O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Rompendo Fronteiras: a academia pensa a diplomacia - ebook Paulo Roberto de Almeida



Paulo Roberto de Almeida 

..............................................................
Apresentação

Rompendo fronteiras me pareceu um título apropriado para este terceiro volume da série de resenhas de livros, também “recuperadas” a partir do “livro-mãe”, Prata da Casa, também um e-book e ao qual agreguei outras resenhas dispersas em meus arquivos de computador, que tinham a ver com a mesma temática: as relações internacionais, num sentido amplo, e as relações exteriores do Brasil, no sentido largo, ou seja, sua política externa e sua diplomacia profissional. Diplomatas e acadêmicos estão sempre “rompendo” fronteiras virtuais, intercambiando experiências e mantendo atividades reciprocamente proveitosas, mas também aquelas fronteiras institucionais que separam os serviços diplomáticos das salas de aula e dos auditórios acadêmicos. Este resenhista, por sinal, poderia até ser citado como um dos exemplos conspícuos nesse tipo de interação, embora existam muitos outros que também a praticam (talvez em menor número do que seria desejável, ou até recomendável).
Esse “rompimento de fronteiras” se exerce em ambas as direções. Não apenas a academia pensa a diplomacia – e as relações exteriores do país, cela va de soi – mas ela também gostaria de influenciar as orientações e as iniciativas da política externa, quando não interferir no seu curso, e não só para oferecer conselhos desinteressados. Da mesma forma, diplomatas começam por exibir uma sólida formação acadêmica, embora nos últimos tempos se tenha registrado uma “curiosa” tendência à seleção de candidatos treinados (alguns até pavlovianamente) por cursinhos preparatórios para responder exatamente dentro dos cânones selecionados nesses concursos elaborados por entidades especializadas, com alguma assistência dos diplomatas. A despeito dessas expressões mais “empreguistas” do que propriamente vocacionais, é evidente que diplomatas e acadêmicos mantêm, desde tempos imemoriais, uma benéfica osmose intelectual que começa nos bancos universitários, se prolonga nos trabalhos de pesquisa e de qualificação graduada e se estende a projetos cooperativos no terreno operacional.
Alguns diplomatas podem até ter efetuado sua preparação para o concurso de ingresso na carreira de forma essencialmente autodidata, mas os requerimentos de ingresso exigem um certificado qualquer de terceiro ciclo, o que em muitos casos vem complementado por um mestrado e mesmo por um doutorado. A quase totalidade dos vocacionados para a carreira buscaram uma formação universitária vinculada de perto ao universo disciplinar exibindo ampla interface para a diplomacia, e muitos dos bem sucedidos, também possuem o vírus da carreira acadêmica e complementam o trabalho ou a especialização intelectual em cursos de pós-graduação, no Brasil e no exterior. Enfim, são múltiplas as pontes e as interações entre as duas comunidades, e uma famosa tese do Curso de Altos Estudos – de Gelson Fonseca Júnior, chamada justamente Diplomacia e Academia (fiz uma mini-resenha no primeiro volume desta série) – já explorou os diversos aspectos e as implicações dessa colaboração tradicional.
Este terceiro volume da série de resenhas de livros sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil cobre, precisamente, os muitos exemplos dessa interface relativamente feliz, mas não destituída de alguns percalços, de várias ambiguidades, se não de incompreensões metodológicas e substantivas.  Não é minha intenção explorar neste momento as diversas facetas desses “tropeços”, não porque eu também marco presença nas duas instituições, mas porque não é o contexto adequado e a oportunidade para realizar um exame objetivo das mencionadas dificuldades.
Interessa-me bem mais agora destacar os bons exemplos dessa produção livresca interessando tanto os diplomatas, quanto os acadêmicos, seja pelo conteúdo próprio das obras, seja pelas possibilidades de aprofundamento adequado das questões abordadas. Compro ou recebo muitos livros, dos quais alguns são selecionados para leitura atenta e se tornam objeto de uma resenha corriqueira ou de um artigo-resenha mais alentado do que o habitualmente encontrado nos periódicos acadêmicos. O que distingue as minhas resenhas das que habitualmente se leem nesses veículos? Basicamente isto: ninguém me encomendou nada, eu mesmo decido o que ler, o que resenhar, e como analisar as obras que me chegam às mãos; não sou um resenhista profissional, apenas um leitor compulsivo, que sente vontade de dizer o que pensa sobre alguma obra em destaque.
À diferença dos dois volumes anteriores desta série, que incidiram seletivamente sobre obras de diplomatas brasileiros, este terceiro e último volume recupera unicamente os livros de “paisanos”, inclusive estrangeiros, ou seja, não diplomatas, quase todos acadêmicos, mas um outro profissional de mercado também, consultores ou profissionais liberais. Quando a oportunidade se apresentar, pretenderia preparar um artigo sobre os “brasilianistas” da diplomacia brasileira, ou seja, aqueles especialistas estrangeiros que se dedicaram ao estudo e à análise de nossa política externa.
Reuni, portanto, neste volume mais de cinco dezenas de resenhas de livros de não diplomatas profissionais obre temas que devem interessar diplomatas e candidatos à carreira. Na verdade, as obras resenhadas são em número superior a meia centena, algo em torno de setenta livros, tendo em vista duas resenhas múltiplas de sete livros cada uma das vezes, e uma ou outra resenha combinando edições estrangeiras originais e aquelas publicadas no Brasil. Os brasileiros nativos são mais numerosos, et pour cause: aproximadamente dois terços do total de autores examinados criticamente pertencem a universidades brasileiras, dois tendo inclusive exercido funções diplomáticas, brasileira ou multilateral, embora vários outros possam ter integrado ocasionalmente missões ou conferências diplomáticas.
No passado, a osmose entre um e outro setor era mais frequente, inclusive em nível de chefes de missão, o que se tornou extremamente raro nas últimas duas ou três décadas; trata-se, provavelmente, de um efeito residual do fato que a antiga capital do país era também o seu centro cultural. O insulamento operacional criado a partir da instalação da chancelaria no cerrado central, quase meio século atrás, não deveria, em princípio, impedir a cooperação intelectual, e até a troca de “produtos” entre as duas comunidades: relatórios, estudos, dissertações, teses, e o exercício docente, em ambas instituições, mas é um fato que a corporação diplomática tendeu a se fechar às incursões de “paisanos” no desempenho de missões permanentes no exterior. Seria isso bom para a carreira? Difícil responder, uma vez que, assim como ocorre para o cargo de ministro da defesa, existem poucas capacidades, de notória qualidade, detectáveis na vida civil e capazes de exercer com proficiência a chefia da instituição diplomática e a de defesa.
Os livros aqui selecionados tratam dos temas tradicionais da diplomacia, seja ela brasileira, regional ou multilateral, seja a de outros Estados, tanto quanto das diversas questões atinentes à política mundial e à economia internacional. Muitos outros temas correntes na agenda diplomática brasileira – como meio ambiente, por exemplo, ou a sua diplomacia cultural – bem como questões da política mundial – temas estratégicos ou de segurança, equilíbrio de poderes, com algumas raras exceções – estão ausentes, porém, o que tem a ver com as minhas afinidades eletivas ou vantagens comparativas no terreno analítico. Alguns dos mais longos artigos de resenha traduzem a empatia deste resenhista por determinadas obras consideradas relevantes num ou noutro campo de minhas preferências de leitura ou de especialidade docente. Considero esta amostra relativamente representativa da literatura obrigatória no universo diplomático brasileiro, com alguns clássicos evidente, e várias outras surpresas bibliográficas também.
Combinadas às resenhas e mini-resenhas compiladas nos dois primeiros volumes desta série, todas elas “filhotes” do enorme Prata da Casa, esta seleção de “leituras diplomáticas” – que não constituem, cabe relembrar, todas as resenhas registradas desde que comecei a praticar esse saudável hábito, que depois virou uma mania – oferece, aos aventureiros que adentrarem em suas quase mil páginas, conjuntamente, um panorama bastante amplo das obras mais relevantes produzidas por diplomatas e não diplomatas, sobre o Brasil e o sobre mundo. O volume é uma espécie de “gabinete de curiosidades” do que foi impresso e publicado nas últimas décadas nesta área de minha especialidade.
Mas alguém poderia perguntar: por que tantos livros, por que tantas resenhas? Se me permitem escapar de alguma condenação por esse vício incurável, eu diria que o culpado de tudo é Monteiro Lobato, o autor mais frequente de minhas leituras infantis e juvenis, junto com algumas dezenas de outros, geralmente autores estrangeiros também traduzidos por sua iniciativa, e muitos deles publicados justamente pela Companhia Editora Nacional, que Lobato havia fundado na convicção de que “um país se faz com homens e livros”. Escusando o viés de gênero, sempre fui, não apenas partidário ativo dessa afirmação, como eu a pratiquei intensamente ao longo de toda a minha vida alfabetizada (que por sinal começou apenas na tardia idade de sete anos, por força de um ambiente familiar não especialmente inclinado para as leituras nem preparado para vocações puramente intelectuais). Os que já leram atentamente Monteiro Lobato sabem que várias de suas obras infantis representavam adaptações de obras estrangeiras, de história ou outras disciplinas, voltadas para o público infanto-juvenil. Eu também fui uma “vítima” desse complô de Lobato em prol da cultura e da inteligência do país, e tenho procurado retribuir em adulto o que aprendi desde as minhas primeiras letras.
De fato, estas minhas resenhas, livremente produzidas, muitas delas inéditas, constituem uma espécie de retribuição que faço ao Brasil e aos mais jovens, por ter tido a chance de conviver com livros em bibliotecas públicas e de instituições de ensino, de ter buscado livros em outras bibliotecas, em livrarias, na companhia dos amigos e na leitura constante das folhas literárias dos periódicos mais importantes do Brasil e do exterior. Os livros sempre me “pesaram”, estrito e lato senso, nas muitas mudanças que empreendi em minha carreira acadêmica e na vida profissional, mas é um peso do qual jamais reclamei ou me arrependi, ainda que o volume excessivo me tenha obrigado, uma vez ou outra, a descartes setoriais ocasionais. Essa incurável compulsão pelo papel impresso, e agora pelos livros eletrônicos – dos quais este aqui é um perfeito exemplo – me serve perfeitamente, tanto quanto pode servir a um círculo bem mais amplo de eventuais interessados, justamente por meio deste tipo de produção, que apresenta em algumas poucas páginas livros mais densos do que as recomendações habitualmente oferecidas atualmente em nossas academias.
De minha parte, espero ter cumprido meu “dever” professoral, que é antes de tudo uma enorme satisfação intelectual, no sentido de partilhar com colegas e alunos minhas leituras registradas ao longo de toda uma vida na companhia dos livros. Esta série está provisoriamente encerrada, em face da ausência relativa de unidade conceitual nas resenhas remanescentes, mas espero voltar neste mesmo formato com outros materiais quase tão interessantes, e cativantes, quanto o mundo dos livros e da cultura.
Divirtam-se, e até a próxima...

Paulo Roberto de Almeida
(um incorrigível leitor e escrevinhador)
Hartford, 4 de novembro de 2014

..............................................................
Índice Geral
 
Primeira Parte, 19
Relações internacionais
Pierre Renouvin (ed.): Histoire des Relations Internationales
Francis Fukuyama: The End of History?
François Furet: Le Passé d’une Illusion: essai sur l’idée communiste
Alexandre Soljènitsyne: Lénine à Zurich
Jean-Christophe Rufin: L’Empire et les Nouveaux Barbares
Francis Fukuyama: Construção de Estados
Ricardo Seitenfus: Manual das organizações internacionais
Henrique Altemani e A. C. Lessa (orgs.): Política Internacional Contemporânea
Eduardo Felipe P. Matias: A Humanidade e suas Fronteiras
Fernando Barros: A tendência concentradora da produção de conhecimento
Guy Martinière - Luiz Claudio Cardoso (coords.): Coopération France-Brésil
Sverre Lodgaard and Karl Birnbaum (eds.), Overcoming Threats to Europe

Segunda Parte, 121
História diplomática e política externa do Brasil
João Pandiá Calógeras: A Política Exterior do Império
Carlos Delgado de Carvalho: História Diplomática do Brasil
Hélio Vianna: História Diplomática do Brasil
José Honório Rodrigues e R. Seitenfus:  Uma História Diplomática do Brasil
Amado Luiz Cervo e Clodoaldo Bueno: História da Política Exterior do Brasil
Sandra Brancato (coord.): Arquivo Diplomático do Reconhecimento da República
Ricardo Seitenfus: Para uma Nova Política Externa Brasileira
Henrique Altemani de Oliveira: Politica Externa Brasileira
Henrique Altemani e A. C. Lessa (orgs.): Relações internacionais do Brasil
A. A. C. Trindade: Repertório da Prática Brasileira do Direito Internacional
Clóvis Brigagão: Diretório de Relações Internacionais no Brasil, 1950-2004
João P. Reis Velloso e Roberto Cavalcanti (coords.): Brasil, um país do futuro? 

Terceira Parte, 209
Hemisfério americano e integração regional
Lincoln Gordon: Brazil’s Second Chance; A Segunda Chance do Brasil
Moniz Bandeira: O Expansionismo Brasileiro e a formação dos Estados no Prata
José Luis Fiori (org.): O Poder Americano
Moniz Bandeira: Estado Nacional e Política Internacional na América Latina
Boris Fausto e Fernando J. Devoto: Brasil e Argentina: história comparada
Eduardo Viola e Héctor Ricardo Leis: Desafios de Brasil e Argentina
John Williamson (org.): Latin American Adjustment: How Much Has Happened?
P.-P. Kuczynski e John Williamson (orgs.): After the Washington Consensus
Vários autores: A marcha da integração no Mercosul
Helder Gordim da Silveira: Integração latino-americana: projetos e realidades
José A. E. Faria: Princípios, Finalidade do Tratado de Assunção
Avelino de Jesus: Mercosul: Estrutura e Funcionamento
Jorge Pérez Otermin, Solución de Controversias en el Mercosur
Pedro da Motta Veiga: A Evolução do Mercosul: cenários
José Maria Aragão: Harmonização de Políticas no Mercosul
Hervé Couteau-Bégarie: Géostratégie de l’Atlantique Sud

Quarta Parte, 315
Economia mundial e comércio internacional
Vários autores: A economia mundial em perspectiva histórica
Jagdish Bhagwati: Em Defesa da Globalização
Paul Krugman: Rethinking International Trade
Daniel Yergin: The Prize: The Quest for Oil, Money and Power
Celso Lafer: Comércio, Desarmamento, Direitos Humanos
Mônica Cherem e R. Sena Jr. (eds.): Comércio Internacional e Desenvolvimento
Rabih Ali Nasser: A OMC e os países em desenvolvimento
Joseph Stiglitz e Bruce Greenwald: Novo Paradigma em Economia Monetária
Santiago Fernandes: A Ilegitimidade da Dívida Externa
Ha-Joon Chang: Kicking Away the Ladder; Bad Samarithans
Gary Clyde Hufbauer e Jeffrey J. Schott: North American Free Trade
Tullo Vigevani e Marcelo Passini Mariano: Alca: o gigante e os anões
Tullo Vigevani; Marcelo Dias Varella: Propriedade intelectual e política externa
Maria Helena Tacchinardi, A Guerra das Patentes: o conflito Brasil x EUA

Apêndices
A arte da resenha (para principiantes), 403
Livros publicados pelo autor, 409
Nota sobre o autor, 413

Disponibilizado na plataforma Academia.edu
link: https://www.academia.edu/9108147/25_Rompendo_Fronteiras_a_academia_pensa_a_diplomacia_2014_

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Brasil companheiro: manifestos falsos em nome de militares. Mais golpe companheiro?

Tenho recebido supostos manifestos anti-governo enviados ao que parece por "militares".
Pode ser um novo golpe neobolchevique para constranger e causar confusão.
Como este aqui, que estou retirando: 

ALERTA DOS MILITARES À NAÇÃO !

Cabe verificar procedência e contatar os nomeados para verificar os termos exatos da manifestação.
Paulo Roberto de Almeida

Fundamentalismo religioso: Malasia chega ao ridiculo linguistico

Intolerância religiosa já foi motivo de muitas matanças, guerras, enfrentamentos.
Neste caso ajudada por autoridades do Estado.
Paulo Roberto de Almeida 

Photo

KOTA KINABALU, Malaysia — As the students knelt in a circle at a Christian kindergarten near the shores of the South China Sea, a 6-year-old girl in pigtails read out a chapter from a children’s Bible: “Sepuluh hukum dari Allah” – God’s Ten Commandments.

Technically, she broke the law.

According to a series of government orders and rulings by Malaysia’s Islamic councils, the word for God in the Malay language – “Allah” – is reserved for Muslims. Malay-language bibles are banned everywhere except inside churches. State regulations ban a list of words, including Allah, in any non-Muslim context.

Malaysia, with its collage of ethnic groups and religions, has a long history of tensions over issues ranging from dietary differences to the economic preferences enshrined in Malaysian law for the Malay Muslim majority.

But there is probably no dispute more fundamental and more emotionally charged than who owns the word God.

For Malaysia’s religious minorities, the government’s ban on non-Muslims using the word Allah, and the repeated seizures by government officials of Malay-language Bibles, is enough to make a smiling and cheery kindergarten teacher snap in anger.

Photo
Al-Kitab, the Malay Bible, uses the word "Allah" to mean God, technically breaking the law. CreditRahman Roslan for The New York Times 

“Honestly I think it’s nonsense,” said Belinda Buntot, the teacher in the kindergarten here on the northern tip of the island of Borneo. “Of course we use Allah. We can’t teach the kids without it.”

Outside the country, the Malaysian government has sought to cultivate an image of a modern, moderate Islamic country, where 60 percent of the population is Muslim, and minorities live harmoniously.


But Christians, who make up 10 percent of the country’s population, say the Allah ban is one of many signs that a conservative Islamic movement is steering an increasingly intolerant government policy.

In recent weeks, the religious authorities have banned Muslims from taking part in Halloween and scolded them for petting dogs, which the state Islamic authorities view as unclean.

The government’s Department of Islamic Development did not respond to a request to explain the official position on the Allah ban, but over the years the government has offered a number of reasons.

When the government first prohibited the “printing, publication, sale, issue, circulation or possession” of Malay-language Bibles in 1981, it said the books were “prejudicial to the national interest and security” of the country.

Islamic authorities have warned that Malay-language Bibles could be used for proselytizing Muslims, which is illegal in Malaysia.

The Department of Islamic Development argues that Allah is not a generic name for God but signifies “the religion of the person who uses it.”

“That is the reason why the usage needs to be monitored and preserved by the government in order to ensure that no one will be confused with the Most Exalted name,” the department says on its website.

Perhaps more than at any time in recent decades, Malaysia’s moderate voices are sounding an alarm.

Zainah Anwar, the founder of Sisters in Islam, a women’s rights group, describes a “headlong descent into a puritanical, extremist, intolerant brand of Islam in this country.”

“Malaysia’s moderate Islam is only touted for Western consumption,” she wrote in The Star newspaper on Sunday. “For too long this government has given almost a carte blanche to the religious authorities and the belligerent supremacists to take the lead and define what Islam is and is not.”

Enforcement is patchy for the Allah rule, which has been promulgated in different forms and by different government and religious authorities over the past three decades. But the rule has been upheld by the country’s highest courts.

Islamic scholars say banning non-Muslims from using “Allah” is unique to Malaysia.

“You can’t find this idea in any previous Islamic discourse,” said Yahya Cholil Staquf, a senior cleric at Nahdlatul Ulama, the largest Islamic organization in Indonesia, Malaysia’s neighbor and the world’s most populous Muslim-majority country. “Every language has its own word for God. Allah is just a word to acknowledge God. It’s not a word for only Muslims.”

The Christian minority in Indonesia, where the lingua franca is similar to Malaysia’s, refers to God as Allah without any controversy; Indonesian Bibles are often imported into Malaysia, when they are not seized by the authorities.

On Tuesday, a court in Kuala Lumpur, the Malaysian capital, is scheduled to begin deliberations in a long-running case over the seizure in 2007 of a box of Sunday school materials, including coloring books and Bible story books, that used the word Allah.

The books were eventually returned, but their owner, a large evangelical Christian denomination, Sidang Injil Borneo, is challenging the constitutionality of the seizure because such confiscations continue. Malaysian customs agents seized compact discs and books destined for a Borneo church in late October.

Minorities need clarity on freedom of religion in the country, said the Rev. Jerry Dusing, the church president.

“No law can prohibit anyone from the reasonable practice of their faith,” he said in an interview. “Why on earth are they banning words?”

The Roman Catholic church has also been embroiled in a court case challenging Malaysia’s Allah ban after the government ordered that its newsletter, The Herald, stop using Allah.

When a judge ruled in the church’s favor in 2009, 10 churches were vandalized, one gutted by fire. An appeals court overturned the ruling last year.

“It is our common finding that the name Allah was not an integral part of the Christian faith and practice,” the lead judge, Mohamed Apandi Ali, said.

An appeal was rejected, but church leaders are trying to get the decision reviewed.

Like Christianity, Islam was also introduced here by foreigners. Centuries before European colonists arrived in Asia, Arab traders spread Islam and Arab culture here, infusing the Malay language with words such as Allah. Christianity came later, with the arrival of missionaries from the West and European colonialism.

Islam is the official religion of Malaysia, and Muslims are governed by Shariah, though Christians, Hindus and Buddhists make up sizable minorities.

Liberal Muslims, who like many Christians say they are concerned with what they see as the growing power of conservative forces, see nontheological reasons driving the Allah ban.
In Malaysia’s ethnic-based politics, it is in the interest of politicians from the governing coalition to play up perceived threats to Islam, says Wan Saiful Wan Jan, the executive director of the Institute for Democracy and Economic Affairs, a research organization in Kuala Lumpur that promotes liberal democracy and free markets.

The United Malays National Organization, or UMNO, has been the dominant party of the coalition in power for 57 years, but the group was nearly toppled by a multiethnic coalition of parties last year.

“The more Muslims feel they are under threat, the more UMNO can maintain its political hegemony,” Mr. Wan Saiful said.

Mr. Wan Saiful says Malaysia’s conservative Muslims are disconnected from the wider Islamic world. Arabic-language bibles used by Christians in countries such as Egypt and Lebanon use the word Allah for God.

He was attending a conference overseas this year when the court affirmed the ban on the Catholic church using Allah in its newsletter.

“This Palestinian guy came up to me and said, ‘The world is laughing at you. I’m from an Arab country and everyone uses the word, every day.'”

A diplomacia do MST: paralela, clandestina, ilegal (bolivariana, claro)

Só podia ser com os aliados venezuelanos: eles entram e fazem o que querem no Brasil...

O vice de Maduro veio ao Brasil sem aviso diplomático e assina acordo para criar e treinar milícias do MST. DEM exige explicações de Dilma. 

Elias Jaura, um dos vice-presidentes da Venezuela, desde setembro responsável pela relação do governo de Nicolás Maduro com as comunas e os movimentos populares, inclusive a organização de milícias populares – depois de ter deixado a Chancelaria venezuelana – ele também é ministro de Nicolás Maduro. Foi nesta qualidade que o ministro assinou, há dois dias, acordos com lideranças do Movimento Sem Terra nas áreas de “treinamento, organização e conscientização do povo”.

.O editor soube na sexta-feira que o deputado gaúcho Onyx Lorenzoni mobilizou o líder do DEM, Ronaldo Caido, para que pressione o governo Dilma a se explicar.

. O DEM quer chamar a deputada Cora Corina para vir a Brasília e explicar o caráter subversivo da visita de Jaua.

. Há o óbvio temor de que o governo venezuelano treine arme o MST para enfrentamentos armados, inclusive em áreas urbanas, infiltrando-se em manifestações de rua e junto aos setores que se manifestam contra Dilma. Na Venezuela, as milícias de Jaua matam os adversários. 

. O governo brasileiro não vê problemas nas atividades de Jaua, apesar de não ser uma visita oficial. Diplomatas alegam que vários ministros estrangeiros em visita ao Brasil costumam programar sua agenda e mesmo assinar acordos com organizações não-governamentais sem que essa negociação passe pelo Itamaraty. Não há lembranças, no entanto, de ministros cumprindo agendas em nome de seus governos sem que o país anfitrião sequer seja comunicado da sua presença.


- O vice veio ao Brasil com o pretexto de submeter sua esposa a tratamento no Sirio-Libanês. A baba dos seus filhos,veio esta semana. Ao entrar no País com uma maleta do ministro, Jeanette del Carmen Anza terminou presa por trazer junto a documentos uma arma calibre 38 pertencente a Jaua. Solta há dois dias, vai responder a um processo por tráfico ilegal de armas.

Debatendo (inutilmente?) com um adepto convencido - Paulo Roberto de Almeida


Carta à presidente de um adepto convencido: observações de um iconoclasta não convencido

Paulo Roberto de Almeida
 
Recebi hoje, de um interlocutor frequente nestes tempos não convencionais de convencimento pela vitória (aparente, pelo menos) do seu partido nas recentes eleições presidenciais, o desafio de comentar uma longuíssima carta que ele mandou para soberana. Ela não vai ler, obviamente, mesmo que tivesse apenas dois parágrafos: os 225 aspones que a cercam apenas vão arquivar a missiva, se é verdade que ela seguiu para o endereço correto do palácio de trabalho (assim parece) da soberana, mas também desconfio que essa não é bem a intenção do missivista: ele provavelmente quer se destacar dos companheiros mais companheiros e aparecer, por assim dizer, como um conselheiro do príncipe de boa vontade, dizendo uma quantas palavras gentis, e depois fazendo críticas e sugestões para um reino feliz para a sua soberana, que não é minha, mas ocorre que eu não sou exatamente anarquista, e pretendo atuar seguindo as instituições (o que nem sempre, ou quase nunca, é o caso dos companheiros, que sabotam as mesmas instituições incessantemente, e que pretendem substituí-las por correias de transmissão do partido neobolchevique a que obedecem, na mais pura tradição leninista e stalinista).
Mas, como eu não sou de recusar desafios, vou comentar, e provavelmente discordar, quanto à maior parte dos argumentos do autor da missiva. Não por espírito contrarianista da minha parte – o que eu tenho, sim, e não tem por que esconder – mas simplesmente por cortesia com o missivista, aqui vão minhas observações, apenas quanto aos tópicos relevantes, pois seria muito enfadonho comentar esse verdadeiro tratado de política partidária.
Transcrevo as palavras do Adepto Convencido (AC: ), que faço seguir de meus próprios comentários (PRA: )

AC:Cara presidenta, se eu vivesse em uma ditadura militar, espero que eu tivesse coragem para pegar em armas, sequestrar embaixadores e assaltar bancos; mas pelo retorno a uma democracia-liberal como a que temos hoje, e não para a instauração de uma ditadura marxista de qualquer tipo. Não obstante não compactuar com vosso idealismo revolucionário marxista, o respeito.
PRA: Como deve saber o missivista, a sua soberana não parece ter dado muitos tiros, mas praticou várias ações ditas revolucionárias, não exatamente para fazer o Brasil retornar a uma democracia burguesa, que todos os revolucionários, inclusive eu, desprezavam, mas para implantar um regime socialista de ditadura do proletariado. Se tivessem tido sucesso o Brasil seria, no limite, uma grande Cuba miserável, ditatorial, obviamente, e numa hipótese mais amena, uma Venezuela bolivariana sem muito petróleo. Ainda bem que não deu certo, e fomos derrotados. Alguns partiram para o exílio, como eu, outros ficaram e amargaram tortura e cadeia, como a soberana. Mas isso não é o mais importante. O importante é que, salvo um ou dois gatos pingados – e eu apenas me lembro do Gabeira e do Sirkis – nenhum desses ex-guerrilheiros fez sua autocrítica, ou melhor, se arrependeu sinceramente pelos “malfeitos” cometidos. Ao contrário, vários pretendem se vingar dos militares que os combateram, orientando os trabalhos de uma dita Comissão da Verdade para um relatório parcial, enviesado, distorcido, que não vê nenhuma responsabilidade nos ataques guerrilheiros (precoces, num momento em que o Brasil vivia a chamada ditabranda) no recrudescimento da ditadura militar e na repressão que se seguiu. Até parece que os militares saíram imediatamente torturando e matando guerrilheiros, e que eles não fizeram nada. Essa correção, todos os guerrilheiro reciclados ainda precisam fazer, para sua própria credibilidade e simples de honestidade intelectual. Eu reconheço que estava errado, e digo sinceramente: ainda bem que éramos fracos, pois poderíamos ter causado muitas outras mortes e até precipitado o país numa guerra civil, como em outros casos.

AC:É fundamental que se aumente a retribuição por titulação dos professores de ensino fundamental e médio; que os professores que tenham especialização, mestrado ou doutorado nas áreas em que lecionam recebam remuneração crescentemente mais alta por isso, e que essa remuneração seja incorporada em suas aposentadorias.”
PRA: Aqui começam as sugestões e reivindicações do AC, e começam mal, por algo puramente corporativo. O problema da educação no Brasil não é exatamente de caráter remuneratório, e sim de deficiências de formação dos professores, e não é aumentando as dotações, a qualquer título, que se vai resolver o problema da má qualidade do ensino, em todos os níveis, da pré-escola ao pós-doc. Eu recomendaria ao AC examinar com mais atenção o problema educacional, para incidir sobre o que é prioritário, não sobre o que é secundário.

AC:É fundamental que na nova edição do programa Ciência Sem Fronteiras universidades, faculdades e institutos de países em desenvolvimento com centros de pesquisa e ensino tão bons quanto a Universidade de Brasília, a Universidade Federal do Rio de Janeiro e a Universidade de Campinas, como Rússia, África do Sul, Índia, Israel, Turquia e Irã sejam também contemplados, sem deixar de lado as parcerias e destinos já existentes.
PRA: Errado, também. Quando alguém quer melhorar, precisa aprender nos livros ou com gente mais preparada. É evidente que as melhores condições de estudo e de preparação técnica – e aqui já me posiciono contra a extensão do CSF ao terreno das humanidades – se encontram nos países desenvolvidos. Que esses países citados possam exibir centros tão bons quanto os brasileiros citados chega a ser risível, pois pode-se perguntar quanto deles, e dos nossos, estão bem situados nos rankings de produção científica. Tem também as facilidades de acesso a documentação, comunicações, etc. Eu, aliás, sou contra o CSF, acho que é pura demagogia política e um turismo acadêmico, que serve para aprender um pouco de inglês (agora, pois antes só se aprendia lusitano e portunhol). Sou pela formação clássica, e bolsas distribuídas seletivamente, não por atacado, como se faz com o CSF, visando mais os números do que a qualidade da formação. Muito dinheiro jogado fora com esse turismo acadêmico, e que falta para bolsas e projetos científicos de verdade, no Brasil e no exterior.

AC:É fundamental que, ao menos em nossas maiores universidades federais, tenhamos bibliotecas e espaços de estudo que funcionem vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana. É do interesse destas instituições e de todos aqueles que se interessam pelo desenvolvimento da educação, da cultura e da inovação no país que esses espaços de estudo existam, de modo a fomentar ambientes de estudo e pesquisa.
PRA: Nisso concordo a 150%, e acho uma vergonha o funcionamento das universidades federais, nas quais o sindicalismo mafioso dos funcionários impede até professores de darem aulas. Acho que estabilidade é uma balela, para várias categorias, e a chamada “tenure” deveria ser atribuída apenas ao longo de uma carreira dedicada ao ensino e pesquisa, não de entrada como ocorre hoje. Existem muitos outros aspectos, mas não cabe abordar aqui.

AC:É fundamental que criminalizemos não apenas a homofobia, já citada em vosso discurso, mas também a transfobia.”
PRA: Pode até ser fundamental, mas o Brasil está sendo fragmentado em direitos minoritários, que capturam a agenda pública e distorcem o debate em torno dos verdadeiros problemas da população. As minorias conseguiram nacos formidáveis dos orçamentos públicos, deixando os verdadeiramente necessitados sem o atendimento de suas necessidades. Não estou sendo politicamente correto, e não pretendo ser: para mim antes passam as necessidades das maiorias; as minorias precisam ser respeitadas, mas precisam ser contidas, do contrário o país vai virar um arquipélago de ativistas.

AC:É fundamental a regulamentação econômica da mídia.
PRA: Mídia é a palavra preferida daqueles que pretendem controlar a imprensa. O que é fundamental é uma lei que impeça qualquer controle da mídia. Quanto aos aspectos econômicos, o melhor remédio é competição. Enquanto o Estado restringir o mercado, cartelizando-o, distribuindo concessões a conta-gotas, vai continuar essa concentração que se considera danosa. Abram-se todas as portas, SEM CONCESSÃO de subsídios oficiais, SEM PROPAGANDA governamental (que deveria ser extinta, simplesmente) e deixemos os agentes diretos – empresas, cidadãos, associações – resolverem quem oferece o melhor serviço à população. Concorrência é o melhor desinfetante contra monopólios e carteis. Eu extinguiria também todos os canais e redes públicas, pois sempre é fonte de corrupção e de favores indevidos, além de cabide de empregos para o partido no poder. NENHUM órgão público deve fazer propaganda, a não ser aquela estritamente vinculada a avisos epidemiológicos e de catástrofes para a população, o que é aviso, não publicidade.

AC:É fundamental acelerar os trâmites para reconhecimento dos territórios quilombolas, inclusive com a isenção dos impostos territoriais correspondentes.
PRA: Eu diria que esse tipo de incentivo gera uma indústria do quilombolismo, como já se gerou a indústria do indigenismo falso, e o das indenizações por suposta resistência contra a ditadura. QUALQUER medida discriminatória para grupos organizados vai gerar um mercado secundário de falsificações e embustes, que acabam gerando mais problemas do que os existentes anteriormente, que podem ser resolvidos topicamente por medidas específicas, não por políticas gerais, que são um convite à corrupção e ao desvio de dinheiro. Já vimos esse filme com milhares de sem terras e sem teto que existem profissionalmente, para certos objetivos ocultos, não para as necessidades diretas. De todo modo, não cabe ao Estado prover tudo diretamente aos cidadãos: criando-se um ambiente de mercado competitivo, todas essas necessidades podem ser atendidas. Como já disse alguém, o melhor programa social é o emprego.  Ponto.

AC: “...o presente manifesto não demanda diminuição da carga tributária...”
PRA: Pois é uma pena, e está errado. O Brasil, dentro do seu nível de renda per capita, é um país claramente disfuncional, capturando renda da sociedade dez pontos de PIB acima de países emergentes equivalentes. Temos uma carga fiscal de país rico, para uma renda per capita 5 a 6 vezes menor. Algo está errado e precisa ser corrigido. Sabe-se que há uma relação direta, e inversa, entre o tamanho da carga fiscal e o nível da taxa de crescimento: quanto maior uma, menor a outra. O Brasil precisa escolher o que quer: o caminho atual o condena a um crescimento medíocre, o que significa dobrar a renda apenas em duas gerações ou mais. É isso o que se pretende?

AC:Peço-lhe respeitosamente que mantenha sempre que possível a proximidade e as boas relações com os parlamentares do PSOL,...
PRA: Bem, deve ser a tal de “utopia concreta”, não é? Inacreditável, como depois de um século inteiro de experimentos socialistas, que só redundaram em miséria, opressão, e dezenas de milhões de mortos, alguém ainda tem coragem de propor esse tipo de programa para o Brasil. Ainda que os alucinados não venham a perpetrar o seu programa delirante, é evidente que quanto mais estatismo mais atraso econômico, e mais perpetuação de nossas distorções. Alucinação mental é um problema grave entre os nossos gramscianos de botequim. Isso passa com a idade, mas até lá é preciso suportar...

AC:A grande imprensa foi muito habilidosa em produzir uma imagem das manifestações como uma crítica a vosso governo, especialmente entre os eleitores do estado de São Paulo. A senhora deve investir em comunicação para evitar isso o máximo possível...”
PRA: Mais um que acredita que quem cria matérias de imprensa é a própria imprensa, não fatos objetivos. Vou repetir: SOU CONTRA qualquer “comunicação” de governo. Nenhum governo precisa disso. Basta ter um porta voz, e a imprensa, toda ela, a mídia golpista, a mídia mercenária dos companheiros, as ONGs com “mídia” vão repercutir o que for importante. Apenas isso e nada mais do que isso.

O resto da longuíssima mensagem é uma ajuntamento heteróclito de reivindicações setoriais, locais, aconselhamento político e “aulas” de história. Alguns dos “argumentos” são francamente patéticos, mas não vou perder tempo em rebatê-los, pois eu teria de também dar aulas de história para o jovem conselheiro da soberana. Ele vai crescer, ler mais um pouco, e viajar pelo mundo, para aprender o que é o mundo real, muito diferente daquele que aprendeu nas aulas das saúvas freireanas, dos gramscianos de botequim, e dos companheiros de partido, alguns mercenários empenhados em fabricar números e argumentos falaciosos com os quais ele pretende “aconselhar” a soberana. Tudo é uma questão de tempo, de leituras e de experiência de vida. Mas, claro, precisa ter a mente aberta, e pensar com a sua própria cabeça, não com a dos velhacos que pretendem induzi-lo a erro. Fundamentalismo político é igualzinho ao religioso: conduz a criacionistas incapazes de pensar fora dos quadros mentais nos quais foram treinados. Se conviverem apenas nesses meios, eles viram perfeitos robôs...

Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 3 de novembro de 2014.

Codex Diplomaticus Brasiliensis (3): Apresentacao - Paulo Roberto de Almeida

Hartford, Edição de Autor, 2 novembro 2014, 326 p. 

Livro digital, em edição de autor, composto de resenhas de livros de diplomatas, já publicadas no Prata da Casa
Disponível na plataforma Academia.edu:
Link:
https://www.academia.edu/9084111/24_Codex_Diplomaticus_Brasiliensis_livros_de_diplomatas_brasileiros_2014_

 
..............................................................
Apresentação 

Codex Diplomaticus era o título em latim que muitas chancelarias de antiga tradição usavam para designar a sua coleção, ou códice, de atos internacionais: tratados solenes, acordos de cooperação, convenções setoriais ou simples memorandos de entendimentos, assinados com potências estrangeiras e, de modo geral, mais entre soberanos que trocavam embaixadas ad hoc, do que entre dois Estados nacionais. Esses grossos volumes, que na Idade Média tardia eram feitos em pergaminho, e muitos deles encadernados com madeira e couro, passaram também a conter, na era do papel, atos multilaterais assinados ao cabo de alguma conferência diplomática reunindo diversas dessas potências, geralmente na sequência de grandes conflitos militares, como foi o caso dos tratados de Westfália (1648). Foi a partir desse doloroso despertar da era moderna que se deu início ao costume de repertoriar os documentos que faziam parte dos tratados de aliança e de convivência entre Estados nacionais, quando o latim ainda era a língua por excelência das relações internacionais e consolidava, como tal, o registro dos atos mais importantes da política externa dos seus soberanos.
O Brasil, obviamente, não é parte original dessa tradição: não esteve na conferência que restabeleceu a paz europeia, depois da guerra de Trinta Anos, nem jamais usou o latim como sua língua diplomática. Na primeira grande conferência em que esteve representado – mas indiretamente, como Reino Unido, em Viena –, a língua usada já era o francês, que continuou muito em voga na diplomacia brasileira até depois do final da Segunda Guerra Mundial. Mas, à diferença do suporte dialetal e diplomático que presidiu ao final do último grande conflito militar da era napoleônica, a Primeira Guerra Mundial, e ao tratado de Versalhes, o inglês suplantou rapidamente o francês como a língua de trabalho e de referência das conferências multilaterais e dos grandes atos internacionais, provavelmente desde a primeira “declaração das nações unidas,” de 1942, ainda com os Estados Unidos e a Grã-Bretanha unicamente. Nem se mencione o latim, que o próprio Vaticano pensa abandonar como língua oficial de seus documentos mais importantes; parece que nem nos seminários se estuda latim convenientemente.
  Pode parecer estranho, assim, alguém pretender apresentar um simulacro de Codex Diplomaticus Brasiliensis, que sequer é assemelhado a um repertório dos atos internacionais do país, que devem estar devidamente registrados na sua chancelaria diplomática. Não seja por isso: eu estava tentando achar um nome para esta minha segunda coleção especializada de resenhas de livros ligados às relações internacionais e à política externa do Brasil e como o nome me era simpático, e estava disponível, resolvi me apropriar dele, sem pedir licença a ninguém. Sem falsas analogias, portanto, segue aqui um dos derivativos do meu primeiro “códice” de leituras diplomáticas, que veio a lume com o título mais ou menos nobiliárquico de Prata da Casa. A despeito de ser enorme, esse livro ainda está disponível aos curiosos na plataforma Academia.edu, mas ele vem sendo esquartejado aos poucos em volumes mais modestos.
Separei, em primeiro lugar, a verdadeira “prata da casa”, que eram as centenas de mini-resenhas de livros de diplomatas que publiquei nos últimos dez anos no boletim da Associação dos Diplomatas Brasileiros, a ADB; ele já se encontra disponível na mesma plataforma (e vem sendo regularmente acessado, como posso constatar). Faço agora o mesmo com as resenhas mais longas dos livros escritos e publicados por colegas de carreira. Mas também pretendo fazer o mesmo com os de não diplomatas.
Comparecem, portanto, aqui mais de 40 autores identificados nominalmente, com a particularidade de que existem livros com mais de dois autores, mas também obras coletivas, com muitos autores, alguns deles diplomatas, São quase seis dezenas de livros, embora alguns títulos se repitam devido ao fato de terem sido objeto de novas edições, como é o caso de alguns do próprio autor desta coleção. Se ela é o equivalente de um Codex, ou códice, eu não sei, mas ela certamente comporta os mais importantes, ainda que não todos, os títulos produzidos dentro da carreira nas duas últimas décadas. Como se pode constatar, os diplomatas também escrevem e publicam, o que é um sinal de que a Casa não está fechada sobre si mesma, como muitos querem fazer acreditar.
Que os diplomatas escrevam, isso é um truísmo pleonástico, se me permitem a redundância. Entre telegramas e outros atos de ofício, os diplomatas passam a vida na palavra escrita, o que é complementado pela oralidade das conferências multilaterais e das muitas reuniões bilaterais ou regionais, sem mencionar os encontros informais, que constituem, provavelmente, o essencial da carreira: prepara-se tudo de antemão, se possível com entendimentos preliminares em torno de algum acordo geral ou setorial, e depois se passa à finalização, sob a forma de algum acordo ou tratado internacional. Tudo isso fazia – deve ainda fazer – objeto de notas detalhadas que vão parar nos arquivos da nossa diplomacia, embora eu mantenha fundadas suspeitas de que alguns episódios recentes não tenham recebido o mesmo tratamento meticuloso.
Mas eu não quero me referir aqui aos expedientes oficiais, geralmente redigidos num diplomatês insosso que nunca me agradou particularmente. Aliás, os poucos diplomatas que se distinguiram na vida pública do país, o fizeram como artistas ou intelectuais, não especificamente como diplomatas, e os que o fizeram possuíam uma escrita elegante e refinada, não necessariamente conforme aos cânones da diplomacia. Desafio qualquer um de meus colegas a me apontar um burocrata que tenha entrado para a história – do país ou mesmo de sua diplomacia – apenas porfiando o diplomatês que somos obrigados a usar na chancelaria: talvez o Visconde de Cabo Frio, mas ele não seria um candidato à Academia Brasileira de Letras, não é mesmo? Quem o fez, por exemplo, foram Oliveira Lima e o Barão do Rio Branco, nessa sequência, e não precisamente por seus escritos “diplomáticos”, e sim pela pesquisa histórica ou os artigos de atualidade internacional que produziram no contexto da atuação política do Brasil no cenário internacional. Todos os demais contemplados ao longo de mais de um século se distinguiram nas letras e no labor das diversas áreas das humanidades.
Mas, ainda que muitos não acreditem, diplomatas também escrevem coisas diferentes dos telegramas e ofícios de chancelaria, e isso merece registro e comentários. Pois foi exatamente essa virtude que me motivou a sempre buscar resenhar as obras de colegas contemporâneos – e alguns de tempos outros também – não apenas como mero registro burocrático, o que seria o dever e a obrigação de algum encarregado de códices de sua chancelaria, mas por simples empatia com essas obras, que me foram dadas conhecer através de uma leitura atenta, mas não por isso menos crítica. Não sou adepto do elogio hipócrita, nem dos adjetivos grandiloquentes: o que tenho a dizer, eu escrevo, tout simplement. Talvez seja por isso que algumas das minhas mini-resenhas ficaram naquele espaço que a própria Igreja extinguiu, e que antigamente se chamava limbo.
Estão aqui organizados, portanto, segundo uma estruturação temática mais conforme o caráter geral de cada obra, todos os livros que integravam a segunda parte do Prata da Casa, ou seja, as resenhas mais longas de livros de diplomatas. Ficaram ainda de fora todas as demais obras que também pertencem ao mesmo universo, ou seja, às relações internacionais, em geral, e à política externa do Brasil, em particular, mas que foram escritas por “paisanos”, ou autores não diplomatas, alguns até estrangeiros. A esses dedicarei um terceiro volume, provavelmente agregando à coleção alguns livros de caráter geral, mas que interessam à cultura diplomática em seu sentido amplo.
Como parece inevitável numa Casa que tem o seu “santo protetor”, o Barão comparece aqui diversas vezes e, como não poderia deixar de ser, na primeira parte da coletânea, voltada para o cenário histórico da diplomacia brasileira. Talvez seja uma deformação acadêmica desde resenhista, que sequer é historiador de formação, mas o fato é que quase a metade das obras resenhadas foram inseridas nessa categoria, embora muitas delas também o pudessem ser na de multilateralismo ou na de regionalismo. A decisão por dividir as resenhas nessas cinco grandes seções, me deixa na incômoda posição de exibir apenas duas humildes resenhas para obras puramente literárias, embora muitas outras tenham sido objeto de mini-resenhas no volume Polindo a Prata da Casa. Numa outra encarnação, quem sabe?, eu possa voltar como um grande leitor de novelas, romances e poesia, mas, nesta aqui, a deformação já parece incontornável: sou um incurável viciado em literatura especializada nas humanidades e nas ciências sociais aplicadas (e com incompetência manifesta em várias delas).
Como já disse em outra ocasião, artigos de resenhas, ou review-articles, ao estilo da New York Review of Books – e a maior parte dos textos aqui inseridos se enquadra nessa categoria –, têm mais a virtude de destacar mais as preferências e as inclinações intelectuais do próprio resenhista do que, talvez, o espírito da obra e as motivações de seus autores, mas não vejo nisso um problema maior na confecção e publicação destes textos de “bibliomania”. Afinal de contas, todos têm o direito de exibir, a qualquer título, suas afinidades eletivas e seus gostos pessoais em matéria de artes, culinária e intelecto. As minhas estão claramente expressas nas revisões críticas que elaborei a respeito das obras que busquei ler de forma atenta e anotada.
Desde já esclareço que estas resenhas não são, nem de longe, as de todas as obras de diplomatas que me chegaram às mãos e que integram a minha biblioteca. Como poderão constatar, poucas das obras que aqui comparecem foram publicadas pelo próprio Itamaraty, e as que o foram não fazem parte daquilo que se poderia chamar de “corveia diplomática”, ou seja, os trabalhos de final de curso, na etapa inicial do Rio Branco, ou naquela intermediária do Curso de Altos Estudos. Talvez apenas três ou quatro, dentre as quase 60 obras lidas e resenhadas, pertencem a essa categoria dos trabalhos “oficialmente encomendados”, mas as dessa vertente que eu escolhi resenhar se situavam, de certa forma, num outro terreno que não o do “longo memorando” interno à carreira, que geralmente são aqueles trabalhos que ficam marcados pela adesão à, e pelo conformismo com a doutrina do momento. Não que eu tenha qualquer hostilidade contra obras “de carreira” – tanto porque quase todas elas foram objeto de leitura e de uma mini-resenha de minha parte – mas é que elas não expressam, por assim dizer, aquela característica que é inerente ao artista ou ao  verdadeiro intelectual, que é a liberdade de pensamento.
Creio já ter dito que o Itamaraty é uma espécie de Vaticano da diplomacia, que tem a sua própria, por sinal uma das melhores do mundo; é que ele também cultiva esses valores essenciais ao seu funcionamento, que são a hierarquia, a disciplina e a adesão ao dogma do momento. Tudo isso combina mal com essa qualidade que eu tanto prezo, que é a capacidade de dizer o que se pensa, no mais puro exercício dessa faculdade humana que é o livre arbítrio, sem mestre, sem patrão, sem verdades reveladas. Nunca fui adepto do conformismo ambiente, e por isso mesmo preciso terminar e publicar o meu Dicionário dos Disparates Diplomáticos que pretende, à la Bouvard e Pécuchet, compilar as mais belas pérolas destes tempos não convencionais.
Enquanto ele não vem, permito-me oferecer aos curiosos, aos necessitados, aos que praticam o hábito saudável da leitura – sem contra indicações, a não ser a de despertar o ceticismo sadio em quem aprecia um mundo de certezas – esta coletânea de leituras já feitas, em torno de um pequeno universo que é tão diverso quanto o próprio, com a vantagem de não necessitar buscar em bibliotecas ou em sebos aquele livro de que se tinha ouvido falar mas não estava ao alcance da mão, ou da tela de e-reader ou de computador. Se eu reunisse todas as resenhas feitas ao longo de uma vida dedicada aos livros, construída por eles e na companhia desses singelos objetos de prazer intelectual, elas provavelmente ocupariam vários volumes, centenas de páginas e teriam aquele aspecto de gabinete de curiosidades que também caracteriza a busca incessante dos dois personagens de Flaubert.
Livros, pelo menos os impressos, apresentam esse incômodo de natureza material de ocuparem muito espaço e de demandarem certa organização, sob o risco de não encontrar algum específico, depois de certo tempo (o que já me levou, algumas vezes, a comprar duas vezes a mesma obra, ou ir buscar em bibliotecas o que eu já não mais encontrava no patrimônio privado), e de acabar descobrindo para sua surpresa que a biblioteca particular já se converteu num labirinto à la Borges, relido por Eco, ou num cemitério dos livros esquecidos, à la Carlos Ruiz Zafón. Depois das resenhas dos que estão aqui presentes, ainda penso reproduzir num volume adicional aqueles que integravam a Terceira Parte do Prata da Casa, com uma nova organização e, provavelmente, mais algumas adições.
Os leitores deste volume não precisam ser necessariamente os pesquisadores de temas da diplomacia brasileira ou jovens candidatos à carreira. Qualquer um que encontre prazer na leitura terá, nas páginas que se seguem, a curiosidade de consultar, ou até de comprar os próprios, pelo menos assim espero. Quanto aos diplomatas autores que ficaram “esquecidos” na minha seleção de leituras, apresento minhas humildes desculpas pela discriminação involuntária, que foi unicamente motivada por falta de oportunidade, ou, mais frequentemente, de tempo. Como também já disse em outras ocasiões, vou necessitar de mais ou menos 150 anos adicionais para conseguir ler os livros que me esperam em minha biblioteca, nas que frequento habitualmente, em todas as livrarias que percorro, e agora nas ofertas digitais que pululam todos os dias na minha tela ou se oferecem nos book-reviews que leio regularmente.
Na verdade, meu projeto secreto é o de ler e resenhar tudo o que de mais importante, na minha área, se publicou 150 anos para trás, aproximadamente, o que oferece, como se pode ver, um bom pedaço de história da cultura contemporânea, mas que seja intelectualmente relevante. Entre essas leituras, certamente aparecerão vários livros de colegas diplomatas, do Brasil atual e do passado, o que justificaria, talvez, o início de um outro projeto, um de “Leituras Diplomáticas”, se a nossa Casa fosse racional em suas loucuras. Mas isso é conversa para uma outra oportunidade. Por enquanto, fiquem com a meia centena de livros que se oferecem a todos os que aqui adentrarem.

Paulo Roberto de Almeida
(o mesmo bibliomaníaco incurável, sempre...)
Hartford, 2 de novembro de 2014

https://www.academia.edu/9084111/24_Codex_Diplomaticus_Brasiliensis_livros_de_diplomatas_brasileiros_2014_