Sucesso e Sader-masoquismo
Se Sader entrou em alguma livraria, viu pilhas e pilhas – umas ao lado das outras – dos livros cujos autores ele despreza, e daí concluiu que aquilo era um sinal – pasme! – de que os livros não vendiam, eu não sei; mas, no planeta mental dos Emirados Sáderes, raciocínios assim são tão lógicos e científicos quanto aqueles – sejam lá quais forem – que levam à conclusão de que os atentados de 11 de setembro de 2001 foram obra da extrema-direita americana. O ano de 2013, depois da violência “pacífica”, da depredação “construtiva”, do vândalo “manifestante”, da orquestração “espontânea”, da intolerância “tolerante”, da discriminação “igualitária”, do socialismo “democrático”, da mídia dependente “independente”, dos assassinos “vítimas do sistema” e demais pérolas da novilíngua esquerdista, agora se encerra, graças à contribuição de Sader, com os best sellers que “nem a direita aguenta comprar, menos ainda ler”.
O livro encalhado que Sader organizou reúne 24 autores, incluindo, segundo o site do PT e a Boitempo Editorial, “alguns dos mais destacados pensadores brasileiros, como Marilena Chauí, Marco Aurélio Garcia, Marcio Pochmann, Luiz Gonzaga Belluzzo, José Luis Fiori, Luis Pinguelli Rosa e Paulo Vannuchi”. O livro best seller que eu idealizei e organizei, “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota“, reúne, assim como o de Villa, o exército de um homem só: Olavo de Carvalho. Quem o tornou um pensador “destacado” não foi o release da editora Record, muito menos o site do partido governante, mas o grande público, que comprou 45 milexemplares e o manteve por mais de 3 meses nas listas dos mais vendidos, chegando inclusive ao primeiro lugar em e-book na Amazon. Talvez nos Emirados Sáderes se acredite que os livreiros dariam destaque a um livro do Olavo por gentileza… Mas o fato, aqui na Terra, é que o livro se impôs, obrigando até a imprensa chapa-branca a falar a respeito, ainda que com atraso e a contragosto. Se o tuiteiro petista precisar de umas aulinhas de organização da obra alheia e marketing, eu faço um precinho camarada. Só não aceito verba pública, obrigado.
Por falar nisso, a biografia “Dirceu”, de Octávio Cabral, que narra a trajetória do mensaleiro, merecia o troféu de livro mais massacrado do ano, vítima que foi de uma campanha espúria de certa imprensa, cujos ecos se ouviram até no programa “Saia Justa”, quando a apresentadora Astrid Fontenelli, com um raciocínio digno dos Emirados Sáderes, declarou o livro um “fracasso retumbante” comercialmente, como se a polêmica em torno dele tivesse aniquilado o interesse do público. Resta saber como um “fracasso retumbante” pode fechar 2013 como a segunda biografia mais vendida do ano, tendo batido a marca de 40 mil exemplares e ficando atrás apenas de “Casagrande”, cá no país do futebol. O maior ataque – mencionado por Astrid – veio do jornalista Mario Sérgio Conti que, para quem não sabe, é aquele que descreveu em detalhes o enterro da arquiteta Lúcia Carvalho na revista Piauí, cuja edição seguinte – imagine – trouxe uma cartinha da dita-cuja, quem sabe escrita do além… Agora este senhor tão cuidadoso quanto independente quis apontar uns errinhos no livro de Cabral, usando o expediente-padrão das esquerdas de tentar invalidar uma obra em função de imprecisões irrisórias, não raro com correções igualmente imprecisas. Nosso editor Carlos Andreazza deu-lhe um belo chega-pra-lá no artigo “Sobre a biografia ‘Dirceu’“, publicado na Folha. Mas este, Astrid não deve ter lido.
Já “Esquerda Caviar”, de Rodrigo Constantino, também entrou nas listas dos mais vendidos logo que foi lançado e, assim como “Década perdida”, já vendeu 15 milexemplares. Isto sem falar no best seller de Lobão, “O Manifesto do Nada na Terra do Nunca”, que chegou a fazer dobradinha com o nosso “Mínimo” na liderança da Amazon; no recém-lançado livro-bomba de Romeu Tuma Júnior e Claudio Tognolli, “Assassinato de Reputações – Um crime de Estado”, que já está nos Top 10 do Publish News; e no terceiro sucesso da franquia “Guia Politicamente Incorreto da História…”, de Leandro Narloch, também onipresente nas listas. Se esta é a quantidade de “bagulhos” que os escribas da direitapublicam, os escribas da esquerda têm todos os motivos para se sentirem humilhados e desabafarem no Twitter. É um tanto vexaminoso que o sentimento de inferioridade resulte em opiniões sem a menor base em fatos e números, mas nada assim que já não estivesse previsto no capítulo “Inveja” do livro que eu organizei.
Emir Sader já foi desmascarado por Olavo de Carvalho [aqui e aqui], Reinaldo Azevedo [aqui], Rodrigo Constantino [aqui], Lobão [aqui], e até por ícones da esquerda nacional como César Benjamin [aqui], talvez porque nem a esquerda “aguente comprar, menos ainda ler” um autor que escreve “Getúlio” com “lh” e posa (mas ele escreve “pousa”) de cientista político. Renato Janine Ribeiro e outros esquerdistas até que tentam. Mas ninguém é tão Sader-masoquista quanto o Emir Sader original. Fico contente que tenha sobrado um restinho dele para mim.
Felipe Moura Brasil –http://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil