O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 31 de março de 2024

Cuba, hoje, é uma imensa favela, um Estado falido - BBC

Cuba entra na categoria do que a Ciência Política chama de "Estados Falidos". A BBC documenta que Cuba, hoje, é uma imensa favela 

 

Qual a gravidade da crise vivida por Cuba e como ela se compara ao período após colapso da URSS

Pessoas sentadas em mureta em uma rua sem iluminação no centro de Havana

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,

Os apagões se tornaram algo constante em Cuba

  • Author,Ángel Bermúdez
  • BBC News Mundo
  • 30 março 2024

Para muitos cubanos, é como um déjà vu de uma experiência bastante traumática.

A ilha vive uma recessão econômica há vários anos que afeta a produção de alimentos, a disponibilidade de medicamentos, e é acompanhada por uma inflação na casa dos três dígitos.

O peso cubano está em constante desvalorização. Há apagões. A economia não tem um aliado internacional que permita um alívio financeiro. Há também protestos sociais e emigração em massa.

O presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, reconheceu em sua conta no X (antigo Twitter) que “várias pessoas manifestaram insatisfação com a situação do serviço de energia elétrica e de distribuição de alimentos”, mas acusou os inimigos da Revolução de tentarem se aproveitar deste contexto para fins desestabilizadores.

“Em meio a um bloqueio que pretende nos sufocar, continuaremos trabalhando em paz para sair desta situação”, acrescentou Díaz-Canel.

 

Segundo Pavel Vidal, professor de economia da Universidade Javeriana de Cali, na Colômbia, a situação que a ilha atravessa hoje tem algumas semelhanças com os primeiros anos da década de 1990, logo após o colapso da União Soviética, que deixou Cuba sem o seu principal apoio político e econômico no exterior.

No chamado Período Especial, os cubanos viveram aquele que foi provavelmente o momento econômico mais difícil desde o triunfo da Revolução em 1959.

O jornalista Pascal Fletcher, que foi correspondente em Havana naquela época, e atualmente é analista da BBC Monitoring, relembra algumas das mudanças mais visíveis que aconteceram naquele período.

“Naquela crise econômica que o então líder cubano Fidel Castro chamou eufemisticamente de 'Período Especial em Tempos de Paz', os automóveis desapareceram das ruas e estradas da ilha, os carros de boi substituíram os tratores no campo, e os cubanos cultivaram hortas em seus quintais e telhados em um exercício 'revolucionário' de austeridade e resiliência para compensar a súbita escassez de suprimentos vitais”, explica.

Mas como estas duas crises se comparam?

Cubanos pescando no Malecón

CRÉDITO,EPA-EFE/REX/SHUTTERSTOCK

Legenda da foto,

No Período Especial, o PIB caiu cerca de 35%

 

Pavel Vidal afirma que do ponto de vista macroeconômico, há alguns indicadores que caíram mais durante o Período Especial, enquanto outros são semelhantes.

Ele destaca, por exemplo, que há 30 anos o Produto Interno Bruto (PIB) despencou 35%, mas agora não retraiu tanto, visto que caiu 11% durante a pandemia de covid-19, mas depois se recuperou um pouco.

A inflação, por outro lado, é semelhante entre os dois períodos.

Já o déficit fiscal chegou a 30% naquela época e, desta vez, não subiu tanto, mas manteve-se elevado por mais tempo.

“Acho que são crises muito parecidas. Também não posso dizer que está pior, porque acredito que a economia está mais diversificada agora: há mais opções que não estavam abertas no Período Especial, quando não havia remessas, não havia turismo, e a economia estava completamente estatizada", observa.

Pobreza 'alarmante'

O especialista acredita que na situação atual, os setores da sociedade cubana que recebem remessas ou estão ligados ao setor privado emergente podem estar lidando com a crise de uma maneira melhor do que outros grupos.

“Os pensionistas e funcionários do Estado que dependem de uma renda fixa em pesos cubanos que não foi reajustada pela inflação... não há dados oficiais, mas acredito que os números da pobreza são alarmantes. Principalmente no que se refere aos aposentados, cuja situação é agravada pelo envelhecimento da população. Aí existe uma situação muito complicada”, afirma.

Rapaz passando por carro antigo azul em Havana, com prédio em ruínas ao fundo

CRÉDITO,EPA-EFE/REX/SHUTTERSTOCK

Legenda da foto,

Pela primeira vez, o governo pediu ajuda oficialmente ao Programa Mundial de Alimentos da ONU

 

Estas desigualdades entre os diferentes setores da sociedade cubana são uma das razões pelas quais alguns economistas consideram que a situação atual é mais dura do que a vivida na década de 1990.

O economista Ricardo Torres, pesquisador do Centro de Estudos Latino-Americanos e Latinos da American University, nos EUA, argumenta que embora sob a perspectiva do PIB, a crise atual possa parecer “mais branda” do que a do Período Especial, é preciso levar em consideração alguns aspectos qualitativos “para compreender o fardo sobre as pessoas, e como a crise pode ser sentida”.

Deterioração contínua

Torres destaca, por exemplo, que o Período Especial foi precedido por uma fase de crescimento econômico, enquanto a atual conjuntura se dá “após quase 30 anos de crise permanente”.

“Nos anos 1990, o país apresentava um certo bem-estar que tinha sido alcançado na década de 1980, tanto em termos de consumo quanto em termos de qualidade e profundidade dos serviços sociais, de educação, de saúde, com conquistas esportivas a nível mundial. E tudo isso em uma sociedade muito mais igualitária em termos de rendimentos do que a que existe agora. Não quer dizer que não havia problemas, mas era definitivamente muito mais igualitária em termos de rendimentos”, aponta.

Isso indica que embora a partir de 1994 o PIB tenha começado a crescer novamente, houve muitas áreas da economia, da sociedade e de da população que nunca recuperaram o padrão de vida e os níveis de atividade da década de 1980.

As diferenças entre estes dois pontos de partida iniciais marcam também, na opinião dele, a capacidade do país para superar esta crise.

Pessoas passando no centro de Havana em meio a carros

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,

O aumento do preço da gasolina tem causado preocupação entre os cubanos

 

“A infraestrutura de Cuba, construída depois de 1959, estava praticamente recém-construída na década de 1990. Pense nas centrais elétricas, nas estradas. Agora essa situação é muito diferente. As centrais elétricas estão há mais de 30 anos em funcionamento, talvez já excedendo os parâmetros para os quais foram concebidas. Muitas estradas, por exemplo, nunca tiveram manutenção nos últimos 30 anos”, afirma.

“Então, a infraestrutura física está em um estado muito mais lamentável agora, mais deteriorada do que nos anos 1990. Talvez a única infraestrutura que esteja relativamente melhor hoje seja a das telecomunicações, já que certamente se expandiu a disponibilidade de celulares e, inclusive, o acesso à internet."

Torres acrescenta que a ilha perdeu capacidade produtiva.

“Há muito menos usinas açucareiras, muito menos indústrias de manufatura, menos agricultura e pecuária, por exemplo. Há mais hotéis e aeroportos, e alguns deles são mais modernos do que os que existiam na década de 1980, mas o equilíbrio em termos de infraestrutura não é favorável”, destaca.

Migração em massa

O especialista afirma que nestas três décadas a ilha perdeu muito capital humano devido à emigração e ao envelhecimento da população.

“Durante o Período Especial, o atendimento hospitalar sofreu, claro, mas nada a ver com a situação que vivemos hoje. O mesmo pode ser dito da educação. Cuba estava com um sistema educacional robusto, com muito capital humano. Isso não é mais verdade. Pelo contrário, tem havido uma emigração em massa de professores bem qualificados que afeta todos os níveis”, diz ele.

Uma mulher com a bandeira cubana em Miami

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,

Vários cubanos-americanos em Miami apoiaram os manifestantes em Cuba com bandeiras

 

Além disso, ele afirma que a assistência material que as pessoas podem receber do Estado foi reduzida, não só em termos de medicamentos que podem estar disponíveis num hospital, por exemplo, como também de itens básicos que a população recebe por meio da libreta (caderneta de racionamento), sistema criado para controlar a distribuição destes produtos para a população.

“O que foi mantido durante o Período Especial com alguns problemas, agora praticamente não existe mais. Ou seja, os produtos fornecidos por meio da caderneta de racionamento foram reduzidos ao mínimo. Os produtos não chegam aos armazéns. E, às vezes, quando chegam, chegam com meses de atraso”, ressalta.

Na visão de Torres, todos estes problemas são agravados pelo fato de que o aumento da desigualdade torna alguns setores da sociedade muito vulneráveis ​​à crise.

'Uma crise muito pior'

“Embora o governo não divulgue números oficiais a este respeito, sabe-se que os níveis de desigualdade já eram muito altos em 2019. Isso significa que um grupo importante da população chega a esta crise atual com o padrão de vida bastante deteriorado, com carências importantes em termos de moradia, de acesso a serviços sociais. Então, eles chegam com muita desvantagem, e esta crise os atinge duramente. E eles não têm nenhum tipo de recurso ou reserva para enfrentar essa situação”, explica.

Assim como o Período Especial, cujo gatilho foi a queda da União Soviética e do bloco comunista — que levou Cuba a perder a maior parte do seu mercado externo, assim como subsídios importantes —, a crise atual também foi alimentada por fatores externos.

Entre eles, os especialistas citam o colapso da economia da Venezuela — que durante o governo de Hugo Chávez se tornou o principal parceiro comercial de Havana —, a reimposição de sanções pelos EUA durante o governo de Donald Trump, a pandemia de covid-19 e, inclusive, a invasão russa da Ucrânia (que influenciou o aumento dos preços dos fertilizantes e dos alimentos no mundo).

Homem atrás de balcão de mercearia com legumes à mostra

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,

A situação geral do abastecimento na ilha costuma ser considerada um assunto sensível — e um segredo estratégico

 

A estes elementos, devemos acrescentar o que os economistas consideram erros nas políticas internas, como a recente “reforma monetária” (uma tentativa fracassada de unificar o câmbio); um conjunto de reformas econômicas parciais e incompletas, como a iniciativa do ex-presidente Raúl Castro de entregar em usufruto as terras improdutivas para os agricultores, destaca Pavel Vidal.

“O usufruto não dá ao agricultor a segurança que ele precisa, porque ele não tem a propriedade da terra. Há milhões de limitações para, por exemplo, erguer construções nessas terras e, além disso, a compra forçada por parte do Estado de uma parte importante da produção a preços ridículos torna a atividade agropecuária financeiramente inviável”, explica.

Agricultor em Cuba

CRÉDITO,GETTY IMAGES

A soma de todos esses elementos faz com que a crise atual seja “muito pior” do que a do Período Especial, segundo Emilio Morales, presidente do Havana Consulting Group e vice-presidente do centro de estudos Cuba Siglo 21.

“É uma crise muito pior, mais profunda. Mais de 30 anos se passaram desde o Período Especial. Aquela foi uma crise mais econômica do que política e social, e para sair dela, o governo teve que fazer alguns ajustes, como permitir o envio de remessas, o investimento estrangeiro e o turismo. Abrir-se de forma muito limitada ao setor privado naquela época. Todas estas medidas existem, estão implementadas há 30 anos, e o país está caindo aos pedaços”, diz ele à BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC.

Uma crise multissistêmica

“Trinta anos depois, se tornou uma crise multissistêmica. É uma crise política, social, sanitária e econômica. E todos estes fatores juntos geraram esta tempestade que neste momento se vê nesta explosão social que está acontecendo em diferentes locais do país”, acrescenta, fazendo referência aos protestos que ocorreram na ilha no dia 17 de março.

Torres, Vidal e Morales concordam que o problema subjacente é um modelo econômico que “não funciona”.

“A evidência histórica é esmagadora em termos de que esses modelos de economia centralmente planificadas, sobretudo no estilo soviético, não deram resultado em nenhum dos países em que foram adotados. Observe que a própria China e o Vietnã, apesar de ainda terem partidos comunistas no poder, há mais de três décadas reconheceram que este modelo não era funcional, e o abandonaram”, destaca Torres.

Pavel Vidal indica que embora sejam necessárias mudanças estruturais que não são de curto prazo, a ilha passou três décadas fazendo reformas parciais e incompletas — e o governo continua apostando em uma economia centralizada.

Uma libreta, caderneta de racionamento

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,

libreta dá acesso a alimentos com preços subsidiados

 

“Continuam dizendo que a empresa estatal socialista é o principal ator da economia cubana, mas é justamente a empresa estatal socialista que não tem conseguido oferecer eletricidade nem alimentos aos cubanos”, afirma.

As autoridades cubanas, por sua vez, culpam as sanções dos EUA pelas dificuldades que a economia cubana atravessa — e acusaram o governo americano e os exilados cubanos em Miami de incitarem os protestos que ocorreram no leste do país.

Na segunda-feira (18/03), o Ministério das Relações Exteriores cubano convocou o encarregado de negócios da embaixada dos Estados Unidos em Havana, Benjamin Ziff, para uma reunião, na qual transmitiu o "firme repúdio ao comportamento intervencionista e às mensagens caluniosas do governo dos Estados Unidos e de sua embaixada em Cuba sobre assuntos internos da realidade cubana".

"Também chamou a atenção para a responsabilidade direta do governo dos Estados Unidos sobre a difícil situação econômica que Cuba atravessa atualmente e, especificamente, sobre as carências e dificuldades que a população enfrenta diariamente, com o esgotamento e insuficiência de suprimentos e serviços essenciais, sob o peso e impacto do bloqueio econômico destinado a destruir a capacidade econômica do país", indica o comunicado do ministério cubano.

Não está claro, no entanto, até que ponto o discurso oficial será persuasivo para dissipar o desconforto entre os cubanos.

“A confiança do povo cubano em seus líderes, os sucessores de Fidel, e sua fé na Revolução de 65 anos que a imprensa estatal cubana ainda elogia, estão em seu ponto mais baixo historicamente, a julgar pelas reclamações e demandas dos manifestantes que tomaram as ruas de Santiago de Cuba e de outras cidades e vilarejos do leste do país no dia 17 de março”, diz Pascal Fletcher.

'Fartos e cansados'

Ele explica que junto às demandas por “eletricidade e alimentos”, e os gritos de “liberdade” e “Pátria e Vida” — que se tornaram populares durante uma onda anterior de protestos antigoverno que se espalharam por toda a ilha em julho de 2021 —, muitos manifestantes em Santiago de Cuba também esbravejaram com funcionários do Partido Comunista que tentaram argumentar com eles: “Não queremos mais ladainha”.

“Isso indica claramente que muitos cubanos estão fartos e cansados da propensão do governo de sempre culpar o embargo econômico dos EUA por todos os males do país”, avalia Fletcher.

“Os cubanos clamam por soluções internas e mudanças por parte do seu governo interno, chega de retórica incendiária dirigida ao velho inimigo 'imperialista'", conclui.



La Défaite de l'Occident, d'Emmanuel Todd: um livro controverso - Marc Polonsky e Paulo Roberto de Almeida

 Um debate muito importante, não só em relação à Ucrânia, mas ao Ocidente, desafiado pela Rússia e pela China, ambas apoiadas por Lula, do Brasil, num entrevero que não deveria dizer respeito ao Brasil.

Remeto primeiro à postagem da resenha de Marco Polonsly, transcrita neste blog: 

e depois formulo minhas observações preliminares, pois que estou lendo seu livro no Kindle francês. 

Defeat of the West? 

Emmanuel Todd and the Russo-Ukrainian War


by  MARC POLONSKY

The Article, Tuesday March 26, 2024


Aqui: Defeat of the West? Emmanuel Todd and the Russo-Ukrainian War - Marc Polonsky (The Article)

Minhas duas dúltimas nota sobre o debate, prometendo voltar.

Paulo Roberto de Almeida


Defeat of the West? Emmanuel Todd and the Russo-Ukrainian War -  https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/03/defeat-of-west-emmanuel-todd-and-russo.html?spref=tw - Para o Enfant Terrible do contrarianismo francês, o Ocidente e a Ucrânia já perderam a guerra contra a Rússia. Estou lendo o livro no original francês, e pretendo escrever a respeito. Considero exageradas algumas afirmações do Todd, como se a Rússia pudesse prevalecer sobre o conjunto da OTAN: só se os países forem muito covardes.


La Défaite de l'Occident, d'Emmanuel Todd é um livro inteligente, mas pré-concebido. Feito para contrariar o senso comum, como os livros anteriores sobre o fim da URRS e sobre o fim do império  americano (que ainda não aconteceu). A Rússia é muito mais frágil do que ele imagina.

Paulo Roberto de Almeida


Resumé Amazon.fr: 

L'implosion de l'URSS a remis l'histoire en mouvement. Elle avait plongé la Russie dans une crise violente. Elle avait surtout créé un vide planétaire qui a aspiré l'Amérique, pourtant elle-même en crise dès 1980. Un mouvement paradoxal s'est alors déclenché : l'expansion conquérante d'un Occident qui dépérissait en son coeur. La disparition du protestantisme a mené l'Amérique, par étapes, du néo-libéralisme au nihilisme ; et la Grande-Bretagne, de la financiarisation à la perte du sens de l'humour. L'état zéro de la religion a conduit l'Union européenne au suicide mais l'Allemagne devrait ressusciter. Entre 2016 et 2022, le nihilisme occidental a fusionné avec celui de l'Ukraine, né lui de la décomposition de la sphère soviétique. Ensemble, OTAN et Ukraine sont venus buter sur une Russie stabilisée, redevenue une grande puissance, désormais conservatrice, rassurante pour ce Reste du monde qui ne veut pas suivre l'Occident dans son aventure. Les dirigeants russes ont décidé une bataille d'arrêt : ils ont défié l'OTAN et envahi l'Ukraine. Mobilisant les ressources de l'économie critique, de la sociologie religieuse et de l'anthropologie des profondeurs, Emmanuel Todd nous propose un tour du monde réel, de la Russie à l'Ukraine, des anciennes démocraties populaires à l'Allemagne, de la Grande-Bretagne à la Scandinavie et aux États-Unis, sans oublier ce Reste du monde dont le choix a décidé de l'issue de la guerre.


sábado, 30 de março de 2024

Departamento de Estado dos EUA e informações sobre AL - Arquivos do CEDEM (SP)

Departamento de Estado dos EUA e informações sobre AL 

CEDEM possui 66 mil páginas sobre a política externa dos EUA para o mundo 

Arquivo sobre América Latina

https://www.cedem.unesp.br/#!/noticia/657/departamento-de-estado-dos-eua-e-informacoes-sobre-al-

O Departamento de Estado dos Estados Unidos é o órgão responsável por estabelecer as relações da política externa do país. Em sua atuação pelo mundo afora, a diplomacia Norte Americana produz uma infinidade de informações sobre a região onde opera, que pode funcionar como instrumento de ação política com vistas a controlar territórios e manter a hegemonia. É o caso, por exemplo, da atuação nos países da América Latina para impedir o avanço da esquerda, resultando em golpes de estado com instituição de governos ditatoriais.   

Informações sobre os países latino-americanos, entre outros, estão fartamente documentadas em 188 rolos de microfilmes de propriedade do Centro de Documentação e Memória (CEDEM), da Unesp. São aproximadamente 66 mil páginas de dados produzidos pelo Departamento de Estado (EUA), pela Agência Central de Inteligência (CIA) e por diplomatas, importantes fontes primárias que abrangem o período de 1940 a 1985, cobrindo temas como Segunda Guerra, Guerra Fria, golpes de estado e ditaduras na América Latina.

Adquiridos junto a editora de livros acadêmicos University Publications of America (UPA), em 1991, pela biblioteca da Faculdade de Ciências e Letras (FCL), da Unesp, câmpus de Araraquara, os microfilmes foram doados ao CEDEM em 2002. O material está, em sua maioria, em língua inglesa.

Alguns conteúdos – Nos relatórios de pesquisa da CIA sobre a América Latina, no período compreendido entre 1946 a 1976, organizados por ano de produção, é possível encontrar informações sobre a época que antecedeu o golpe militar de 1964 no Brasil. Constam, por exemplo, documentos biográficos sobre os Presidentes João Goulart, Juscelino Kubitschek, sobre o chanceler Francisco Clementino de Santiago Dantas, memorandos sobre a renúncia de Jânio Quadros, movimentos comunistas, perspectivas de curto prazo para o Brasil sob Goulart, planos do Segundo e Terceiro Exércitos brasileiros para o golpe contra o governo Goulart e sobre o Brasil como instrumento de influência na África.

Nos microfilmes há, também, informações confidenciais produzidas pelo Departamento de Estado dos EUA sobre Cuba. Um deles, relativo ao período de 1955 e 1959, aborda o sistema político da Ilha, o governo, o judiciário, leis, militares, costumes, economia, finanças, agricultura, recursos naturais, indústria, comunicações e mídia de Cuba e suas relações com os Estados Unidos Estados e outras nações.

Já os Arquivos de Segurança Nacional de Presidente John F. Kennedy, que cobrem o período de 1961 a 1963, fazem um amplo relato sobre a América latina. O documento esclarece que “os pesquisadores podem estudar todos os aspectos da política externa da administração Kennedy através dos Arquivos Nacionais”.

Os arquivos foram organizados geograficamente e compostos cronologicamente por país. Eles fornecem uma noção clara da forma como a administração Kennedy encarava as principais questões de política externa e estruturava suas respostas. “A disposição cronológica permite ao pesquisador acompanhar no dia a dia a forma como a administração lidava com as crises e a evolução das principais políticas,” diz o arquivo.

A documentação cobre vinte e seis nações ou áreas latino-americanas: Argentina, Bolívia, Brasil, Guiana Inglesa, Chile, Colômbia, Costa Rica, República Dominicana, Equador, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, Jamaica, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Porto Rico, Suriname, Trinidad e Tobago, Uruguai, Venezuela e as Índias Ocidentais.

Onde pesquisar:

CEDEM
On-line: www.cedem.unesp.br
Presencial: Sede do Centro de Documentação e Memória (CEDEM), da Unesp
Praça da Sé, 108, 1 andar – São Paulo (SP)
E-mail: pesquisa.cedem@unesp.br
Tel.: 11-3116-1701


Defeat of the West? Emmanuel Todd and the Russo-Ukrainian War - Marc Polonsky (The Article)

 Defeat of the West? 

Emmanuel Todd and the Russo-Ukrainian War


by  MARC POLONSKY

The Article, Tuesday March 26, 2024

 

Emmanuel Todd, now 72, is one of the few who predicted the end of the Soviet Union. In La chute finale: Essai sur la decomposition de la sphere soviétique (1976)[1] he analysed infant mortality, suicide rates, economic productivity and other indicators, and concluded that the USSR’s long stagnation would soon culminate in collapse.

Now, in La Défaite de l’Occident (Gallimard, 384 pp, published in January 2024), Todd applies the same forensic data analysis to Russia, Ukraine and the West. He concludes that Russia will succeed in its war aims and that the West is heading for defeat — less due to the war than as a result of its own “self-destruction”.

In France Todd’s book has received the media attention befitting a celebrity: long interviews on highbrow TV discussion programmes achieving hundreds of thousands of views. Though Le Monde dismissed him as “a prophet with closed eyes” who is “not the first to spread Kremlin propaganda in France”, Todd is adamant that he is no Putinophile. His is the analysis of a longue durée historian, who considers long-term trends with ideological detachment.

Why did Vladimir Putin choose February 2022 to launch his “special military operation”? Todd gives two answers. Firstly, Russia was ready. Since the 2014 sanctions in response to the Russian annexation of Crimea, Russia had been building up its military capability (including hypersonic missiles for which Nato has no match) and future-proofing its economy, developing the capacity for “great technical, economic and social flexibility: an adversary to be taken seriously”.

Secondly, based on birth rates and mobilisation cohorts, Todd concludes that Putin saw a five-year opening in which to defeat Ukraine and push back Nato. By 2027 the cohort of men eligible for military service will be too small. Russia invading Europe after conquering Ukraine is the stuff of “fantasy and propaganda”, Todd maintains. “The truth is that Russia, with a shrinking population and a territory of 17 million square kilometers, far from wanting to conquer new territories, wonders above all how she will continue to occupy those she already possesses.”

Demographic factors also impact Russia’s conduct of the war, Todd suggests. Initially a mere 120,000 Russian troops were deployed in Ukraine, a country of 600,000 km2. (Compare this with the USSR’s 1968 invasion of Czechoslovakia: 128,000 km2, 500,000 troops.) Contrary to the narrative favoured by many Western commentators, Russia’s current military strategy is not to hurl millions into the Stalingrad meat grinder. This war is being prosecuted slowly and methodically, to minimise losses. Todd points to the important role played in the conflict’s early stages by Chechen regiments and the Wagner militia, and to the mobilisations: partial, gradual, sparingly implemented. “Russia’s priority is not to conquer a maximum of territory but to lose a minimum of men.”

Putin’s continued popularity at home does not surprise Todd. Drawing on rates of suicide and alcohol-related deaths, Todd demonstrates the social stabilisation of the Putin era. A particularly significant indicator is infant mortality: 19 per thousand in 2000, 4.4 per thousand in 2020 – below the American rate of 5.4. And for most Russian citizens the standard of living has never been higher.

In Todd’s view the notion that Russia will be defeated by economic war is a delusion spread by the lawyers and accountants who have taken over Western policy-making and planning. Sanctions rely on global cooperation. But many countries, indifferent to this Russia-NATO confrontation and resenting the war’s costs imposed on them, do not want to play along, and assist in flows of essential equipment to Russia and hydrocarbons from it.

And the Russian economy has rebounded, despite (or because of?) the sanctions. Take wheat production: 37 million tonnes in 2012, 80 in 2020. (America’s fell from 65 million tonnes in 1980 to 47 in 2022.) If Russia and Belarus — whose combined GDP is 3.3% of the West’s (US, Canada, EU, UK, Japan, Korea) — can out-produce the West in arms production, then the whole notion of GDP must be up for reconsideration. The more significant consequence is that Ukraine is losing the war, due to shortages in weapons supply.

As for Ukraine, few anticipated that a “failed state” beset by corruption and in the grip of oligarchs would put up such a fight. “What nobody could have predicted is that it would find in the war a reason for existing, a justification for its own existence.” Todd presents a Ukraine irretrievably divided, with the Southern and Eastern regions having opted out of the Ukrainian national project long ago. The 2010 Presidential elections, he says, show this division with an “almost disconcerting simplicity”. Votes for the pro-Russian Viktor Yanukovych were 90.44%, 88.96% and 78.24% in Donetsk, Lugansk and Crimea, but only 8.60%, 7.92% and 7.02% in the Western provinces of Lviv, Ternopil and Ivano-Frankivsk.

For Todd the May 2014 Presidential elections — resulting in Petro Poroshenko’s election — were a turning point. In Donetsk turnout was a mere 15%; in Lugansk, 25%.[2] “These elections mark the moment when the [Russophone] regions disappeared from the Ukrainian political system.” This was “the end of a Ukrainian democracy, which in fact had never functioned” and “the true birth of the Ukrainian nation, through the alliance of the ultra-nationalism of the West and the anarcho-militarism of the Centre, against the Russophile part of the country.”

In the lead-up to February 2022, Russia made three demands on Ukraine: permanent retention of Crimea, protection for the Russian-speaking (or, as Todd puts it, Russian) populations of the Donbas, and neutrality. “A Ukrainian nation sure of its existence and of its destiny in Western Europe would have accepted these conditions”, Todd maintains; “it would even have got rid of the Donbas.” Recalling the amicable break-up of Czechoslovakia, Todd notes that this smaller polity could then have focussed on building itself as a truly Ukrainian nation-state, recognised by all.

Ukraine’s determination to reconquer the Donbas and reclaim Crimea is “a suicidal project”, Todd claims. It is trying “to maintain its sovereignty over the populations of another nation – a nation far more powerful than it is”. He continues: “The suicidal lack of realism in Kiev’s strategy suggests – paradoxically – a pathological Ukrainian attachment to Russia: a need for conflict which reveals an inability to separate from it.”

As for the West, Todd presents it as narcissistic and hubristically out of touch with the “Rest of the World”. Its “ideological solitude and ignorance of its own isolation” are the result of two decades of American-led globalisation and aggressive foreign policy. Backed up by an analysis of typical family structures and cultural and religious allegiances, Todd is not surprised that much of the Rest of the World is rooting for Russia, in its defiance of unipolar America-dominated hegemony and the “liberal international order”.

Russia is not the principal geopolitical problem, Todd suggests. “Too vast for a shrinking population, she would be incapable of taking control of the planet and has no desire whatsoever to do so […] Rather, it is a Western – and more specifically American – crisis, a terminal crisis, which is putting the planet’s equilibrium into peril.”

With President Macron now proposing to take the lead on European military support for Ukraine, Emmanuel Todd seems at odds with the French establishment. And there is much in his book to challenge the dominant narratives in our own politics and media.


Marc Polonsky is a retired partner of an international law firm. His practice focussed on investment in the Russian hydrocarbons and infrastructure sectors. All translations from the French are his.

 

Posição do Brasil na Conferência de San Francisco sobre o direito de veto garantido às grandes potências - Eugenio Vargas Garcia

Trecho do livro de Eugênio Vargas Garcia – O Sexto Membro Permanente. O Brasil e a Criação da ONU. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012 –, sobre a discussão da composição do Conselho de Segurança e das prerrogativas de seus membros: 

"Se fosse realmente aplicada a fórmula de Yalta para o sistema de votação no Conselho de Segurança, o governo brasileiro considerava injusto o veto em causa própria e a imunidade que isso implicava em benefício dos membros permanentes:

            Se ocorre, por exemplo, a hipótese de que um dos Estados membros permanentes é o próprio violador das obrigações contidas no estatuto básico da organização, como seria possível admitir-se que esse mesmo Estado tenha o direito de veto, quando o assunto referente a tal violação tiver que ser resolvido? Como se poderá aprovar que tal Estado, com o seu veto, possa impedir a ação do Conselho?


Novamente se recorre à interpretação do governo holandês sobre a matéria. Se cada grande potência tivesse o direito de veto nos litígios em que fosse parte, o plano da organização só serviria para dirimir conflitos internacionais entre pequenos Estados. No caso de controvérsias entre grandes potências ou entre uma delas e um país menor, a organização não forneceria proteção alguma a este último (a rigor a nenhum dos pequenos Estados) nem à causa da paz." (p. 127)

Sobre la dolarización y los economistas - Emilio Ocampo (El Cato)

Um importante artigo para colocar em boas bases o debate sobre dolarização ou não dolarização, em bases nacionais, ou desdolarização no plano dos intercâmbios, como pretendem alguns partidários de uma "nova ordem global". Aplicado especialmente ao caso da Argentina, onde o autor a defende com argumentos consistentes. 

Sobre la dolarización y los economistas

Emilio Ocampo dice que la dolarización no ha sido descalificada por una mayoría de los economistas, de hecho hay una larga tradición del pensamiento económico que se ha opuesto al nacionalismo monetario.

El CATO, 25 de Marzo de 2024 

https://www.elcato.org/sobre-la-dolarizacion-y-los-economistas?mc_cid=f1760a8ffa&mc_eid=19e757ffce 

"Sin embargo, la mayoría de las naciones civilizadas siguen siendo tan bárbaras en sus transacciones que casi todos los países independientes optan por afirmar su nacionalidad teniendo, para su inconveniencia y la de sus vecinos, una moneda propia".
– John Stuart Mill

Leyendo lo que escriben algunos economistas argentinos y repiten ciertos medios, un lector desprevenido podría llevarse la impresión de que la dolarización ha sido descalificada por una mayoría de la profesión.

Nada más lejos de la verdad. Se puede estar a favor o en contra de la dolarización. Como en muchos otras cuestiones, hay economistas respetables y distinguidos en ambos lados del debate.

Una larga tradición en el pensamiento económico que se remonta a John Stuart MillJuan Bautista Alberdi y William Stanley Jevons en el siglo XIX y a Friedrich A. Hayek en el siglo XX ha cuestionado el nacionalismo monetario. A principios de los años setenta, dos premios Nobel, Milton Friedman Robert Mundell, enarbolaron la bandera de la dolarización. En 1973 Friedman la recomendó específicamente para la Argentina en un testimonio al Congreso norteamericano, y, Mundell, a quien se considera el padre intelectual del euro, asesoró al gobierno de Panamá luego de que Nixon declarara la inconvertibilidad del dólar a oro. Desde entonces la lista de académicos reconocidos que la han propuesto para países con inflación alta y endémica incluye a Alberto AlesinaRobert BarroGuillermo CalvoJohn CochraneTyler CowenRudiger DornbuschSteve HankeSteven KaminDavid MalpassCarmen ReinhartKurt SchulerGeorge SelginLarry SummersScott SumnerFrançois VeldeMarcelo Veracierto, y Larry White, entre otros

Habría que agregar que los economistas Alfredo ArízagaCarlos Julio Emanuel Manuel Hinds, que como ministros de economía llevaron adelante la dolarización en sus países (los dos primeros en Ecuador y el último en El Salvador), también la recomiendan para la Argentina. Los economistas ecuatorianos Alberto AcostaAlberto DahikMarco Naranjo ChiribogaPablo Lucio Paredes y Francisco Zalles en el último año han opinado públicamente de la misma manera (muchos otros lo han hecho en privado).

En la Argentina, la lista de economistas que en algún momento en las últimas cuatro décadas han propuesto la dolarización como solución al problema de la inflación incluye a Ricardo ArriazuJorge ÁvilaEnrique Blasco GarmaAlberto Benegas Lynch (h)Roberto CachanoskyNicolás Cachanosky, Iván CarrinoGerardo Della PaoleraAlejandro M. EstradaAgustín Etchebarne BullrichPablo GuidottiJavier MileiAgustín MonteverdePedro PouAdrián RavierAlfredo Romano y Gabriel Rubinstein, entre otros (aclaro que hoy no todos están a favor de una dolarización).

En algunos casos, la oposición de algunos economistas argentinos a la dolarización excede un análisis racional y pasa a un plano casi emocional. Con notables y loables excepciones, la chicana y la tergiversación priman sobre el análisis objetivo y racional.

En el plano teórico el debate sobre la dolarización se puede resumir como un trade-off entre los costos y beneficios de la credibilidad versus la flexibilidad de la política económica. Por el lado de los costos, la dolarización implica la pérdida de: 1) ingresos por señoreaje; 2) un banco central que pueda actuar de prestamista de último instancia, y, 3) la política cambiaria como amortiguadora de shocks externos. Los beneficios incluyen: 1) una tasa de inflación baja de manera permanente, 2) menores costos de transacción; 3) eliminación del riesgo de devaluación, que reduce las tasas de interés internas y el costo de capital de las empresas; 4) una prima de riesgo país potencialmente más baja, 5) un entorno más favorable para la inversión y el crecimiento gracias a la estabilidad de precios, 6) eliminación del descalce cambiario en el sector público y el sistema financiero, y 6) menor riesgo de refinanciación (roll-over) de la deuda pública

De manera simplificada, si los gobernantes de un país demuestran de manera consistente a lo largo del tiempo que con un régimen de política flexible y discrecional no logran generar credibilidad, y, por ende, tampoco estabilidad, entonces, para alcanzar este último objetivo no queda otro camino que la dolarización. La flexibilidad es un lujo que sólo se pueden dar los países creíbles. Es decir, aquellos que consistentemente han adoptado políticas sensatas. Teniendo en cuenta que: a) con estabilidad de precios el señoreaje a lo sumo puede representar 1-1,5% del PBI y hay manera de recuperarlo parcialmente, b) hace años que no tenemos ni un banco central independiente ni un verdadero prestamista de última instancia, c) la política cambiaria en vez de estabilizar la economía tiende a desestabilizarla, y d) el costo del endeudamiento del sector público a largo plazo es prohibitivo, una dolarización no parece una opción costosa. 

Hay quienes se oponen a la dolarización porque la asocian con la Convertibilidad, cuyo final traumático quedó grabado en la memoria colectiva de los argentinos. Se trata de regímenes parecidos pero esencialmente distintos. A Duhalde y Alfonsín les costó muy poco revertir la Convertibilidad, mientras que Rafael Correa, habiendo sufrido la crisis de 2008, un default soberano y un terremoto, nunca pudo revertir la dolarización porque el dólar era más popular que él. La inconsistencia de la política fiscal con un régimen de tipo de cambio fijo no explica por si sola el fin de la Convertibilidad. Fue una combinación de factores, en los que la política doméstica jugó un papel decisivo. Además, hay que recalcar que la Convertibilidad empezó en un momento en el que el dólar tocaba su punto más bajo en quince años mientras que hoy está en el punto más alto de los últimos cincuenta (y casi 40% por encima del valor que tenía en marzo de 1991).

Un análisis crítico de la historia argentina sugiere que apoyar un régimen flexible y discrecional requiere grandes dosis de optimismo (¿voluntarismo?). Básicamente, implica creer que esta vez será diferente.

¿Qué puede justificar semejante creencia?

  • La ilusión de qué, aunque la Argentina no es un “país normal”, puede fácil y rápidamente convertirse en un país normal. ¿Por qué no podemos tener el mismo régimen bi-monetario con el que Perú y Uruguay lograron doblegar la inflación? Descartar la respuesta obvia a esta pregunta denota una peligrosa ingenuidad. Estos países no están donde están, ni tienen la inflación que tienen por casualidad, sino porque, a lo largo de varias décadas, sus gobernantes tomaron decisiones que nuestro sistema político no estuvo, ni hoy demuestra estar, dispuesto a tomar. Si mi perro tuviera un manubrio y dos ruedas no sería mi perro, sino mi bicicleta.
  • La soberbia de algunos economistas que creen que si ellos estuvieran a cargo de la política económica podrían lograr lo que no han logrado otros economistas tanto o más calificados y/o experimentados que ellos en el pasado. La Argentina ha demostrado que se come crudos a los golden boys con PhDs de la Ivy League. Sin embargo, algunos académicos encerrados en la torre de marfil juegan con modelos matemáticos en los que las medidas que proponen siempre obtienen los resultados esperados. Como advirtió Ricardo Caballero hace algunos años, es peligroso para un economista dejarse hipnotizar por la lógica de los modelos y confundir la precisión con la que obtienen resultados en un mundo ideal con la que se puede esperar en el mundo real. Esta confusión es lo que Hayek denominó “la pretensión del conocimiento”, que termina resultando carísima a la sociedad.
  • La ilusión de qué bajo un régimen flexible y discrecional, futuros gobiernos emplearán las herramientas de política cambiaria, monetaria y fiscal de acuerdo a lo que prescriben los libros de texto a pesar de que nunca lo han hecho.
  • La ilusión de que lo único que se necesita para eliminar la inflación es un banco central independiente. Esta es probablemente una de las ideas más perniciosas que circulan en nuestro medio (en este artículo explico por qué). En lo que va del siglo, la independencia de jure del BCRA supera a la del Bank of England y, hasta 2011, también superó a la de la Reserva Federal, sin embargo, resulta obvio que, de facto, la poca independencia que tuvo bajo la Convertibilidad desapareció por completo. Por ley tenemos un banco central relativamente independiente, pero en la práctica es una dependencia del Ministerio de Economía con funcionarios mejor pagos. Esta divergencia es una clara señal de anomia institucional. 
  • La ilusión de que lo único que se necesita para eliminar la inflación es eliminar el déficit fiscal. Ya tuvimos la fallida experiencia del “Plan Picapiedras” bajo el gobierno de Mauricio Macri que se asentaba sobre dos pilares: emisión cero y déficit cero. Entre el primer semestre de 2018 y el primer semestre de 2019 el equilibrio primario pasó de un déficit a un superávit con una reducción del gasto de casi 13% en términos reales, mientras que la base monetaria pasó de crecer al 24% anual a crecer al 35% anual. Sin embargo, la tasa de inflación anual promedio saltó de 26% a 54% entre ambos semestres. En vez de asegurar la reelección de Macri este plan contribuyó a su derrota. Como explica Persio Arida, uno de los autores del Plan Real brasileño, “los planes de estabilización no suelen ir acompañados de un déficit cero. Por el contrario, el plan de estabilización es el que genera el apoyo político para estabilizar el déficit”. No sólo la experiencia de Brasil con el Plan Real sino también la de la Argentina bajo la Convertibilidad prueban la verdad de esta afirmación. Es increíble la facilidad con la que volvemos (¿vuelven?) a cometer los mismos errores.
  • La ilusión de que los gobiernos malos en la Argentina son cosa del pasado. El remedio que proponen algunos economistas para eliminar la inflación sólo funcionaría con “gobiernos buenos”. Pero nuestra historia sugiere que la probabilidad de que en el futuro volvamos a tener “gobiernos malos” es muy alta. Si dejamos en manos de estos gobiernos un banco central que pueda emitir pesos para financiar su corrupción, su nepotismo y su clientelismo, volveremos a tener una inflación descontrolada.
  • Una pereza intelectual y cierto esnobismo lleva a algunos colegas a ignorar la experiencia de otras economías dolarizadas como Ecuador, El Salvador y Panamá porque, supuestamente, no son comparables a la economía argentina, ya sea por su tamaño, grado de desarrollo y/o patrón de comercio internacional. Otros creen que ya saben todo sobre la dolarización cuando, en realidad, nunca dedicaron suficiente tiempo a estudiar el tema con profundidad.

A todo esto habría que agregar algo obvio que enturbia el debate: el propio interés profesional. La máxima aspiración profesional de algunos colegas es dirigir (u ocupar un cargo en) el BCRA, que bajo una dolarización debería dejar de existir. Otros, especialmente aquellos dedicados al análisis de coyuntura, son socios del statu quo. Naturalmente se oponen cualquier cambio que pueda hacer peligrar su posición. Los bancos argentinos, que básicamente lucran a costa del BCRA, también se perjudicarían en el muy corto plazo si se avanzara con una dolarización, por lo cual es esperable que sus asesores también se opongan.

Sin embargo, sólo una mirada miope puede llevar a un banquero competente y serio a creer que una dolarización sería perjudicial para sus intereses. Ecuador tiene un PBI equivalente a 20% del de la Argentina, sin embargo, su banco privado más grande, el Banco Pichincha, tiene un balance y una rentabilidad superior a las del Banco de Galicia o el Banco Macro. Resulta obvio que, si el objetivo de un banquero es intermediar de manera eficiente el ahorro y la inversión de la sociedad, la dolarización sería beneficiosa para su rentabilidad a mediano y largo plazo. También sería beneficiosa para la mayoría de los argentinos, ya que por primera vez en su vida podrían acceder al crédito hipotecario a largo plazo a tasas de interés razonables. Hoy en Ecuador se consiguen préstamos para comprar una vivienda con hasta 20 años de plazo al 9% anual en bancos privados y a 25 años de plazo en los bancos públicos.

De ninguna manera pongo a toda la profesión en la misma bolsa pero sí a los 200 colegas que firmaron una solicitada en contra de la dolarización y que nunca en su vida se les ocurrió firmar una solicitada en contra de la inflación descontrolada, el impuesto más regresivo que existe.

No hay que cancelar el debate sino promoverlo. Es la mejor manera de acercarnos a la verdad. Nosotros nunca hemos reuído el debate y lo hemos aceptado en varias ocasiones con economistas serios y profesionales (ver por ejemplo aquíaquí y aquí). Nadie nace dolarizador. Algunos nos convencemos estudiando la historia argentina y estudiando lo que ha ocurrido en otros países. Quizás algunos consideren que nuestra postura es demasiado pesimista. Yo la considero realista, pero obviamente es una cuestión subjetiva.

En cierto sentido, se puede decir con respecto a la dolarización lo mismo que decía Cavallo con respecto a la Convertibilidad: “el escepticismo de los economistas profesionales argentinos, con algunas excepciones como Ricardo Arriazu, Alejandro Estrada y Adolfo Sturzenegger, en el momento de lanzarse el plan, reflejaba a su vez el pensamiento más frecuente de los especialistas en macroeconomía de las principales universidades del mundo”. 

Hay una diferencia importante. En 1991 el régimen de convertibilidad era desconocido en el mundo. Sólo había sido aplicado en Hong Kong y pocos economistas comprendían como funcionaba. Desde entonces, la dolarización no sólo ha sido estudiada con gran detenimiento sino también implementada en varios países. Y como señalé algunos párrafos más arriba una lista de economistas notables la consideran la herramienta más adecuada para países con alta inflación endémica. No hay excusas.

Me sorprende que Cavallo se siga oponiendo a la dolarización, y, a pesar de la experiencia de los últimos 25 años, siga abrigando esperanzas de que el peso pueda ser una moneda fuerte y estable. Esto solo ocurrió cuando fue plenamente convertible y estuvo respaldado por el oro o el dólar con la Convertibilidad (que terminó muy mal). Durante el resto de la larga historia del papel moneda en nuestro país, que se remonta a 1822, el peso fue una moneda basura, impuesta compulsivamente por el curso forzoso y abusada recurrentemente por el poder político, democrático o autocrático, para financiar su estrafalaria afición al gasto.

En una democracia anómica como la argentina, el único mecanismo de compromiso efectivo para reducir la inconsistencia temporal de la política económica es el voto de una mayoría, no lo que establezca la Constitución o una ley del Congreso siempre reversible. La dolarización es un mecanismo de compromiso efectivo porque una vez que los votantes cobran sus salarios en dólares se resisten a que se los vuelvan a pagar en una moneda depreciada. Basta ver lo que ocurrió en Ecuador bajo la presidencia de Rafael Correa.

Este artículo fue publicado originalmente en el Substack Dolarización en Argentina (Argentina) el 12 de marzo de 2024.

Emilio Ocampo

Emilio Ocampo es profesor de Finanzas e Historia Económica en UCEMA (Buenos Aires), donde también dirige el Centro de Estudios de Historia Económica.