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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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domingo, 18 de agosto de 2024

Notas de leitura: Emmanuel Todd: La Défaite de l’Occident (Paris: Gallimard, 2024) - Paulo Roberto de Almeida


Notas de leitura: 

Emmanuel Todd: 

La Défaite de l’Occident

Paris: Gallimard, 2024

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 18/06/2024

 

Já manifestei aqui mesmo meus comentários iniciais ao livro provocador de Todd. 

Ver aqui: La Défaite de l’Occident, d’Emmanuel Todd - notas de Paulo Roberto de Almeida

E esta outra postagem: La Défaite de l'Occident, d'Emmanuel Todd: um livro controverso - Marc Polonsky e Paulo Roberto de Almeida


Depois tive de interromper a leitura para atender a demandas mais urgentes, durante dois ou três meses. Retomo agora e vou registrar o que me parecem ingenuidades de um pesquisador sério, mas que obviamente não pode saber de tudo.

Ele acha que a Rússia é uma democracia autoritária; é seu direito. A Rússia  está apenas defendendo o seu espaço contra o Ocidente dominador e mandão. Seja! Ela quer permanecer uma nação soberana, exterior ao sistema ocidental. Será?

Mas, vamos ver o que ele diz de um país, um bloco, que conhecemos bem e ele conhece pouco. O Brasil, o Brics e suas três democracias mais pobres:

“Trois des Brics initiaux sont d’incontestables démocraties: le Brésil, l’Afrique du Sud et l’Inde: elles ont leurs imperfections, mais, si l’on considère l’état actuel de déliquescense des démocraties occidentales, devenues des oligarchies libérsmales, ces imperfections ne sont que des péchés véniels.”

Bem, então segundo Todd, os EUA e os europeus são oligarquias decadentes, mas os três do Brics são autênticas democracias, e nada nada oligárquicas. Eu chamaria isso simplesmente de cegueira.

Para ele, a guerra de agressão de Putin contra a Ucrânia é uma guerra econômica da Rússia contra o Ocidente, pois a Rússia não quer ser colonizada pelos ocidentais. Ou melhor, a guerra é o resultado da tentativa de dominação econômica ocidental contra a Rússia, inclusive pelo uso de sanções econômicas, como descritas no livro de Nicholas Mulder, The Economic Weapon (2022), que eu já usei em um dos meus textos.

Ele acha que o Resto do Mundo, ou seja, nós mesmos, sustentamos a Rússia contra o bloqueio ocidental, porque não gostamos da Otan. Por isso continuamos a comprar petróleo e gás da Rússia e a fornecer-lhe os materiais dos quais ela necessita para a sua economia de guerra. 

Ele acha que os bloqueios do Ocidente contra o Iraque e a Venezuela destruiram esses paises, que poderiam estar melhores sem as sanções. Para Todd, o Estado americano predador assusta as elites do Resto do mundo.

Todd acha que o Ocidente liberal é uma pequena ilha e que o Resto do mundo é antropologicamente diferente, portanto, não ocidental e não liberal.

Mas no caso Brasil isso não opera totalmente. Somos ocidentais, mas, como ele diz: “L’hostilité du Brésil [aos EUA] est économique et politique.”

Os outros povos se opõem ao Ocidente por uma questão de estruturas familiares patrilineares. O Ocidente acha que o mundo todo deveria aderir aos direitos LGBT, do contrário eles, os países do Resto, nunca serão modernos. A Rússia concorda com Putin na sua hostilidade aos gays. Será verdade?

O problema americano e ocidental seria que eles se tornaram niilistas e oligárquicos, ou seja, sem religião, sem valores morais, e dominados por elites autocentradas e predatórias. Se for isso, o Brasil também se tornou niilista e oligárquico, o que ele já era por sinal. Os EUA particularmente já estavam em decadência desde antes da implosão soviética, entregues ao “Estado Zero da religião”, niilista em suma.

No caso da Ucrânia, Todd acredita que são os EUA que estão em guerra contra a Ucrânia e não o contrário.

Essa é a principal acusação de Todd contra os EUA, e sua justificativa da derrota do Ocidente, a tese principal do seu livro, se deu por motivos antropológicos, culturais e espirituais. 

Todd parece apostar em uma vitória russa na Ucrânia, e creio que essa possibilidade o deixaria satisfeito, pois acabaria comprovando a justeza de sua “tese” - estabelecida a priori - que é a da DERROTA DO OCIDENTE. O Ocidente vai perder porque ele é decadente, não tem valores, é niilista e quer continuar a explorar o Resto do mundo. 

Ele acha que a derrota americana na Ucrânia vai terminar com uma reaproximação da Alemanha à Rússia, pois os dois países seriam complementares. É uma tese ousada, e apoiada numa certa semelhança antropológica entre os dois gigantes da Europa.

Ao fim e ao cabo, a Rússia é ou seria estável e o Ocidente se encontra num despenhadeiro irreversível.

Não tenho certeza de que a marcha da História confirmará a tese de Todd, um provocador por excelência.

Termino aqui, minhas observações sobre o seu livro, mas vou voltar em algum trabalho sobre as mudanças geopolíticas em curso no mundo.

O que posso afirmar com certa confiança é que o Brasil continuará marginal a todas essas mudanças, o que tampouco é negativo, pois nos livra de outros problemas além dos que já temos internamente. Entretanto, cabe registrar que Lula 3 fez uma opção deliberada de unir o seu governo - e não os interesses nacionais - ao campo autoritário da Rússia e da China, o que considero um erro estratégico maior, de todos os seus equívocos já cometidos na política externa. Voltarei a este assunto também.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 18/06/2024

 

Outra postagem sobre o mesmo autor: 

Emmanuel Todd: um demografo intelectual pouco convencional - Herodote 

divulgadas no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/06/emmanuel-todd-la-defaite-de-loccident.html),

 

4621. “La Défaite de l’Occident, d’Emmanuel Todd”, Brasília, 31 março 2024, 3 p. Resenha curta do livro do antropólogo francês. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/03/la-defaite-de-loccident-demmanuel-todd_31.html)

 

domingo, 31 de março de 2024

La Défaite de l'Occident, d'Emmanuel Todd: um livro controverso - Marc Polonsky e Paulo Roberto de Almeida

 

 Um debate muito importante, não só em relação à Ucrânia, mas ao Ocidente, desafiado pela Rússia e pela China, ambas apoiadas por Lula, do Brasil, num entrevero que não deveria dizer respeito ao Brasil.

Remeto primeiro à postagem da resenha de Marco Polonsly, transcrita neste blog, e depois formulo minhas observações preliminares, pois que estou lendo seu livro no Kindle francês. 


Defeat of the West? 

Emmanuel Todd and the Russo-Ukrainian War

 

by  MARC POLONSKY

The Article, Tuesday March 26, 2024

 

Aqui: Defeat of the West? Emmanuel Todd and the Russo-Ukrainian War - Marc Polonsky (The Article)

Minhas duas últimas nota sobre o debate, prometendo voltar.

Paulo Roberto de Almeida

 

Defeat of the West? Emmanuel Todd and the Russo-Ukrainian War - https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/03/defeat-of-west-emmanuel-todd-and-russo.html?spref=tw

 

Para o Enfant Terrible do contrarianismo francês, o Ocidente e a Ucrânia já perderam a guerra contra a Rússia. Estou lendo o livro no original francês, e pretendo escrever a respeito. Considero exageradas algumas afirmações do Todd, como se a Rússia pudesse prevalecer sobre o conjunto da OTAN: só se os países forem muito covardes.

 

La Défaite de l'Occident, d'Emmanuel Todd é um livro inteligente, mas pré-concebido. Feito para contrariar o senso comum, como os livros anteriores sobre o fim da URRS e sobre o fim do império  americano (que ainda não aconteceu). A Rússia é muito mais frágil do que ele imagina.

Paulo Roberto de Almeida

 

Resumé Amazon.fr: 

L'implosion de l'URSS a remis l'histoire en mouvement. Elle avait plongé la Russie dans une crise violente. Elle avait surtout créé un vide planétaire qui a aspiré l'Amérique, pourtant elle-même en crise dès 1980. Un mouvement paradoxal s'est alors déclenché : l'expansion conquérante d'un Occident qui dépérissait en son coeur. La disparition du protestantisme a mené l'Amérique, par étapes, du néo-libéralisme au nihilisme ; et la Grande-Bretagne, de la financiarisation à la perte du sens de l'humour. L'état zéro de la religion a conduit l'Union européenne au suicide mais l'Allemagne devrait ressusciter. Entre 2016 et 2022, le nihilisme occidental a fusionné avec celui de l'Ukraine, né lui de la décomposition de la sphère soviétique. Ensemble, OTAN et Ukraine sont venus buter sur une Russie stabilisée, redevenue une grande puissance, désormais conservatrice, rassurante pour ce Reste du monde qui ne veut pas suivre l'Occident dans son aventure. Les dirigeants russes ont décidé une bataille d'arrêt : ils ont défié l'OTAN et envahi l'Ukraine. Mobilisant les ressources de l'économie critique, de la sociologie religieuse et de l'anthropologie des profondeurs, Emmanuel Todd nous propose un tour du monde réel, de la Russie à l'Ukraine, des anciennes démocraties populaires à l'Allemagne, de la Grande-Bretagne à la Scandinavie et aux États-Unis, sans oublier ce Reste du monde dont le choix a décidé de l'issue de la guerre.

 

Posted by Paulo Roberto de Almeida at 00:41 Nenhum comentário: 

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Labels: Emmanuel Todd: livro controversoLa Défaite de l'OccidentMarc PolonskyPaulo Roberto de Almeida


La Défaite de l’Occident, d’Emmanuel Todd - notas de Paulo Roberto de Almeida

 

 La Défaite de l’Occident, d’Emmanuel Todd

 

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Resenha curta do livro do antropólogo francês.

 

 

O título é nada menos do que espetacular e espetaculoso: A Derrota do Ocidente, do conhecido antropólogo, cientista político e historiador francês Emmanuel Todd é feito justamente para surpreender, confrontar e amedrontar os ingênuos ocidentais, que acreditam que a sua dominação sobre o mundo seria eterna. Obviamente que não é; como todos os impérios do passado, o ocidental — que na sua forma aglomerada, cristã-europeia, se estabeleceu nos últimos cinco séculos — também será fragmentado, “destruído”, mais exatamente superado por outras conformações civilizatórias, eventualmente imperiais, ou seja, preeminentes e dominantes sobre boa parte do mundo.

Mas Todd se apressa em já declará-lo derrotado, ou seja, vencido por alguma outra força maior. E qual seria essa força, ou quais seriam essas forças? Aparentemente uma, ou as duas grandes autocracias da atualidade, Rússia e China, na ordem de preeminência que se preferir.

O título é, portanto, assustador e prometedor, no sentido em que a decretação da “derrota” parece inevitável e inexorável. Mas já tinha sido assim com dois de seus livros anteriores, que lhe trouxeram fama, e talvez alguma fortuna: La Chute Finale (1976), sobre o fim do império soviético, e Après l’Empire (2002), sobre o declínio econômico dos Estados Unidos.

Nem um, nem outro acabaram ou desapareceram: o império soviético sobreviveu sob uma forma neoczarista, sem as satrapias da Ásia central ou o controle das repúblicas tuteladas e dominadas da Europa central e oriental, mas aparentemente em boas condições no seu novo formato de uma Federação Russa multinacional. O império americano, por sua vez, prossegue “declinando” muito lentamente, e relativamente a outros centros econômicos emergentes, a própria União Europeia a 27, com um PIB comparável, a China com seu capitalismo leninista, e finalmente a Rússia, grande potência militar, mas demograficamente em declínio e sem uma base econômica vigorosa, a não ser seus recursos naturais.

O Ocidente já foi derrotado? Segundo Todd sim, e ele usa como peça central de seu argumento a “vitória” de Putin em sua guerra de agressão contra a Ucrânia e a intimidação decorrente sobre as potências ocidentais, em especial as da Otan.

Seria isso verdade?

Meu argumento é que não, por uma série de razões que não vou expor neste momento, por razões de espaço e de oportunidade – reservando isso a uma resenha detalhada do livro –, mas que vou resumir na seguinte observação: o tal de Ocidente (que não existe como entidade homogênea e unificada, assim como não existe essa entidade mirifica de acadêmicos e demagogos políticos, chamado de Sul Global) não pode ser derrotado de forma integral e direcionada, pois que ele existe e sobrevive de diversas formas e formatos, alguns econômicos, outros políticos e mais geralmente culturais. 

Não se mata uma cultura, como se liquida um império, o que de resto foi provado pela própria sobrevivência do Império do Meio, ainda que o formato imperial tenha sido substituído há mais de um século por uma República, hoje dominada temporariamente por um partido leninista. Tampouco se liquidou a cultura imperial russa, agora na sua forma neoczarista, depois de 70 anos de um império escravocrata bolchevique, seguido por dez anos de confusões políticas e declínio econômico sob uma democracia de fachada, como já tinha sido o caso dos dez meses pré-putsch bolchevique de 1917.

O assim chamado “Ocidente” – muitas aspas, dado seu caráter multiforme – passa por mudanças, inevitáveis, como aquelas que afligem as duas grandes autocracias concorrentes, e aparentemente “vencedoras” na visão de Todd, mas esse “Ocidente” não está nem derrotado, nem será superado por algum outro império irresistivelmente ascendente (como poderiam ser os competidores russo ou chinês).

Os problemas atuais, políticos, econômicos, ou até culturais ou militares, desse "Ocidente" multiforme, serão acomodados e incorporados em novas formas de expressão de sua "fortaleza" cultural de caráter multinacional, multi religioso e multicultural, como é o destino de toda a humanidade no longo prazo.

No curto e no médio prazo, o "Ocidente" encontrará uma forma de salvar a Ucrânia, ainda que diminuída temporariamente territorialmente, e de incorporá-la em suas instituições mais proeminentes: a UE, no plano econômico e institucional, a OCDE, no plano da interdependência de políticas econômicas, ainda que por vezes contraditórias, e a OTAN, como ferramenta temporária de defesa militar, que se mantém há mais de 70 anos e ainda tem alguma utilidade (que o digam os bálticos, e agora a Finlândia e Suécia).

Todd não é um "putinófilo", como o acusam alguns no "Ocidente"; ele é apenas um provocador inteligente e bem articulado. Ele queria assustar os "ocidentais", épater les bourgeois, diriam os poetas e militantes antigamente, e o conseguiu. Seu livro é muito interessante e vale ser lido com o espírito desprevenido, aceitando algumas coisas, recusando certos exageros – como o do título, por exemplo – e sobretudo levando em consideração certos fatores que não dependem da vontade dos políticos, sejam eles estadistas – faltam muitos no Ocidente atualmente – ou os tiranos de autocracias aparentemente bem-sucedidas (no momento).

Vou fazer uma resenha completa assim que puder e terminar o livro. Já deve ter alguma edição brasileira em andamento, ou alguma inglesa já pronta.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4621, 31 março 2024, 3 p.

            Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/03/la-defaite-de-loccident-demmanuel-todd_31.html)

Academia.edu: (link:https://www.academia.edu/121207425/4688_Emmanuel_Todd_La_Defaite_de_lOccident_notas_de_leitura_2024_).

 

terça-feira, 18 de junho de 2024

Emmanuel Todd: La Défaite de l’Occident: continuando e terminando a leitura

 Notas de leitura: 

Emmanuel Todd: 

La Défaite de l’Occident

Paris: Gallimard, 2024

Já manifestei aqui mesmo meus comentários iniciais ao livro provocador de Todd. 

Ver aqui: La Défaite de l’Occident, d’Emmanuel Todd - notas de Paulo Roberto de Almeida

E esta outra postagem: La Défaite de l'Occident, d'Emmanuel Todd: um livro controverso - Marc Polonsky e Paulo Roberto de Almeida

Depois tive de interromper a leitura para atender a demandas mais urgentes, durante dois ou três meses. Retomo agora e vou registrar o que me parecem ingenuidades de um pesquisador sério, mas que obviamente não pode saber de tudo.

Ele acha que a Rússia é uma democracia autoritária; é seu direito. A Rússia  está apenas defendendo o seu espaço contra o Ocidente dominador e mandão. Seja! Ela quer permanecer uma nação soberana, exterior ao sistema ocidental. Será?

Mas, vamos ver o que ele diz de um país, um bloco, que conhecemos bem e ele conhece pouco. O Brasil, o Brics e suas três democracias mais pobres:

“Trois des Brics initiaux sont d’incontestables démocraties: le Brésil, l’Afrique du Sud et l’Inde: elles ont leurs imperfections, mais, si l’on considère l’état actuel de déliquescense des démocraties occidentales, devenues des oligarchies libérsmales, ces imperfections ne sont que des péchés véniels.”

Bem, então segundo Todd, os EUA e os europeus são oligarquias decadentes, mas os três do Brics são autênticas democracias, e nada nada oligárquicas. Eu chamaria isso simplesmente de cegueira.

Para ele, a guerra de agressão de Putin contra a Ucrânia é uma guerra econômica da Rússia contra o Ocidente, pois a Rússia não quer ser colonizada pelos ocidentais. Ou melhor, a guerra é o resultado da tentativa de dominação econômica ocidental contra a Rússia, inclusive pelo uso de sanções econômicas, como descritas no livro de Nicholas Mulder, The Economic Weapon (2022), que eu já usei em um dos meus textos.

Ele acha que o Resto do Mundo, ou seja, nós mesmos, sustentamos a Rússia contra o bloqueio ocidental, porque não gostamos da Otan. Por isso continuamos a comprar petróleo e gás da Rússia e a fornecer-lhe os materiais dos quais ela necessita para a sua economia de guerra. 

Ele acha que os bloqueios do Ocidente contra o Iraque e a Venezuela destruiram esses paises, que poderiam estar melhores sem as sanções. Para Todd, o Estado americano predador assusta as elites do Resto do mundo.

Todd acha que o Ocidente liberal é uma pequena ilha e que o Resto do mundo é antropologicamente diferente, portanto, não ocidental e não liberal.

Mas no caso Brasil isso não opera totalmente. Somos ocidentais, mas, como ele diz: “L’hostilité du Brésil [aos EUA] est économique et politique.”

Os outros povos se opõem ao Ocidente por uma questão de estruturas familiares patrilineares. O Ocidente acha que o mundo todo deveria aderir aos direitos LGBT, do contrário eles, os países do Resto, nunca serão modernos. A Rússia concorda com Putin na sua hostilidade aos gays. Será verdade?

O problema americano e ocidental seria que eles se tornaram niilistas e oligárquicos, ou seja, sem religião, sem valores morais, e dominados por elites autocentradas e predatórias. Se for isso, o Brasil também se tornou niilista e oligárquico, o que ele já era por sinal. Os EUA particularmente já estavam em decadência desde antes da implosão soviética, entregues ao “Estado Zero da religiao”, niilista em suma.

No caso da Ucrânia, Todd acredita que são os EUA que estão em guerra contra a Ucrânia e não o contrário.

Essa é a principal acusação de Todd contra os EUA, e sua justificativa da derrota do Ocidente, a tese principal do seu livro, se deu por motivos antropológicos, culturais e espirituais. 

Todd parece apostar em uma vitória russa na Ucrânia, e creio que essa possibilidade o deixaria satisfeito, pois acabaria comprovando a justeza de sua “tese” - estabelecida a priori - que é a da DERROTA DO OCIDENTE. O Ocidente vai perder porque ele é decadente, não tem valores, é niilista e quer continuar a explorar o Resto do mundo. 

Ele acha que a derrota americana na Ucrânia vai terminar com uma reaproximação da Alemanha à Rússia, pois os dois paises seriam complementares.É uma tese ousada, e apoiada numa certa semelhança antropológica entre os dois gigantes da Europa.

Ao fim e ao cabo, a Rússia é ou seria estável e o Ocidente se encontra num despenhadeiro irreversivel.

Não tenho certeza de que a marcha da História confirmará a tese de Todd, um provocador por excelência.

Termino aqui, minhas observações sobre o seu livro, mas vou voltar em algum trabalho sobre as mudanças geopolíticas em curso no mundo.

O que posso afirmar com certa confiança é que o Brasil continuará marginal a todas essas mudanças, o que tampouco é negativo, pois nos livra de outros problemas além dos que já temos internamente. Entretanto, cabe registrar que Lula 3 fez uma opção deliberada de unir o seu governo - e não os interesses nacionais - ao campo autoritário da Rússia e da China, o que considero um erro estratégico maior, de todos os seus equívocos já cometidos na política externa. Voltarei a este assunto também.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 18/06/2024


Outra postagem sobre o mesmo autor: 

Emmanuel Todd: um demografo intelectual pouco convencional - Herodote


quarta-feira, 29 de maio de 2024

Emmanuel Todd: l'enfant terrible de la sociologie politique française - Après l'Empire: essai sur la décomposition du système américain (2002, 2004)

Emmanuel Todd: l'enfant terrible de la sociologie politique française

Lecture, 20 ans après:

 Après l'Empire: essai sur la décomposition du système américain (2002, 2004)

Emmanuel Todd é aquilo que os franceses chamam de pourfendeur. Ele é um desmantelador do senso comum, das idées reçues, do consenso bem comportado.

Retomo, em minha biblioteca desorganizada, seu livro de 2002, reeditado em 2004: 

Après l'Empire: essai sur la décomposition du système américain 

(Paris: Gallimard, 2002, 2004 pour la posface)

No capítulo conclusivo (Fin de partie, p. 269-284) ele começa assim: 

"Dans la douleur d'une transition éducative et démographique qui s'achève, la planète tend ver la stabilité. Le tiers-monde [o que hoje se chama Sul Global], à travers ses poussées de fièvre idéologiques et religieuses, est en marche vers le développement et vers plus de démocratie. Aucune menace globale ne requiert une activité particulière des États-Unis pour la protection de libertés. Une seule menace de déséquilibre global pèse aujourd'hui sur la planète: l'Amérique elle-même, qui de protectrice est devenue prédatrice. (...) Aucune stratégie, si intelligente soit-elle, ne peut permettre à l'Amérique de transformer sa situation semi-impériale em empire de fait et de droit. Elle est trop faible, économiquement, militairement, idéologiquement." (p. 269)

Ele continua, nas conclusões: 

"L'Europe prend lentement conscience que la Russie, non seulement n'est plus une menace stratégique, mais devient une contribution à sa sécurité militaire." (p. 272)

Uma coisa sensata que ele afirma nas conclusões: 

"Le monde qui se crée ne sera pas un empire, contrôlé par une seule puissance. Il s'agira d'un système complexe, dans lequel s'équilibreront un ensemble de nations ou de méta-nations, d'échelles équivalentes, même si elles ne sont à proprement parler égales. (...) À très long terme la Chine rejoindra ce groupe." (p. 275) Foi mais rápido.

E uma coisa menos sensata: "l'Amérique du Sud semble destinée à s; organiser sous leadership brésilien." (p. 275)

E outras bem menos sensatas ainda: "Le monde en développement marche tendanciellement vers la démocratie, poussé dans le sens de l'alphabétisation de masse que engendre des sociétés culturellement homogènes." (p. 276)

E o que leio no posfácio de 2004, depois que ele eliminou, em 2002, todas as chances de sobrevivência do império americano? 

Dois anos depois, ele vê suas ideias bem confirmadas, pela aceleração do processo de decomposição do império americano: o governo Bush teria aplicado metodicamente um programa de deslegitimação e de destruição do sistema estratégico americano, isso com e depois da insana guerra do Iraque (p. 285).

OS EUA dependem do mundo, mais que o mundo depende dos EUA, pelos fluxos financeiros que vêem do exterior. Sua derrota é ideológica e diplomática, pois eles violam o Direito Internacional, pela guerra do Iraque. 

Todd previa, em 2004, uma reaproximação entre a Europe e a Rússia, tornada necessária "pelo comportamento militarista inquietante dos EUA" (p. 289). 

Mas, vamos ler isto:

"La Russie a retrouvé son équilibre, elle est très affaiblie et a cessé d'être impérialiste. Son intérêt est un partenariat stratégique avec l'Europe sur una base égalitaire. Les anciennes 'démocraties populaires' [os países da Europa central e oriental que faziam parte da esfera soviética] comprendront vite que les États-Unis ne peuvent rien pour elles stratégiquement, étant en déficit de production et incapables de les protéger autrement que par des mots. La vraie sécurité ne peu passer por elles que par une adhésion pleine et entière à l'Europe et par une participation active à la politique de défense européenne commune." (p. 290)

Ele dá o exemplo da Turquia, que se distanciou dos EUA, sem reação do grande império, pois que ele não tem os meios econômicos e financeiros de sua política externa. Para Todd, os EUA são um "glorieux mendiant planétaire" (p. 291). 

Seu posfácio conclui desta maneira: 

"Pour leur comportement menaçant, ils [os EUA] ont accéleré l'intégration de l'Europe et rendu irreversible le rapprochement entre l'Europe et la Russie." (p. 293, souligné PRA)

Ele termina em grande estilo: "George W. Bush et les néoconservateurs passeront donc dans l'histoire comme les grands fossoyeurs de l'empire américain." (p. 293)

 Estamos esperando ainda esse declínio americano e a amizade russo-europeia.

L'enfant terrible, finalement, n'était pas si terrible que ça...

Paulo Roberto de Almeida

Brasilia, 29/05/2024


domingo, 31 de março de 2024

La Défaite de l’Occident, d’Emmanuel Todd - notas de Paulo Roberto de Almeida


 La Défaite de l’Occident, d’Emmanuel Todd


Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Resenha curta do livro do antropólogo francês.



O título é nada menos do que espetacular e espetaculoso: A Derrota do Ocidente, do conhecido antropólogo, cientista político e historiador francês Emmanuel Todd é feito justamente para surpreender, confrontar e amedrontar os ingênuos ocidentais, que acreditam que a sua dominação sobre o mundo seria eterna. Obviamente que não é; como todos os impérios do passado, o ocidental — que na sua forma aglomerada, cristã-europeia, se estabeleceu nos últimos cinco séculos — também será fragmentado, “destruído”, mais exatamente superado por outras conformações civilizatórias, eventualmente imperiais, ou seja, preeminentes e dominantes sobre boa parte do mundo.

Mas Todd se apressa em já declará-lo derrotado, ou seja, vencido por alguma outra força maior. E qual seria essa força, ou quais seriam essas forças? Aparentemente uma, ou as duas grandes autocracias da atualidade, Rússia e China, na ordem de preeminência que se preferir.

O título é, portanto, assustador e prometedor, no sentido em que a decretação da “derrota” parece inevitável e inexorável. Mas já tinha sido assim com dois de seus livros anteriores, que lhe trouxeram fama, e talvez alguma fortuna: La Chute Finale (1976), sobre o fim do império soviético, e Après l’Empire (2002), sobre o declínio econômico dos Estados Unidos.

Nem um, nem outro acabaram ou desapareceram: o império soviético sobreviveu sob uma forma neoczarista, sem as satrapias da Ásia central ou o controle das repúblicas tuteladas e dominadas da Europa central e oriental, mas aparentemente em boas condições no seu novo formato de uma Federação Russa multinacional. O império americano, por sua vez, prossegue “declinando” muito lentamente, e relativamente a outros centros econômicos emergentes, a própria União Europeia a 27, com um PIB comparável, a China com seu capitalismo leninista, e finalmente a Rússia, grande potência militar, mas demograficamente em declínio e sem uma base econômica vigorosa, a não ser seus recursos naturais.

O Ocidente já foi derrotado? Segundo Todd sim, e ele usa como peça central de seu argumento a “vitória” de Putin em sua guerra de agressão contra a Ucrânia e a intimidação decorrente sobre as potências ocidentais, em especial as da Otan.

Seria isso verdade?

Meu argumento é que não, por uma série de razões que não vou expor neste momento, por razões de espaço e de oportunidade – reservando isso a uma resenha detalhada do livro –, mas que vou resumir na seguinte observação: o tal de Ocidente (que não existe como entidade homogênea e unificada, assim como não existe essa entidade mirifica de acadêmicos e demagogos políticos, chamado de Sul Global) não pode ser derrotado de forma integral e direcionada, pois que ele existe e sobrevive de diversas formas e formatos, alguns econômicos, outros políticos e mais geralmente culturais. 

Não se mata uma cultura, como se liquida um império, o que de resto foi provado pela própria sobrevivência do Império do Meio, ainda que o formato imperial tenha sido substituído há mais de um século por uma República, hoje dominada temporariamente por um partido leninista. Tampouco se liquidou a cultura imperial russa, agora na sua forma neoczarista, depois de 70 anos de um império escravocrata bolchevique, seguido por dez anos de confusões políticas e declínio econômico sob uma democracia de fachada, como já tinha sido o caso dos dez meses pré-putsch bolchevique de 1917.

O assim chamado “Ocidente” – muitas aspas, dado seu caráter multiforme – passa por mudanças, inevitáveis, como aquelas que afligem as duas grandes autocracias concorrentes, e aparentemente “vencedoras” na visão de Todd, mas esse “Ocidente” não está nem derrotado, nem será superado por algum outro império irresistivelmente ascendente (como poderiam ser os competidores russo ou chinês).

Os problemas atuais, políticos, econômicos, ou até culturais ou militares, desse "Ocidente" multiforme, serão acomodados e incorporados em novas formas de expressão de sua "fortaleza" cultural de caráter multinacional, multi religioso e multicultural, como é o destino de toda a humanidade no longo prazo.

No curto e no médio prazo, o "Ocidente" encontrará uma forma de salvar a Ucrânia, ainda que diminuída temporariamente territorialmente, e de incorporá-la em suas instituições mais proeminentes: a UE, no plano econômico e institucional, a OCDE, no plano da interdependência de políticas econômicas, ainda que por vezes contraditórias, e a OTAN, como ferramenta temporária de defesa militar, que se mantém há mais de 70 anos e ainda tem alguma utilidade (que o digam os bálticos, e agora a Finlândia e Suécia).

Todd não é um "putinófilo", como o acusam alguns no "Ocidente"; ele é apenas um provocador inteligente e bem articulado. Ele queria assustar os "ocidentais", épater les bourgeois, diriam os poetas e militantes antigamente, e o conseguiu. Seu livro é muito interessante e vale ser lido com o espírito desprevenido, aceitando algumas coisas, recusando certos exageros – como o do título, por exemplo – e sobretudo levando em consideração certos fatores que não dependem da vontade dos políticos, sejam eles estadistas – faltam muitos no Ocidente atualmente – ou os tiranos de autocracias aparentemente bem-sucedidas (no momento).

Vou fazer uma resenha completa assim que puder e terminar o livro. Já deve ter alguma edição brasileira em andamento, ou alguma inglesa já pronta.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4621, 31 março 2024, 3 p.

sábado, 30 de março de 2024

Defeat of the West? Emmanuel Todd and the Russo-Ukrainian War - Marc Polonsky (The Article)

 Defeat of the West? 

Emmanuel Todd and the Russo-Ukrainian War


by  MARC POLONSKY

The Article, Tuesday March 26, 2024

 

Emmanuel Todd, now 72, is one of the few who predicted the end of the Soviet Union. In La chute finale: Essai sur la decomposition de la sphere soviétique (1976)[1] he analysed infant mortality, suicide rates, economic productivity and other indicators, and concluded that the USSR’s long stagnation would soon culminate in collapse.

Now, in La Défaite de l’Occident (Gallimard, 384 pp, published in January 2024), Todd applies the same forensic data analysis to Russia, Ukraine and the West. He concludes that Russia will succeed in its war aims and that the West is heading for defeat — less due to the war than as a result of its own “self-destruction”.

In France Todd’s book has received the media attention befitting a celebrity: long interviews on highbrow TV discussion programmes achieving hundreds of thousands of views. Though Le Monde dismissed him as “a prophet with closed eyes” who is “not the first to spread Kremlin propaganda in France”, Todd is adamant that he is no Putinophile. His is the analysis of a longue durée historian, who considers long-term trends with ideological detachment.

Why did Vladimir Putin choose February 2022 to launch his “special military operation”? Todd gives two answers. Firstly, Russia was ready. Since the 2014 sanctions in response to the Russian annexation of Crimea, Russia had been building up its military capability (including hypersonic missiles for which Nato has no match) and future-proofing its economy, developing the capacity for “great technical, economic and social flexibility: an adversary to be taken seriously”.

Secondly, based on birth rates and mobilisation cohorts, Todd concludes that Putin saw a five-year opening in which to defeat Ukraine and push back Nato. By 2027 the cohort of men eligible for military service will be too small. Russia invading Europe after conquering Ukraine is the stuff of “fantasy and propaganda”, Todd maintains. “The truth is that Russia, with a shrinking population and a territory of 17 million square kilometers, far from wanting to conquer new territories, wonders above all how she will continue to occupy those she already possesses.”

Demographic factors also impact Russia’s conduct of the war, Todd suggests. Initially a mere 120,000 Russian troops were deployed in Ukraine, a country of 600,000 km2. (Compare this with the USSR’s 1968 invasion of Czechoslovakia: 128,000 km2, 500,000 troops.) Contrary to the narrative favoured by many Western commentators, Russia’s current military strategy is not to hurl millions into the Stalingrad meat grinder. This war is being prosecuted slowly and methodically, to minimise losses. Todd points to the important role played in the conflict’s early stages by Chechen regiments and the Wagner militia, and to the mobilisations: partial, gradual, sparingly implemented. “Russia’s priority is not to conquer a maximum of territory but to lose a minimum of men.”

Putin’s continued popularity at home does not surprise Todd. Drawing on rates of suicide and alcohol-related deaths, Todd demonstrates the social stabilisation of the Putin era. A particularly significant indicator is infant mortality: 19 per thousand in 2000, 4.4 per thousand in 2020 – below the American rate of 5.4. And for most Russian citizens the standard of living has never been higher.

In Todd’s view the notion that Russia will be defeated by economic war is a delusion spread by the lawyers and accountants who have taken over Western policy-making and planning. Sanctions rely on global cooperation. But many countries, indifferent to this Russia-NATO confrontation and resenting the war’s costs imposed on them, do not want to play along, and assist in flows of essential equipment to Russia and hydrocarbons from it.

And the Russian economy has rebounded, despite (or because of?) the sanctions. Take wheat production: 37 million tonnes in 2012, 80 in 2020. (America’s fell from 65 million tonnes in 1980 to 47 in 2022.) If Russia and Belarus — whose combined GDP is 3.3% of the West’s (US, Canada, EU, UK, Japan, Korea) — can out-produce the West in arms production, then the whole notion of GDP must be up for reconsideration. The more significant consequence is that Ukraine is losing the war, due to shortages in weapons supply.

As for Ukraine, few anticipated that a “failed state” beset by corruption and in the grip of oligarchs would put up such a fight. “What nobody could have predicted is that it would find in the war a reason for existing, a justification for its own existence.” Todd presents a Ukraine irretrievably divided, with the Southern and Eastern regions having opted out of the Ukrainian national project long ago. The 2010 Presidential elections, he says, show this division with an “almost disconcerting simplicity”. Votes for the pro-Russian Viktor Yanukovych were 90.44%, 88.96% and 78.24% in Donetsk, Lugansk and Crimea, but only 8.60%, 7.92% and 7.02% in the Western provinces of Lviv, Ternopil and Ivano-Frankivsk.

For Todd the May 2014 Presidential elections — resulting in Petro Poroshenko’s election — were a turning point. In Donetsk turnout was a mere 15%; in Lugansk, 25%.[2] “These elections mark the moment when the [Russophone] regions disappeared from the Ukrainian political system.” This was “the end of a Ukrainian democracy, which in fact had never functioned” and “the true birth of the Ukrainian nation, through the alliance of the ultra-nationalism of the West and the anarcho-militarism of the Centre, against the Russophile part of the country.”

In the lead-up to February 2022, Russia made three demands on Ukraine: permanent retention of Crimea, protection for the Russian-speaking (or, as Todd puts it, Russian) populations of the Donbas, and neutrality. “A Ukrainian nation sure of its existence and of its destiny in Western Europe would have accepted these conditions”, Todd maintains; “it would even have got rid of the Donbas.” Recalling the amicable break-up of Czechoslovakia, Todd notes that this smaller polity could then have focussed on building itself as a truly Ukrainian nation-state, recognised by all.

Ukraine’s determination to reconquer the Donbas and reclaim Crimea is “a suicidal project”, Todd claims. It is trying “to maintain its sovereignty over the populations of another nation – a nation far more powerful than it is”. He continues: “The suicidal lack of realism in Kiev’s strategy suggests – paradoxically – a pathological Ukrainian attachment to Russia: a need for conflict which reveals an inability to separate from it.”

As for the West, Todd presents it as narcissistic and hubristically out of touch with the “Rest of the World”. Its “ideological solitude and ignorance of its own isolation” are the result of two decades of American-led globalisation and aggressive foreign policy. Backed up by an analysis of typical family structures and cultural and religious allegiances, Todd is not surprised that much of the Rest of the World is rooting for Russia, in its defiance of unipolar America-dominated hegemony and the “liberal international order”.

Russia is not the principal geopolitical problem, Todd suggests. “Too vast for a shrinking population, she would be incapable of taking control of the planet and has no desire whatsoever to do so […] Rather, it is a Western – and more specifically American – crisis, a terminal crisis, which is putting the planet’s equilibrium into peril.”

With President Macron now proposing to take the lead on European military support for Ukraine, Emmanuel Todd seems at odds with the French establishment. And there is much in his book to challenge the dominant narratives in our own politics and media.


Marc Polonsky is a retired partner of an international law firm. His practice focussed on investment in the Russian hydrocarbons and infrastructure sectors. All translations from the French are his.