O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Petrobras: companheiros incompetentes, ou estupidos (ou outras coisas) aprovaram a mais corrupta transacao da empresa



Refinaria de Pasadena, pela qual Brasil pagou US$ 1,18 bilhão
Agência Petrobrás
Andreza Matais e Fábio Fabrini - O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - Documentos até agora inéditos revelam que a presidente Dilma Rousseff votou em 2006 favoravelmente à compra de 50% da polêmica refinaria de Pasadena, no Texas (EUA). A petista era ministra da Casa Civil e comandava o Conselho de Administração da Petrobrás. Ontem, ao justificar a decisão aoEstado, ela disse que só apoiou a medida porque recebeu "informações incompletas" de um parecer "técnica e juridicamente falho". Foi sua primeira manifestação pública sobre o tema.
A aquisição da refinaria é investigada por Polícia Federal, Tribunal de Contas da União, Ministério Público e Congresso por suspeita de superfaturamento e evasão de divisas.
O conselho da Petrobrás autorizou, com apoio de Dilma, a compra de 50% da refinaria por US$ 360 milhões. Posteriormente, por causa de cláusulas do contrato, a estatal foi obrigada a ficar com 100% da unidade, antes compartilhada com uma empresa belga. Acabou desembolsando US$ 1,18 bilhão - cerca R$ 2,76 bilhões.
A presidente diz que o material que embasou sua decisão em 2006 não trazia justamente a cláusula que obrigaria a Petrobrás a ficar com toda a refinaria. Trata-se da cláusula Put Option, que manda uma das partes da sociedade a comprar a outra em caso de desacordo entre os sócios. A Petrobrás se desentendeu sobre investimentos com a belga Astra Oil, sua sócia. Por isso, acabou ficando com toda a refinaria.
Dilma disse ainda, por meio da nota, que também não teve acesso à cláusula Marlim, que garantia à sócia da Petrobrás um lucro de 6,9% ao ano mesmo que as condições de mercado fossem adversas. Essas cláusulas "seguramente não seriam aprovadas pelo conselho" se fossem conhecidas, informou a nota da Presidência.
Ainda segundo a nota oficial, após tomar conhecimento das cláusulas, em 2008, o conselho passou a questionar o grupo Astra Oil para apurar prejuízos e responsabilidades. Mas a Petrobrás perdeu o litígio em 2012 e foi obrigada a cumprir o contrato - o caso foi revelado naquele ano pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado.
Reunião. A ata da reunião do Conselho de Administração da Petrobrás de número 1.268, datada de 3 de fevereiro de 2006, mostra a posição unânime do conselho favorável à compra dos primeiros 50% da refinaria, mesmo já havendo, à época, questionamentos sobre a planta, considerada obsoleta.
Os então ministros Antonio Palocci (Fazenda), atual consultor de empresas, e Jaques Wagner (Relações Institucionais), hoje governador da Bahia pelo PT, integravam o Conselho de Administração da Petrobrás. Eles seguiram Dilma dando voto favorável. A posição deles sobre o negócio também era desconhecida até hoje. Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobrás na época, é secretário de Planejamento de Jaques Wagner na Bahia. Ele ainda defende a compra da refinaria nos EUA.
O "resumo executivo" sobre o negócio Pasadena foi elaborado em 2006 pela diretoria internacional da Petrobrás, comandada por Nestor Cerveró, que defendia a compra da refinaria como medida para expandir a capacidade de refino no exterior e melhorar a qualidade dos derivados de petróleo brasileiros. Indicado para o cargo pelo ex-ministro José Dirceu, na época já apeado do governo federal por causa do mensalão, Cerveró é hoje diretor financeiro de serviços da BR-Distribuidora.
Desde 2006 não houve nenhum investimento da estatal na refinaria de Pasadena para expansão da capacidade de refino ou qualquer tipo de adaptação para o aumento da conversão da planta de refino - essencial para adaptar a refinaria ao óleo pesado extraído pela estatal brasileira. A justificativa da Petrobrás para órgãos de controle é que isso se deve a dois motivos: disputa arbitral e judicial em torno do negócio e alteração do plano estratégico da Petrobrás. A empresa reconhece, ainda, uma perda por recuperabilidade de US$ 221 milhões.
Antes de virar chefe da Casa Civil, Dilma havia sido ministra das Minas e Energia. Enquanto atuou como presidente do conselho nenhuma decisão importante foi tomada sem que tivesse sido tratada com ela antes.
Dilma não comentou o fato de ter aprovado a compra por US$ 360 milhões - sendo que, um ano antes, a refinaria havia sido adquirida inteira pela Astra Oil por US$ 42,5 milhões.

Relacoes Brasil-EUA: mal paradas ou sendo retomadas? - Paulo Sotero (OESP)

Recomeço das relações malparadas com os EUA

19 de março de 2014 | 2h 09

Paulo Sotero* - O Estado de S.Paulo
A vinda a Brasília esta semana do secretário do Tesouro dos EUA, Jack Lew, e da secretária de Estado adjunta para o Hemisfério Ocidental, Roberta Jacobson, marca a retomada, por iniciativa americana, de uma relação truncada desde o ano passado, quando revelações sobre espionagem da National Security Agency (NSA) no Brasil levaram a presidente Dilma Rousseff a postergar visita de Estado que faria a Washington.
Alarmado com o dano causado pelo episódio, no momento em que os laços bilaterais pareciam prestes a ganhar conteúdo e qualidade, o dirigente de uma grande empresa americana ligou no início do ano para Valeria Jarret, amiga pessoal de Barack Obama e sua conselheira sênior na Casa Branca, para pedir que o presidente fizesse um gesto capaz de reabrir o diálogo. Ciente da preocupação do setor privado brasileiro com as malparadas relações com os EUA, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse à embaixadora americana no Brasil, Liliana Ayalde, na mesma época, que se empenharia para resolver a crise. Deu trabalho.
No final de janeiro, o ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, afirmou, depois de se encontrar com a conselheira de Segurança da Casa Branca, Susan Rice, que a solução dependia de Dilma e de Obama. "Não é uma conversa no meu nível e no nível dela que levará a uma melhoria das relações", afirmou ele.
Segundo diplomatas brasileiros, Figueiredo esperava ouvir um pedido formal de desculpas, algo que o presidente americano já havia descartado em discurso no qual respondera às críticas suscitadas nos EUA e no mundo pela revelação das atividades da NSA. A insistência do Itamaraty no assunto tornou-se insustentável, porém, diante da postura pragmática de outros governos cujos líderes também foram espionados pela NSA.
No mês passado, o presidente da França, o socialista François Hollande, que estrilou ao saber que havia sido grampeado, deu o caso por superado e fez uma visita de Estado a Washington. No início de maio, a líder da Alemanha, Angela Merkel, que reagiu à bisbilhotice da NSA suspendendo acordos de cooperação em inteligência com Washington, fará visita de dois dias à capital americana. No topo da agenda, a ofensiva da Rússia na Crimeia. A Alemanha e a Europa, dependentes do petróleo e do gás russos, divergiram dos EUA sobre como reagir aos movimentos do presidente Vladimir Putin. Mas, a exemplo do mal-estar causado pela espionagem, a discordância não paralisou o diálogo nem impediu uma resposta conjunta.
O agravamento de crises regionais, em particular da confrontação em curso entre governo e oposição na Venezuela, reforçou a apreensão em Washington sobre o estado das relações com o Brasil. Pesam, no caso, dúvidas sobre se Brasília estaria deixando para trás a tradição de pragmatismo de sua diplomacia, balizada na promoção de interesses reais e na afirmação dos valores democráticos que alicerçaram a transformação interna e a projeção internacional do País nos últimos 20 anos, em benefício de uma política externa orientada por preferências ideológicas que geram incerteza sobre as intenções brasileiras. A expectativa, no caso da Venezuela, é de que o Brasil atue, via Unasul, guiado por seu interesse na estabilidade interna do País e da região, como fez na Bolívia, em 2008. Há ainda o caso do algodão, que pode levar o Brasil a adotar medidas de retaliação contra os EUA, com aval da Organização Mundial do Comércio.
A esses desafios se soma a apatia, no governo americano, dos que apostaram em laços mais fortes com o Brasil e que a visita de Jacobson tenta, agora, superar. "Não é que as pessoas estejam zangadas", disse um ex-alto funcionário próximo da administração. "Elas simplesmente não querem se envolver, pois lidar com o Brasil resulta sempre em frustração." Frustrações, de ambos os lados, e dois graves desencontros marcaram as relações bilaterais, no governo Obama: em maio de 2010, quando Lula protagonizou uma mal executada tentativa de aproximação entre o Irã e a comunidade internacional na questão nuclear, e, agora, no episódio da espionagem.
Diante disso e tendo ficado para trás o momento, no início deste ano, em que a visita de Dilma a Washington poderia ter sido reprogramada, as viagens de Lew e Jacobson a Brasília mostram que prevalece em Washington o interesse na retomada do diálogo, a despeito do ceticismo reinante na burocracia americana em relação ao Brasil. A pergunta é se haverá em Brasília, no período final de um enfraquecido governo Obama, disposição para um engajamento com os EUA que leve a laços mais robustos e resistentes aos inevitáveis acidentes de percurso.
Os sinais são favoráveis, mesmo nas questões derivadas do caso Snowden. O governo brasileiro convidou e o governo americano aceitou participar do comitê de coordenação de uma conferência internacional sobre governança da internet que Dilma convocou em reação ao episódio da espionagem. Washington, por sua vez, manifestou agrado à decisão do Brasil de não dar asilo a Edward Snowden e sugerir a países vizinhos que façam o mesmo. Os cumprimentos afetuosos que Dilma trocou com Obama, no funeral de Nelson Mandela, e com o vice-presidente Joe Biden, na posse de Michelle Bachelet, e a esperada presença de Biden na abertura da Copa ajudam a desanuviar a tensão e a renovar a aposta na aproximação entre as duas sociedades, que independe dos governos, e no interesse manifesto do empresariado brasileiro numa relação mais produtiva com os EUA, na esperança de que ambos levem a mudanças, nos dois países, que permitam tornar efetiva a sempre proclamada, mas frequentemente sabotada, construção de uma parceria estratégica entre as duas maiores economias e democracias do continente.
*Paulo Sotero é jornalista e diretor do Brazil Institute do Woodrow Wilson International Center for Scholars, em Washington. 

Politica externa brasileira: dos remendos a uma totalmente nova? -Sergio Fausto (OESP)

Início do conteúdo

Não bastam remendos na política externa

19 de março de 2014 | 2h 09

Sergio Fausto* - O Estado de S.Paulo
"Antes, (estava) o Chávez, (que) era amigão do Lula. Quando eles se encontravam, destravavam os pagamentos. Agora as coisas se complicaram." Assim se expressou uma fonte citada em matéria do jornal Valor Econômico, na edição de 5/3, sobre os pagamentos em atraso a empresas brasileiras na Venezuela. No caso das grandes empreiteiras, o montante alcançaria US$ 2 bilhões. As complicações atuais derivam do aprofundamento da crise econômica no país vizinho e da perda do canal político-diplomático privilegiado entre os dois ex-presidentes. A declaração espanta não por revelar o que não se soubesse, mas por indicar até que ponto chegou a mistura entre interesses políticos e empresariais na política externa brasileira para a América do Sul nos últimos dez anos.
O governo Dilma administra mal, sem estratégia alternativa, o legado de problemas herdados do hiperativismo ad hoc do seu antecessor imediato. A influência do governo brasileiro na Venezuela é declinante. Não ousa fazer-se ouvir de maneira mais assertiva pelo governo de Maduro e é malvisto pelas oposições.
O mesmo se pode dizer da influência do governo brasileiro na Bolívia. As relações dos dois países dependiam muito da interlocução pessoal entre Lula e Evo Morales. A estreita relação direta de ambos não impediu Morales de mandar o Exército boliviano ocupar militarmente a refinaria da Petrobrás nem evitou que o Brasil se visse envolvido em conflito por causa da controversa construção de uma estrada que corta um parque nacional indígena. Melhor teria sido que as agências do Estado brasileiro - a começar pelo BNDES, que concedeu empréstimo a uma empreiteira brasileira encarregada da obra - tivessem avaliado o risco ambiental, político e financeiro do projeto, sem pressões da "diplomacia presidencial". Também no caso da Bolívia, passamos do hiperativismo ad hoc, com Lula, à vacuidade da política externa, sob Dilma. Ali estamos sem embaixador desde o início do segundo semestre do ano passado.
Tampouco se pode dizer que a influência brasileira tenha crescido na Argentina. Enredados na administração pontual dos recorrentes entraves da relação bilateral, sem um novo horizonte para o Mercosul, salvo no plano retórico, o Brasil e suas empresas sofreram, como quaisquer outros, às vezes até mais, as consequências da gestão arbitrária dos governos Kirchner, apesar da azeitada relação entre os presidentes dos dois países, especialmente na vigência da dupla Lula-Néstor.
A perda de influência do Brasil na América do Sul não se limita a esses três países, onde supostamente investimos nossos melhores esforços na última década. Na verdade, ela é um fenômeno generalizado na região. O governo fracassou no propósito de liderar o bloco bolivariano e, em torno desse eixo, organizar a integração sul-americana. Ao mesmo tempo, assistiu à formação da Aliança do Pacífico, compreendendo três países sul-americanos - Chile, Peru e Colômbia - e o México, em contraponto à política externa brasileira de estruturar a integração regional a partir de um Mercosul formalmente ampliado (e substantivamente enfraquecido).
Sem o dizer e muito menos admitir, o próprio governo Dilma já emite sinais de que reconhece a necessidade de mudar a política externa, a exemplo do empenho em fazer avançar o acordo do Mercosul com a União Europeia (UE). O movimento, porém, é reativo e incompleto. O novo esforço em direção aos europeus resulta antes do temor diante dos riscos que novos acordos da UE com grandes parceiros do Norte - de imediato com o Canadá e mais à frente com os EUA - colocam para as exportações brasileiras do que de uma revisão mais ampla da política Sul-Sul que guiou o Brasil nos últimos dez anos. No plano regional, embora menos disposto a acomodar as idiossincrasias da Argentina, o governo permanece preso a um Mercosul que não vai nem vem. A matriz de pensamento continua a mesma. Além disso, Dilma nem delega nem assume o papel de liderança na área de política externa. O fato é que precisamos de uma nova política externa, e não de remendos na atual.
Uma nova política externa requer estabelecer o papel do Brasil na região em outros termos, para gerar regras estáveis e horizontes previsíveis nas relações entre os Estados, e não apenas entre governos eventualmente afins. Essa mudança deve ser feita de olho na nova configuração da economia e da geopolítica globais. Não podemos aceitar um novo Tratado de Tordesilhas e deixar que se aprofunde a divisão entre a América do Sul do Atlântico e a do Pacífico. É contra os interesses nacionais de longo prazo que parte importante da região passe a orbitar fundamentalmente em torno das relações econômicas e geopolíticas que se vão adensando velozmente na grande bacia do Pacífico, sob a coexistência competitiva de dois gigantes, China e EUA. O Brasil não tem como anular essa tendência, mas pode contrabalançá-la.
Como já apontou corretamente o experimentado embaixador José Botafogo Gonçalves, é preciso avançar de modo mais radical e rápido na derrubada de barreiras tarifárias e principalmente não tarifárias ao comércio e aos investimentos entre o Brasil e os países sul-americanos do Pacífico. Trata-se de um passo na direção correta, mas não será o bastante. Devemos voltar a pensar no espaço latino-americano e dar prioridade a um amplo acordo de comércio e investimentos com o México, como parte de um processo mais amplo de inserção do Brasil na economia internacional, o que não implica lançar por terra o Mercosul.
Não é apenas por questões econômicas que devemos fazê-lo. A aproximação entre Brasil e México pode dar a ambos e à América Latina melhores condições para lidar com temas relativos à segurança e à política das Américas e do mundo a partir de perspectivas e realidades distintas dos dois gigantes globais.
*Sergio Fausto é superintendente executivo do iFHC, colaborador do Latin American Program do Baker Institute of Public Policy da Rice University, é membro do Gacint-USP. E-mail: sfausto40@hotmail.com. 

Brasil-Argentina: submissao e complacencia da politica comercial antinacional - Editorial Estadao

Brasileiros bonzinhos

18 de março de 2014 | 2h 05

Editorial O Estado de S.Paulo
Os argentinos deram as cartas e os brasileiros fizeram o papel de bonzinhos, como se previa, na reunião de ministros dos dois países, na sexta-feira, para discussão de problemas do comércio bilateral, gravemente prejudicado pelo protecionismo da presidente Cristina Kirchner. Enquanto os parceiros do outro lado majestosamente silenciavam, coube ao ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Mauro Borges, transmitir as poucas e pouco animadoras notícias sobre o encontro. Caberá ao Brasil formular e executar um programa de financiamento aos importadores de produtos brasileiros. Além disso, o ministro apresentou como "boa notícia" a possibilidade de uma proposta conjunta na negociação de um acordo de livre-comércio com a União Europeia. Nenhum detalhe sobre o assunto foi acrescentado.
Se houvesse alguma seriedade na parceria dos dois maiores sócios do Mercosul, essa proposta teria sido apresentada há muito tempo. Não foi, até agora, principalmente por causa da estratégia da Casa Rosada. Os Kirchners sempre mostraram aversão a acordos comerciais mais ambiciosos, com abertura comercial maior. Era politicamente mais cômodo manter o protecionismo, até porque o governo do Brasil - maior mercado para as exportações argentinas - sempre se mostrou disposto, nos últimos dez anos, a aceitar os termos desse jogo.
Com reservas abaixo de US$ 30 bilhões, a Argentina está muito próxima de uma crise cambial. Sem acesso ao crédito externo, o governo argentino tem ampliado as barreiras comerciais e apertado o controle sobre as operações com dólares. Governos em condições muito melhores têm recorrido ao Fundo Monetário Internacional (FMI) pelo menos para ganhar segurança e melhorar sua imagem perante o mercado. Mas recorrer ao Fundo seria politicamente muito complicado para a presidente Cristina Kirchner.
Um programa brasileiro de financiamento poderá aliviar em parte os problemas cambiais do outro lado e dar alguma sustentação ao comércio bilateral. Há alguns anos, coube ao governo venezuelano, sob comando do presidente Hugo Chávez, comprar títulos do Tesouro argentino e dar algum fôlego financeiro ao governo do presidente Néstor Kirchner. Hoje o governo da Venezuela mal consegue cuidar de si mesmo, num país onde os consumidores já têm dificuldade até para comprar itens básicos de higiene. Resta o Brasil como fonte de alguma ajuda, até porque a Argentina continua sendo um dos principais mercados para exportações da indústria brasileira.
Segundo o ministro Mauro Borges, as possibilidades de financiamento apresentadas aos parceiros argentinos vão "muito além dos modelos tradicionais". Ele se dispensou de indicar à imprensa as propostas apresentadas, mas a conversa deve estar adiantada, porque ele se reuniu também com o presidente do Banco Central, Juan Carlos Fábrega.
Segundo a retórica do governo argentino, as dificuldades cambiais são passageiras e serão superadas quando as exportações da safra de verão deslancharem. Isso deverá, sem dúvida, ocasionar algum alívio, mas será necessário muito mais que uma boa receita de comércio exterior, nos próximos meses, para livrar o país da crise.
Para pôr a economia no caminho da recuperação, o governo central terá de iniciar uma série de ajustes complicada e provavelmente dolorosa. A inflação está próxima de 30% ao ano. Por enquanto, a principal mudança nessa área deve ser a adoção de um novo sistema de apuração de preços. O sistema em vigor está desmoralizado.
Para conter a alta de preços, o governo ainda terá de implantar uma política séria de ajuste monetário. Essa política dependerá de um Banco Central comprometido com a recuperação do poder de compra da moeda e com o cumprimento de suas funções. A autoridade monetária foi desmoralizada pela presidente Cristina Kirchner. Será igualmente necessária uma arrumação das contas públicas, além, é claro, de uma recomposição de relações com o mercado financeiro. Na falta de alternativas, a solidariedade brasileira, nunca retribuída, deve servir por enquanto.

Venezuela no caminho da Ucrania: chega um momento que a repressao se cansa, e tem vergonha de reprimir gente desarmada

A Venezuela está se aproximando perigosamente, e talvez rapidamente, da situação em que esteve a Ucrânia, pouco antes da queda do presidente sabujo dos russos Yanukovitch, ou seja, aquele momento em que a coisa começa a virar: as forças de repressão, pelo menos as "legais", se cansam de bater, espancar, até matar pessoas desarmadas, e começam a refluir, ou seja, já não estão mais dispostas a sair para as ruas apenas para reprimir. Isto acontece com as forças profissionais, policiais ou militares, que pensam duas vezes se devem, realmente, acatar as ordens de políticos mafiosos, bandidos e assassinos, no sentido de continuar a reprimir violentamente cidadãos desarmados.
Mas, no caso da Venezuela, os ditadores e seus mestres cubanos dispõem ainda dos mercenários que não hesitam em matar, pois sabem que nada lhes acontecerá. Por isso, vamos ter ainda mais mortos na Venezuela, infelizmente.
A terceira etapa, é quando a resistência começa a se armar, e soldados, policiais e também alguns mercenários serão mortos. Tudo pode acontecer a partir daí, geralmente o pior.
A Venezuela está descendo rapidamente para o caos total e o Brasil, infelizmente, politicamente pelo menos, não se sairá bem desses tristes episódios...
Nunca antes...
Paulo Roberto de Almeida

Nicolás Maduro considera toque de queda y sacar al Ejército en Venezuela

 El Nuevo Herald, Publicado el viernes, 03.14.14

ADELGADO@ELNUEVOHERALD.COM


El régimen de Nicolás Maduro está considerando imponer un toque de queda y sacar al Ejército para reemplazar a una Guardia Nacional ya exhausta en su intento por poner fin a más de cinco semanas de protestas, pero algunos militares resisten la propuesta por el riesgo de que catapulte a Venezuela a una espiral de violencia, dijeron fuentes familiarizadas con la situación.
Los planes, que también contemplan la suspensión de las garantías constitucionales, se discuten ante las señales de que la Guardia Nacional Bolivariana (GNB) ya no es suficiente para contener las manifestaciones que sacuden al país desde inicios de febrero, y algunos oficiales se han rehusado a cumplir órdenes de redoblar la represión.
El embate lanzado hasta ahora contra los manifestantes, la mayoría de ellos estudiantes, no tiene precedente en la historia reciente del país sudamericano, con un saldo que se ubicaba el jueves en al menos 28 muertos, más de 300 heridos y más de 1,300 detenidos, incluido el líder opositor Leopoldo López.
Pero la Guardia Nacional, que conjuntamente con los grupos paramilitares ha sido la encargada de enfrentar a los manifestantes, requiere de relevo, dijo una fuente que habló con el Nuevo Herald bajo condición de anonimato.
“La Guardia Nacional ya no da más. Están pensando [la cúpula chavista presidida por Maduro] en sacar al Ejército, decretar un toque de queda y suspender las garantías, pero no han podido hacerlo porque no han conseguido el apoyo total militar”, dijo la fuente, quien se mantiene en contacto con oficiales venezolanos.
Parte de los oficiales se resisten debido al riesgo asociado con sacar al Ejército a las calles.
“Sacar el Ejército implica el riesgo de provocar un número mayor de muertos, porque si hay un desorden vas a tener a los soldados disparando”, afirmó.
El ex comandante del Ejército, el general Carlos Julio Peñaloza, coincidió en que la Guardia Nacional ya está desgastada.
“Ha sido más de un mes de lucha. Los manifestantes también están cansados, pero son jóvenes, y hay más de ellos. En Venezuela, entre los liceos y las universidades hay cerca de tres millones de muchachos, y los agentes de la Guardia Nacional son 30,000”, comentó Peñaloza en Miami.
“Están siendo asistidos por otros 15,000 que conforman los grupos paramilitares y las milicias, pero 45,000 no pueden contra tres millones, aún cuando están súper armados”, agregó.
Peñaloza, quien también se ha mantenido en contacto con sus homólogos, dijo que Maduro llegó a la conclusión hace ya algún tiempo de que las dimensiones de las protestas y la constancia de los manifestantes, estaban ya superando la capacidad de la GNB.
“Ha estado presionando para que salga el Ejército, porque es más grande, cuenta a su disposición con unos 100,000 hombres. Los han estado sacando por cuentagotas, pero los jefes de ellos se resisten porque saben que el Ejército no está preparado para restringir protestas y desórdenes públicos. Ellos están preparados para matar”, sostuvo.
Para Antonio De La Cruz, director ejecutivo de la firma de asesores Inter American Trends, existe un importante sector del Ejército que se rehúsa a dar la orden a sus hombres de salir a la calle.
“Un importante sector de las Fuerzas Armadas ha demostrado que no está de acuerdo con la excesiva represión de la población que hemos visto en los últimos días. Y ese sector no se va a mostrar dispuesto a salir a la calle para defender un toque de queda, sabiendo que el costo de cumplir esa orden será un número inaceptable de muertes”, dijo De La Cruz.
Sin embargo, la presión que recae sobre Maduro para tratar de contener las manifestaciones es muy intensa.
Pese a la violencia empleada contra los manifestantes, con la lista de denuncias de violaciones a los derechos humanos acumulándose contra el régimen, las jornadas de protesta se mantienen en las principales ciudades del país.
En Valencia, donde tres coroneles de la Guardia Nacional se insubordinaron la semana pasada, rehusándose a cumplir ordenes de incrementar la violencia, ya el destacamento de esa institución militar no da más.
“El regional [de Valencia] está prácticamente colapsado”, aseguró en Miami el teniente José Antonio Colina, presidente de la Organización de Venezolanos Perseguidos Políticos en el Exilio (Veppex).
En la regional, están operando integrantes de las agrupaciones paramilitares chavistas, pero “algunos de estos colectivos se están quejando de que ya la Guardia Nacional no les está acompañando en la represión”, comentó Colina, quien se mantiene en contacto con sus homólogos aún activos de la GN.
Y los oficiales de la Guardia Nacional no son los únicos que le han dado la espalda recientemente al régimen de Maduro.
Los analistas mantenían el jueves la mirada sobre las declaraciones ofrecidas el día anterior por ex gobernador del estado Mérida, Florencio Porras, quien aseguró que el gobierno de Maduro coincide con las características del fascismo.
“Cualquiera entra a Google y busca las características del fascismo y encuentra que hay 14 puntos y el gobierno de Maduro coincide en 11 de ellos, entonces nos preguntamos, ¿dónde están los fascistas?”, expresó Porras, un militar retirado que acompañó al fallecido Hugo Chávez en su fallido golpe militar de 1992.
De La Cruz señaló que ese comentario, proviniendo de un representante del ala militar del chavismo, es una clara señal de que el sector militar está viendo con malos ojos la excesiva represión del país.
“Ese es un comentario de uno de los miembros del 4F”, enfatizó el analista en referencia al intento de golpe de estado del 4 de febrero de 1992.

Read more here: http://www.elnuevoherald.com/2014/03/14/1701474/maduro-considera-toque-queda.html#storylink=cpy