kampf apreciado na Asia

    Do Asian readers know about the anti-Semitism in 'Mein Kampf'?

    By Husna Haq

    North Korean leader Kim Jong-un has been giving state officials
     copies of Adolf Hitler's book, while the book is a bestseller in India.

    The Christian Science Monitor,  June 19, 2013

Kim Jong Un has reportedly given copies of 'Mein Kampf' to North Korean state officials as gifts.
David Guttenfelder/AP

The latest "it" book in some Asian countries is evidence of a startling new trend: growing interest in “Mein Kampf,” Adolf Hitler’s anti-Semitic Nazi manifesto.

Hitler’s autobiography is gaining popularity in North Korea and India, where fans appear to be relatively unaware of its anti-Semitic message and instead embrace the book for other reasons. The news, coming on the heels of German efforts to republish the anti-Semitic autobiography early last year, has revived debates about balancing freedom of speech and of the press with efforts to restrict hateful speech.
North Korean leader Kim Jong-un gave state officials copies of “Mein Kampf” as gifts on his birthday last January, according to a report in New Focus International, a newspaper run by North Korean defectors. “It seems the book was intended to promote a study of Hitler’s economic reforms, and was not necessarily meant as an endorsement of Nazism,” reports NPR.
“Kim Jong-un gave a lecture to high-ranking officials, stressing that we must pursue the policy of Byungjin (Korean for ‘in tandem’) in terms of nuclear and economic development. Mentioning that Hitler managed to rebuild Germany in a short time following its defeat in WWI, Kim Jong-un issued an order for the Third Reich to be studied in depth and asked that practical applications be drawn from it,” a source told New Focus International in a telephone interview.
And in India, the book has become a bestseller,Businessweek reports.
“Lacking the sting of anti-Semitism but troubling nonetheless, the Hitler brand is gaining strength in India,” Bloomberg Businessweek reports. “Mein Kampf is a bestseller, and bossy people are often nicknamed Hitler on television and in movies.”
Indeed, Hitler has become so popular in India that movies, soap operas, and even retail stores have been named after the Nazi leader. But in India, where European history is not widely taught and Hitler’s anti-Semitism is largely unknown, the admiration has less to do with Hitler’s hatred of Jews and more to do with hero worship of strong military leaders.
The growing popularity of “Mein Kampf" in North Korea and India follows on the heels of efforts to republish portions of the book in Germany in early 2012, more than 85 years after its initial publication. 
There, editors at the German magazine “Zeitungszeugen” had planned to run three 16-page installments of “Mein Kampf” as pamphlets inserted into issues of the magazine, arguing that exposing the work would remove its mystique and the “forbidden” appeal surrounding it.
The decision launched the country into a tense debate about whether republishing would “propagate hate and inspire neo-Nazi groups” or “deflate the aura that surrounds the restricted work and expose it as a confused, rambling screed.” 
As we reported last January, Hitler wrote "Mein Kampf" – "My Struggle" in English – while he was languishing in a Bavarian prison after the failed Beer Hall Putsch of 1923. The rambling and anti-Semitic manifesto-cum-autobiography outlined his ideology, including his views on Aryan racial purity and his hatred of Jews and opposition to Communism. Following World War II, the Allies gave the rights to "Mein Kampf" to the Bavarian state government and the book is widely available online and across the world.
Husna Haq is a Monitor correspondent.

A economia esquizofrenica dos companheiros comeca a produzir efeitos(esquizofrenicos)

A conta vai para o povo

O Globo, 27/06/2013

Carlos Alberto Sardenberg A conta vai para o povo
Carlos Alberto Sardenberg
Que tal um aumento de 15% na conta de luz a partir da semana que vem? Pois é o que os consumidores do Paraná deveriam pagar se o reajuste não tivesse sido cancelado pelo governador do estado, Beto Richa. A rigor, ele não poderia fazer isso, mesmo sendo uma estatal-estadual a principal distribuidora de energia, a Copel. A empresa é pública, tem ações negociadas na Bovespa e o reajuste foi determinado pela Agência Nacional de Energia Elétrica, a Aneel, conforme a estrita regra do jogo. Mas, sabe como é, 15% na conta de luz quando os manifestantes contra as tarifas de ônibus nem voltaram para casa? Conversa daqui e dali, todo mundo quebrou o galho. A Aneel não poderia revogar a nova tarifa, mas topou suspender seu “efeito financeiro”, eufemismo para cobrança. A empresa, cujas ações despencaram quando saiu essa notícia, garantiu ao mercado que será ressarcida de algum modo, não sabendo quando, nem como.
Acontece que os custos da Copel efetivamente subiram — e não por culpa dela. A inflação fez uma parte do estrago, mas o custo maior veio da compra de energia mais cara. Foi o seguinte: choveu pouco, os reservatórios das hidrelétricas ficaram em níveis muito baixos e o Operador Nacional do Sistema, órgão federal que administra o setor, mandou ligar as usinas térmicas, movidas a carvão, diesel e gás, cujo produto é mais caro.
Em resumo, por causa da seca, a energia elétrica ficou mais cara no Brasil — e isso logo depois de a presidente Dilma ter feito a maior propaganda com a redução que havia imposto nas contas de luz. Deu a maior confusão, uma sucessão de prejuízos: as hidrelétricas não puderam gerar, mas tinham que entregar energia, por contrato; distribuidoras tiveram que pagar mais caro. A conta deveria ir para os consumidores, mas a presidente não queria. Assim, inicialmente, arrumaram um arranjo financeiro, com prejuízos para geradoras e distribuidoras, mas uma hora a conta deveria ser passada aos consumidores finais, empresas e residências.
Era agora. Além da Copel, nada menos que 17 distribuidoras, divididas por 13 estados, têm reajustes agendados no calendário oficial da Aneel para julho e agosto. (A Light, só em 7 de novembro). O presidente da Empresa de Pesquisa Energética, estatal federal que planeja o setor, Mauricio Tomalsquim, disse que não há orientação do governo para suspender os aumentos tarifários. Ou seja, a Aneel continuaria a formalizar os reajustes.
Os governos — federal e estaduais — podem assumir parte da conta, deixando de recolher os impostos. O maior imposto na conta de luz é o ICMS, estadual. (Nada menos que 29% no Paraná, por exemplo).Mas ninguém acredita que serão aplicados, ainda mais depois do precedente da Copel. Caímos assim em um caso clássico: tarifas congeladas por razões políticas, mas custos em alta por causa da inflação e de falhas do sistema. Se continuar assim, a consequência também é clássica: param os investimentos e o serviço piora.
Acontece que os governos também estão sob pressão popular para, numa ponta, aumentar gasto em transporte, educação e saúde, e na outra, reduzir impostos.
Muita gente acha que basta eliminar a corrupção e lucros excessivos das empresas para que todos os objetivos sejam alcançados. Infelizmente não é assim. Há corrupção, certamente, e deve haver gorduras em muitas tarifas de diversos setores, mas o problema maior é a falta de investimentos e de produtividade. Ou seja, é preciso colocar dinheiro novo em todo o setor de infraestrutura.
O governo federal e muitos estaduais decidiram-se pelas privatizações exatamente em busca de capital e eficiência. Mas é claro que o setor privado vai agora pensar muito antes de entrar em qualquer negócio, considerando a pressão popular e política contras as tarifas — a receita do setor.
Eis a difícil situação em que estamos nos metendo. As pessoas estão certas na sua bronca: pagam caro (nas tarifas e nos impostos) por serviços ruins. Não aconteceu por acaso, mas por anos de gestão pública ruim — com gastos elevados em custeio, pessoal e previdência e muito baixos em investimentos, sem abertura de espaço para o investimento privado.
Acrescente a inflação que o governo federal deixou escapar, e para o problema ficar completo só falta o festival de gastos que o Congresso está preparando. Derrubar tarifas é politicamente inevitável. Mas do jeito que está sendo feito, vai levar a mais déficit público, juros maiores, mais inflação e menos crescimento. Ou seja, a conta vai de novo para o povo.

O julgamento que descontentou as mulheres e arrepiou os homens...

Ops, as mulheres acharão injusto, os homens pensarão duas vezes...
Catherine Kieu decepou o membro de seu marido e o jogou no triturador de lixo
O Globo, 29/06/2013

Um juiz sentenciou à prisão perpétua com possibilidade de condicional uma mulher no sul da Califórnia que decepou o pênis de seu marido e o jogou no triturador de lixo. Catherine Kieu, 50, foi considerada culpada por um júri de Orange County em abril por mutilação grave e tortura após a agressão contra seu ex-marido em julho de 2011.
Ela drogou o ex-marido antes de atá-lo e decepar seu pênis com uma faca. Ela então jogou o órgão genital em um triturador de lixo. Um advogado de Catherine, nascida no Vietnã, argumentou no julgamento que ela havia sofrido abuso sexual em sua infância, o que a deixou com estresse pós-traumático. Ela demonstrou remorso sobre o ataque, disse ele.
Após a audiência, a vítima - identificada apenas como Glen - disse que desejava que o juiz Richard Toohey tivesse aplicado uma sentença mais dura, noticiou o City News Service.
- No fundo, eu esperava uma sentença mais pesada, mas dadas as restrições da lei, é o que ele tinha de fazer - disse ele. - Pode haver uma situação em que eu possa ser feliz. Mas completamente? Nunca - afirmou.

Big Brother is watching you, chers diplomates europeens (Le Monde, DerSpiegel)

Prism : la NSA espionnait l'Union européenne

Le Monde, 30 Juin 2013

Les services de renseignement américains espionnaient dans le cadre du programme de surveillance Prism plusieurs bureaux de l'Union européenne, dont ils avaient réussi à pénétrer les réseaux informatiques, montrent des documents secrets dont l'hebdomadaire allemand Der Spiegel a pris connaissance.

Le magazine allemand cite dans un article publié samedi 29 juin un document classé "strictement confidentiel" de la National Security Agency (NSA) daté de septembre 2010, que l'informaticien Edward Snowden a emporté dans sa fuite après avoir dévoilé l'existence de Prism et que les journalistes du Spiegel ont pulire en partie.
Selon ce document, la NSA a implanté du matériel d'écoute dans les bureaux de l'Union européenne (UE) à Washington et aux Nations unies et était en mesure non seulement d'écouter les conversations téléphoniques, mais aussi d'accéder aux documents et aux courriels des diplomates européens, qualifiés de "cibles à attaquer" dans le document.
D'après le Spiegel, l'agence de renseignement américaine surveillait aussi les systèmes de communication de l'immeuble Justus Lipsius, qui héberge le Conseil européen à Bruxelles et où les gouvernements de l'UE disposent de bureaux à partir desquels ils peuvent passer des appels sécurisés. Il y a "plus de cinq ans", écrit Der Spiegel, les experts en sécurité de l'UE avaient découvert un système d'écoutes sur le réseau téléphonique et internet du bâtiment Justus-Lipsius, qui remontait jusqu'au quartier général de l'OTAN en banlieue de Bruxelles.
IMPACT SUR LES RELATIONS USA-UE
Der Spiegel a également recueilli sur son site internet des réactions de personnalités européennes, comme le président du Parlement européen, l'Allemand Martin Schulz, qui estime que "si cela se confirme, il s'agit d'un immense scandale""Cela nuirait considérablement aux relations entre l'UE et les Etats-Unis", ajoute-t-il.
Pour le ministre des affaires étrangères luxembourgeois, Jean Asselbron, "les États-Unis feraient manifestement mieux de surveiller leurs services de renseignement plutôt que leurs alliés". L'espionnage américain est "hors de contrôle", juge-t-il, soulignant que si les activités de renseignement "sont justifiées par la lutte contre le terrorisme (...) l'UE et ses diplomates ne sont pas des terroristes".
Toujours sur le site du Spiegel, le député européen écologiste Daniel Conh-Bendit appelle à une rupture immédiate des négociations sur le traité de libre-échange transatlantique, tant qu'un accord n'a pas été signé avec les États-Unis sur la protection des données. Des négociations en ce sens, lancées en 2011, n'ont toujours pas abouti.
Mercredi, l'Union européenne avait demandé aux États-Unis de lui fournir "aussi rapidement que possible" des réponses à ses questions sur le programme de surveillance américain Prism.
CORREA S'EST ENTRETENU AVEC BIDEN
Edward Snowden se trouve depuis presque une semaine dans la zone de transit de l'aéroport de Moscou, en attendant la réponse de l'Equateur à sa demande d'asile politique. Cet ancien collaborateur de l'Agence nationale de sécurité (NSA) est recherché par les Etats-Unis pour avoir divulgué des informations explosives sur de vastes programmes américains de surveillance des communications.
Le président équatorien, Rafael Correa, a annoncé samedi s'être entretenu avec le vice-président américain Joe Biden du cas de l'ancien agent du renseignement américain, recherché pour espionnage par Washington. "Nous avons parlé de l'affaire Snowden et il m'a transmis de manière très courtoise la requête des Etats-Unis de bien vouloir rejeter la demande d'asile", a déclaré le président Correa lors d'une conférence de presse, précisant que M. Biden l'avait joint au téléphone vendredi.

Emir dos Crentes: nao se trata de alguem das Arabias, mas do Brasil marquissista e cubanista

Um texto do Embaixador Meira Penna (já antigo, mas ainda plenamente válido) sobre um representante de uma tropa que já mereceu o galardão de Imbecil Coletivo, em épocas passadas. Desde então, só piorou.
Grato a um leitor deste blog que me chamou a atenção para este artigo, colocado no site do promotor do prêmio.
Paulo Roberto de Almeida

Maniqueísmo, ignorância e mendacidade
J. O. de Meira Penna
Jornal da Tarde27 de dezembro de 1999

Numa de suas obras principais, A Nova Ciência da Política, atribui Eric Voegelin a Dario Hystapis, o xá que fundou o Império persa no 5.° século antes de Cristo, a primazia de um fenômeno ominoso que perdurou até nosso século. Após haver sido integrado à civilização ocidental, ele constitui, na verdade, a essência da Ideologia, essa "religião civil" de nossa época. Trata-se da iniciativa do rei Aquemênida de atribuir a si próprio a defesa do Bem e da Verdade, projetando sobre seus adversários, quaisquer que fossem, a pecha de serem os defensores da mentira e do mal. O origem dessa dicotomia ética aplicada à política se encontra no próprio dualismo original da religião dos iranianos, desde que seu fundador, Zarathushtra ou Zoroastro, cindiu em dois a divindade, concedendo a Ormudz ou Ahura Mazda as qualidades de bondade e veracidade, a ele opondo Arihman, o "grande satã", deus do mal e da mentira. O dualismo transcendente tomaria uma forma mais pronunciada nos ensinamentos de um outro profeta, Mani ou Manichaeus, que viveu 800 anos depois e influenciou as seitas gnósticas de princípios de nossa era. Fundador de uma religião conhecida como maniqueísmo, Mani contaminou de mitologia mágica dualística todas as heresias que ameaçariam a ortodoxia católica na Idade Média, Cátaros, Albigenses, etc. Não nos esqueçamos que S. Agostinho, o maior filósofo cristão, professou o maniqueísmo em sua mocidade, a tal ponto que muitos críticos reconhecem em sua teologia reminiscências do dualismo ético, tão entranhado agora na mente humana que é difícil dele nos libertarmos.
Foi Agostinho, no entanto, quem melhor desenvolveu a interpretação correta que S. Paulo fez do Evangelho de Cristo, segundo a qual é em nós mesmos que devemos procurar a oposição entre o Bem e o Mal. No maniqueísmo, ao contrário, somos nós, seus professos, donos da verdade e da justiça, enquanto detestáveis são aqueles que não pensam como nós porque portadores da maldade e da mentira. É fácil avaliar a importância dessa psicopatologia na postura do ideólogo moderno, fiel ao cego dogmatismo de suas mais estapafúrdias doutrinas e sempre disposto a acusar de mentiroso, injusto, perverso e egoísta seus adversários. A dialética do Bem e do Mal que o maniqueísmo provoca leva o alegado defensor da Verdade a recorrer a qualquer instrumento para eliminar o Outro. A faca do assassino (do árabe hashishim, comedor de haxixe), os fogos da Inquisição, o Gulag e Auschwitz, a bomba terrorista da "guerra santa" dos aiatolás, o tiro na nuca no porão do KGB e o paredón para punir o traidor vendido aos interesses alienígenas, tornaram-se banais em nossa época. Orwell descreveu magnificamente o "duplo-pensar" totalitário que justifica o crime. O ideólogo pensa estar defendendo a justiça e a verdade, de tal modo que a prisão moscovita se transforma em "amorzinho" (Lubianka) e o genocídio é a justa recompensa dos "capitalistas burgueses". Voegelin descobre traços do processo psicopatológico que cinde a realidade histórica, necessariamente complexa e cinzenta, na simplicidade dualística do branco X preto ou, como se prefere hoje dizer, da "esquerda" e "direita". O nazismo e o marxismo, em suas várias vertentes, são as manifestações mais clamorosas da enfermidade mental. Claro. O nacionalismo xenófobo se tornou, porém, a partir da 1.ª Guerra Mundial, a expressão coletiva mais banal da esquizofrenia paranóica. A corrupção da verdade em seu oposto, a Grande Mentira dialética, é também suscetível de ser diagnosticada como Pseudologia Epidêmica ou Pseudodoxia Fantástica. Assim como o católico atribuía ao protestante todos os males, o nazista os atribui aos judeus, o marxista aos liberais e o latino patrioteiro aos americanos.
As observações acima vêm a propósito da ira incontida, verdadeira rebordosa histérica que maltrata os "esquerdistas" (chamêmo-los assim, já que tanto apreciam esse grotesco termo jacobino) diante do colapso da URSS, da queda do Muro de Berlim e do fenômeno da globalização, aparentemente irreversível. A adoção quase universal das receitas liberais, mesmo pelos partidos tidos como de "esquerda", o Labour de Mr. Blair, a Gauche de Monsieur Jospin, o regime de Deng Xiaoping e Jiang Zemin (Dois Sistemas, Um Só País), a "Concertación de Izquierda" do Chile, o Justicialismo argentino e mesmo, entre nós, o PSDB de FHC – se traduz por programas de abertura ao mercado global e privatizações. Assim mesmo, o annus mirabilis de 1989 (saudemos essa data maior do século 20!) concedeu a esse pessoal um tempo suficiente para que se recomponham. Afinal de contas, a revolução liberal foi uma "revolução de veludo", como a denominou o presidente checo Vaclav Havel. Os liberais, não somos vingativos, reconhecemos nossos próprios defeitos e insuficiências, não absolutizamos nossas idéias, reconhecemos que elas evoluem e se integram em outras receitas. Se tivéssemos imitado Lenin, Stalin, Hitler, Mao ou Fidel Castro, os socialistas que escapassem do paredón ou da bala na nuca estariam hoje encerrados todos num Gulag apropriado, maior do que a ilha de Cuba. Ao invés, eles voltaram ao poder sob títulos diversos. São "populistas", "petistas", "social-democratas" ou "socialistas cristãos". Agarram-se aos cargos e mordomias. Escrevem nas folhas mais conservadoras do País. Colaboram com os mais opulentos bilionários. Chamam Roberto Campos de Bob Fields. E até mesmo o senador Roberto Freire é convidado de honra num simpósio da Fundação Konrad Adenauer (ó manes do der Alte!).
No Brasil, é mais óbvio seu descaramento. Um exemplo supino é o do Emir dos Crentes, mais conhecido como professor Sader. Perdoe-me esse eminente "sociólogo" levantino e guru do PT se lhe renovo o merecido galardão, do "Prêmio Imbecil Coletivo de 1996", a ele concedido por Olavo de Carvalho. Suas idéias são bastante características. Definem o mecanismo de transferência de culpa, dialética mendaz, deslealdade e cínica hipocrisia "xiita" (mas será que o professor é sunita?). Um exemplo é a tentativa de contrapor ao "Livro Negro do Comunismo" (cem milhões de mortes) um pseudo "Livro Negro do Capitalismo". Ao denunciar o "desconhecimento da história", indigitar o "pensamento único" e utilizar o truque de interpretar de modo estreitíssimo os dogmas marxistas-leninistas, ele atribui a 1.ª Guerra Mundial (20 milhões de mortes) ao capitalismo. Admiravelmente simples! Só que em 1914 a França e a Grã-Bretanha eram governados por partidos de esquerda – os dois líderes, René Viviani e Clemenceau, ambos socialistas, e Lloyd George um liberal de esquerda apoiado pelo Labour. Um único prestigioso socialista se opôs ao conflito, Jean Jaurès, e foi assassinado por ser germanófilo. O reich bismarckiano era, similarmente, dirigido pelos social-democratas e, dos dois lados da cerca, todos os socialistas aplaudiram e votaram os orçamentos de guerra de seus respectivos governos. O mesmo em 1939. Atribuir ao "Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães", os Nazistas de Hitler, um vezo "capitalista" é uma aberração da inteligência. Em 1939, capitalistas eram os judeus... Todos os liberais austríacos e alemães que, no pós-guerra, iriam erguer a "economia social de mercado" e promover o "milagre alemão", homens como Adenauer, Eucken, Machlup, Ludwig Erhard, von Mises e Hayek, se encontravam no ostracismo, na cadeia ou no exílio.
Mas porventura os militares nipônicos que, em 1932, invadiram a Manchúria, em 1937 a China, promoveram o rapto de Nanking e, em 1941, bombardearam Pearl Harbor seriam também burgueses capitalistas? E o Pacto Molotov-Ribbentrop de agosto de 1939, que desencadeou a guerra (50 milhões de mortes) permitindo a Hitler liquidar separadamente com a Polônia, a Escandinávia e a França, enquanto Stalin, o outro parceiro, se locupletava com a outra fatia da Polônia, os Estados bálticos e a Finlândia – foi por acaso firmado por capitalistas burgueses? E como foi mantido e se expandiu o Império soviético (60 milhões de vítimas)? Quem invadiu a Coréia do Sul em 1950, o Tibet em 1951 e a Índia setentrional em 1963? Não foi o Vietnã de Ho Chimin que assolou a Kampuchea democrática (um milhão de mortes) e entrou em guerra com a China maoísta em 1979? Não foi o Iraque que atacou o Irã e a URSS que ocupou o Afeganistão? E a Iugoslávia de Milosevitch não era comunista quando se desintegrou em sangrenta guerra civil (300 mil mortos)? O ilustre Emir dos Crentes deve aprender história no curso primário antes de escrever "Em Defesa da História" nos jornais burgueses de Brasília, Rio e São Paulo, essas mesmas folhas que acusa de colaborarem no "festival do pensamento único que assola nossa imprensa". Mas talvez tenha razão: o festival de pensamento único que assola nossa imprensa e o "clima de impunidade" com idéias estrambólicas é a mesma orgia ideológica de que o comendador está, precisamente, gozando com seus comparsas...
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J.O. de Meira Penna é embaixador, escritor e presidente do Instituto Liberal de Brasília.

Fechado para reformas (alias fechado mesmo, sem reformas): o sistema politico brasileiro (politico?)

O amadorismo chega a ser patético. Não, não se espera que todo político seja um experto constitucional, mas se espera que os supremos mandatários do Executivo tenham conselheiros suficientemente instruídos no mínimo básico elementar fundamental necessário regramento constitucional. Quando são ignorantes, melhor chamar quem entenda, ou então passar a vergonha de se desdizer, de voltar atrás, de não saber o que fazer, e até de não saber expressar o que se quer, a menos que não se queira nada de bom, e se tenta disfarçar a agenda perversa atrás de palavras vagas.
Enfim, tem um pouco de tudo isso triste cenário político atual, como discute este editorial desse venerando jornal reacionário do Partido da Imprensa Golpista, aquele mesmo que é o único inimigo dos companheiros totalitários.
Paulo Roberto de Almeida

A aventura e o vespeiro

Editorial O Estado de S.Paulo, 29 de junho de 2013 

Bastou uma jornada de conversas com os líderes da base aliada e os presidentes da Câmara e do Senado - três sessões somando 11 horas - para a presidente Dilma Rousseff se deparar com a enrascada em que se enfiou ao propor a reforma política por plebiscito, a fim de se manter à tona depois do naufrágio da convocação, também por plebiscito, de uma Assembleia Constituinte para mudar, à revelia do Congresso, as regras do sistema eleitoral e da atividade política. Lançando às águas o Titanic saído dos estaleiros do Planalto, sem lastro político e muito menos jurídico, Dilma queria que se acreditasse que ela navegava no mesmo rumo da esquadra de protestos populares que percorre o País. A sua intenção primeira, na verdade, era efetuar uma manobra para desviar as atenções gerais do fracasso de seu governo em fazer o Estado servir ao povo - que é o que as manifestações exigem. A alternativa a que se agarrou, porém, é quase tão catastrófica quanto o disparate original.
Na maratona de reuniões de anteontem, Dilma viu que o Congresso quer assumir o controle da consulta popular que, por ela, se concentraria no financiamento das campanhas e na fórmula de eleição de deputados. Só que os políticos destamparam um vespeiro ao incluir na agenda o fim da reeleição, a partir de 2018, com mandato único de cinco anos para presidente, governadores e prefeitos. Será um retrocesso, diga-se de imediato. Na soma algébrica de prós e contras, o Brasil saiu ganhando com a adoção, em 1995, do modelo que na prática confere um mandato de oito anos aos governantes, com um recall a meio caminho. O esquema favorece a continuidade administrativa sem privar o eleitor da chance de substituir os titulares que não tiverem correspondido às suas esperanças. Há ainda uma baciada de outras propostas que, se incluídas no plebiscito, o transformariam numa inviável lista de compras.
Por exemplo, a extinção das coligações partidárias nas disputas para a Câmara Federal e os Legislativos estaduais e municipais; o fim do voto obrigatório; a adoção da cláusula de barreira para as siglas que não tiveram obtido determinada porcentagem de votos nas eleições parlamentares; a participação, nesses pleitos, de candidatos não filiados a partidos; e a coincidência dos mandatos em todas as esferas. A amplitude e a variedade dos dispositivos que podem compor o sistema político-eleitoral deixam claro outra coisa, além do absurdo de serem escolhidos mediante plebiscito, quanto mais não seja pelo risco de serem aprovados nas urnas quesitos conflitantes entre si. Demonstram que não é apenas a resistência interesseira dos congressistas que trava, entra ano, sai ano, a reforma política. Efetivamente, não é trivial construir consensos para a implantação de um conjunto presumivelmente articulado de normas dessa ordem de complexidade. Ainda mais quando falta clareza sobre o que, afinal de contas, se pretende com a mudança e faltam lideranças políticas aptas a dar um norte ao debate.
Em face disso, chega a ser escandaloso - e prova cabal de despreparo, oportunismo e irresponsabilidade - que a mais alta autoridade do País queira que a consulta seja formatada, explicada e realizada a toque de caixa, para que os seus resultados possam virar lei até 5 de outubro próximo e, assim, valer para as eleições de 2o14. A menos, como o PT espertamente sugere, que se recorra à gambiarra de uma emenda constitucional que suspenderia a regra de ouro da anualidade para a entrada em vigor de alterações nos estatutos eleitorais. Na reunião com os líderes aliados, Dilma teve o dissabor de descobrir que o senador Ciro Nogueira, presidente do PP, concorda com o que a oposição defende desde a primeira hora: no lugar do plebiscito, o eleitorado seria chamado a julgar a reforma que o Congresso aprovar.
Para a anfitriã, seria o fim do mundo se a maioria rejeitasse as suas decisões (a exemplo do que aconteceu com a proposta do desarmamento, no referendo de 2005). Na realidade, como já se observou, ela não quer dar o braço a torcer para não passar vergonha: seria o seu segundo recuo político em questão de dias. E a Nação que arque com os efeitos da aventura dilmista.