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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

2015: ativo no Estadao - Paulo Roberto de Almeida

Em 2015, eu ainda me encontrava fora do Brasil, lamentando a continuidade do governo da organização mafiosa, que comandava aos destinos do país desde 2003, mas que duraria apenas um ano mais, até cair de podre, em meados de 2016.
    Naquele ano, fui especialmente ativo para demonstrar minha contrariedade com os rumos que as coisas estavam tomando no Brasil, publicando alguns artigos no Estadão.
   Relembro alguns, agora...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 29 de agosto de 2018

1185. “A persistirem os sintomas, procure um médico...”, O Estado de S. Paulo, em 5/08/2015  (http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,a-persistirem-os-sintomas--procure-um-medico,1738236); reproduzido no blog Diplomatizzando (2/08/2015; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2015/08/brasil-doenca-do-lulo-petismo-uma.html); disseminado no Facebook (https://www.facebook.com/paulobooks/posts/982274388502678e em 5/08/2015; link: https://www.facebook.com/paulobooks/posts/984096304987153). Relação de Originais n. 2850.

1184. “O Estado fascista do Brasil”, jornal O Estado de S. Paulo (28/07/2015, p. 2; link: http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,o-estado-fascista--do-brasil,1733071); Site do Instituto Millenium (14/07/2015; link: http://www.institutomillenium.org.br/artigos/estado-fascista-brasil/); Colunas Dom Total (17/07/2015; link: http://www.domtotal.com/colunas/detalhes.php?artId=5232); reproduzido no blog Diplomatizzando (27/07/2015; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2015/07/o-estado-fascista-do-brasil-paulo.html). Relação de Originais n. 2842.

1208. “2015: o ano em que o Brasil despencou”, O Estado de S. Paulo (seção Espaço Aberto, 28/12/2015, link: http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,2015--o-ano-em-que-o--brasil-despencou,10000005802). Relação de Originais n. 2904.

1160. “Miséria do Capital no Século 21”, Boletim Mundorama (n. 19, janeiro de 2015; ISSN: 2175-2052; links:http://wp.me/p79nz-3ZG ou http://mundorama.net/2015/01/31/miseria-do-capital-no-seculo-21-a-proposito-do-livro-de-thomas-piketty-por-paulo-roberto-de-almeida/); no site do Instituto Millenium (3/02/2015; link: http://www.institutomillenium.org.br/artigos/misria-capital-sculo-21/) e em Dom Total (5/02/2015, link: https://domtotal.com/colunas/detalhes.php?artId=4823); publicado em versão resumida no jornal O Estado de S. Paulo(10/02/2015; link: http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,miseria-do-capital-no-seculo-21-imp-,1632135). Relação de Originais n. 2726.

Reproduzo alguns desses artigos:

1185. “A persistirem os sintomas, procure um médico...”, O Estado de S. Paulo, em 5/08/2015  (http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,a-persistirem-os-sintomas--procure-um-medico,1738236); reproduzido no blog Diplomatizzando(2/08/2015; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2015/08/brasil-doenca-do-lulo-petismo-uma.html); disseminado no Facebook (https://www.facebook.com/paulobooks/posts/982274388502678e em 5/08/2015; link: https://www.facebook.com/paulobooks/posts/984096304987153). Relação de Originais n. 2850.

Brasil: a doenca do lulo-petismo, uma coceira tremenda (mas se pode eliminar) - Paulo Roberto de Almeida

A persistirem os sintomas do lulo-petismo, procure um médico...
Paulo Roberto de Almeida
A sociedade brasileira está emergindo de um longo pesadelo: o lulo-petismo. Essa variante tupiniquim de um persistente mal latino-americano, a crença ingênua nas virtudes sociais supostamente benéficas do populismo demagógico e do salvacionismo redentor – ambos irracionais, mas possuindo poderosos efeitos eleitorais –, tinha sido quase elevado à categoria de doutrina política, quando não de projeto nacional, por um desses gramscianos de academia conquistados à causa dos companheiros. Entretanto, ele revelou-se, ao fim e ao cabo, uma enfermidade passageira no cenário político, uma espécie de doença da pele, que coça bastante durante certo tempo, mas que acaba sendo eficazmente combatida desde que aplicada a pomada correta: a consciência cidadã.
O lulo-petismo foi a nossa doença de pele, que persistiu enquanto as reais desigualdades da sociedade brasileira estiveram falsamente identificadas a supostas “falhas de mercado”, ou a maldades do “neoliberalismo”, duas “deformações do capitalismo” que poderiam ser superadas com “distribuição de renda” e políticas sociais “inclusivas”. Foi assim que mergulhamos na década e meia de medidas ativas em prol da desconcentração de renda e da correção das tais “falhas de mercado”, pelas mãos (e pés) de um Estado comprometido com a “justiça social”. Os verdadeiros efeitos – que eu chamo de crimes econômicos – só se tornaram explícitos depois da aplicação dos exercícios de engenharia econômica da tropa no poder, a tal de “nova matriz econômica”, com o seu séquito de consequências devastadoras sobre a economia.
Os historiadores econômicos podem até chamar estes anos negros do lulo-petismo de “A Grande Recessão”, que se reflete no recuo geral de todos os indicadores econômicos e sociais – estagnação ou crescimento negativo, alta da inflação, do desemprego, déficits ampliados, dívida acrescida, perda da competitividade externa e interna, forte desvalorização cambial, desinvestimentos –, mas o fato é que o declínio econômico está apenas começando. Teremos pela frente anos de penoso reajuste para, finalmente, voltar a uma situação parecida com a que estávamos, digamos, na segunda metade dos anos 1990, ou no início dos anos 1980. Esses são os efeitos catastróficos dos anos persistentemente equivocados do lulo-petismo econômico. Estaríamos mesmo no início de uma grande recessão?
Não descarto o prolongamento de uma fase realmente dura na área econômica, uma experiência poucas vezes registrada nos anais da vida nacional, que conheceu taxas de crescimento relativamente satisfatórias, a despeito dos anos de crise e de aceleração inflacionária, das trocas de moedas e dos “voos de galinha”, depois de tentativas mal conduzidas de estabilização. Que ocorra agora uma Grande Recessão, essa é uma marca histórica que ficará para sempre identificada com a esquizofrenia econômica do lulo-petismo, um resultado exemplar do ponto de vista daqueles que pretendiam corrigir as tais falhas de mercado por meio de unguentos e poções mágicas que só revelam a extraordinária ingenuidade econômica (ou seria estupidez?) dos seus aprendizes de feiticeiros, esses que eu chamo de “keynesianos de botequim”. 
O que ocorreu, na verdade, desde os primeiros anos, ditos gloriosos, do lulo-petismo, foi uma Grande Destruição, em todos os setores, um desmantelamento geral das instituições, da organização política e da ética pública. Ela começou cedo, pelo aparelhamento das agências públicas, dos ministérios (com a possível exceção do Itamaraty), dos demais órgãos de Estado, pelos “servidores” do partido neobolchevique, não exatamente os gramscianos de academia (eles não são muito confiáveis), mas os militantes de chinelo de dedo; estes são os membros obedientes e disciplinados do partido leninista, que repetem de forma canina os ditames do comitê central – vale dizer, do chefe da tropa e da pequena clique de super-apparatchiks – e que pagam o dízimo mensal costumeiro, assim como uma boa parcela (30%?) dos subsídios associados aos cargos ganhos na máquina do Estado. 
A Grande Destruição seguiu pelo ativismo exacerbado das “políticas públicas”, estendendo-se em todas as direções e dimensões da vida nacional, criando uma clientela de beneficiários planejados – o curral eleitoral do Bolsa Família – e uma outra de ricos beneficiários mais planejados ainda. Quem são, finamente, os financiadores do partido hegemônico? Eles são industriais e banqueiros, pagadores compulsórios de “doações legais ao partido”, com parte das rendas asseguradas pela mesma máquina do Estado: empréstimos generosos por parte do BNDES, proteção tarifária, linhas de crédito consignado, juros da dívida pública e várias outras prebendas setoriais. 
Tudo isso se refletiu no crescimento dos gastos do Estado além e acima do crescimento do PIB e da produtividade, excedendo a capacidade contributiva do setor produtivo da economia – daí o esforço sempre crescente de extração fiscal por parte desse órgão fascista por excelência que é a Receita Federal –, tudo em detrimento dos investimentos produtivos. Não há dúvida quanto a isso: a Grande Recessão, que está recém começando, foi precedida pela grande devastação efetuada pelo lulo-petismo econômico. E não se enganem: o pior ainda está por vir.
É por isso que eu chamo o período lulo-petista de “A Grande Destruição”, um mal de pele que se incrustou em todos os poros da sociedade brasileira. Esta se deu conta, finalmente, das fontes do mal, e se prepara para expulsar pelas vias legais os sabotadores da economia e os fraudadores da moralidade. As causas do mal de pele já foram identificadas; as prescrições estão a caminho, e esperamos que rapidamente.
Mas, a persistirem os sintomas do mal, recorra-se aos cuidados de um médico. Os bons médicos, nas democracias, costumam receitar a cura constitucional: na hipótese de mal crônico, a prescrição é sempre a via eleitoral. Em caso de ataques agudos, ou de câncer ameaçando metástase – como um procurador já alertou –, a solução tem de ser mais drástica, para se extirpar o mal em toda a sua extensão. Nesses casos, o Congresso e os tribunais superiores são chamados a operar o paciente. Depois, no pós-operatório, economistas sensatos costumam ser bons enfermeiros, desde que eles não tenham sido contaminados pelo keynesianismo de botequim que sempre caracterizou os economistas aloprados do lulo-petismo. Adiante, minha gente: mais um pouco e acabamos com a coceira...
Paulo Roberto de Almeida
[Filadélfia, de agosto de 2015, 3 p.]

1184. “O Estado fascista do Brasil”, jornal O Estado de S. Paulo(28/07/2015, p. 2; link: http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,o-estado-fascista--do-brasil,1733071); Site do Instituto Millenium (14/07/2015; link: http://www.institutomillenium.org.br/artigos/estado-fascista-brasil/); Colunas Dom Total (17/07/2015; link: http://www.domtotal.com/colunas/detalhes.php?artId=5232); reproduzido no blog Diplomatizzando(27/07/2015; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2015/07/o-estado-fascista-do-brasil-paulo.html). Relação de Originais n. 2842.

O Estado Fascista do Brasil - Paulo Roberto de Almeida

O Estado Fascista do Brasil

 Colunas Dom Total, 16/07/2015

O fascismo, reduzido à sua expressão mais simples, é quando o Estado manda em você, e você sequer tem consciência disso, uma vez que tal interação passa quase despercebida, já foi embutida pela sociedade. O contrário do fascismo é, obviamente, uma sociedade libertária, onde cada um usa de seu livre arbítrio para guiar-se na vida e nas atividades cotidianas. Tomados nesse entendimento ideal-típico mais simples possível, é claro que ambos os conceitos não expressam nenhuma sociedade concreta, nossa contemporânea, mas eles podem ajudar a situar os casos nacionais num ou noutro extremo desse espectro que leva do fascismo explícito ao libertarianismo utópico. Em outros termos, uma sociedade será tanto mais fascista, ou tendencialmente libertária, quando os comportamentos típicos dos indivíduos se aproximarem do inferno dirigista a cargo do Estado, ou da mais plena liberdade pessoal, sem interferência estatal.

Sem adentrar na consideração de abstrações sociológicas, pode-se tentar extrair exemplos de como as sociedades se situam em torno de um ou outro modelo de organização social. Tomemos os casos típicos dos Estados Unidos e do Brasil, e mesmo, numa configuração mais ampla, o das sociedades anglo-saxãs, de um lado, e o das sociedades latino-americanas, de outro, estas uma extensão do molde ibérico original. Qualquer pessoa sensata reconheceria que os EUA se aproximam bem mais do modelo libertário do que modelo fascista, e que, inversamente, o Brasil é um típico caso de corporatismo, ou seja, um clássico modelo tendencialmente fascista.

Exemplos abundam, num e noutro sentido. Vou tentar ficar em casos práticos, da vida diária, e que portanto influenciam o modo de vida, para melhor ou para pior, de milhões de pessoas. Sabe-se, por exemplo, que normas industriais são padrões adotados pelas indústrias para facilitar o uso e a disseminação de bens de consumo durável que possam gozar de ampla aceitação entre os consumidores, como uma tomada elétrica de parede, utilizável indistintamente para os mais diferentes aparelhos. As normas são adotadas progressivamente e voluntariamente pelas indústrias, e passam a ser, a partir de certa extensão de aceitação e uso, um componente da vida diária ao qual sequer se presta atenção. Já as regulações são típicos decretos estatais que impõem, por via de um instrumento legislativo, o uso exclusivo e obrigatório de um determinado padrão, estabelecido burocraticamente, e não por livre disposição das indústrias.

No caso das já citadas tomadas elétricas, é sabido, também, que o Brasil, depois de conviver durante décadas com a mais simples tomada, a de dois furos redondos (de acordo com normas industriais de corrente elétrica estabelecidas naturalmente ao longo de toda a história da indústria elétrica), passou a adotar a famosa tomada de três pinos, nas quais o terceiro se referia ao pino de segurança (ou de aterramento), e que os dois redondos originais foram complementados por fissuras verticais chatas, aproximando-se do padrão típico em uso universal nos EUA.

Pois bem, essa norma adaptada ao Brasil pelo seu caráter praticamente universal, foi alterada anos atrás pela imposição de um novo padrão, uma regulação absolutamente exótica determinada pelo Inmetro como de uso compulsório pelas indústrias consistindo de três pinos redondos em linha, mas com o central em superposição, formando um pequeno arco. Os leitores já pararam para pensar nos custos imensos, impossíveis de serem mensurados, mas se situando na casa das centenas de bilhões de reais (traduzidos nos orçamentos familiares e empresarias de 200 milhões de brasileiros e de centenas de milhares de empresas), que resultaram dessa imposição absolutamente fascista do Estado brasileiro? A totalidade da população sofreu com a medida, que, por outro lado, deu benefícios e lucros fantásticos, até hoje, às poucas dezenas de milhares de empresas que se dedicam à fabricação de tomadas de aparelhos e de parede (e de adaptadores, claro).

Eu poderia multiplicar os exemplos do mesmo tipo, como o fato de, por determinação da Anvisa, as farmácias terem sido proibidas de comercializar produtos típicos de padaria, como chicletes e refrigerantes. Qual grave atentado à saúde dos consumidores adviria da liberdade concedida às farmácias de comercializarem quaisquer produtos que são normalmente encontrados nas padarias? Penso, penso, e não encontro nenhum motivo sensato para justificar a medida, a não ser o comportamento tipicamente fascista dos burocratas da Anvisa. Que tal o comportamento dos burocratas da Ancine, impondo cotas obrigatórias de exibição de filmes nacionais, se substituindo autoritariamente às preferências dos frequentadores das salas de cinema? Para mim, isso é típico do fascismo ambiente no Brasil.

A diferença básica entre as sociedades anglo-saxãs e as ibéricas é que, nas primeiras tudo o que não estiver formalmente proibido na legislação está ipso facto liberado para a iniciativa privada dos indivíduos, ao passo que nas segundas tudo o que não estiver devidamente autorizado pelo poder público está automaticamente proibido aos particulares. Esta é a diferença entre a liberdade e o fascismo. Pense nisso, caro leitor, na próxima vez que for à farmácia, usar algum aparelho elétrico ou sair para ir ao cinema. Veja o que está acontecendo com a plataforma Uber, uma simples atualização tecnológica das relações contratuais entre motoristas e passageiros. Lamente viver em um Estado fascista.

1208. “2015: o ano em que o Brasil despencou”, O Estado de S. Paulo(seção Espaço Aberto, 28/12/2015, link: http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,2015--o-ano-em-que-o--brasil-despencou,10000005802). Relação de Originais n. 2904.

2015, o ano em que o Brasil despencou

O ano de 2015 não vai deixar saudades, muitos economistas dirão nestes últimos dias do ano. Ao que os astrólogos políticos acrescentarão: “Se vocês gostaram de 2015, esperem para ver como vai ser 2016...”. Os mais afoitos dos adivinhos farão previsões ainda mais sombrias para o ano que pronto se inicia, enquanto os economistas tentarão ser mais circunspectos, mas eles sempre erram em 10 de suas 12 previsões de crises, não é mesmo? Não pretendendo ser astrólogo político nem adivinho econômico, limito-me, do meu lado, a resumir o que me pareceu serem as principais características deste 2015, o ano horribilis em que o Brasil despencou espetacularmente.

Começamos por uma primeira ironia fraudulenta: o ministro da “nova matriz econômica”, que havia sido demitido mais de três meses antes, pela chefe da mesma matriz, e por meio da imprensa, continuou fazendo previsões impossíveis até o primeiro dia do ano, quando finalmente entregou o cargo ao seu sucessor, suposto representante dos Chicago-boys, mas que se revelou um corajoso partidário de aumento de impostos e de tímidos cortes seletivos nas despesas públicas, sem jamais tocar no gigantesco corpo balofo, obeso e disfuncional do Estado companheiro. O principal personagem do ano foi justamente este, o Estado companheiro, administrado por um governo idem, composto obviamente por companheiros engajados em sua manutenção dispendiosa (obviamente que apenas para a sociedade, não para eles).
Como diriam os americanos, o ano começou por um bing e terminou por um bang. O bing foi a composição esquizofrênica do governo, metade comprometida com gastos continuados e uma pequena, modesta parte tentando consertar os equívocos cometidos durante anos de gestão amadora, na verdade irracional, na política econômica (em várias outras políticas setoriais também). O bang é, obviamente, representado pelo pedido constitucional de impedimento da presidente, por crimes continuados na gestão fiscal – gestão talvez não seja o termo adequado, consagrando-se, ao longo do período, o mais vistoso conceito de “pedaladas” (em outros setores também).
Até o início do ano, todas as previsões do governo relativas aos principais indicadores econômicos pecavam por otimismo excessivo. Mas também os economistas independentes pecaram por escasso realismo em suas previsões. Todos eles foram duramente desmentidos pela mais cruel deterioração desses mesmos indicadores nunca antes vista desde crises longínquas. As agências de classificação de risco também se mostraram surpreendentemente lenientes em face do claro itinerário do Brasil em direção ao que desde já pode ser chamado de A Grande Destruição lulopetista.
Registre-se que essa destruição não foi o resultado de um mandato apenas. Parafraseando Nelson Rodrigues, podemos dizer que desastres não se improvisam: eles são o resultado de anos de acúmulo de erros, equívocos, trapalhadas, bobagens mais ou menos intencionais, enfim, daquilo que eu classifico como sendo os crimes econômicos do lulopetismo. Atenção: os crimes econômicos companheiros não o são exatamente no sentido do Código Penal, embora muitas vezes com eles se confundam; foi tal o empenho em cometê-los que se pode perguntar se muitos desses equívocos não foram deliberadamente planejados, o resultado de ações cientificamente calculadas, como diria o Chapolim Colorado.
A “compra” da refinaria de Pasadena, por exemplo, vista em retrospecto, quem poderia dizer, hoje, que se tratou apenas de um “erro de gestão”, ou seja, de um “cálculo mal feito”? Minha interpretação é a de que o “negócio” foi um sucesso, conduzido para produzir exatamente aqueles resultados, que são os que se conhecem atualmente em termos de movimentações bancárias entre vários paraísos fiscais no exterior. Enfim, um “sucesso” companheiro, até que um anônimo funcionário da Petrobrás – a ser homenageado na galeria dos “heróis desconhecidos” – chamou a atenção de membros do Ministério Público Federal e da Polícia Federal para certas “peculiaridades” do grande negócio.
As consequências foram aquelas que se viram: a Petrobrás, que chegou a valer mais de US$ 300 bilhões e figurar entre as sete primeiras companhias do setor, afundou-se numa crise que deveria ser terminal, se não fosse estatal (a preferida dos companheiros, que a transformaram numa “vaca petrolífera” continuamente ordenhada à exaustão). As contas públicas produziram um outro mergulho, de quase dez pontos do PIB, para um abismo cujo fundo ainda não se conhece exatamente, pois uma das especialidades companheiras foi justamente a maquiagem contábil, que eles já vinham praticando desde muitos anos entre o Tesouro e os bancos estatais, entre eles o BNDES, uma caixa-preta ainda não aberta pelos órgãos de controle. O ano foi tão horrível que aposto como a maioria dos leitores já se esqueceu desta coisa bizarra chamada Fundo Soberano do Brasil, uma invenção satânica dos mesmos autores da “nova matriz econômica” – na verdade, ele a precede de alguns anos – e que desapareceu de forma inglória, depois de deixar um buraco provavelmente superior a R$ 18 bilhões.
Uma contabilidade exata dos montantes envolvidos nos crimes econômicos do lulopetismo é singularmente difícil, pois, além dos custos estritamente monetários, isto é, recursos orçamentários dilapidados em projetos mal concebidos e mal implementados – talvez de propósito –, precisaríamos computar também o que os economistas chamam de custo-oportunidade, tudo o que se perdeu ao não se fazerem investimentos corretos, ou simplesmente sensatos. Quando é que economistas curiosos, procuradores atentos ou jornalistas investigativos avaliarão as imensas perdas causadas pelos crimes econômicos do lulopetismo? Já não é sem tempo...
É diplomata e professor universitário.
Site: www.pralmeida.org / Blog: diplomatizzando.blogspot.com 


1160. “Miséria do Capital no Século 21”, Boletim Mundorama (n. 19, janeiro de 2015; ISSN: 2175-2052; links:http://wp.me/p79nz-3ZGouhttp://mundorama.net/2015/01/31/miseria-do-capital-no-seculo-21-a-proposito-do-livro-de-thomas-piketty-por-paulo-roberto-de-almeida/); no site do Instituto Millenium (3/02/2015; link: http://www.institutomillenium.org.br/artigos/misria-capital-sculo-21/) e em Dom Total (5/02/2015, link: https://domtotal.com/colunas/detalhes.php?artId=4823); publicado em versão resumida no jornal O Estado de S. Paulo(10/02/2015; link: http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,miseria-do-capital-no-seculo-21-imp-,1632135). Relação de Originais n. 2726.

Miséria do capital no século 21

O capital viaja bastante pelo mundo, mas não existe uma autoridade global ou uma única fonte de regulação dos fluxos e estoques de capital. Os Estados nacionais mantêm jurisdições próprias, com regras diferentes para o tratamento desses fluxos e estoques, o que dificulta a concepção de um instrumento uniforme e universalmente aplicável de taxação de renda e riqueza. A esse respeito se sobrepõem diferentes concepções acerca de como devem ser tratadas (ou taxadas) as diferentes formas de renda e riqueza.

As filosofias sobre isso podem ser divididas, grosso modo, entre o liberalismo, que entende que a criação de renda e riqueza deve ficar sob a competência dos indivíduos, com um mínimo de interferência dos Estados, e o "marxismo" (ou variantes do socialismo), que acha que os Estados devem regular as rendas do capital em benefício de todos, transferindo fluxos e estoques de renda segundo critérios fixados por políticos e burocratas. Existem êmulos de Marx para todos os gostos e para todas as finalidades, alguns deles - pode ser o caso do francês Thomas Piketty e do seu livro O Capital no Século 21 -, até mais espertos do que os demais, aproveitando-se da adesão de muitos à teoria do valor-trabalho para aumentar o seu próprio capital à custa dos crentes que acham que o capital só pode aumentar à custa do trabalho.
Os êmulos de Marx acham que os Estados devem taxar mais as rendas do capital para distribuir entre os que só possuem rendas do trabalho, o que supostamente tornaria o mundo mais igualitário, ou menos desigual. Mas essa recomendação marxista não deriva de nenhuma análise econômica sobre a criação de renda e riqueza, sendo apenas e tão somente uma recomendação política, baseada numa filosofia do igualitarismo. Essa filosofia orienta os Estados a avançarem sobre o capital, ou seja, sobre o estoque de riqueza das poucas pessoas muito ricas (que por definição são sempre em menor número), para distribuí-la entre os que dispõem apenas dos fluxos de pagamentos derivados do seu trabalho. Ela tem tido algum sucesso ao redor do mundo, uma vez que as pessoas dependendo do seu trabalho são sempre em maior número, formando a vasta maioria dos votantes nas modernas democracias de mercado.
Tal tipo de política aproximaria a sociedade do modelo recomendado pelos marxistas, que é aquele em que não existiria renda do capital, nem riqueza acumulada alguma, na qual todas as rendas do trabalho seriam igualitária e equitativamente divididas pelo Estado. Não são necessárias grandes digressões, com base em equações econômicas ou em séries estatísticas históricas de renda e de riqueza, para constatar que esse tipo de sociedade não funcionou e que os únicos exemplos reais na História - o socialismo de tipo soviético e seus êmulos ao redor do mundo - foram notórios fracassos econômicos na criação de renda e riqueza, só conseguindo manter-se à custa de enorme repressão política, que produziu grande infelicidade humana (total falta de liberdade e até mesmo algumas dezenas de milhões de mortos).
Um igualitarismo mais ameno é o socialismo em vigor nas democracias de mercado da Europa, com contrafações no restante do mundo. Sabe-se que o crescimento foi maior nos países onde foi menor a apropriação de fluxos e estoques de renda e riqueza pelos Estados. Não se trata aqui de opinião ou filosofia política, mas de uma constatação simples, a partir de uma correlação entre níveis de carga fiscal dos países e as taxas de crescimento do produto interno bruto (PIB) per capita, independentemente da distribuição social dessas formas de riqueza. Maior taxação, menor crescimento, ponto.
Piketty, juntando todas as formas de capital no mesmo saco, acaba de "provar" que a desigualdade vem aumentando. Ele também acha que governos devem taxar mais o patrimônio e as rendas dos muito ricos. O problema, para ele, é a existência de poucas pessoas muito ricas - e que tendem a enriquecer cada vez mais -, não a existência de um imenso contingente de pobres. Independentemente dos problemas de agregação de dados e de processamento da informação estatística, inevitáveis dado o amplo espectro de valores e a grande dispersão cronológica com os quais Piketty trabalhou, o que mais parece contestável em sua tese é o argumento de que a riqueza tende a caminhar mais rapidamente do que o crescimento econômico das economias de mercado.
Tal tese - que, em sua formulação sintética, tende a assumir ares de grande síntese genial, um pouco ao estilo da famosa equação einsteiniana E=mc2 - parece contradizer a lógica formal dos processos econômicos e a própria evolução das sociedades humanas, cada vez mais sofisticadas intelectualmente, com amplo acesso à educação superior de amplas camadas de indivíduos. Pode ser que patrimônio e a riqueza, de forma geral, passem por processos temporários e parciais de acumulação preferencial e de concentração em certos grupos e indivíduos, em geral vinculados a atividades financeiras e comerciais; mas daí a transformar essa constatação numa nova "lei geral da acumulação capitalista no século 21", como pretende Piketty, vai uma grande distância. Assim como ocorreu com as teses de Marx, essa também vai ser desmentida pela evolução do capitalismo.
Piketty prefere empobrecer os ricos a enriquecer os pobres. Pela experiência visual que já tivemos no século 20, esse tipo de empreendimento pode ser mais um desastre econômico e social à espreita do que propriamente uma forma de criar o verdadeiro capital do século 21, baseado no conhecimento. Distribuir o dinheiro dos ricos entre os pobres vai tornar as sociedades mais ricas? Duvidoso que ocorra, a menos de dirigir todos os recursos para aumentar e melhorar o capital social: conhecimento.
*Paulo Roberto de Almeida é diplomata e professor universitário (www.pralmeida.org e diplomatizzando.blogspot.com) 


terça-feira, 28 de agosto de 2018

Fukuyama and the NON end of History - Louis Menand (New Yorker)

Francis Fukuyama Postpones the End of History
The political scientist argues that the desire of identity groups for recognition is a key threat to liberalism.
The New Yorker, September 3, 2018


The desire for recognition, Fukuyama argues, is an essential threat to liberalism.
Illustration by Aude Van Ryn


In February, 1989, Francis Fukuyama gave a talk on international relations at the University of Chicago. Fukuyama was thirty-six years old, and on his way from a job at the rand Corporation, in Santa Monica, where he had worked as an expert on Soviet foreign policy, to a post as the deputy director of policy planning at the State Department, in Washington.
It was a good moment for talking about international relations, and a good moment for Soviet experts especially, because, two months earlier, on December 7, 1988, Mikhail Gorbachev had announced, in a speech at the United Nations, that the Soviet Union would no longer intervene in the affairs of its Eastern European satellite states. Those nations could now become democratic. It was the beginning of the end of the Cold War.
At rand, Fukuyama had produced focussed analyses of Soviet policy. In Chicago, he permitted himself to think big. His talk came to the attention of Owen Harries, an editor at a Washington journal called The National Interest,and Harries offered to publish it. The article was titled “The End of History?” It came out in the summer of 1989, and it turned the foreign-policy world on its ear.
Fukuyama’s argument was that, with the imminent collapse of the Soviet Union, the last ideological alternative to liberalism had been eliminated. Fascism had been killed off in the Second World War, and now Communism was imploding. In states, like China, that called themselves Communist, political and economic reforms were heading in the direction of a liberal order.
So, if you imagined history as the process by which liberal institutions—representative government, free markets, and consumerist culture—become universal, it might be possible to say that history had reached its goal. Stuff would still happen, obviously, and smaller states could be expected to experience ethnic and religious tensions and become home to illiberal ideas. But “it matters very little what strange thoughts occur to people in Albania or Burkina Faso,” Fukuyama explained, “for we are interested in what one could in some sense call the common ideological heritage of mankind.”
Hegel, Fukuyama said, had written of a moment when a perfectly rational form of society and the state would become victorious. Now, with Communism vanquished and the major powers converging on a single political and economic model, Hegel’s prediction had finally been fulfilled. There would be a “Common Marketization” of international relations and the world would achieve homeostasis.
Even among little magazines, The National Interestwas little. Launched in 1985 by Irving Kristol, the leading figure in neoconservatism, it had by 1989 a circulation of six thousand. Fukuyama himself was virtually unknown outside the world of professional Sovietologists, people not given to eschatological reflection. But the “end of history” claim was picked up in the mainstream press, Fukuyama was profiled by James Atlas in the New York Times Magazine, and his article was debated in Britain and in France and translated into many languages, from Japanese to Icelandic. Some of the responses to “The End of History?” were dismissive; almost all of them were skeptical. But somehow the phrase found its way into post-Cold War thought, and it stuck.
One of the reasons for the stickiness was that Fukuyama was lucky. He got out about six months ahead of the curve—his article appearing before the Velvet Revolution, in Czechoslovakia, and before the dismantling of the Berlin Wall, in November, 1989. Fukuyama was betting on present trends continuing, always a high-risk gamble in the international-relations business.

Any number of things might have happened for Gorbachev’s promise not to cash out: political resistance within the Soviet Union, the refusal of the Eastern European puppet regimes to cede power, the United States misplaying its hand. But events in Europe unfolded more or less according to Fukuyama’s prediction, and, on December 26, 1991, the Soviet Union voted itself out of existence. The Cold War really was over.
Events in Asia were not so obliging. Fukuyama missed completely the suppression of the pro-democracy movement in China. There is no mention of the massacre in Tiananmen Squarein “The End of History?,” presumably because the piece was in production when it happened, in June, 1989. This does not seem to have made a difference to the article’s reception, however. Almost none of the initial responses to the piece mentioned Tiananmen, either—even though many people already believed that China, not Russia, was the power that liberal democracies would have to reckon with in the future. “The End of History?” was a little Eurocentric.
There was also a seductive twist to Fukuyama’s argument. At the end of the article, he suggested that life after history might be sad. When all political efforts were committed to “the endless solving of technical problems, environmental concerns, and the satisfaction of sophisticated consumer demands” (sounds good to me), we might feel nostalgia for the “courage, imagination, and idealism” that animated the old struggles for liberalism and democracy. This speculative flourish recalled the famous question that John Stuart Mill said he asked himself as a young man: If all the political and social reforms you believe in came to pass, would it make you a happier human being? That is always an interesting question.
Another reason that Fukuyama’s article got noticed may have had to do with his new job title. The office of policy planning at State had been created in 1947 by George Kennan, who was its first chief. In July of that year, Kennan published the so-called X article, “The Sources of Soviet Conduct,” in Foreign Affairs.It appeared anonymously—signed with an “X”—but once the press learned his identity the article was received as an official statement of American Cold War policy.
“The Sources of Soviet Conduct” defined the containment doctrine, according to which the aim of American policy was to keep the Soviet Union inside its box. The United States did not need to intervene in Soviet affairs, Kennan believed, because Communism was bound to collapse from its own inefficiency. Four decades later, when “The End of History?” appeared, that is exactly what seemed to be happening. That April, Kennan, then eighty-five, appeared before the Senate Foreign Relations Committee to declare that the Cold War was over. He received a standing ovation. Fukuyama’s article could thus be seen as a bookend to Kennan’s.
It was not the bookend Kennan would have written. Containment is a realist doctrine. Realists think that a nation’s foreign policy should be guided by dispassionate consideration of its own interests, not by moral principles, or by a belief that nations share a “harmony of interests.” To Kennan, it was of no concern to the United States what the Soviets did inside their own box. The only thing that mattered was that Communism not be allowed to expand.
The National Interest,as the name proclaims, is a realist foreign-policy journal. But Fukuyama’s premise was that nations do share a harmony of interests, and that their convergence on liberal political and economic models was mutually beneficial. Realism imagines nations to be in perpetual competition with one another; Fukuyama was saying that this was no longer going to be the case. He offered Cold War realists a kind of valediction: their mission, though philosophically misconceived, had been accomplished. Now they were out of a job. “Frank thought that what was happening spelled the end of the Realpolitik world,” Harries later said. It must have tickled him to have published Fukuyama’s article.
Twenty-nine years later, it seems that the realists haven’t gone anywhere, and that history has a few more tricks up its sleeve. It turns out that liberal democracy and free trade may actually be rather fragile achievements. (Consumerism appears safe for now.) There is something out there that doesn’t like liberalism, and is making trouble for the survival of its institutions.
Fukuyama thinks he knows what that something is, and his answer is summed up in the title of his new book, “Identity: The Demand for Dignity and the Politics of Resentment” (Farrar, Straus & Giroux). The demand for recognition, Fukuyama says, is the “master concept” that explains all the contemporary dissatisfactions with the global liberal order: Vladimir Putin, Osama bin Laden, Xi Jinping, Black Lives Matter, #MeToo, gay marriage, isis, Brexit, resurgent European nationalisms, anti-immigration political movements, campus identity politics, and the election of Donald Trump. It also explains the Protestant Reformation, the French Revolution, the Russian Revolution, Chinese Communism, the civil-rights movement, the women’s movement, multiculturalism, and the thought of Luther, Rousseau, Kant, Nietzsche, Freud, and Simone de Beauvoir. Oh, and the whole business begins with Plato’s Republic. Fukuyama covers all of this in less than two hundred pages. How does he do it?
Not well. Some of the problem comes from misunderstanding figures like Beauvoir and Freud; some comes from reducing the work of complex writers like Rousseau and Nietzsche to a single philosophical bullet point. A lot comes from the astonishingly blasé assumption—which was also the astonishingly blasé assumption of “The End of History?”—that Western thought is universal thought. But the whole project, trying to fit Vladimir Putin into the same analytic paradigm as Black Lives Matter and tracing them both back to Martin Luther, is far-fetched. It’s a case of Great Booksism: history as a chain of paper dolls cut out of books that only a tiny fraction of human beings have even heard of. Fukuyama is a smart man, but no one could have made this argument work.
Why is the desire for recognition—or identity politics, as Fukuyama also calls it—a threat to liberalism? Because it cannot be satisfied by economic or procedural reforms. Having the same amount of wealth as everyone else or the same opportunity to acquire it is not a substitute for respect. Fukuyama thinks that political movements that appear to be about legal and economic equality—gay marriage, for example, or #MeToo—are really about recognition and respect. Women who are sexually harassed in the workplace feel that their dignity has been violated, that they are being treated as less than fully human.
Fukuyama gives this desire for recognition a Greek name, taken from Plato’s Republic: thymos. He says that thymosis “a universal aspect of human nature that has always existed.” In the Republic, thymosis distinct from the two other parts of the soul that Socrates names: reason and appetite. Appetites we share with animals; reason is what makes us human. Thymosis in between.
The term has been defined in various ways. “Passion” is one translation; “spirit,” as in “spiritedness,” is another. Fukuyama defines thymosas “the seat of judgments of worth.” This seems a semantic overreach. In the Republic, Socrates associates thymoswith children and dogs, beings whose reactions need to be controlled by reason. The term is generally taken to refer to our instinctive response when we feel we’re being disrespected. We bristle. We swell with amour propre. We honk the horn. We overreact.
Plato had Socrates divide the psyche into three parts in order to assign roles to the citizens of his imaginary republic. Appetite is the principal attribute of the plebes, passion of the warriors, and reason of the philosopher kings. The Republic is philosophy; it is not cognitive science. Yet Fukuyama adopts Plato’s heuristic and biologizes it. “Today we know that feelings of pride and self-esteem are related to levels of the neurotransmitter serotonin in the brain,” he says, and points to studies done with chimps (which Socrates would have counted as animals, but never mind).
But so what? Lots of feelings are related to changes in serotonin levels. In fact, every feeling we experience—lust, anger, depression, exasperation—has a corollary in brain chemistry. That’s how consciousness works. To say, as Fukuyama does, that “the desire for status—megalothymia—is rooted in human biology” is the academic equivalent of palmistry. You’re just making it up.
Fukuyama resorts to this tactic because he wants to do with the desire for recognition what he did with liberalism in “The End of History?” He wants to universalize it. This allows him to argue, for example, that the feelings that led to the rise of Vladimir Putin are exactly the same (albeit “on a larger scale”) as the feelings of a woman who complains that her potential is limited by gender discrimination. The woman can’t help it. She needs the serotonin, just like the Russians.
Hegel thought that the end of history would arrive when humans achieved perfect self-knowledge and self-mastery, when life was rational and transparent. Rationality and transparency are the values of classical liberalism. Rationality and transparency are supposed to be what make free markets and democratic elections work. People understand how the system functions, and that allows them to make rational choices.
The trouble with thymosis that it is not rational. People not only sacrifice worldly goods for recognition; they die for recognition. The choice to die is not rational. “Human psychology is much more complex than the rather simpleminded economic model suggests,” Fukuyama concludes.

But how was that model of the rational economic actor ever plausible? It’s not just that human beings are neurotic; it’s that, on the list of things human beings are neurotic about, money is close to the top. People hoard money; they squander it; they marry for it; they kill for it. Don’t economists ever read novels? Practically every realist novel, from Austen and Balzac to James and Wharton, is about people behaving badly around money. Free markets didn’t change that. They arguably made people even crazier.
And as with money so with most of life. The notion that we have some mental faculty called “reason” that functions independently of our needs, desires, anxieties, and superstitions is, well, Platonic. Right now, you are trying to decide whether to finish this piece or turn to the cartoon-caption contest. Which mental faculty are you using to make this decision? Which is responsible for your opinion of Donald Trump? How can you tell?
“Identity” can be read as a corrective to the position that Fukuyama staked out in “The End of History?” Universal liberalism isn’t impeded by ideology, like fascism or communism, but by passion. Liberalism remains the ideal political and economic system, but it needs to find ways to accommodate and neutralize this pesky desire for recognition. What is odd about Fukuyama’s dilemma is that, in the philosophical source for his original theory about the end of history, recognition was not a problem. Recognition was, in fact, the means to get there.
That source was not Hegel. As Fukuyama stated explicitly in “The End of History?,” he was adopting an interpretation of Hegel made in the nineteen-thirties by a semi-obscure intellectual adventurer named Alexandre Kojève. How, fifty years later, Kojève’s ideas got into the pages of a Washington policy journal is an unusual story of intellectual musical chairs.
Kojève was born in 1902 into a well-off Moscow family, and he was raised in a cultivated atmosphere. The painter Wassily Kandinsky was an uncle. Kojève was a prodigious intellect; by the time he was eighteen, he was fluent in Russian, German, French, and English, and read Latin. Later, he learned Sanskrit, Chinese, and Tibetan in order to study Buddhism. In 1918, he went to prison for some sort of black-market transaction. After he got out, he and a friend managed to cross the closed Soviet border into Poland, where they were briefly jailed on suspicion of espionage. With the pointed encouragement of Polish authorities, Kojève left for Germany. He studied philosophy with Karl Jaspers at Heidelberg and lived as a bon vivant in Weimar Berlin. In 1926, he moved to Paris, where he continued to live the high life while writing a dissertation that dealt with quantum physics.
Kojève had invested his inheritance in the French company that made La Vache Qui Rit cheese, but he lost everything in the stock-market crash. In 1933, in need of income, he accepted a friend’s offer to take over a seminar on Hegel at the École Pratique des Hautes Études. He ended up running the course for six years.
People who were around Kojève seem to have regarded him as a kind of magician. In the Hegel seminar, he taught just one text, “The Phenomenology of Spirit,” first published in 1807. He would read a passage aloud in German (the book had not been translated into French) and then, extemporaneously and in perfect French (with an enchanting Slavic accent), provide his own commentary. People found him eloquent, brilliant, mesmerizing. Enrollment was small, around twenty, but a number of future intellectual luminaries, like Hannah Arendtand Jacques Lacan, either took the class or sat in on it.
For Kojève, the key concept in Hegel’s “Phenomenology” was recognition. Human beings want the recognition of other human beings in order to become self-conscious—to know themselves as autonomous individuals. As Kojève put it, humans desire, and what they desire is either something that other humans desire or the desire of other humans. “Human history,” he said, “is the history of desired desires.” What makes this complicated is that in the struggle for recognition there are winners and losers. The terms Hegel used for these can be translated as lords and servants, but also as masters and slaves, which are the terms Kojève used. The master wins the recognition of the slave, but his satisfaction is empty, since he does not recognize the slave as human in turn. The slave, lacking recognition from the master, must seek it in some other way.
Kojève thought that the other way was through labor. The slave achieves his sense of self by work that transforms the natural world into a human world. But the slave is driven to labor in the first place because of the master’s refusal to recognize him. This “master-slave dialectic” is the motor of human history, and human history comes to an end when there are no more masters or slaves, and all are recognized equally.
This is the idea that Marx had adopted to describe history as the history of class struggle. That struggle also has winners and losers, and its penultimate phase was the struggle between property owners (the bourgeoisie) and workers (the proletariat). The struggle would come to an end with the overthrow of capitalism and the arrival of a classless society—communism. Kojève called himself, mischievously or not, a Communist, and people listening to him in the nineteen-thirties would have understood this to be the subtext of his commentary. Equality of recognition was history’s goal, whether that meant Communist equality or liberal equality. People would stop killing one another in the name of dignity and self-respect, and life would probably be boring.
After the war, Kojève’s lectures were published as “Introduction to the Reading of Hegel,” a book that went through many printings in France. By then, he had stopped teaching and had become an official in the French Ministry of Economic Affairs, where he played an influential behind-the-scenes role in establishing the General Agreement on Tariffs and Trade (gatt) and the European Economic Community, the forerunner of the European Union—in other words, Common Marketization. He liked to say that he was presiding over the end of history.
In 1953, Allan Bloom, then a graduate student at the University of Chicago, met Kojève in Paris, at his office in the ministry. (The connection was presumably made through the émigré political theorist Leo Strauss, who was teaching at Chicago and who carried on a long correspondence with Kojève.) “I was seduced,” Bloom later said. He began studying with Kojève, and their meetings continued until Kojève’s death, in 1968. In 1969, Bloom arranged for the publication of the first English translation of the Hegel lectures and contributed an introduction. He was then a professor at Cornell.
Fukuyama entered Cornell as a freshman in 1970. He lived in Telluride House, a selective academic society for students and faculty, where Bloom was a resident. Fukuyama enrolled in Bloom’s freshman course on Greek philosophy, and, according to Atlas, he and Bloom “shared meals and talked philosophy until all hours.”
As it happened, that was Bloom’s last year at Cornell. He resigned in disgust at the way the administration had handled the occupation of a university building by armed students from the Afro-American Society. Fukuyama graduated in 1974 with a degree in classics. Following an excursus into the world of poststructuralist theory at Yale and in Paris, he switched his field to political science and received his Ph.D. from Harvard’s government department. He graduated in 1979, and went to rand.
By then, Bloom was back at the University of Chicago, as a professor in the Committee on Social Thought. In 1982, he published an article on the condition of higher education in William F. Buckley’s National Review. He did not think the condition was good. Encouraged by his friend Saul Bellow, he decided to turn the article into a book. “The Closing of the American Mind,” which Simon & Schuster brought out in February, 1987, launched a campaign of criticism of American higher education that has taken little time off since.
“The Closing of the American Mind” is a Great Booksist attempt to account for the rise of cultural relativism, which Bloom thought was the bane of American higher education. Almost no one at Simon & Schuster had great hopes for sales. There is a story, possibly apocryphal, that when the editor who signed the book, Erwin Glikes, left the firm to run the Free Press he was invited to take Bloom’s book, not yet published, with him, and he declined.
If so, he missed out on one of the publishing phenomena of the decade. After a slow start, “The Closing of the American Mind” went to No. 1 on the Timesbest-seller list and stayed there for two and a half months. By March, 1988, it had sold a million hardcover copies in the United States alone. It made Bloom a rich man.
It was Bloom, along with another professor at Chicago, Nathan Tarcov, who invited Fukuyama to give his February, 1989, talk on international relations. If Fukuyama had not already been thinking about it, it is easy to imagine him deciding that, under the circumstances, it might be interesting to say something Kojèvean.
When “The End of History?” ran in TheNational Interestthat summer, Bloom had become a star in the neoconservative firmament, and his was the first of six responses that the magazine printed to accompany the article. Bloom called it “bold and brilliant.” Possibly seeing the way the wind was blowing, Glikes offered Fukuyama six hundred thousand dollars to turn his article into a book. “The End of History and the Last Man” was published by the Free Press in 1992.
The book was a best-seller, but not a huge one, maybe because the excitement about the end of the Cold War had cooled. Fukuyama had taken his time writing it. “The End of History and the Last Man” is not a journal article on steroids. It is a thoughtful examination of the questions raised by the piece in The National Interest, and one of those questions is the problem of thymos, which occupies much of the book. A lot of “Identity” is a recap of what Fukuyama had already said there.
The importance of recognition has been emphasized by writers other than Kojève. The Canadian philosopher Charles Taylor, for example, whose book “The Sources of the Self,” published in 1989, the same year as “The End of History?,” argued that the modern idea of the self involved a cultural shift from the concept of honor, which is something for the few, to dignity, which is aspired to by all. In 1992, in the essay “The Politics of Recognition,” Taylor analyzed the advent of multiculturalism in terms similar to the ones Fukuyama uses in “Identity.” (Taylor, too, is a Hegel expert.)
Fukuyama acknowledges that identity politics has done some good, and he says that people on the right exaggerate the prevalence of political correctness and the effects of affirmative action. He also thinks that people on the left have become obsessed with cultural and identitarian politics, and have abandoned social policy. But he has surprisingly few policy suggestions himself.
He has no interest in the solution that liberals typically adopt to accommodate diversity: pluralism and multiculturalism. Taylor, for example, has championed the right of the Québécois to pass laws preserving a French-language culture in their province. Fukuyama concedes that people need a sense of national identity, whether ethnic or creedal, but otherwise he remains an assimilationist and a universalist. He wants to iron out differences, not protect them. He suggests measures like a mandatory national-service requirement and a more meaningful path to citizenship for immigrants.
It’s unfortunate that Fukuyama has hung his authorial hat on meta-historical claims. In other books—notably “The Great Disruption” (1999) and a two-volume world history, “The Origins of Political Order” (2011) and “Political Order and Political Decay” (2014)—he distinguishes civilizational differences and uses empirical data to explain social trends. But thymosis too clumsy an instrument to be much help in understanding contemporary politics.
Wouldn’t it be important to distinguish people who ultimately don’t want differences to matter, like the people involved in #MeToo and Black Lives Matter, from people who ultimately do want them to matter, like isis militants, Brexit voters, or separatist nationalists? And what about people who are neither Mexican nor immigrants and who feel indignation at the treatment of Mexican immigrants? Black Americans risked their lives for civil rights, but so did white Americans. How would Socrates classify that behavior? Borrowed thymos?
It might also be good to replace the linear “if present trends continue” conception of history as a steady progression toward some stable state with the dialectical conception of history that Hegel and Kojève in fact used. Present trends don’t continue. They produce backlashes and reshufflings of the social deck. The identities that people embrace today are the identities their children will want to escape from tomorrow. History is somersaults all the way to the end. That’s why it’s so hard to write, and so hard to predict. Unless you’re lucky. ♦

This article appears in the print edition of the September 3, 2018, issue, with the headline “What Identity Demands.”
Louis Menand, a stawriter since 2001, was awarded the National Humanities Medal in 2016.

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Prata da Casa, abril a julho de 2018: livros de diplomatas - Paulo Roberto de Almeida

Minha mais recente "safra" de mini-resenhas de livros de diplomatas para a revista da Associação dos Diplomatas Brasileiros:
Paulo Roberto de Almeida

3324. “Prata da Casa, abril a julho de 2018”, Brasília, 27 agosto 2018, 4 p. Resenhas dos seguintes livros para a Revista da ADB: 1) Pardellas, Carlos Alberto Pessôa: Epitacio Pêssoana Europa e no Brasil (Brasília: Funag, 2018, 544 p.; ISBN: 978-85-7631-758-6; História Diplomática); 2) Godinho, Rodrigo de Oliveira: A OCDE em rota de adaptação ao cenário internacional: perspectivas para o relacionamento do Brasil com a Organização (Brasília: Funag, 2018; 319 p.; ISBN: 978-85-7931-764-7; Curso de Altos Estudos); 3) Friaça, Guilherme José Roeder: Mulheres diplomatas no Itamaraty (1918-2011): uma análise de trajetórias, vitórias e desafios (Brasília: Funag, 2018, 385 p.; ISBN: 978-85-7631-766-1; Curso de Altos Estudos); 4) Moreira, Gabriel BoffA política regional da Venezuela entre 1999 e 2012: petróleo, integração e relações com o Brasil (Brasília: Funag, 2018, 355 p.; ISBN: 978-85-7631-765-4; Curso de Altos Estudos); 5) Pontes, Kassius Diniz da Silva: Entre o dever de escutar e a responsabilidade de decidir: o CSNU e os seus métodos de trabalho (Brasília: Funag, 2018, 395 p.; ISBN: 978-85-7631-762-3; Curso de Altos Estudos); 6) Berbert, Cristiano Franco: Reduzindo o custo de ser estrangeiro: o apoio do Itamaraty à internacionalização de empresas brasileiras (Brasília: Funag, 2018, 300 p.; ISBN: 978-85-7631-763-0; Curso de Altos Estudos); 7) Araújo, Ricardo Guerra de: O jogo estratégico nas negociações Mercosul-União Europeia (Brasília: Funag, 2018, 385 p.; ISBN: 978-85-7631-759-3; Curso de Altos Estudos) e 8) Domenech, Aurea: Memórias na chuva (Rio de Janeiro: 7 Letras, 2017, 158 p.; ISBN: 978-85-421-0584-31). Publicado na Revista da ADB, Associação dos Diplomatas Brasileiros (ano XX, n. 99, abril a julho de 2018, p. xx-xx; ISSN: 0104-8503). Relação de Publicados n. .

Prata da Casa, abril a julho de 2018

Paulo Roberto de Almeida
 [Miniresenhas; Revista da ADB, Associação dos Diplomatas Brasileiros (ano XX, n. 99, abril a julho de 2018, p. xx-xx; ISSN: 0104-8503)]

 (1) Pardellas, Carlos Alberto Pessôa: 
       Epitacio Pêssoana Europa e no Brasil
       (Brasília: Funag, 2018, 544 p.; ISBN: 978-85-7631-758-6; História Diplomática)



O livro está dividido em duas partes: as 250 páginas do “diário de viagem” na Europa, entre 28 de março e 10 de novembro de 1897, aos 32 anos, uma espécie de “ano sabático” entre suas atividades políticas na Paraíba e no Congresso, reeleito, mas não empossado em 1894, por obra da famigerada Comissão de Poderes da Câmara, o que lhe induz a viajar pela Europa; a segunda, outras tantas páginas de introdução e uma detalhada biografia escrita por seu neto, o embaixador Pardellas, que soube colocar em evidência, não tanto o guia de viagens do avô, mas sua extraordinária carreira política, estendendo-se por três regimes, incluindo a sua participação na conferência da paz de Paris e a presidência da República, de 1919 a 22. Uma apresentação do embaixador Costa e Silva e um prólogo do ex-ministro Francisco Rezek, enriquecem a obra.


(2) Godinho, Rodrigo de Oliveira: 
       A OCDE em rota de adaptação ao cenário internacional: perspectivas para o relacionamento do Brasil com a Organização
       (Brasília: Funag, 2018; 319 p.; ISBN: 978-85-7931-764-7; Curso de Altos Estudos)



No momento em que o Brasil, reforçando sua aproximação iniciada vários anos antes, mas com novo impulso a partir de 2015, resolve solicitar formalmente seu ingresso na organização do Chateau de la Muette, em Paris, o diplomata e economista Godinho, atual assessor internacional do ministro da Fazenda, efetua um levantamento completo das características, adaptação e transformações da OCDE (3/4 da obra) e oferece, no 1/4 restante, um exame meticuloso do processo de aproximação gradual e das perspectivas de relacionamento do Brasil com a entidade. Um anexo informa sobre todas as instâncias de participação do Brasil, ou seja, os seus diferentes órgãos, mas sem as datas respectivas de acesso ou de adesão como observador ou membro. Trata-se do mais atualizado guia sobre o que nos resta fazer para sermos, enfim, aceitos na OCDE.



(3) Friaça, Guilherme José Roeder: 
       Mulheres diplomatas no Itamaraty (1918-2011): uma análise de trajetórias, vitórias e desafios
       (Brasília: Funag, 2018, 385 p.; ISBN: 978-85-7631-766-1; Curso de Altos Estudos) 



São poucos os trabalhos até aqui dedicados à presença feminina no universo funcional do Itamaraty, mas a publicação de algumas teses e pesquisas, e a criação de um Grupo de Mulheres Diplomatas, com amplo programa de trabalho, testemunham o reforço e a extensão gradual das atividades e representação ligadas a gênero, cem anos depois que Maria José de Castro Rebello Mendes adentrou vitoriosa na carreira, seguida por muitas outras, mas não sem uma longa luta pela igualdade e reconhecimento. A tese de Friaça cobre três grupos sucessivos de mulheres: o grupo “das 20”, as pioneiras, entre 1918 e 1938, com um longo intervalo até o segundo, a “segunda geração”, entre 1954 e 1988, e finalmente a “nova geração, a partir de 1988, com a modernização da legislação pertinente. Thereza Quintella, batalhadora da “segunda”, apresenta a obra. 


(4) Moreira, Gabriel Boff:
       A política regional da Venezuela entre 1999 e 2012: petróleo, integração e relações com o Brasil 
       (Brasília: Funag, 2018, 355 p.; ISBN: 978-85-7631-765-4; Curso de Altos Estudos)


            
Treze capítulos em quatro partes cobrem os importantes temas desta tese que cobre a gestão Hugo Chávez na infeliz trajetória da Venezuela, de sua relativa riqueza ao afundamento econômico e político, antes mesmo que tudo virasse uma tragédia humana incomensurável. A maldição do petróleo perpassa a trajetória cleptocrática do país vizinho, mas não esgota as questões da política externa regional bolivariana, que passam ainda pelo apoio do lulopetismo diplomático à adesão do país ao Mercosul, em 2012. O título da Parte IV é autoexplicativo: “Do céu ao inferno: os limites do modelo”, ou seja, da diplomacia petroleira e seus estranhos aliados, inclusive o próprio governo companheiro, empenhado em forjar uma “aliança estratégica”, que pode ter reforçado a sobrevivência de um regime claramente esquizofrênico. 



(5) Pontes, Kassius Diniz da Silva: 
       Entre o dever de escutar e a responsabilidade de decidir: o CSNU e os seus métodos de trabalho
       (Brasília: Funag, 2018, 395 p.; ISBN: 978-85-7631-762-3; Curso de Altos Estudos)



O eventual ingresso do Brasil, como membro permanente do CSNU, constitui uma das mais antigas obsessões diplomáticas brasileiras, como aliás já tinha sido o caso quando da Liga das Nações. Esta tese não entra nessa angústia, mas analisa os métodos de trabalho, formais e informais, aparentemente insuficientes para encaminhar crises  tão devastadoras em sofrimentos humanos como as do Afeganistão, do Iraque, da Líbia e da Síria. O P-5 não é nem eficiente, nem transparente, e o direito de veto que possuem os seus membros continua tão intocável quanto sempre. A despeito de todas as falhas, o CSNU é o único órgão que assegura que paz e segurança internacionais não sejam ainda mais precárias do que já são, no cenário de “anarquia” das soberanias. O Brasil acha que só uma reforma de ampliação melhoraria os métodos do CSNU; o impasse continuará...


 (6) Berbert, Cristiano Franco: 
       Reduzindo o custo de ser estrangeiro: o apoio do Itamaraty à internacionalização de empresas brasileiras
       (Brasília: Funag, 2018, 300 p.; ISBN: 978-85-7631-763-0; Curso de Altos Estudos) 



O Brasil é um país notoriamente protecionista e mercantilista, pelas políticas nas áreas comercial e industrial. O que não impede que empresas, atuando no nível micro, busquem sua internacionalização, pois sabem das oportunidades existentes. Existe, em todo caso, um “custo de ser estrangeiro”, e o Itamaraty também precisa atuar com esse foco, como demonstra esta tese voltada para a prestação de serviços nessa área, de inteligência (ou seja, de informação), de networking (contatos com parceiros externos) e de legitimação, que implica sofisticação e envolvimento dos diplomatas nessas tarefas. A tese partiu de entrevistas com ex-diretores do DPR – que completou meio século já – e baseou-se em contatos estruturados com executivos brasileiros, bem como com funcionários de outros órgãos. O resultado é um verdadeiro “how to do” nesse setor. 


(7) Araújo, Ricardo Guerra de: 
       O jogo estratégico nas negociações Mercosul-União Europeia
       (Brasília: Funag, 2018, 385 p.; ISBN: 978-85-7631-759-3; Curso de Altos Estudos) 



Duas únicas uniões aduaneiras figurando no quadro dos esquemas de integração regional tentaram durante duas décadas concluir um acordo de liberalização comercial, sem sucesso até o momento presente. Se existe algum jogo estratégico nas negociações entre a UE e o Mercosul, ele não funcionou, portanto, a despeito de semelhanças aparentes entre os dois blocos; isso não impediu que o congelamento do processo entre 2004 e 2009 (a tese é de 2006) se estendesse na prática, mesmo após a retomada dos esforços, como deixa entender o negociador atual pelo Brasil, que assina o posfácio (de fevereiro de 2018): ceticismo da Comissão de Bruxelas, protecionismo agrícola aqui e ali, oposição do setor industrial brasileiro, tudo concorre para manter o antigo estado de hibernação. Antes havia a “ameaça” da Alca; agora nem isso: teremos mais letargia... 
  
(8) Domenech, Aurea: 
       Memórias na chuva
       (Rio de Janeiro: 7 Letras, 2017, 158 p.; ISBN: 978-85-421-0584-31) 



A coletânea de suas poesias vem ilustrada por pinturas da própria autora, tendo na capa o Itamaraty do Rio de Janeiro, pois ela é do serviço exterior brasileiro. 27 poemas na seção inaugural, “Literatura e liberdade”, des outros na seguinte, “Memórias na chuva”, seguidos de 73 sonetos, incluindo um sobre os “cisnes brancos do Itamaraty” e duas outras seções finais: uma de poemas em outras línguas, combinando inglês, francês e português, e outra de traduções (Michelangelo Buonarroti e Victor Hugo). O prefácio é de Olga Savary, e a “Fortuna crítica”, ao final, reúne escritores e artistas do Brasil, dos Estados Unidos e da Unicef. O conjunto revela um seguro domínio da escrita com sensibilidade; a feliz fusão entre beleza e liberdade demonstra um longo convívio com a arte da palavra, percepção apenas visível nos verdadeiros artistas.


 [Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 27 agosto 2018]

Mortadelas do PT no exterior - Rubens Barbosa (FSP)

O PT, provido de seus milhões de dólares roubados dos brasileiros, pode contratar seus mortadelas estrangeiros para fazer o mesmo trabalho sujo de mentiras, falcatruas e deformações que já perpetra no Brasil, com dinheiro que também roubou de todos nós.
O ex-chanceler do lulopetismo é instrumental nesse trabalho vergonhoso de mentir em benefício de um criminoso condenado duas vezes pela Justiça brasileira.
Paulo Roberto de Almeida

DESCRÉDITO DO BRASIL NO EXTERIOR
Rubens Barbosa
Folha de S Paulo, 27/08/2018
O ex-ministro Celso Amorim, em artigo publicado nesse espaço, dá curso à versão de que a eleição sem Lula é uma fraude. Com crescente protagonismo na divulgação das políticas e ações desenvolvidas pelo PT, Celso Amorim tornou-se o agente e o arauto das ações lulopetistas no exterior, com crescente visibilidade interna e externa.
No artigo, a realidade é obscurecida por inverdades como forma de iludir os (e)leitores. O Papa Francisco, a pedido do ex-ministro, ao invés de manifestar apoio ao ex-presidente, mineiramente pediu que Lula rezasse por ele... A teoria conspiratória da trama urdida com ramificações fora do país está longe de poder ser comprovada. A medida liminar dos peritos do Comitê de Direitos Humanos, sem qualquer aviso ou pedido prévio de informações, não tem validade porque, ao contrário do que se afirmou, o Protocolo Facultativo do Pacto de Direitos Civis e Políticos não foi promulgado no Brasil por inépcia do governo petista; pela primeira vez, o comitê opinou sobre eleições, confundindo Direitos Humanos (universais) e Direitos Políticos (que dependem da legislação de cada país). Cumprido todo o devido processo legal no julgamento do ex-presidente, a eleição será legitima e não uma fraude. Amorim continuou a prática de substituir a realidade por uma falsa retórica, iniciada durante sua passagem pelo Itamaraty.
Desde 2016, a campanha no exterior ganhou várias vertentes: golpe do impedimento da presidente Rousseff mobilizando até candidato a presidência dos EUA e lideres de partidos ideologicamente afins ao PT na Europa; versão da vitimização com o desrespeito aos direitos e a privação de liberdade do ex-presidente, apresentado como prisioneiro político; publicação de carta do ex-presidente com essa ficção no New York Times; politização das decisões da justiça brasileira com recurso ao Comitê facultativo do Conselho de Direitos Humanos. 
Dando seguimento à divulgação da versão petista da realidade, segundo se informa, o PT vai aumentar a ofensiva internacional para garantir a presença de Lula nas eleições. Trata-se realmente de uma campanha liderada pelo partido na mobilização de jornais, cientistas políticos, ONGs, governos e Parlamentos desinformados, ou que não querem se informar, sobre as leis, a Justiça e a democracia brasileira. A estratégia é colocar em questionamento o regime democrático caso Lula seja, de fato, barrado pela Lei da Ficha Limpa. Não conheço ação semelhante em outro pais. Nenhum partido político age de forma tão desassombrada contra a reputação de seu pais, não para defender princípios ou direitos inquestionáveis, mas para auferir ganhos políticos de curto prazo. Porque o PT não se associa aos que lutam pela democracia e a liberdade de verdadeiros prisioneiros políticos, como fazem os partidos de oposição na Venezuela, ao invés de defender o regime autoritário de Maduro?
É inaceitável que, a partir de retórica distorcida e repleta de inverdades, essa campanha seja utilizada para reforçar o descrédito das instituições e das leis brasileiras. Não se pode admitir que a reputação do país seja colocada em questão, no momento em que todos estão empenhados em superar a atual situação crítica em que nos encontramos, resultado de políticas equivocadas adotadas durante o governo do partido que agora apresenta no exterior uma democracia em frangalhos. Celso Amorim,em entrevista, ousou declarar que o Brasil tem a alternativa de cumprir a determinação do comitê ou se tornar um pária global, equiparando-se a Mianmar e a África do Sul na época do apartheid. 
Depois de passar oito anos defendendo uma politica alegadamente ativa e altiva, o ex-chanceler está alienando a soberania brasileira com o único objetivo de defender as mentiras de seu partido.
Com a credibilidade externa do Brasil abalada pela crise econômica e pelos desmandos e corrupção dos últimos anos, a campanha de descrédito não pode passar sem uma indignada condenação daqueles que defendem interesses partidários e pessoais, nem sempre claros e muitas vezes questionáveis, por parte dos que colocam o Brasil acima de intrigas ideológicas.
Rubens Barbosa, diplomata, ex-embaixador do Brasil em Washington e Londres

Brasil, colonia de Portugal: fabrico do sabao proibido - Guardamoria, Paulo Werneck

Guardamoria, 26 Aug 2018 02:11 PM PDT
Paulo Werneck


Tommaso Garzoni (1641): Caldeira de Sabão
Fonte: Wiki

Continuando os comentários sobre as normas que teriam sido publicadas pelo governo do Reino de Portugal para inibir o desenvolvimento do Estado do Brasil, ou, como querem, da colônia atlântica, abordaremos a questão da fabricação do sabão. Registrou Ferreira Lima que não era permitido o fabrico de sabão no Brasil ("o alvará de 5 de fevereiro de 1767 impediu a fabricação de sabão;"). A resposta de Brito ao texto que não nomeou, mas sobre esse exato tema, foi:
"AVISO DE 14 DE SETEMBRO DE 1725, ordenando não se introduzir na Capitania do Rio de Janeiro o sabão, o povo acabou fabricando-o, ver, adiante, a ordem proibindo êsse fabrico"

O primeiro contrato de sabão foi feito cerca de 1625, um século antes da prohibição. Por êle, o rei de Portugal concedeu a faculdade de ter fábricas na Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro (Melo Morais. "Brasil Histórico" - Vol. 2 - pg. 246). Nos anais da Biblioteca Nacional e nos documentos Históricos - Vol. 1 - p.p. 135-137 - há documentos desmentindo o aviso acima. 
Efetivamente, em Documentos Históricos, nas páginas 135 a 137 pode-se ler: 
Dom João por graça de Deus Rei de Portugal e dos Algarves daquem e dalém-mar em África senhor de Guiné etc. Faço saber a vós Provedor da fazenda da Capitania de São Paulo, que por parte de Francisco Morato, se me representou, que elle havia arrematado no conselho de minha fazenda o contracto do sabão preto destas cidades e suas conquistas por tempo de quatro annos, que hão de ter principio do primeiro de Janeiro do anno que vem de mil sete centos e vinte e oito e hão de acabar no fim de Dezembro de mil sete centos e trinta e um e que entre as condições delle era uma que lhe seriam passadas todas as Provisões, e mandados que lhe fossem necessários, para cumprimento do mesmo contracto e boa arrecadação delle. Pedindo-me lhe mandasse passar ordem para que em virtude da dita condição, e das mais o admittaes por si seus feitores, e administradores a requerer tudo o que fizer a bem do dito contracto, e pol-o em boa arrecadação, como fazenda real: e que outrosim possa dar os varejos que lhe parecerem necessários, em todos os Estados que houver de sabão administrado pelo contractador presente para que no primeiro de Janeiro do dito anno possa tomar conta das arrobas que achar nelles para haver de se lhes pagar pelo custo que constar fizeram ao contractador antecedente e não pelos avanços que lucra até o ultimo de Dezembro do presente anno; e que também os ditos seus administradores de primeiro de Janeiro em diante possam pôr correntes as saboarias deste novo contracto pondo-as e administrando-as conforme o estylo, e se praticou nas administrações passadas: e sendo visto seu requerimento. Me pareceu ordenar-vos guardeis e façaes guardar as condições do contracto do supplicante para que se pratique com elle o mesmo que se praticou com o contractador actual, declarando-se-vos que se ponha todo o cuidado na guarda da condição dezoito que trata do sabão da Ilha de São Thomé. El-Rei nosso senhor o mandou por Antonio Roiz da Costa e o Doutor Joseph de Carvalho Abreu conselheiros do seu Conselho Ultramarino e se passou por duas vias. Dionysio Cardoso Pereira a fez em Lisbôa occidental em nove de Agosto de mil sete centos e vinte e sete.

O secretario André Lopes de Lavre a fez escrever.
Antônio Roiz da Costa
Joseph de Carvalho Abreu

Por despacho do Conselho Ultramarino de 9 de Agosto de 1727 
A questão do fabrico não era novidade no Reino. Havia desgosto quanto ao estanco da fabrição do produto, tendo sido objeto de reivindicação ao rei Dom João II, durante as Cortes de Évora de 1481-1482, conforme registrado pelo Visconde de Santarém:
Capitollo que falla no sabam e saboarias. 

Senhor parece a vosos povoos stranho que de seu azeite e sinza nom posa cada hũu fazer sabam pera despesa de sua casa e que per prema ho vaao comprar ao remdeiro que arremdada teem a saboaria no que vosso povoo recebe muito agravo e perda sem ateequi aver corregimento Pedem vos por mercee que estas saboarias vosa alteza lhes dexe e mamdees que cada hũu faça livrememte sabam sem por ello emcorrer em pena e quando vosa alteza as nõ tirar ao menos mandees que quem o sabã quiser fazer pera sua despesa que o possa fazer e nom o vemda a allgũa pesoa e quẽ o comprar quiser vaa aaquelle ordenado que o tem per licença vossa e em esto senhor farees muita mercee a vosos povoos e já Senhor per elRei eduarte voso avoo em hũuas cortes que fez em Samtarem determinou que per morte do Ifante do amrrique ficasem as saboarias ao povoo e as mais hi nom ouvesse o que muito poderoso Senhor vosa alteza deve comfirmar e aprovar por fazerdes mercee e justiça a vosos povoos. 

Reposta. 

Respomde elRey que por isto tocar ao ducque seu primo lhe parece que he rezam e ha por bem que a Ifamte sua madre seia ouvida como procurador que he do dicto Duque e manda que pase carta pera ella e mamda que os procuradores emllegam amtre si hũu ou dous que em speciall tenham carrego de o sobre ello requerer pera despois de viir o recado da dicta ifante elle determinar o que lhe parecer seer rezam e direito. 
A reclamação era simples. Nada foi colocado contra o estanco em si, mas contra a proibição de se produzir sabão para próprio uso, sem venda para terceiros. 

Qual a resposta não se sabe pelo registro das Cortes, uma vez que o rei postergou a resposta. Todavia, na Wikipedia, verbete sabão, informa que "Desde o século XV, pelo menos, que o povo se manifesta contra este monopólio que até impedia o fabrico caseiro para uso doméstico." Mas, só para não variar, não informa de onde obteve tal informação, correta por sinal, pois as Cortes de Évora foram realizadas no século XV...

Muito mais tarde, em 1641, há o registro de um contrato de dois anos, pelo qual o contratador tem que pagar uma dada renda à Fazenda Real, mais por cento para a Obra Pia, e outros acréscimos.

Quanto ao preço do sabão, ficava à discrição do arrendador. Quanto a área coberta pelo estanco, depreende-se que Portugal e as partes do Brasil.
EU EL-REI faço saber aos que este Alvará virem que no Conselho de minha Fazenda se contratou a renda do sabão preto deste Reino e partes ultramarinas delle, a Martim Moreira, por tempo de dous annos, que começaram a 27 dias do mez de Setembro do anuno de 1641, em Preço e quantia de dous contos e dozentos mil réis em cada um delles, alem do um por cento da Obra Pia, e dous por milheiro, e ordinarias que se costumam pagar na dita renda: E conforme ao contracto della, fez traspasso da dita renda em Sebastião Ribeiro de Teives, que outro sim traspassou logo o que se havia de gastar nas partes do Brazil em Ignacio de Azevedo, a quem para o meneio e despesa do dito sabão é necessario pôr Feitores e Recebedores e mais Officiaes que forem necessarios nas ditas partes:

Pelo que mando ao Governador dellas, e ao Provedor de minha Fazenda, e Ouvidor Geral, e mais Justiças, dos logares do dito Estado do Brazil, que a todos os Feitores, Recebedores, e mais Officiaes, que o dito Ignacio de Azevedo provêr para beneficio e venda do dito Sabão, lhe cumram e façam cumprir os mandados que para isso passar, ou lhe passem outros, conforme as condições do dito contracto, e lhes dêem e façam dar toda ajuda e favor que cumprir e fôr necessario para a venda e beneficio do dito sabão; e que nenhuma Camara dos ditos Logares, nem Oficiaes della, se entremettam no preço do dito sabão, nem em posturas delle, nem façam nenhuma condemnação a quem o vender, sob pena de eu proceder como houver por bem — o que todos cumprirão, por convir a meu serviço e boa administração de minha Fazenda — e este se passou por duas vias, de que esta é a segunda. que se cumprirá, com certidão do Escrivão do novo direito de como se pagou delle o que se dever: e sem a dita certidão não terà effeito. 

Balthasar Ferreira o fez, em Lisboa, a 15 de Maio de 1643. Fernão Gomes da Gama o fez escrever. = REI.

Liv. XVI da Chancellaria fol. 66. 
Isto visto, fica claro que o sabão era uma fonte de renda para o Reino, por meio de contratos de estanco, pelo qual o contratante pagava uma renda para o Tesouro e ficava com o direito de fabricar e vender o sabão com exclusividade.

Se o contratante resolvesse produzir sua mercadoria na península, por óbvio ficaria proibida a produção no Brasil, e vice versa. 

Nada a ver com uma decisão da Coroa Portuguesa contra o desenvolvimento das "partes do Brasil"... 

Fontes:

BRITO, Luiz Tenório de. Prometi. Aqui Estou. In Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, Volume LIX, paginas 59 a 70. 

SANTARÉM, 2º Visconde de (1791-1856). Memórias e Alguns Documentos para a História e Teoria das Côrtes Geraes. Parte II. Documentos - Alguns Documentos para servirem de provas à parte 2ª das Memorias para a Historia, e Theoria das Cortes Geraes, que em Portugal se celebrarão pelos tres Estados do Reino. Páginas 174 e 175. Lisboa: Impressão Régia, 1828. Disponível em www.governodosoutros.ics.ul.pt

LIMA, Heitor Ferreira (1905-1989). História do pensamento econômico no Brasil, página 71. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1976. 

SILVA, José Justino de Andrade e. Collecção Chronologica da Legislação Portugueza - 1640-1647. 2ª Série. Páginas 437 e438. Lisboa: Imprensa de J. J. A. Silva. Disponível em www.governodosoutros.ics.ul.pt
WIKIPEDIA. Sabão. Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Sabão. Acesso em 26.08.2018.