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sábado, 30 de março de 2024

Departamento de Estado dos EUA e informações sobre AL - Arquivos do CEDEM (SP)

Departamento de Estado dos EUA e informações sobre AL 

CEDEM possui 66 mil páginas sobre a política externa dos EUA para o mundo 

Arquivo sobre América Latina

https://www.cedem.unesp.br/#!/noticia/657/departamento-de-estado-dos-eua-e-informacoes-sobre-al-

O Departamento de Estado dos Estados Unidos é o órgão responsável por estabelecer as relações da política externa do país. Em sua atuação pelo mundo afora, a diplomacia Norte Americana produz uma infinidade de informações sobre a região onde opera, que pode funcionar como instrumento de ação política com vistas a controlar territórios e manter a hegemonia. É o caso, por exemplo, da atuação nos países da América Latina para impedir o avanço da esquerda, resultando em golpes de estado com instituição de governos ditatoriais.   

Informações sobre os países latino-americanos, entre outros, estão fartamente documentadas em 188 rolos de microfilmes de propriedade do Centro de Documentação e Memória (CEDEM), da Unesp. São aproximadamente 66 mil páginas de dados produzidos pelo Departamento de Estado (EUA), pela Agência Central de Inteligência (CIA) e por diplomatas, importantes fontes primárias que abrangem o período de 1940 a 1985, cobrindo temas como Segunda Guerra, Guerra Fria, golpes de estado e ditaduras na América Latina.

Adquiridos junto a editora de livros acadêmicos University Publications of America (UPA), em 1991, pela biblioteca da Faculdade de Ciências e Letras (FCL), da Unesp, câmpus de Araraquara, os microfilmes foram doados ao CEDEM em 2002. O material está, em sua maioria, em língua inglesa.

Alguns conteúdos – Nos relatórios de pesquisa da CIA sobre a América Latina, no período compreendido entre 1946 a 1976, organizados por ano de produção, é possível encontrar informações sobre a época que antecedeu o golpe militar de 1964 no Brasil. Constam, por exemplo, documentos biográficos sobre os Presidentes João Goulart, Juscelino Kubitschek, sobre o chanceler Francisco Clementino de Santiago Dantas, memorandos sobre a renúncia de Jânio Quadros, movimentos comunistas, perspectivas de curto prazo para o Brasil sob Goulart, planos do Segundo e Terceiro Exércitos brasileiros para o golpe contra o governo Goulart e sobre o Brasil como instrumento de influência na África.

Nos microfilmes há, também, informações confidenciais produzidas pelo Departamento de Estado dos EUA sobre Cuba. Um deles, relativo ao período de 1955 e 1959, aborda o sistema político da Ilha, o governo, o judiciário, leis, militares, costumes, economia, finanças, agricultura, recursos naturais, indústria, comunicações e mídia de Cuba e suas relações com os Estados Unidos Estados e outras nações.

Já os Arquivos de Segurança Nacional de Presidente John F. Kennedy, que cobrem o período de 1961 a 1963, fazem um amplo relato sobre a América latina. O documento esclarece que “os pesquisadores podem estudar todos os aspectos da política externa da administração Kennedy através dos Arquivos Nacionais”.

Os arquivos foram organizados geograficamente e compostos cronologicamente por país. Eles fornecem uma noção clara da forma como a administração Kennedy encarava as principais questões de política externa e estruturava suas respostas. “A disposição cronológica permite ao pesquisador acompanhar no dia a dia a forma como a administração lidava com as crises e a evolução das principais políticas,” diz o arquivo.

A documentação cobre vinte e seis nações ou áreas latino-americanas: Argentina, Bolívia, Brasil, Guiana Inglesa, Chile, Colômbia, Costa Rica, República Dominicana, Equador, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, Jamaica, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Porto Rico, Suriname, Trinidad e Tobago, Uruguai, Venezuela e as Índias Ocidentais.

Onde pesquisar:

CEDEM
On-line: www.cedem.unesp.br
Presencial: Sede do Centro de Documentação e Memória (CEDEM), da Unesp
Praça da Sé, 108, 1 andar – São Paulo (SP)
E-mail: pesquisa.cedem@unesp.br
Tel.: 11-3116-1701


domingo, 13 de agosto de 2023

O autoengano petista - Samuel Pessôa (FSP)

O autoengano petista

O problema com o autoengano petista é que ele impede que haja aprendizado coletivo

Samuel Pessôa

Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e da Julius Baer Family Office (JBFO). É doutor em economia pela USP.

Folha de S. Paulo, 12.ago.2023

Voltava de Brasília. Era primeiro semestre de 2016. Senta-se ao meu lado um deputado federal do PT. Já nos conhecíamos. Pessoa correta e genuinamente preocupada com o país.

Adoro ouvir e entrevistar as pessoas. Queria saber do deputado qual era a interpretação dele da nossa grande crise. No biênio 2015-2016 o PIB caiu 6,7%; e 8,2% para o PIB per capita.

O deputado me explica que as coisas não iam tão mal em 2014. O problema foi que Aécio Neves não aceitou o resultado da eleição e produziu a maior crise. A crise era política, não econômica. A crise econômica era consequência da crise política. 

Fiquei surpreso. A fala do deputado parecia sincera. Não parecia ser fala para militância. O deputado genuinamente acreditava que a crise tinha sido culpa do Aécio.

O argumento é muito estranho. Um partido ganha quatro eleições seguidas. Outro perde as quatro. Quem ganha governa por 12 anos. Sabemos que no presidencialismo brasileiro o presidente é forte. Como se diz em Brasília, aquela caneta tem bastante tinta.

Eles tomam todas as decisões que querem. Termina na maior crise de nossa história e a culpa é do líder do partido que perdeu as quatro eleições seguidas. Somente petista consegue construir um argumento desse e acreditar. Deve ser dos casos mais extremos que se conhecem na história da humanidade de desresponsabilização coletiva.

Achei a história tão absurda que minha avaliação era que o deputado não acreditava 100% na versão que tinha para a nossa grande crise. Parece argumento da esquerda latino-americana que culpa os EUA pela pobreza da Venezuela e de Cuba.

No entanto, na campanha eleitoral, por mais de uma vez, Lula foi explícito em culpar Aécio "pela crise da Dilma". Diz-se que se deve repetir uma mentira até que ela vire uma verdade. A frase é atribuída ao chefe da propaganda da Alemanha nazista. Aqui ocorre algo diverso. Repete-se uma mentira até que ela vire um autoengano.

Hoje, para os petistas, a tese de que a nossa grande crise não tem uma base econômica, mas é consequência essencialmente da crise política e iniciou-se com o gesto de Aécio, é hegemônica.

O argumento é muito estranho. Bolsonaro não aceitou o resultado eleitoral. Aliás, foi às vias de fato em 8 de janeiro. Não me consta que nosso PIB cairá 6,7% no biênio 2023-2024.

O problema com o autoengano petista é que ele impede que haja aprendizado coletivo. Se "a culpa foi do Aécio", não há nenhuma relação de causa e efeito entre opções e escolhas de política econômica e nossa grande crise.

Todo o volume "Para não Esquecer", livro cuidadosamente editado por Marcos Mendes, com 25 capítulos em que cada um apresenta uma política que não atende ao critério de custo e benefício social, pode ser jogado no lixo.

Assim, não há problemas em manipularmos o preço da gasolina e do diesel. Não há problemas em tentarmos refazer a indústria naval. Pela quarta vez em 70 anos? Não há problemas em tirar os gastos do PAC da meta de superávit primário. Não há problemas em a Petrobras voltar a construir refinarias. Não há problemas em o governo tentar interferir na Vale do Rio Doce. Pelo andar da coisa, a lista será longa e somente crescerá.

Continuaremos a andar em círculos e a tentar provar a validade do famoso princípio da contra indução finita enunciado por Mário Henrique Simonsen: "Das mesmas causas resultarão outras consequências".

Será difícil sairmos da armadilha da renda média.