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quarta-feira, 7 de junho de 2023

Que Brasil Lula projetará nas próximas viagens? - Paulo Sotero (OESP)

 Paulo Sotero, um experiente jornalista, indica que o crédito diplomático concedido a Lula e ao Brasil no momento eleitoral e no início deste governo está se esvaindo, pelo fato do presidente estar fazendo as escolhas erradas, não só com respeito à guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, mas também na própria região, ao preferir elogiar ditaduras e esquecer suas vítimas. A Venezuela, sem guerra nenhuma, “exportou” tantos cidadãos quanto a Síria, em guerra civil há 12 anos. PRA

O Estado de S. Paulo.

ESPAÇO ABERTO

Paulo Sotero

Jornalista, É Pesquisador Sênior Do Brazil Institute Do Wilson Center, em Washington

Que Brasil Lula projetará nas próximas viagens?

Seria uma lástima se Lula e Biden desperdiçassem a oportunidade de serem sal da terra e luz do mundo, com a bênção do papa e o aplauso da comunidade mundial

Por Paulo Sotero

07/06/2023 


Visto de Washington, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não fez amigos nem influenciou países no acanhado começo de seu inusitado terceiro mandato no Palácio do Planalto. Ao contrário, desapontou aliados tradicionais na Europa e nas Américas ao persistir na conhecida trilha das oportunidades perdidas, que vai no sentido oposto do objetivo declarado de promover o interesse nacional e fazê-lo projetando a liderança do Brasil em temas centrais para nós e nossos vizinhos. Quem sabe as bênçãos de Santo Antônio, São João e São Pedro iluminarão o caminho do presidente e o ajudarão a colher bons frutos em sua próxima viagem internacional, este mês, durante as festas juninas.

Em Paris, Lula tratará com seu colega francês, Emmanuel Macron, de dois assuntos que estão no topo na agenda internacional: a guerra deflagrada pela injustificável invasão da Ucrânia pela Rússia, a primeira entre duas nações europeias desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945; e o urgente desafio de conter as mudanças climáticas e preservar o meio ambiente – este tema da primeira encíclica do papa Francisco, que pede um envolvimento substantivo do Brasil. Ambas as discussões continuarão no Vaticano, com votos de sucesso dos amigos do País ao redor do mundo.

O que fará Lula? Adiará a escolha e correrá o risco de perder o bonde da História, calculando que o País será chamado à mesa de negociações quando a realidade as impuser? Se esse cálculo se comprovar correto, o que o Brasil aportará, além de boas intenções e capacidade diplomática? Mas, se o cálculo se mostrar equivocado e o País for alijado das conversas, por irrelevante ou não confiável, hoje um cenário plausível, o que fará o presidente?

Não há respostas prontas para essas perguntas, até porque elas só terão credibilidade se resultarem de um debate interno que o País até hoje não teve fora dos rarefeitos círculos acadêmicos e intelectuais. Fazê-lo agora, para começar, impõe o difícil reconhecimento de que o Brasil diminuiu de tamanho relativo na última década, especialmente durante o abjeto governo de Jair Bolsonaro, e terá de encontrar seu caminho num ambiente internacional muito diferente daquele no qual Lula ascendeu ao poder na primeira década do século.

As escolhas que Lula fez até agora, com a ajuda de seu assessor internacional, o ex-chanceler Celso Amorim, claramente não foram satisfatórias para uma parcela importante dos eleitores que o levaram ao poder num país dividido e polarizado. A demora em condenar a criminosa invasão russa da Ucrânia e o desejo de ficar em cima do muro em nome de uma suposta neutralidade expuseram a pusilanimidade nacional ao mundo, que esperava mais da maior democracia do Hemisfério Sul. Nos EUA, onde os funcionários mais e melhor conhecem o Brasil, a decepção veio à tona em declarações públicas hostis de ex-diplomatas e comentários de gente influente no Executivo e no Congresso. Resumindo, o Brasil deixou de reconquistar o espaço que perdeu durante o calamitoso governo de Bolsonaro e terá a missão de Sísifo para reparar o mal feito.

Some-se a isso uma pronunciada queda de interesse pelo País em Washington, o que dificulta a construção de agendas positivas de cooperação e investimentos. Este panorama desolador pode ser revertido por Lula, se ele tiver interesse e disposição política para tomar um rumo mais produtivo nas relações com aliados tradicionais como os EUA, sem prejudicar os laços com a China, hoje o maior parceiro comercial do Brasil.

Para tanto, o líder brasileiro terá de superar ressentimentos e preconceitos ideológicos e retomar o caminho virtuoso das escolhas corajosas que fizeram dele e do Brasil na década de 1980 exemplos a serem seguidos. Terá Lula a energia e a ousadia necessárias para reinventar-se aos 77 anos? Uma visita bem preparada à Casa Branca e um fim de semana com o presidente Joe Biden em Camp David certamente ajudariam, e por isso merecem consideração em Brasília e em Washington. Tais eventos seriam recebidos como golaços diplomáticos nos dois países e alterariam o panorama internacional de forma significativa. Abririam perspectivas de cooperação econômica, política e cultural entre as duas maiores democracias multirraciais e multiculturais das Américas, para benefício de ambas e de seus vizinhos.

Não menos importante, Biden e Lula, de 80 e 77 anos respectivamente, projetariam a vitalidade das sociedades que lideram e reacenderiam a chama da esperança num mundo melhor em dois países que ainda enfrentam as consequências de séculos da escravidão de africanos que, libertados, deram a ambos e ao mundo culturas densas e ricas nas artes, na música e na literatura. Seria uma lástima se Lula e Biden, dois homens de origens humildes, desperdiçassem a oportunidade única que a História lhes oferece de serem sal da terra e luz do mundo, com a bênção do papa Francisco e o aplauso da comunidade mundial. Não é pouco. E, quem sabe, talvez seja suficiente para o Nobel da Paz.


quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Relações Brasil Estados Unidos no governo Biden - Paulo Sotero (Interesse Nacional)

O jornalista Paulo Sotero é o mais bem informado jornalista brasileiro sobre as relações Brasil-Estados Unidos, uma vez que seguiu pessoalmente essas relações desde os anos 1990, quando saiu de Paris, onde ficou alguns anos como correspondente da Veja, e foi para Washington, onde ficou como correspondente do Estadão.

Abaixo, em primeiro lugar, um artigo escrito ANTES das eleições de novembro, discorrendo o que seriam essas relações num governo Biden em Washington. Mais abaixo, o artigo que ele escreveu para a revista Interesse Nacional, já refletindo as novas realidades pós eleitorais, mas antes da posse de Biden.

Paulo Roberto de Almeida


Biden não hostilizará o Brasil

Mas não terá tempo para Bolsonaro

PAULO SOTERO

 O Estado de São Paulo, outubro 2020


O risco imediato é que o presidente e seus asseclas declarem simpatia por Trump nas disputas eleitorais pendentes nos EUA

 

O governo de Joseph Biden não hostilizará o Brasil. Mas não terá tempo para o país enquanto arautos do trumpolavismo e passadores de boiada derem cartas em Brasília. Como pouco ou nada se espera em Washington do presidente do Brasil, a ausência dos cumprimentos protocolares ao presidente eleito dos Estados Unidos não faz diferença. Mas os comentários de Jair Bolsonaro e de membros de seu séquito sobre o processo eleitoral americano pesam e pesarão contra o país.

No momento apropriado, a futura administração em Washington buscará um diálogo construtivo com o Brasil  em duas questões prementes de interesse mútuo. A mais urgente é a contenção do vírus que tem aliados em Bolsonaro e Trump e fez dos dois países os maiores necrotérios mundiais de covid-19, com mais de 400 mil mortos entre eles — um número que pode dobrar antes de ser controlado no ano que vem. Os assessores do presidente eleito dos EUA sabem da qualidade da medicina sanitária no Brasil e de sua capacidade na produção de vacinas em escala industrial. Ajudaria, é óbvio, que o país tivesse um ministro da Saúde à altura do desafio posto pela segunda onda do vírus, que está em pleno curso no hemisfério norte e fatalmente chegará ao Brasil. 

O segundo assunto premente de interesse mútuo é a contenção do aquecimento global. Um dos primeiro atos do presidente Biden, em janeiro, será a readesão dos EUA à Convenção das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, que Trump abandonou. Lançada na Rio 92, a Convenção produziu um acordo histórico em Paris, em dezembro de 2015, sobre a redução voluntária pelos países signatários de suas emissões dos gases poluidores a níveis que mantenham o aquecimento da atmosfera abaixo de dois graus centígrados. As emissões brasileiras estão entre as maiores e derivam, principalmente, do desmatamento e expansão desordenada da pecuária no arco da Amazônia.

De imediato, caberá a atores e instituições da sociedade civil brasileira cultivar laços com a nova admnistração e compensar as faltas do governo, que é obviamente pior do que a nação. Brasília ajudará se evitar dar palpites sobre a crise potencialmente gravíssima gerada pela resistência de Trump em reconhecer a vitória de Biden e seu desejo de sabotar a transição. “Estou alarmado” com as ações desse “patife e fora da lei”, afirmou na última quarta-feira à MSNBC o ex-general Barry McCaffrey, ministro do governo Clinton e um dos militares mais condecorados de seu país, referindo-se a Trump. A fúria de McCaffrey, compartilhada por seus colegas ex-generais, foi provocada pela decisão de Trump de mandar embora pelo tweeter o secretário da Defesa Mark Esper e trocar o alto comando do Pentágono por ideólogos inexperientes, da mesma laia dos amadores que compõem o gabinete do ódio incrustrado no Palácio do Planalto, com o beneplácito de Bolsonaro. Trocas parecidas podem acontecer no comando da CIA, do FBI e do Departamento de Segurança Interna. Essas mudanças imprudentes, desnecessárias e injustificáveis às vésperas da troca do governo alarmam os generais e os especialistas civis em segurança nacional. O temor é que adversários dos EUA usem as oportunidades que elas obviamente oferecem e façam movimentos que requeiram uma resposta militar.

Tendo negado, durante a campanha, comprometer-se com uma transição ordeira de poder caso perdesse a eleição, Trump embarcou numa irresponsável estratégia para alimentar o caos — sua especialidade —, tumultuando a recontagem automática de votos nos estados onde perdeu por pouco e aprofundando a divisão política e o ódio racial até as vésperas do início da nova administração. O palco da contenda são as acirradas disputas por duas vagas ao Senado federal no estado da Geórgia, a serem decididas em segundo turno, na primeira semana de janeiro. Elas criam espaço para Trump continuar a fazer estragos, com a ajuda da liderança do Partido Republicano, que conseguiu aumentar sua bancada na Câmara de Representantes, onde é minoritário, e está na briga para manter a maioria no Senado, que perderá se os democratas elegerem dois senadores na Geórgia. 

Esse é o tenso contexto no qual o Brasil não se deve meter, pois nada de relevante tem a dizer ou a ganhar e muito perderá voluntariando opiniões em assuntos que não são de sua conta. Declarações de Bolsonaro prometendo “pólvora” se os EUA impuserem sanções contra o Brasil por conta do desmatamento na Amazônia preocupam, - sobretudo por revelarem o despreparo do líder brasileiro. Sanções contra o Brasil inevitavelmente virão, mas de países da Europa importadores de nossos produtos agrícolas e/ou sob a forma do sepultamento do acordo comercial Mercosul–União Europeia, já há tempo nas cordas.   

 Preocupa também a inclinação do atual comando do Itamaraty a fazer tolices, como vangloriar-se da nova posição de pária internacional. Bravatas e declarações estúpidas mostram que a presença do país na cena internacional deixou de ser indispensável. 

Jornalista, é pesquisador sênior do Brazil Institute no Wilson Center, em Washington 

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Na era Biden, o Itamaraty ‘Trumpolavista’ Ficará Falando Sozinho

 

De volta a Washington, em dezembro de 2013, depois de quase quatro anos como embaixador em Brasília, Thomas A. Shannon recordou afirmação que havia feito ao partir para a missão sobre o efeito salutar da crescente conectividade das sociedades dos dois países, já visível então, a despeito da distância e das turbulências ocasionais do diálogo oficial. “Eu disse que nossas sociedades e nossos povos — e não nossos governos — se tornariam os principais motivadores de nosso relacionamento”, lembrou Shannon, em palestra no Wilson Center. A presciente observação do diplomata, que concluiu sua carreira em 2018 como vice-secretário de Estado, descreve o desafio criado para o Brasil pela eleição à Casa Branca do centrista Joseph R. Biden e a fragorosa derrota que ele impôs ao populista de extrema-direita Donald Trump, cujo arremedo tropical, Jair Bolsonaro, permanecerá no Palácio do Planalto. Trata-se de promover e ancorar o relacionamento em interesses reais mútuos que vão além dos governos e a eles se impõem.

Biden conhece e valoriza o Brasil. Ele está ciente das complexidades do País e será assessorado por especialistas fluentes em português e conhecedores da realidade brasileira. Por temperamento e convicção, o novo líder americano não hostilizará o País e não fará preleções. Os EUA estão saindo de uma experiência política traumática, ainda não superada, que colocou em questão, dentro e fora do país, a noção de excepcionalidade americana que desde sempre inspirou a arrogância com que seus líderes falavam ao mundo.

Isso não significa, no entanto, que o novo líder americano, empenhado em reconstruir os laços de seu país com o mundo, terá tempo para as esquisitices e absurdos do “trumpolavismo” ou a má-fé e tolices dos passadores de boiadas que dão cartas em setores importantes do governo brasileiro. O mesmo se aplica à valentia retórica do próprio Bolsorano, que reagiu ao alerta feito por Biden num debate com Trump, durante a campanha, sobre “consequências econômicas significativas” que o Brasil enfrentará se não parar de “destruir a floresta [amazônica]”, afirmando que o governo responderia “com pólvora” à imposição de sanções contra o país. A troca politizou a relação bilateral no Partido Democrata, no qual o líder brasileiro não tem simpatizantes e pode, potencialmente, limitar Biden. A propósito, não faz falta a ausência de cumprimentos protocolares de Bolsonaro a Biden, que não tinham sido apresentados até o início de dezembro. Mas caíram mal e não serão facilmente relevados os irresponsáveis comentários do presidente brasileiro sobre alegações de fraude na eleição de Biden. Não se deve esperar, assim, que o novo governo em Washington priorize as relações com o Brasil.

Contenção da COVID-19 é tema mais urgente da pauta bilateral

Dois temas do tóxico legado de Trump mantêm o País no radar e exigem atenção imediata. O mais urgente é a pandemia. Transformados nos dois maiores necrotérios mundiais de Covid-19 pelo negacionismo e pela negligência de Trump e Bolsonaro, os EUA e o Brasil estão fadados a intensificar a cooperação bilateral na produção de vacinas nos próximos meses. É antiga a cooperação entre as escolas de medicina e os centros de pesquisas sanitárias dos dois países e o intercâmbio de especialistas. É reconhecida a capacidade instalada no Brasil para a produção de vacinas em escala industrial, essencial para a superação do flagelo não apenas em casa, mas nos países vizinhos e em partes da África.

O outro tema que se impõe é a questão ambiental. Ela voltará com força à pauta no dia da posse de Biden, quando sua administração notificará às partes sobre a readesão dos EUA à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. Numa de suas primeiras decisões, o novo líder americano reforçou o compromisso com a sustentabilidade ambiental, elevando o ex-secretário de Estado John Kerry ao novo posto de Enviado Especial para Clima, com status de ministro e amplo apoio da vasta rede de entidades científicas públicas e privadas, empresas e organizações civis dedicadas à restauração e preservação do meio ambiente. No Brasil, parece claro que essa conexão dependerá crucialmente de atores relevantes da sociedade civil presentes nas empresas e entidades do setor privado, do terceiro setor, na academia e nos meios de comunicação. Trata-se de uma tarefa de articulação estratégica de interesses concretos, com objetivos mensuráveis ao longo do tempo, como o fim do desmatamento nos grandes biomas, o reflorestamento e a adoção de métodos e tecnologias limpas na produção, transporte e comercialização de bens e serviços.

Esse trabalho já começou e vai adiantado. Ele está patente nas atividades dos setores modernos do agronegócio e começa a ganhar espaço nas discussões de políticas públicas. Em julho passado, 17 ex-ministros da Fazenda e ex-presidentes do Banco Central divulgaram declaração conjunta em defesa de uma economia de baixo carbono no país. Ainda que tardia, quando se considera que veio quase 30 anos depois da Rio 92 — a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento que internalizou politicamente o assunto —, a iniciativa revelou à nação a salutar descoberta pela elite econômica nacional da necessidade de incorporar dimensão ambiental às políticas de expansão do PIB e promoção da prosperidade.

Em agosto, pressionados pela urgência que o assunto ganhou com a chegada ao poder de Bolsonaro e de sua deletéria abordagem do assunto, uma centena de líderes de vários setores, que vinham conversando há tempos — entre eles os empresários Guilherme Leal, Natura e presidente a Instituto Arapyaú; Cândido Bracher, Itaú; Walter Schalka, Suzano; Marcos Molina, Marfrig; José Roberto Marinho, Grupo Globo e Instituto Humanize; e Denis Minev, Lojas Bemol, maior rede varejista da região Norte —, lançou a “Concertação pela Amazônia” com objetivos que vão além das boas intenções. O propósito é “institucionalizar um debate plural e democrático voltado ao desenvolvimento sustentável da região”, com base em diagnóstico que “subsidiará a construção de uma visão de futuro” para a Amazônia, alicerçada num “movimento que torne perene a implementação de uma agenda de desenvolvimento sustentável no território”.

É dessa iniciativa que devem sair participantes de um diálogo consequente e duradouro com organizações da sociedade americana e com a administração Biden. Os atores dos dois países nesse empreendimento cooperam há anos e têm histórico de realizações. A ex-ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, trabalhou intensamente na construção do Acordo de Paris da Convenção do Clima, em 2015, com o negociador americano Todd Stern, então líder no Conselho de Segurança da Casa Branca nas negociações. Principal autora do Código Florestal de 2012, Izabella é interlocutora respeitada pela nova administração em Washington, bem como por governos e organizações ambientais de nações líderes na Europa e pelas agências das Nações Unidas.

O fato de o governo brasileiro continuar cegamente na ignorância negacionista sobre os desafios que o País enfrenta na Amazônia, orientado pela miopia quase religiosa dos arautos locais do “antiglobalismo”, seja isso o que for, não impede o engajamento de participantes e apoiadores da concertação com atores importantes em Brasília, como o vice-presidente Hamilton Mourão, que lidera o Conselho Nacional da Amazônia Legal, e a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina da Costa Dias, ex-deputada do Mato Grosso do Sul ligada ao setor agropecuário, com quem Izabella Teixeira tem bom diálogo.

Volta da diplomacia nos EUA deixará o Itamaraty trumpista ainda mais isolado

É pelo diálogo que a nova administração Biden pretende reconstruir as relações internacionais dos EUA, fortemente danificadas por Trump. Estas voltam agora aos trilhos da diplomacia, que guiarão a reinserção do País no mundo. É assim que Washington buscará estabilizar as relações com adversários, como a decadente potência Russa, uma China ascendente ou a emergente Índia, a qual conta com bem-sucedida colônia de imigrantes e seus descendentes no País, entre as quais a vice-presidente Kamala Harris.

Nas Américas, o Canadá, aliado próximo com o qual os EUA compartilham sua maior fronteira e fortes laços culturais e econômicos forjados em séculos de história, voltará ao lugar tradicional de principal aliado no continente. Ao sul, o México, origem da maior comunidade de imigrantes do país, e a Colômbia, principal fonte do flagelo do tráfico ilícito de drogas, enraizaram conexões amplas e profundas com os EUA no último quarto de século, e terão prioridade na América de fala espanhola. Entre os demais países do hemisfério, ganharão os que celebraram acordos comerciais em décadas recentes.

Na frente interna, Biden tem a árdua missão de processar as lições da campanha que o elegeu e incorporá-las às ações da administração. Homem afável, politicamente moderado e experiente, com 44 anos no Senado e oito na vice-presidência, o novo ocupante da Casa Branca sabe que Donald Trump, embora vencido, seguirá como um fator de perturbação na vida americana.

Faltando apurar votos residuais, Biden recebeu 79,7 milhões, 6 milhões mais do que Trump, numa disputa que teve participação de 67% eleitores, a maior em 120 anos, num País onde o voto não é obrigatório e a abstenção oscila em torno dos 50%. Biden prevaleceu no placar do Colégio Eleitoral, que reflete o tamanho das populações dos 50 estados e é a conta que vale. Venceu com 306 votos eleitorais, dos 538 possíveis, o mesmo placar que Trump descreveu como “vitória esmagadora” quando bateu a ex-secretária de Estado Hillary Clinton em 2016.

Mas o triunfo de Biden não produziu um mandato político claro. A votação que Trump obteve nas urnas foi a segunda maior da história do País e municiou o republicano a permanecer no cenário como força política. Sua presença inibirá por algum tempo o surgimento e a afirmação de novos líderes nacionais no partido conservador, especialmente se ele anunciar candidatura à Casa Branca para 2024. Os planos de Trump podem ser frustrados pelos processos judiciais por corrupção, que ele, filhos e associados estão fadados a enfrentar nos próximos meses no Estado de Nova York e, eventualmente, no plano federal.

Biden afirmou que não pretende guiar-se pelo sentimento de vingança, forte entre muitos democratas, e que exacerbaria a divisão entre americanos, a qual ele precisa superar para dar efetividade ao seu governo. Mas sabe que cometerá erro crasso se ignorar o peso político de Trump e sua capacidade midiática para promover o caos e semear crises, que é parte de sua estratégia para permanecer relevante.

Some-se a isso o desempenho surpreendentemente medíocre dos democratas nas eleições parlamentares, que ocorreram simultaneamente à disputa presidencial. Na Câmara de Representantes, o partido de Biden viu a confortável maioria de mais de 30 cadeiras, num total de 435, encolher para menos de dez. Estrategistas do partido atribuíram o recuo à rejeição pelos eleitores de propostas radicais promovidas pela esquerda, como a eliminação ou redução de verbas para as polícias municipais, acusadas de fomentar o ódio racial, a aceleração das políticas de transição para energias limpas e a socialização do sistema federal de seguro saúde, que é anátema numa nação fundada na liberdade individual e no capitalismo.

Essas propostas abriram divisões entre os democratas e contribuíram para frustrar a conquista da maioria do Senado num pleito em que os republicanos tinham um maior número de cadeiras em jogo. O racha interno entre os democratas deixou a esquerda do partido frustrada e motivada a contestar a moderação de Biden. Nesse contexto, a ampla e merecida publicidade negativa que a política ambiental do governo Bolsonaro recebeu na imprensa americana e internacional torna o País alvo certeiro de críticas. Mas, as críticas podem também reduzir e envenenar o espaço para interações produtivas entre os participantes da Concertação pela Amazônia e seus aliados dentro e fora da nova administração americana.

A decisão sobre o controle do Senado, crucial para a aprovação das propostas orçamentárias do novo governo e a confirmação dos 15 membros do gabinete de ministros e dezenas de outros integrantes da alta hierarquia, incluindo embaixadores, acontecerá na primeira semana de janeiro em disputas de segundo turno pendentes no estado da Georgia. Esse é o complexo e ainda indefinido panorama que os atores brasileiros devem ter em mente em suas interações com Washington e seus interlocutores nos EUA. A entrada em cena de representantes de peso da sociedade civil brasileira será muito bem-vinda se injetar realismo e der lastro ao que os dois países podem e devem buscar juntos.

Décadas de frustrações esvaziaram relações oficiais entre Brasília
e Washington

A história das relações bilaterais mostra as limitações de tentativas de aproximação quando deixadas aos governos. O ex-presidente Fernando Collor de Mello, que ganhou o apelido de Indiana Jones na administração George H. W. Bush por seu estilo espetaculoso de agir, iniciou a abertura da economia e pôs simbólica pá de cal no programa nuclear, como queria Washington. Seu maior e último feito foi presidir a Rio-92 semanas antes de renunciar para não ser removido por impeachment, após denúncia de corrupção feita por um de seus irmãos.

Os seis anos em que Fernando Henrique e Bill Clinton coincidiram no poder levou a uma maior aproximação entre os dois países. Mas esta murchou na recusa do Brasil de embarcar na proposta americana de integração econômica regional seletiva e terminou em frustração dos dois lados. Nas presidências de Luiz Inácio Lula da Silva e de George W. Bush, que também coincidiram seis anos no poder, Brasília elegeu o projeto da Área de Livre Comércio das Américas, a Alca, que Fernando Henrique rejeitara na Terceira Cúpula das Américas, em Quebec, como alvo predileto, argumentando que o arranjo representaria a anexação da economia brasileira pela americana. A produção de etanol nos dois países foi o mote de um estreitamento de laços que viu o líder americano visitar duas vezes o Brasil antes de o governo brasileiro mudar o foco de sua política energética para o pré-sal e, com isso, labuzar-se em negócios escusos que entraram para a história como o maior escândalo de corrupção de todos os tempos.

Nos dois anos em que Barack Obama e Lula governaram simultaneamente, a China tornou-se o principal parceiro comercial do Brasil e deu-se o maior curto-circuito da história das relações bilaterais — numa fracassada tentativa de mediação pelo Brasil e a Turquia, apoiada inicialmente pelo líder americano, de um acordo nuclear entre o Irã e os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e a Alemanha. O grave incidente em maio de 2010, deixou mágoas nos dois países e foi superado apenas com a posse de Dilma Rousseff, em 2011. Primeira mulher presidente do Brasil e sem talento para a diplomacia, amargou episódio de espionagem americana em seu celular e na Petrobras. A revelação do embaraçoso episódio motivou a vinda do vice-presidente Biden a Brasília, em missão de panos quentes que, ironicamente, abriu caminho para o momento mais produtivo da relação bilateral. Depois de uma segunda visita de Biden para a abertura da Copa do Mundo de 2014, Dilma fez visita aos EUA em meados de 2015, na qual Obama e John Kerry, secretário de Estado, empenharam-se em garantir participação efetiva do Brasil em reunião da Convenção do Clima em dezembro em Paris.

A reunião produziu histórico acordo sobre as contribuições nacionais voluntárias de redução das emissões de CO2. A contribuição da delegação brasileira foi amplamente reconhecida em Washington e outras capitais e abriu espaços providenciais a serem explorados agora, na era Biden, para a construção de agenda produtiva por atores influentes da sociedade civil já mobilizados para a tarefa – goste ou não Bolsonaro.

 

 

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Portal das Eleicoes Brasil 2014 - Brazil Institute, Wilson Center


Elections Portal 2014

Brazil Institute, Wilson Center
The Elections Portal is a comprehensive guide that provides easily accessible information on the 2014 Brazilian Elections, created by the Brazil Institute of the Woodrow Wilson Center.Here, you can find background on the party platforms, the candidates, polls, debates, and information on important issues to the electorate. Our objective is to inform, educate, and foster dialogue.
Leading presidential candidates Eduardo Campos, Dilma Rousseff and Aécio Neves
Leading presidential candidates Eduardo Campos, Dilma Rousseff and Aécio Neves
Introduction By Paulo Sotero
In October 2014, Brazil will hold the seventh consecutive general election since the reinstatement of democracy in 1985. At stake are the presidency and vice-presidency of the Republic, the governorship of 27 states, all 513 seats of the Federal Chamber of Deputies and one third of the 81 Federal Senate seats. Federal deputies and Federal senators serve four and eight year terms, respectively. An estimated college of 140 million voters will also choose a total of 1,059 more delegates to the 27 unicameral states. Candidates will be presented by some 25 political parties, which will form electoral coalitions, which may vary by state and region. A successful candidate for president and governor must receive 50% plus one of the valid votes. Voting in Brazil is mandatory. Voters have to present an electoral id card issued by theSuperior Electoral Tribunal, a specialized branch of the federal judiciary in charge of organizing and running elections. Elections are held on Sundays in thousands of precincts. Citizens cast their ballot electronically. Results are tallied and published a few hours after the closing of the polls.
Six months before the elections, President Dilma Rousseff seems well positioned to be reelected. Polls suggest that she may be able to renew her mandate for four more years in the first round of elections, scheduled for October 5th, a feat that her popular predecessor and political mentor, Luiz Inácio Lula da Silva, did not achieved when he successfully ran in 2002 and 2006. The popularity of president Rousseff comes, however, with one important caveat. Two third of the voters tell posters that the want change. If no candidate receives the majority plus one of the valid votes in the first round, the top two will face off in a second round, scheduled for October 26.
According to analysis based on polls released in early 2014, Rousseff may benefit from a demobilizing effect among voters of the massive street protests that shook Brazil in June 2013. Surveys indicate that since the protests there has been a substantial increase in voters who say that they will spoil their vote or leave it blank as an act of protest against a political system many feel to be dysfunctional and self-serving. This would reduce the number of valid votes and in turn, make it easier for the front runner to win in the first round.
Much could change, however, when the electoral campaign heats up and enters the final stretch, in mid-July.  Media reports suggest that former president Luiz Inácio Lula da Silva, an astute reader of Brazilian political trends and electoral moods, worries about the possibility of Rousseff facing a significant challenge in a second round from popular governor of Pernambuco Eduardo Campos, a former ally of the Workers’ Party-led coalition.  New factors could weigh heavily and dramatically change the March 2014 electoral outlook.  Among those are the economic indicators of growth, employment and inflation, expected protests around the time of the World Cup, to be played in twelve Brazilian cities, and the shape of regional electoral alliances. Delays in the completion of construction and renovations of the stadiums to be used during the World Cup and mass transportation systems to move millions of soccer fans during the tournament have already prevented the government to develop a positive narrative around the games. In early March, it was announced that President Dilma Rousseff will not make a welcome speech at the opening of the World Cup, in São Paulo, to avoid being booed by the public.  More important and potentially consequential was the shaken state of the PT’s alliance with it main ally, the center-right PMDB, in the early stages of the campaign.  Another factor much speculated about was the potential candidacy to the Federal Senate of Justice Joaquim Barbosa, in Campos’ Socialist Party ticket, which he denies but experts view as possible. The first black member of Brazil’s Supreme Court, Barbosa gained exposure and became widely popular as the presiding judge of the recently concluded Mensalão trial of political corruption.
Brazilian voters will start to focus on the electoral campaign after the World Cup, which will start on June 12 and end on July 13. Although a poor or victorious performance by the Brazilian national team could affect the mood of the country, history recommends against such speculations.  In 1950, the last time the World Cup was played in Brazil, the national team lost the final to Uruguay and the newly inaugurated stadium of Maracanã, in Rio de Janeiro. A few months later, however, former dictator Getúlio Vargas, who had initiated the construction of the stadium, was democratically elected president.  The nexus between the World Cup and election results has remained an improbable one after the redemocratization of 1985. Brazil’s poor performance in 1994 did not affect the election of former senator and minister of Finance Fernando Henrique Cardoso, who ran with the support of President Itamar Franco. Another loss, four years later, did not prevent Cardoso’s reelection. In 2002, when Brazil won the World Cup for the fifth time, Cardoso’s candidate lost to Luiz Inácio Lula da Silva. A devout soccer fan, Lula had little trouble being reelected in 2006 and helping his candidate, Dilma Rousseff, get elected in 2010, years in which Brazil did not do well in the Soccer World Cup.
In the event of a victorious performance by the Brazilian team this year, it is unlikely that Rousseff would attempt to obtain political dividend from the explosion of national joy that is sure to occur.  First because it could backfire. More importantly, however, is that the last government in Brazil that used the national team’s triumph in a World Cup as political propaganda, in 1970, was the one that tortured a political prisoner named  Dilma Rousseff.

Photos courtesy of Flicrk users Fernando StankunsRede Brasil AtualPSDB MGand Roberto Pereira

quarta-feira, 19 de março de 2014

Relacoes Brasil-EUA: mal paradas ou sendo retomadas? - Paulo Sotero (OESP)

Recomeço das relações malparadas com os EUA

19 de março de 2014 | 2h 09

Paulo Sotero* - O Estado de S.Paulo
A vinda a Brasília esta semana do secretário do Tesouro dos EUA, Jack Lew, e da secretária de Estado adjunta para o Hemisfério Ocidental, Roberta Jacobson, marca a retomada, por iniciativa americana, de uma relação truncada desde o ano passado, quando revelações sobre espionagem da National Security Agency (NSA) no Brasil levaram a presidente Dilma Rousseff a postergar visita de Estado que faria a Washington.
Alarmado com o dano causado pelo episódio, no momento em que os laços bilaterais pareciam prestes a ganhar conteúdo e qualidade, o dirigente de uma grande empresa americana ligou no início do ano para Valeria Jarret, amiga pessoal de Barack Obama e sua conselheira sênior na Casa Branca, para pedir que o presidente fizesse um gesto capaz de reabrir o diálogo. Ciente da preocupação do setor privado brasileiro com as malparadas relações com os EUA, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse à embaixadora americana no Brasil, Liliana Ayalde, na mesma época, que se empenharia para resolver a crise. Deu trabalho.
No final de janeiro, o ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, afirmou, depois de se encontrar com a conselheira de Segurança da Casa Branca, Susan Rice, que a solução dependia de Dilma e de Obama. "Não é uma conversa no meu nível e no nível dela que levará a uma melhoria das relações", afirmou ele.
Segundo diplomatas brasileiros, Figueiredo esperava ouvir um pedido formal de desculpas, algo que o presidente americano já havia descartado em discurso no qual respondera às críticas suscitadas nos EUA e no mundo pela revelação das atividades da NSA. A insistência do Itamaraty no assunto tornou-se insustentável, porém, diante da postura pragmática de outros governos cujos líderes também foram espionados pela NSA.
No mês passado, o presidente da França, o socialista François Hollande, que estrilou ao saber que havia sido grampeado, deu o caso por superado e fez uma visita de Estado a Washington. No início de maio, a líder da Alemanha, Angela Merkel, que reagiu à bisbilhotice da NSA suspendendo acordos de cooperação em inteligência com Washington, fará visita de dois dias à capital americana. No topo da agenda, a ofensiva da Rússia na Crimeia. A Alemanha e a Europa, dependentes do petróleo e do gás russos, divergiram dos EUA sobre como reagir aos movimentos do presidente Vladimir Putin. Mas, a exemplo do mal-estar causado pela espionagem, a discordância não paralisou o diálogo nem impediu uma resposta conjunta.
O agravamento de crises regionais, em particular da confrontação em curso entre governo e oposição na Venezuela, reforçou a apreensão em Washington sobre o estado das relações com o Brasil. Pesam, no caso, dúvidas sobre se Brasília estaria deixando para trás a tradição de pragmatismo de sua diplomacia, balizada na promoção de interesses reais e na afirmação dos valores democráticos que alicerçaram a transformação interna e a projeção internacional do País nos últimos 20 anos, em benefício de uma política externa orientada por preferências ideológicas que geram incerteza sobre as intenções brasileiras. A expectativa, no caso da Venezuela, é de que o Brasil atue, via Unasul, guiado por seu interesse na estabilidade interna do País e da região, como fez na Bolívia, em 2008. Há ainda o caso do algodão, que pode levar o Brasil a adotar medidas de retaliação contra os EUA, com aval da Organização Mundial do Comércio.
A esses desafios se soma a apatia, no governo americano, dos que apostaram em laços mais fortes com o Brasil e que a visita de Jacobson tenta, agora, superar. "Não é que as pessoas estejam zangadas", disse um ex-alto funcionário próximo da administração. "Elas simplesmente não querem se envolver, pois lidar com o Brasil resulta sempre em frustração." Frustrações, de ambos os lados, e dois graves desencontros marcaram as relações bilaterais, no governo Obama: em maio de 2010, quando Lula protagonizou uma mal executada tentativa de aproximação entre o Irã e a comunidade internacional na questão nuclear, e, agora, no episódio da espionagem.
Diante disso e tendo ficado para trás o momento, no início deste ano, em que a visita de Dilma a Washington poderia ter sido reprogramada, as viagens de Lew e Jacobson a Brasília mostram que prevalece em Washington o interesse na retomada do diálogo, a despeito do ceticismo reinante na burocracia americana em relação ao Brasil. A pergunta é se haverá em Brasília, no período final de um enfraquecido governo Obama, disposição para um engajamento com os EUA que leve a laços mais robustos e resistentes aos inevitáveis acidentes de percurso.
Os sinais são favoráveis, mesmo nas questões derivadas do caso Snowden. O governo brasileiro convidou e o governo americano aceitou participar do comitê de coordenação de uma conferência internacional sobre governança da internet que Dilma convocou em reação ao episódio da espionagem. Washington, por sua vez, manifestou agrado à decisão do Brasil de não dar asilo a Edward Snowden e sugerir a países vizinhos que façam o mesmo. Os cumprimentos afetuosos que Dilma trocou com Obama, no funeral de Nelson Mandela, e com o vice-presidente Joe Biden, na posse de Michelle Bachelet, e a esperada presença de Biden na abertura da Copa ajudam a desanuviar a tensão e a renovar a aposta na aproximação entre as duas sociedades, que independe dos governos, e no interesse manifesto do empresariado brasileiro numa relação mais produtiva com os EUA, na esperança de que ambos levem a mudanças, nos dois países, que permitam tornar efetiva a sempre proclamada, mas frequentemente sabotada, construção de uma parceria estratégica entre as duas maiores economias e democracias do continente.
*Paulo Sotero é jornalista e diretor do Brazil Institute do Woodrow Wilson International Center for Scholars, em Washington. 

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Brazil in 2014: A change in the official policies? - Paulo Sotero (CNN)

Brazil in 2014: Will Rousseff change course?

By Paulo Sotero, Special to CNN
January 3, 2014
Editor’s note: Paulo Sotero is director of the Wilson Center Brazil Institute. The views expressed are his own. This is the latest in the '14 in 2014' series, looking at what the year ahead holds for key countries.
Three consecutive years of disappointing economic performance, with an average GDP growth of barely 2 percent and deteriorating fiscal and external accounts, should be enough to convince President Dilma Rousseff to move Brazil away from the inward policies and micromanaging style she introduced after succeeding her popular mentor, Luiz Inácio Lula da Silva, in January 2011. The same mindset has affected Brazil’s international affairs, with similar results.
A leader with little appetite or patience for diplomacy and focused by necessity on domestic challenges, Rousseff implemented a modest foreign policy agenda when compared to her predecessor and became the first Brazilian president to fire a foreign minister, over a preventable incident. There are both negative and positive incentives for Rousseff to change course as she faces reelection in October 2014.
The consensus among market and political risk analysts is that the Brazilian economy, the world’s seventh largest, will get worse before it gets better. An expected lowering of Brazil’s sovereign debt risk rating to just above the investment grade arduously obtained in 2008 will make capital more expensive for Brazilian companies. This is likely to happen at a time when the Central Bank will be dealing with the adverse consequences of the end of the U.S. Federal Reserve policy of monetary easing, which Rousseff once compared to a “monetary tsunami.” Her finance minister, Guido Mantega, criticized it as a weapon in a “currency war” that made the Brazilian real overvalued and uncompetitive. The problem now is the reverse, as the real loses value against the dollar and adds pressures to an economy tormented by an inflation of 5.8 percent that is kept below the 6.5 percent upper limit of the Central Bank target thanks mostly to government containment of prices under its control, such as gasoline and diesel. Signs are that, in a deteriorating environment, Rousseff could have problems raising enough campaign contributions for herself and her multiparty coalition from a clearly unhappy business community.
Facing stiffer competition and shrinking markets for Brazil’s manufactured products, the president of the National Confederation of Industry, Robson Andrade, who is close to Rousseff, said in November that Brazil should change course in its trade policy, distance itself from Mercosul, the problematic trade arrangement of the Southern Cone, and seek a better deal with the United States and other advanced economies. Minister of Development, Industry and Foreign Trade Fernando Pimentel, the cabinet member closest to the president, said recently in New York that Brazil, having built domestic consensus on democracy, economic stability and social inclusion over the past three decades, now faces the challenge of competitiveness, which requires a more open economy and a steady stream of foreign investment in infrastructure and industrial capacity. That is the message Rousseff is likely to take to Davos in her first appearance as president at the World Economic Forum in January 2014
The president knows that rising and uncompetitive prices in a slowing economy could frustrate her reelection plan. With interest rates back to double digits, from 7.25 percent at the end of 2012, a fiscal adjustment is in order, but unlikely to be embraced in a campaign year. Waiting, however, will only make the problem bigger. On the positive side, after many false starts, the government program to attract domestic and foreign investments to expand the country’s infrastructure took off at year’s end with successful auctions of some major projects, including the Rio international airport, the Libra pre-salt oil field and a few roads, with more to come. Approaching $400 billion, currency reserves, on the other hand, lessen the risk of a crisis.
Polls suggest that most Brazilians are dismissive of the clouds economists see forming in the horizon. The reason is that, despite the souring of the macroeconomic picture, what people see is their income going up, unemployment at a record low and credit available for consumer goods and housing. No wonder Brazilians seem well disposed to reelect the president. That is what almost half of likely voters told pollsters in October and November. Rousseff’s popularity may have been helped by a decision she announced in September to cancel a state visit to the White House after revelations of the Snowden files that American intelligence had allegedly snooped on her, on Brazil’s oil company Petrobras and on email accounts of millions of Brazilians. Making clear she is not a leader to be fooled around with, Rousseff announced a decision to buy 35 Grippen jet fighters from Sweden for the Brazilian Air Force, a deal worth $4.5 billion, over Boeing’s F-18’s that she had come to favor until the Snowden disclosures.
But Rousseff also used the Snowden revelations to show she can act with restraint. In December, she rejected calls to grant Snowden asylum. Around the same time, a resolution to protect privacy on the internet that was initiated by Brazil and supported by Germany and other European allies of the United States was unanimously adopted by the U.N. General Assembly just as a panel of experts convened by President Obama proposed limits to NSA spying activities. In May, Rousseff will lead a global conference on internet governance in Brasilia.
On the home front, Rousseff will greet the New Year in good shape, despite the growing doubts over the economy. Politically, she has recovered from the steep loss of popularity experienced after last June’s massive street protests. The good news comes, however, with one important caveat. Disconcertingly, two thirds of the voters – a larger proportion than of those who say they would vote to reelect her – have said repeatedly in polls that they want change. What that means exactly is left for Dilma, as she is known, and her challengers to figure out.
The popular revolt that shook the country and paralyzed hundreds of Brazilian cities for days earlier this year took the government and the opposition by complete surprise. It was mobilized by social media, with no participation of political parties or unions. Provoked by excessive use of police force against students asking for free fares on the poor public transportation system of São Paulo, the country’s largest metropolis, the protests turned quickly into a very loud cry for more and better services that affect the quality of life of millions of members of a new middle class, whose emergence in the past decade has transformed Brazil’s social landscape and created new demands.
The revolt had important consequences. Members of Congress, denounced at the rallies as self-serving politicians oblivious to what matters to the people, hurried to regain some popular trust. Under pressure from the streets, they rejected a proposal to limit federal prosecutors’ investigative powers against corrupt politicians and officials. They also banned secret voting by congressmen in decisions involving ethics cases.
Mindful of the people’s bad mood, the eleven members of Brazil’s Supreme Court also went into action. On November 15, the country’s Republic Day, they unexpectedly ordered more than a dozen politicians, businessmen and associates to start immediately serving the prison terms to which they had been sentenced in 2012, in the largest trial of political corruption in Brazil’s history. It was an unprecedented and welcome move in a country with a long tradition of impunity of criminals in high places.
Among those sent to jail were former senior members of the Lula administration and of his Workers’ Party. Seen as a hardworking and honest leader, Rousseff did not interfere and was left unscathed by the episode.
So, the streets have quieted down, but maybe not for long. Former Senator Marina Silva, a founding member of the Workers’ Party and a minister of the environment under Lula, has predicted that the protests will return in 2014. Marina, as she is known, received an impressive 20 million votes when she ran for president against Rousseff in 2010. She has shifted her support to Eduardo Campos, the popular governor of the state of Pernambuco, and could emerge as his running mate. Polls suggest that, in that scenario, she could complicate both Rousseff’s campaign and that of the president’s current top rival, senator Aécio Neves, a center-right former governor of the state of Minas Gerais.
If Marina’s prediction about protests is correct, the most likely timing for it to happen is from mid-June to mid-July, when Brazil will welcome the FIFA World Cup, just ahead of the presidential race. What happens in and around the soccer fields in the twelve state capitals hosting the games may be less relevant for the elections than what happens until then in terms of inflation, jobs, investment and growth.
With that in mind, and considering the difficult challenges Brazil is bound to face in 2015, some joke that Rousseff’s problem is not to lose next year’s presidential election, but rather to win.

domingo, 23 de junho de 2013

As manifestacoes no Brasil, por Paulo Sotero - no Financial Times

Mediation will not quell the anger on Brazil’s streets                                                             
By Paulo Sotero 
Financial Times, June 23, 2013 6:00 pm

The emerging middle class bought into a dream and now say it is time to deliver, says Paulo Sotero

A week of unexpected and unprecedentedly widespread street protests that turned violent at times has left Brazilians both apprehensive and hopeful about their future. After days of what aides described as “perplexity”, President Dilma Rousseff tried to calm the nation on Friday with a televised address, promising to work with all parties, governors and mayors to improve public services and reform a discredited political system. She tried to embrace the protests while vowing to restore public order and prevent the repetition of vandalism and looting in various cities and attacks against public buildings that had shocked the country.
Ms Rousseff’s speech did not work. Protesters ignored the president’s warnings against acts of violence that “damage Brazil’s image abroad” and continued to demonstrate. In São Paulo, a highway that leads to the city’s airport was blocked, forcing passengers to walk 5km to terminals, carrying their luggage. More than 100 flights were delayed or cancelled. Rallies will continue. Two-thirds of people polled in São Paulo say they want the protests to go on. After seeing public transport fares reduced by going to the streets, they now want better healthcare and education. A national day of protest has been called for July 1.
Fuelled by multiple grievances, from the poor quality of public services while millions of reals are spent to build football stadiums to revulsion against a political class seen as largely corrupt and self-serving, rallies held in more than 100 cities conveyed above all a deep sense of exasperation with the country’s slow pace of change. The sentiment is especially strong among the young emerging middle class that took to the streets. Beneficiaries of two decades of democracy with economic stability, they bought the dream of a more prosperous and equitable Brazil drummed up by their leaders and are now saying that it is time to start delivering.
The problem for Ms Rousseff is that the growth model based on consumption rather than investment pursued by her predecessor and mentor, Luiz Inácio Lula da Silva, is exhausted. A stalled economy with rising inflation and deteriorating fiscal and external accounts in a challenging global environment limits what she can do. There is little room to negotiate agreements necessary to deliver on the promises she made, such as a national reform of urban transport and “a profound reform” needed to add “oxygen to our old political system”. These promises and people’s demands cannot be delivered as fast as reducing bus fares. Some are controversial. Ms Rousseff’s plan to bring thousands of foreign doctors to Brazil to improve public healthcare services was strongly rebuffed by three national medical associations. They reminded the president she was successfully treated for cancer by doctors trained in the country.
Adding to the difficulties, Ms Rousseff’s centralised decision-making and her lack of taste for the give-and-take of politics is now seen by her allies as part of the problem. According to media reports published as the protests raged, leaders of the president’s coalition and members of the business community are complaining about her governing style to Mr Lula da Silva. The talkative former leader has remained out of view and conspicuously silent.
A cabinet reform, including a change of the discredited economic team led by finance minister Guido Mantega, that could be presented as a new beginning seems improbable. It would be interpreted as an admission of responsibility for Brazil’s mediocre economic performance under Ms Rousseff and, at this point, would not do much to quiet the streets. The president’s late and unimpressive response to the protests raises doubts about her own standing. There is no longer a sense of inevitability over Ms Rousseff’s re-election in October 2014.
With leaders showing little inclination to speak and act in a political landscape altered in ways they do not seem to understand, former president Fernando Henrique Cardoso expressed doubts in an interview to the Folha de São Paulo newspaper about “the capacity of political parties to capture [the meaning of the protests] and change their message and connection with social media”. The irony is that the effective use by organisers and protesters of Facebook, Twitter and instant messaging has mobilised enormous popular pressure on a government proud of having expanded the access of millions of formerly poor and middle-class Brazilians to mobile phones and internet services.
Over the weekend, a group that in 2010 successfully pushed for the approval of a constitutional amendment banning politicians convicted of corruption from running for office started collecting the 1.5m signatures needed for Congress to vote on a political reform intended to reduce the number of parties and politicians and make both accountable to voters.
For now, and until the political system changes, traditional forms of mediation are out and direct democracy is in.

The writer is director of the Brazil Institute at the Woodrow Wilson International Center for Scholars
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