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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 22 de dezembro de 2024

Balanco e trajetoria futura das relacoes internacionais do Brasil (2018) - Paulo Roberto de Almeida

 Ao início da campanha eleitoral presidenciais de 2018 eu produzi um texto de autoesclarecimento, que talvez ainda tenha alguma validade, depois de um governo esquizofrênico e aloprado (2019-2022) e agora com o retorno dos companheiros ao poder, voltando a praticar diplomacia partidária.

Paulo Roberto de Almeida, 22/12/2024


quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Balanco e trajetoria futura das relacoes internacionais do Brasil - Paulo Roberto de Almeida

Uma reflexão anterior, não publicada, mas que talvez mereça alguma atenção no momento presente, de indefinições eleitorais.
Já tenho alguma ideia do que pode ser feito (ou não) no plano externo).
Paulo Roberto de Almeid
Brasília, 4 de outubro de 2018

Balanço e trajetória futura das relações internacionais do Brasil

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 20 de abril de 2018
 [Objetivo: análise da situação presente, temas em curso; finalidade: debate]


Introdução
O conceito de relações internacionais, no presente ensaio, compreende tanto uma breve análise do quadro global, do contexto regional, e das diferentes vertentes do enquadramento do Brasil nesses ambientes, quanto uma avaliação sumária de sua política externa no período recente e da atuação de sua diplomacia, complementando esta síntese por um enunciado resumido das diferentes frentes de trabalho abertas ao país, a cargo dos responsáveis políticos e dos profissionais das relações exteriores.

1. O quadro global
A ordem mundial caracterizada pela existência da ONU e de grandes potências autônomas, capazes de influenciar a agenda multilateral, se desenvolve entre as regras do direito internacional e a ação política dos atores mais influentes, com coalizões diversas atuando em diferentes frentes de trabalho, tais como: paz e segurança, comércio mundial e finanças internacionais, blocos regionais e esquemas de integração, desequilíbrios estruturais e permanência de situações de instabilidade política, insuficiência de desenvolvimento e de níveis adequados de prosperidade em largas porções do planeta, desafios comuns advindos de sustentabilidade não garantida, criminalidade e violência em diferentes ambientes interestatais, fragilidades dos regimes democráticos, não observância dos direitos humanos ou sua violação sistemática, etc.
O Brasil se situa nesse quadro como uma potência média, dotada de recursos e fatores produtivos relativamente amplos, mas fragilizado nos últimos anos pela mais grave crise econômica de sua história, provocado inteiramente no âmbito interno, por erros graves de política econômica e extenso quadro de corrupção no próprio seio do poder central, o que diminuiu o ímpeto de sua ação diplomática, sempre muito ativa nas diferentes frentes de trabalho abertas aos profissionais de seu serviço exterior. A recuperação vem se fazendo de forma lenta, porém segura, o que deve garantir, no próximo mandato presidencial, a retomada de dinamismo habitual.
Sua diplomacia sempre se guiou por valores e princípios solidificados ao longo da história, na defesa da igualdade soberana das nações, mas reconhecendo de forma realista as diferenças de poder e de influência nos diferentes processos decisórios nos diversos órgãos da interdependência global contemporânea. Sempre partidário do diálogo e da busca de consenso por meios pacíficos, sua capacidade de projeção em cenários de exercício de poder é relativamente limitada em razão de carência de recursos apropriados para suas Forças Armadas, estritamente limitadas ao desempenho de suas funções constitucionais e alinhadas com sua diplomacia no plano externo. 
A pequena limitação do “domínio de competência exclusiva” nos assuntos internos de cada Estado membro da ONU representada pelo conceito de “responsabilidade de proteger” suscitou a proposta feita pela diplomacia brasileira de “responsabilidade ao proteger”, mas ambiguidades na aplicação dos dois conceitos devem persistir no futuro previsível. Não é seguro que a aparente multipolaridade atual, com o declínio relativo de velhos poderes imperiais e a ascensão de novas potências emergentes, favoreça um ambiente favorável a um multilateralismo ordenado; pode criar novas fontes de tensão, resultantes dessas alterações nas capacidades decisórias. 
Do ponto de vista de sua segurança, não parecem existir ameaças reais ou potenciais que exijam postura ativa de sua defesa, e menos ainda um ambiente regional que requeira uma atitude ofensiva, mas a persistência de tensões localizadas e de conflitos efetivos em diferentes cenários confirma a necessidade de preparação adequada de suas FFAA, sobretudo no quadro de operações multilaterais legalmente autorizadas no quadro do direito internacional e do órgão de segurança da ONU. A proliferação de atores não estatais dotados de certa capacidade destrutiva implica, todavia, inovações doutrinais e adaptação nas ferramentas necessárias a esses novos desafios, sobretudo no campo da criminalidade transnacional. 
O ambiente econômico internacional se apresenta como quase completamente liberado dos modelos alternativos à economia de mercado, mas o recrudescimento de posturas nacionalistas e mercantilistas e de desequilíbrios derivados de contas fiscais deficitárias em grande número de países não poupa o mundo da possibilidade de novas crises financeiras. A demagogia política e o populismo econômico, inclusive por parte de economias dominantes, também podem contribuir para o arrefecimento da construção de uma ordem econômica internacional verdadeiramente interdependente. O Brasil, reconhecidamente, é um país dotado de instintos nacionalistas exacerbados, sendo notoriamente fechado a essa interdependência global, ficando bem mais próximo de uma postura protecionista e mercantilista do que de uma postura propensa à abertura econômica e à liberalização comercial. Sua baixíssima integração a cadeias de valor não augura progressos significativos nessa frente, que demandaria aumentos significativos de produtividade, exatamente dependente dessa maior abertura e da redução da proteção efetiva à produção doméstica, acoplada à melhoria dos padrões de inovação tecnológica.

2. O quadro regional
O ambiente geral é desprovido de maiores focos de tensão, embora persistam fricções localizadas em alguns cenários interestatais – Bolívia-Chile, Venezuela-Guiana – ou mesmo internos: guerrilhas residuais, erosão política e “exportação” populacional de crises (Venezuela). O continente sul-americano permanece marcado por amplo quadro de pobreza, a despeito dos progressos realizados, desigualdades persistentes e enormes bolsões de corrupção, quando esta não se encontra incrustrada no próprio seio do poder (como no caso brasileiro a partir de 2003). A América Latina, de modo geral, apenas acompanhou a evolução da economia global, sem grandes avanços estruturais, uma vez que permanece basicamente exportadora de commodities, a despeito do vigor (não isento de retrocessos) dos processos de industrialização. Ela perdeu espaços de forma consistente para a região da Ásia Pacifico nos grandes fluxos de comércio e de atração de investimentos, e não parece pronta a alterar significativamente seus padrões de inserção global, com a exceção de algumas economias adeptas de uma postura globalizante. A Aliança do Pacífico é notoriamente mais aberta que o Mercosul.
Os diferentes experimentos de integração serviram para abrir reciprocamente economias nacionais anteriormente introvertidas ou extrovertidas unicamente em direção dos mercados mais avançados, mas não conseguiram consolidar um espaço econômico verdadeiramente integrado ou dotado de um quadro regulatório uniforme e aberto a uma maior complementaridade entre setores. A cartografia desses vínculos é notoriamente inferior às cadeias de valor existentes em outras regiões, o que se explica essencialmente pela ausência de uniformização nos mecanismos de acesso a mercados e sobretudo pelas enormes diferenças de padrões regulatórios, mais até do que pela existência de barreiras físicas ou as dificuldades de comunicações. 
No plano político, a retórica continua suplantando largamente o pragmatismo necessário ao aprofundamento dos laços inter-regionais, inclusive no Brasil, que se tem revelado tímido em sua própria abertura aos vizinhos, como autorizaria sua economia mais avançada e sua produtividade relativamente mais robusta. Sua diplomacia, entre 2003 e 2016, foi errática ou excessivamente contaminada por influências partidárias claramente enviesadas no plano político e ideológico, o que claramente lhe retirou algumas alavancas para exercer certa preeminência consensual em iniciativas que poderiam ter impulsionado o processo de integração ou de convergência para ações e políticas mais conformes à globalização e à interdependência global. A “exportação” de corrupção, no mesmo período, também deixou uma marca negativa na projeção do Brasil, na região e fora dela. Uma completa normalização de sua ação externa parece depender da instalação de novo governo em 2019, assim como de claras orientações de política externa que caminhem no sentido da integração regional e da inserção global. 
Caberia, a propósito, uma revisão ponderada dos diferentes mecanismos de coordenação política criados na esfera regional durante aquele período, vários deles marcados ou contaminados pela mesma visão enviesada que caracterizou a diplomacia brasileira em outras esferas, bem como o reexame de algumas “parcerias estratégicas”, mais definidas em função dos mesmos critérios puramente políticos do que com base nos reais interesses nacionais. Por fim, os mecanismos de financiamento a projetos no exterior padeceram das mesmas deformações, o que criou uma exposição excessiva dos recursos nacionais a iniciativas dotadas de poucas garantias efetivas de repagamento, o que também pode ser explicado pelas simpatias políticas do regime anterior. 

3. Uma agenda de reformas e de modernização
O Brasil continuará padecendo, no futuro imediato, de uma enorme crise fiscal criada pelo regime anterior, que limitará de alguma forma tanto iniciativas localizadas ou multilaterais de projeção de seus interesses quanto seu engajamento decisivo nos processos de interdependência global (que requerem abertura econômica e liberalização comercial). As soluções são praticamente todas de âmbito interno, ainda que a sua diplomacia profissional possa contribuir para a definição e a implementação de toda uma série de reformas internas já suficientemente diagnosticadas e prescritas em vários relatórios de entidades multilaterais ou foros globais. Documentos como o “Fazendo Negócios” do Banco Mundial, os relatórios de competitividade do World Economic Forum, as evidências eloquentes de análises como as inseridas nos estudos “Economic Freedom of the World”, assim como avaliações tecnicamente embasadas de órgãos como a OCDE ou mesmo de instituições nacionais (Ipea, FGV, SAE-PR) representam um manancial completo de “terapêutica e cura” da maior parte dos males nacionais. 
A diplomacia econômica brasileira pode e deve contribuir no e ao necessário processo de modernização econômica do país, trazendo evidências quanto à eficácia de uma série de reformas já efetuadas em outros contextos, mas dotadas do mesmo sentido de abertura resoluta à interdependência global. O fortalecimento da economia nacional, assim como a correção das deformações mais evidentes em seu ambiente regulatório – sobretudo na esfera tributária, no excesso de burocracia, no nacionalismo exacerbado – devem poder assegurar ao Brasil um retorno mais efetivo às iniciativas e à participação efetiva na agenda internacional de que é capaz sua diplomacia profissional. A nova postura necessita de meios adequados à projeção dos interesses brasileiros, não apenas na cooperação com países em desenvolvimento, mas basicamente na aceitação decidida de novos compromissos no plano da interdependência, o que de toda forma emergirá naturalmente a partir da aceitação não defensiva de padrões superiores de qualidade nas políticas macroeconômicas e setoriais, a partir do ingresso pleno do país na OCDE.
Essa interface econômica não representa todos os componentes já presentes na agenda multilateral – global e regional – e nos diferentes outros compromissos já inscritos na ordem do dia da diplomacia brasileira, derivados de suas parcerias já consolidadas ou a serem criadas a partir dessa nova postura engajada. Existem muitos outros itens no multilateralismo político – sobretudo paz e segurança internacionais –, nos foros econômicos, no plano bilateral ou de foros específicos que vão continuar a exigir recursos humanos e financeiros, ademais de uma visão clara das prioridades externas, todos eles amplamente cobertos pela diplomacia profissional. Mas esse lado de reformas econômicas e de modernização da agenda nacional representa a condição sine quaoutros objetivos políticos e diplomáticos não poderão ser alcançados. A nova política externa do Brasil deveria dar clara prioridade aos capítulos mais importantes de sua diplomacia econômica. Esta é a direção dos próximos anos.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 20 de abril de 2018

Raymond Aron: uma influencia decisiva em minha formacao - Paulo Roberto de Almeida

 Respostas a um questionário acadêmico, cujo produto final não conheci: 

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Raymond Aron: uma influencia decisiva em minha formacao - Paulo Roberto de Almeida

Recebi, no começo deste ano, uma consulta para um trabalho acadêmico, sobre a importância de Raymond Aron para o meu trabalho ou minhas reflexões de relações internacionais. Respondi ao questionário, e ainda recentemente consultei sobre o aproveitamento de minhas respostas para tal trabalho, mas ainda não obtive resposta.
Como acredito que Raymond Aron deve ter influenciado dezenas, centenas, talvez milhares de outros pesquisadores e estudiosos do mesmo campo, resolvi postar aqui minhas respostas a um questionário, que talvez interessem alguém, se isso tem alguma validade.
Comecei a ler Raymond Aron por meio de seus artigos no L'Express ou no Le Figaro, traduzidos e publicados no Estadão. Mais tarde, já na Europa, adquiri praticamente todos os seus livros, e lembro-me inclusive de ter emprestado um desses livros a um colega da ULB, que nunca me devolveu...
Estou com raiva até hoje.
Em todo caso, aqui vão minhas respostas às perguntas formuladas.
Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 4 de outubro de 2018

Raymond Aron: uma influência decisiva em minha formação

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 18 de fevereiro de 2018
 [Objetivo: Respostas a consulta de acadêmicofinalidade:influência de Raymond Aron no meu trabalho intelectual.]


Respostas de Paulo Roberto de Almeida às questões recebidas:

I.      Como se deu o seu primeiro contato com Raymond Aron ou com a sua obra? Em quais circunstâncias?

PRA: Meu primeiro contato com a obra e o pensamento de Raymond Aron se deu ainda em meados dos anos 1960, jovem adolescente frequentando o “colegial” (ou seja, a segunda etapa do secundário, ou curso médio, depois do ginasial, no então chamado “clássico”, em contraposição ao “científico”, preparatório ao terceiro ciclo de estudos), mas já leitor de obras típicas dos cursos universitários em humanidades. Estudando de noite e trabalhando de dia, eu comprava o jornal “reacionário” O Estado de S. Paulo todos os fins de semana, especialmente aos domingos, interessado nos suplementos culturais do sábado, e nos grandes artigos internacionais do domingo. Minha atenção para os temas internacionais tinha sido despertada pouco tempo antes por uma palestra do cientista político e editorialista do Estadão Oliveiros da Silva Ferreira, feita ainda no ginásio (em 1964 ou 1965), sobre a crise dos foguetes soviéticos em Cuba e o contexto geral da Guerra Fria. A partir desse momento, passei a comprar o Estadão nas bancas, todo fim de semana, e passava as tardes lendo e estudando os grandes artigos traduzidos de grandes intelectuais internacionais. Entre eles se encontrava obviamente Raymond Aron, e ao que me lembre eram artigos traduzidos do semanário L’Express ou de outros periódicos publicados na França. Nessa época, eram poucas as revistas brasileiras sobre temas internacionais, e eu ignorava obviamente a existência da Revista Brasileira de Política Internacional, publicada no Rio de Janeiro desde 1958, mas que não circulava nos circuitos comerciais de varejo. Foi nas páginas do Estadão de domingo, portanto, que eu tomei contato, pela primeira vez, com os artigos eruditos de Raymond Aron e de Roberto Campos, duas leituras obrigatórias, ainda que com grandes restrições de caráter ideológico, uma vez que eu me considerava um aderente precoce da doutrina marxista, e portanto “inimigo” do pensamento de “direita” representado pelos dois intelectuais. Este foi o meu primeiro contato com as ideias “direitistas” de Raymond Aron, intelectual que nunca deixei de ler, mesmo tentando me contrapor, como também era o caso em relação a Roberto Campos, aos seus argumentos enquadrados no pensamento geopolítico da Guerra Fria, durante a qual eu mantinha um posicionamento anticapitalista, mesmo sem necessariamente aderir ao comunismo de tipo soviético, que sempre desprezei. 

II.    Em sua opinião, qual a influência do pensamento de Aron tendo em vista as temáticas intelectuais às quais ele se dedicou?

PRA: Posso dizer que essa influência foi enorme, mesmo a contragosto, se ouso dizer, uma vez que, numa primeira fase, o marxismo juvenil, de certo modo ingênuo, me levava a considerar que o lado correto era o do intelectual esquerdista Jean-Paul Sartre, não o de Raymond Aron, classificado entre os partidários da “direita”. Pouco antes de sair do Brasil, no final de 1970, em direção à Europa, eu já considerava indispensável ler suas obras, que conhecia de nome, mas que ainda não havia lido nem em francês – língua que eu dominava mal – nem em eventuais traduções em português, que ignorava existir. Sabia de seus livros resultantes das aulas na Sorbonne desde meados dos anos 1950, mas não tinha tido ainda oportunidade de ler.
Estimo que sua influência foi apenas parcialmente importante, no conjunto da academia até o final dos anos 1960, ou até mais além, uma vez que as humanidades no Brasil sempre estiveram bem mais vinculadas ao pensamento marxista do que às teses e argumentos “atlantistas” ou “liberais” de intelectuais como Raymond Aron ou, no caso, brasileiro, Roberto Campos, Eugênio Gudin, ou outros. Ainda se achava basicamente correta a postura de “estar errado com Jean-Paul Sartre, em lugar de acertar com Raymond Aron”, e 1968 era considerado um passo na direção correta, a de recusar a sociedade burguesa e construir uma sociedade solidária; esta não estava alinhada com as posturas do comunismo tradicional, mas sim com a Escola de Frankfurt, com Herbert Marcuse, com Wilhelm Reich e outros teóricos libertários. 
Na época “áurea” da Guerra Fria, Raymond Aron estava estritamente alinhado com os esquemas atlantistas da OTAN e dos EUA, então envolvidos na guerra do Vietnã, e portanto condenados por toda a esquerda mundial, da qual, uma parte pelo menos apoiava a “revolução cultural” da China de Mao, considerada uma etapa superior de construção do comunismo, acima do burocratismo do sistema soviético. Nesse contexto, Aron era cultivado apenas num pequeno circulo de iniciados, uma vez que a maior parte dos acadêmicos se alinhava com as posições “progressistas” da esquerda ocidental. 

III.  Aron ainda pode ser considerado, em termos intelectuais, autor atual e influente?

PRA: Absolutamente: todas as suas obras, sejam as de filosofia da história, ou as de sociologia industrial, e ainda as de geopolítica no contexto das doutrinas realistas, são pertinentes e indispensáveis a um debate intelectual da mais alta qualidade sobre os problemas sociais, políticos e geopolíticos das sociedades contemporâneas, mesmo no pós-Guerra Fria, uma vez que as características e tendências fundamentais da geopolítica mundial, e das sociedades industriais permanecem válidas mesmo após o declínio irresistível dos projetos socialistas de cunho marxista-leninista. Aron preserva uma lucidez impressionante em relação ao simples debate entre liberais e socialistas de cunho reformista (lassalianos, fabianos, ou seja II Internacional), e mantém coerência em relação às escolhas fundamentais que devem ser feitas no plano interno (democracia de mercado) e no contexto internacional (defesa dos valores ocidentais, contra propostas autoritárias de ordenamento político e social). 

IV.   Quando aluno, Aron aparecia como bibliografia nos cursos de graduação e/ou pós-graduação que você frequentou? Como professor, você utiliza ou utilizou obras de Aron como bibliografia em cursos de graduação e/ou pós-graduação? Nos dois casos, quais obras?

PRA: Frequentando cursos de Ciências Sociais no Brasil (USP) e no exterior (ULB, em Bruxelas), não me lembro de ter sido recomendado expressamente a ler Raymond Aron, mas como ele era um referência indispensável nos debates políticos da época, fui levado a buscar voluntariamente seus livros sobre a sociedade industrial, e seus debates com os intelectuais marxistas. Nessa época, início dos anos 1970, ainda procurava me alinhar mais com os autores marxistas (sobretudo da Europa ocidental), mas nunca deixei de ler Raymond Aron, como o contraponto necessário aos argumentos dessa linha. Junto com Aron, lia Karl Popper e outros “liberais”, embora tendesse a aderir bem mais às teses anticapitalistas dos socialistas franceses e ingleses, tipo Nikos Poulantzas, Christopher Hill, Perry Anderson e outros. Aron era o antagonista preferido de toda essa tropa de marxistas acadêmicos, aos quais eu aderia residualmente, sem deixar de me referir a Aron (ou Alain Peyrefitte, por exemplo) em sua contestação às principais teses dos esquerdistas. Aos poucos, Aron deixou de ser o “inimigo ideológico” para se converter no “adversário político”, mais adiante convertido em “interlocutor indispensável”, nas reflexões sobre as vias abertas às sociedades do Ocidente e as do Terceiro Mundo.

V.     Durante sua segunda visita ao Brasil, em 1980, Aron foi a figura central do simpósio “Raymond Aron na UnB”. Em relação ao homenageado, em sua opinião e tendo em vista o contexto da época, quais as principais motivações para o convite? Em que medida, tais motivações teriam estado ligadas ao contexto político nacional (início do processo de redemocratização) e ao contexto internacional, ainda marcado pela tensão bipolar entre os EUA e a URSS - para além das questões propriamente intelectuais?

PRA: Nessa fase, início dos anos 1980, eu já tinha ingressado na carreira diplomática (desde 1977) e me encontrava em postos no exterior, de 1979 a 1984, entre Berna e Belgrado, e tinha retomado minha tese de doutoramento em sociologia política, iniciada em 1976, mas interrompida em 1977 na volta ao Brasil. Posso dizer que Aron foi decisivo no plano puramente bibliográfico, pois passei todos esses anos lendo uma enorme bibliografia em história e sociologia, para completar uma tese sobre as revoluções burguesas, mas num sentido totalmente contrário ao que tinha quando fiz o projeto e iniciei os trabalhos entre 1976 e 1977. Não só Aron, mas Weber, Fernando Braudel, Barrington Moore Jr., Albert Hirschman, os revisionistas históricos sobre as revoluções burguesas, influenciaram minha conversão do marxismo acadêmico a uma análise mais realista dos processos políticos e sociais que levaram as sociedades do Ocidente moderno a sistemas políticos pluralistas e abertos. Aron, entre vários outros, foi essencial nessa revisão interpretativa sobre a natureza do poder político e suas relações com a base social e econômica no processo de modernização contemporânea.
Não tomei conhecimento da vinda de Raymond Aron ao Brasil senão depois de 1985, ao retomar ao Brasil e começar a dar aulas na UnB e no Instituto Rio Branco (a academia diplomática do Itamaraty) de sociologia política, exatamente. Aron era, não preciso dizer, uma referência indispensável, junto com Weber, Marx e outros teóricos, na construção das aulas e nas reflexões sobre nossa transição democrática pós-regime militar. Foi nesse momento que abandonei completamente os esquemas marxistas de reflexão em favor de uma visão mais eclética, inevitavelmente influenciada por intelectuais como Raymond Aron.

VI.   Também à época de sua segunda visita, a Editora da UnB traduziu e publicou a principal obra de Aron dedicada ao tema das relações internacionais, Paz e Guerra entre as nações, além de diversos outros títulos de autores tidos como conservadores ou liberais. Em sua opinião, qual a importância deste esforço editorial tendo em vista o ambiente intelectual brasileiro da época?

PRA: O esforço empreendido no âmbito da UnB, sobretudo por um dos integrantes do Conselho Editorial da Editora da UnB, o diplomata Carlos Henrique Cardim, foi absolutamente magnífico, no sentido de trazer ao Brasil as mais importantes obras do pensamento político e de relações internacionais, até então inacessíveis ao público local, em especial os cientistas sociais brasileiros. Simplesmente não se tinha acesso a essas obras, a não ser trazidas do exterior pelos próprios acadêmicos que estudavam fora, mas os estudantes estavam praticamente excluídos desse universo. De repente, no espaço de poucos anos – primeira metade dos anos 1980 – todas essas obras ficaram disponíveis, com traduções de qualidade, feitas por diplomatas e professores. Se quisermos mensurar esse aporte em termos de PIB intelectual, pode-se dizer que a riqueza intelectual trazida por essas edições situou-se na faixa de 10 a 20% de acréscimos bibliográficos, senão mais. Mas não só as edições: a própria presença de eminentes intelectuais trazidos para debates pessoais com acadêmicos brasileiros representou um empreendimento intelectual até hoje inigualado nas proporções que essas iniciativas da UnB representaram à época e nos anos subsequentes. A série “[Fulano] na UnB” ofereceu uma apresentação sintética do pensamento de cada um dos intelectuais trazidos ao Brasil, que pode ser considerada inédita no plano mundial, uma vez que não existe depoimentos do gênero dos que foram feitos na UnB nas edições estrangeiras.

VII.  O livro ‘Paz e Guerra entre as nações’ foi adotado pelo MEC como leitura obrigatória nos cursos de graduação em relações internacionais a partir dos anos 2000. Como você avalia a influência desta obra em particular para o campo das RI? Aron pode ser considerado um autor original ou influente a partir das reflexões contidas no livro?

PRA: Os poucos geopolíticos existentes no Brasil, mas muitos outros professores de relações internacionais, são obrigados a recorrer ao pensamento de Aron, pois ele é incontornável no debate a respeito das grandes questões da guerra e da paz no plano mundial. A bibliografia necessariamente parte de Morgenthau e vai diretamente a Aron, como referência indispensável na discussão da temática geopolítica. O seu realismo “frio”, construído a partir de uma potência de primeiro plano, mas diminuída depois dos conflitos napoleônicos (clausewitzianos) e sobretudo com a ascensão da Alemanha, oferece um contraponto necessário à bipolaridade da era nuclear capitaneada pelos EUA e pela União Soviética. Nesse contexto bipolar, a França foi a nação que escolheu ter uma defesa própria, independente do campo ocidental, e com isso representa um tipo de soberanismo geopolítico talvez adequado a um país como o Brasil, também cioso de sua autonomia em relação aos blocos então existentes.

VIII.      Ainda no campo dos estudos das relações internacionais, Aron alinha-se à tradição dos pensadores realistas. Poderíamos vislumbrar afinidades eletivas entre o pensamento reinante no Itamaraty, cuja origem remete a Paulino Soares de Sousa, o Visconde de Uruguai - leitor sistemático de Tocqueville, e as posições liberais que Aron sustentou ao longo do século XX?

PRA: Aron era o que eu chamo de “realista flexível”, ou seja, consciente de que o equilíbrio entre grandes potências e potências médias, ainda que fortes (como a França), não poderia ser estudado e considerado apenas com base em premissas teóricas, mas sobretudo com base num itinerário específico no plano das experiências concretas. Essa era, também, a perspectiva de Tocqueville, que estudou os Estados Unidos em sua dimensão própria, ainda que contrapondo suas estruturas políticas e sociais às de sua França e Europa aristocráticas – ainda que transformadas, ambas, pelas grandes rupturas da revolução e da era napoleônica – e podia assim fazer uma análise original da formação política e social americana, apontando-a como o futuro da Europa igualmente (no que estava enganado). Aron tinha plena consciência do quantum de liberdade que os homens e as sociedades dispõem para determinar o seu futuro, e não alimentava nenhum determinismo fatalístico quanto a isso. Sua compreensão da doutrina marxista, e também da weberiana, o habilitava a distinguir os imponderáveis da história.
Nisso, ele foi totalmente distinto dos demais intelectuais franceses (ou de quaisquer outros países) de gabinete, pois temperava suas leituras dos clássicos e contemporâneos com uma reflexão original sobre os itinerários concretos das sociedades. Importante nessa originalidade teórico-prática foi a sua estada na Alemanha no início dos anos 1930, quando assistiu à ascensão do nazismo, constatando a deriva de algumas sociedades para o populismo, a demagogia, o autoritarismo e outras falácias e tragédias, o que o colocou à frente de todos os demais intelectuais puramente acadêmicos. Sua estada em Londres, durante a guerra, também foi importante ao dar uma dimensão eclética ao seu pensamento, absolutamente original no contexto francês. 
Não estou habilitado a avaliar, por não conhecer, essa influência de Tocqueville nas concepções do grande diplomata que foi Paulino Soares de Souza, certamente um dos maiores diplomatas do Império, junto com Miguel da Silva Paranhos, o Visconde do Rio Branco. Todos eles foram realistas flexíveis, podendo ser considerados, nesse sentido, “aronianos avant la lettre”, como também o foi o filho do Visconde, o Barão do Rio Branco, menos doutrinário do que Rui Barbosa, por exemplo. Nenhum deles têm sucessores claros no século XX, a não ser parcialmente: Oswaldo Aranha, um realista sem qualquer elaboração doutrinal (a não ser um estrategista instintivo), San Tiago Dantas, um pensador original, infelizmente desaparecido precocemente, e talvez Roberto Campos, um realista da tecnocracia planejadora antes de se converter em um liberal pragmático; pode-se agregar o nome de José Guilherme Merquior, mas este bem mais no terreno teórico do que prático. Todos eles passaram a integrar plenamente minhas reflexões de natureza política, econômica e geopolítica, e meus escritos.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 18 de fevereiro de 2018

Carta a mim mesmo, 20 anos à frente (2012, para 2032) - Paulo Roberto de Almeida

Reproduzo uma brincadeira feira em 2012, uma mensagem enviada ao próprio autor, duas décadas no futuro, sem saber se ele vai responder, ou pelo menos ler.

Li agora, no final de 2024, e achei bastante razoáveis, minhas especulações sobre o futuro.

Paulo Roberto de Almeida (Brasília, 22/12/2024)


segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Carta a mim mesmo, 20 anos à frente - Paulo Roberto de Almeida


Carta a mim mesmo, 20 anos à frente

Paulo Roberto de Almeida 

(Anywhere), 27 de Agosto de 2032


Bom dia Paulê,
Estou lhe escrevendo vinte anos à frente do seu tempo, no que é, obviamente, apenas um recurso literário para falar de várias coisas destas últimas duas décadas, como uma espécie de balanço, e de especulação sobre o futuro, o que todos temos o direito de fazer. Como você vai receber, vai ler, ou reler, esta carta daqui a exatas duas décadas (vou ajustar minha agenda eletrônica para isso, como uma garrafa atirada ao mar, e programada para chegar ao seu porto, à sua praia, na data exata que vai acima), posso esquecer as questões do presente e me concentrar no que será o seu mundo em 2032. Feita esta introdução técnica, vamos ao que interessa.

Bom dia, portanto!
Em 2032, você já está aposentado há mais de dez anos e suponho que você ainda esteja vivo, se a medicina e a sua saúde assim o permitirem. Enfim, esta carta só tem sentido se você estiver vivo e com plena capacidade de trabalho ainda, a despeito da idade avançada. Se não fosse assim, eu teria feito esta carta apenas uma década mais à frente, quando o Brasil estiver completando dois séculos de independência, e você tendo se aposentado apenas dois anos atrás. Não importa, vamos manter a ficção de que sua boa disposição para o trabalho e as tecnologias médicas o permitirão chegar a 2032 e que ali começa nossa aventura prospectiva. O que serão, como serão o mundo, a América Latina e o Brasil, vinte anos mais a frente, e o que eu terei feito, em face e no contexto dessa interação, no intervalo que nos separa do ponto de destino?
Sei que minhas capacidades prospectivas são limitadas, ou até deficientes, a julgar pelo que pude “prever” nos últimos dez anos. Mas vou tentar mesmo assim. Em 2002, por exemplo, eu tinha absoluta certeza de que os companheiros que então chegavam no poder iriam praticar uma política econômica conservadora, ou de corte neoliberal, como eles depreciativamente se referiam às orientações então em curso no governo anterior. Não estou inventando nada agora: está tudo documentado em meu livro A Grande Mudança e não mudaria uma palavra do que escrevi ainda antes da eleição de Lula (ver aqui: http://www.pralmeida.org/01Livros/2FramesBooks/58GrdeMudanca.html). Nisso fui presciente, embora esperasse alguma deterioração maior da posição fiscal, em vista dos previsíveis gastos sociais. Não esperava, está claro, a amplitude dos “investimentos” sociais, embora esperasse todos os benefícios feitos a banqueiros, industriais e outros membros da elite (velhas e novas, oportunistas ou não), e já previa, de certa forma, o aumento da carga fiscal, via tributos diretos ou indiretos. Meu grande erro – mas creio que esse foi de todos – foi acreditar que as alegações sobre a “ética na política” eram verdadeiras, e nisso pratiquei a mesma ingenuidade de muitos observadores: o governo dos companheiros revelou-se o mais corrupto já conhecido na história do Brasil, e isso porque o partido – habituado a velhas práticas bolcheviques da pior espécie – já era inerentemente corrupto em sua formação e em suas práticas políticas.
Independentemente dessas previsões, mais ou menos certas, o fato é que o Brasil conheceu certos progressos sociais, mais à custa de redistribuição de renda e de estímulo ao consumo do que de investimentos produtivos, e uma grande involução política, institucional e educacional, com um aumento inédito da corrupção em todas as esferas, e uma deterioração sensível das instituições públicas, a despeito mesmo da relativa profissionalização das carreiras de Estado (mas convertidas numa classe de mandarins que se apossou do Estado como coisa própria). Os mesmos dez anos que vão de 2002 a 2012 foram minha travessia do deserto, em todo caso muito produtivas em termos de diversos trabalhos acadêmicos, alguns livros e muitos artigos publicados, sem contar as centenas de working files, aguardando uma oportunidade para emergir do pipeline da produção intelectual. Os dez anos seguintes, até 2022, foram os mais felizes no plano pessoal, com uma produção ainda mais intensa, embora o Brasil tenha avançado muito pouco, em termos educacionais e institucionais, para grande tristeza minha.
E o que fiz depois, até chegar neste momento, vinte anos à frente desta carta, dez anos além de meu retiro profissional, e bastante mais maduro e satisfeito comigo mesmo? Fiz aquilo que sempre fiz, em toda minha vida, talvez em maior volume e extensão, sempre quando possível: li, intensamente; escrevi, compulsivamente; publiquei, no ritmo possível, dado pelas editoras ou permitido pelas novas formas de comunicação; ensinei, bastante, o tempo todo, diretamente e à distância, para apenas um punhado de alunos presenciais, a cada vez, mas provavelmente para milhares de outros, desconhecidos, à distância, sem sequer saber quem tomava conhecimento de meus materiais didáticos, dispersos nas correntes sempre multiplicadas da internet; viajei, a cada oportunidade oferecida pelos compromissos acadêmicos e visitei dezenas de novos lugares, por puro interesse cultural e curiosidade propriamente turística; também pratiquei gastronomia, das melhores, sempre acompanhando as viagens e desfrutando de novas cidades, grandes e pequenas, nos mais diversos cantos do planeta, que percorri como poucos que conheço.

Chegamos, pois, a 2032, Paulê, e você faz agora a reconsideração dos anos que se passaram, e passa a explicar, ao seu alter ego de 2012, como o mundo, a região, o Brasil se encontram, no estado que é o deles, o que eles são, neste período que já assiste ao meu ocaso. Vou tentar ser apenas sugestivo, uma vez que trabalho com tendências, não com certezas ou determinações obrigatórias.
O mundo não é muito diferente do que era no tempo em que foi pensada esta carta, embora ele certamente seja mais rico, mais seguro e mais estável, no plano da segurança e da paz internacionais. Os EUA e China, e as potências menores (ou seja Rússia e o que sobrou das grandes do século 20) jamais vieram a se enfrentar numa guerra, que necessariamente seria ou global, ou por atores interpostos (ou seja, local, ou “setorial”). Eles sempre mantiveram muitos pontos de conflito entre eles, e continuaram a gastar enormes somas com sua preparação militar, mas foram gastos inúteis, pelo menos no cenário traçado pelos seus estrategistas. Todo esse equipamento foi usado contra “vilões pés-de-chinelo”, se ouso dizer, ou seja, os ditadores remanescentes do planeta, uma espécie em quase extinção, pelo menos aqueles realmente malvados, não os ditadores de opereta, como os temos na América Latina, ou aqueles ridicularizados por Sacha Cohen no cinema. A própria China já enfrentou crises políticas, nos últimos 20 anos, e se encaminhou muito lentamente para um tipo de “democracia”, muito deficiente, é verdade, mas ainda assim, não mais o monopólio absoluto do PCC (enfim, um pouco parecida com aquela “democracia de fachada” que Max Weber apontava no caso do governo provisório saído da revolução de fevereiro de 1917, na Rússia).
Os países da América Latina terão melhorado um pouco, não muito: políticos corruptos, bandidos, traficantes, continuarão a frequentar o cenário, mas não mais dominarão países inteiros, como ainda ocorre atualmente. Infelizmente, a educação e a equalização de chances terão progredido muito lentamente em certos países, entre eles o Brasil, graças às políticas absolutamente erradas que adotamos durante o reinado dos companheiros (que pode se prolongar bem mais do que o desejável, em virtude da mediocridade da oposição política, ou seja, das forças centristas, para lidar com um partido neobolchevique a vocação totalitária).

Não se iluda, portanto, Paulê, você terá passado os vinte anos que o separam desta data exatamente na posição em que estava em 2012: em minoria absoluta no país e na região, lutando contra a mediocridade intelectual, contra a erosão da moralidade na vida política, contra a indigência intelectual (acho que o segundo termo não se aplica) na academia, contra os mandarins do Estado extorsivo, ou seja, em verdadeiro bunker isolado, em uma espécie de quilombo de resistência contra os novos bárbaros. Não fique triste, Paulê, seu trabalho será reconhecido por alguns poucos, um pequeno bando de libertários que acredita naqueles velhos valores que não mais prevalecem – talvez nunca tenham prevalecido – entre nós, o da honestidade intelectual, o da tolerância política, o da democracia sem adjetivos, o da responsabilidade individual, do mérito e do esforço próprio. Tudo isso vai ser muito difícil de defender, mas eles acabarão prevalecendo, um dia... Talvez não para que você possa contemplar uma sociedade que você gostaria de ver implantada no Brasil, mas vai ocorrer. Seu trabalho é o de não desistir, persistir, lutar, resistir, continuar...
Os vinte anos decorridos desde então terão sido os melhores de sua vida, Paulê, e você estará orgulhará disso, mesmo sem glórias e sem vitórias. A paz com sua consciência, o fato de estar bem consigo mesmo, a certeza de que você estará lutando pelas boas causas são suas maiores recompensas.
Fique tranquilo e trabalhe. Até 2032, quando você abrir esta carta novamente...

Paulo Roberto de Almeida
[Brasília, 27 de agosto de 2012; revisto em 30/09/2012]

Poster de Natal do Instituto Histórico e Geográfico do DF

 Uma mensagem singela, sincera, bonita: 



sábado, 21 de dezembro de 2024

The Father of Chinese Authoritarianism Has a Message for America - Chang Che (New Yorker)

 Tne New Yorker, December 21, 2024

When Russian and Chinese élites talk about history, they often mean “History”—the grand Hegelian march toward progress. Since the end of the Cold War, the East has lived with the undignified thesis, popularized by Francis Fukuyama’s 1989 essay “The End of History?,” that democracy had defeated the authoritarian alternatives of the twentieth century. That idea has not aged well. According to a European survey of more than two hundred countries, 2022 was the first time in two decades that closed autocracies outnumbered liberal democracies in the world. Americans have become unreliable underwriters of the international order. Russia’s Vladimir Putin has incited Europe’s largest conflict since the Second World War and China’s Xi Jinping is remaking global institutions in his own image, bereft of democratic values. When Xi visited the Kremlin in March, 2023, a little over a year after Russia invaded Ukraine, he told Putin that the world was changing in ways “we haven’t seen in a hundred years.” “Let’s drive those changes together,” he said. Putin, hands outstretched, nodded. “I agree.”


Read the Weekend Essay at here  

or here: 

https://www.academia.edu/126490894/The_Father_of_Chinese_Authoritarianism_Has_a_Message_for_America_By_Chang_Che_The_New_Yorker_




Pelo fim da ditadura dos partidos: pela autorização de candidatos independentes: Ranking dos Políticos

Faço parte do Ranking dos Políticos 

Basta 1 clique para você ajudar a quebrar o monopólio dos partidos

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Você sabia que o Brasil está entre os poucos países que ainda proíbem candidaturas independentes? Enquanto em mais de 90% das democracias do mundo qualquer cidadão pode concorrer sem precisar de um partido, aqui seguimos presos a uma regra criada durante a ditadura de Vargas.

Essa proibição não apenas restringe a liberdade política, mas também perpetua o monopólio dos partidos, deixando milhões de brasileiros sem representatividade real.

Agora, temos a chance de mudar isso!

O Ministro Luís Roberto Barroso está com a pauta das candidaturas independentes em mãos no STF. Precisamos mostrar que a sociedade quer essa mudança.

👉 Envie agora sua mensagem ao Ministro Barroso clicando no botão abaixo e preenchendo seu nome e e-mail:

[Pode ser aqui]

Clique para enviar uma mensagem ao Ministro agora

Mas não pare por aí!

Para que essa campanha tenha ainda mais força, pedimos que você também encaminhe este e-mail para toda a sua rede de contatos! Juntos, podemos transformar essa pauta em uma corrente de mudança, por um Brasil mais democrático e livre.

Podemos contar com a sua participação?

Um abraço,

Equipe Ranking dos Políticos.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Putin’s Point of No Return - Andrea Kendall-Taylor and Michael Kofman (Foreign Affairs)

 Putin’s Point of No Return

How an Unchecked Russia Will Challenge the West

Andrea Kendall-Taylor and Michael Kofman

Foreign Affairs, January/February 2025


Andrea Kendall-Taylor is Senior Fellow and Director of the Transatlantic Security Program at the Center for a New American Security. From 2015 to 2018, she was Deputy National Intelligence Officer for Russia and Eurasia at the National Intelligence Council.

Michael Kofman is a Senior Fellow at the Carnegie Endowment for International Peace.

 

On August 6, 2024, Ukrainian forces launched a surprise cross-border offensive into Russia’s Kursk region—the biggest foreign incursion into Russian territory since World War II. Russian President Vladimir Putin’s response was telling. Days after Ukraine’s offensive, Putin railed against the United States and Europe. “The West is fighting us with the hands of the Ukrainians,” he said, reiterating his view that Russia’s war in Ukraine is in fact a proxy battle with the West. But he initiated no immediate military counterattack. Putin was unwilling to divert substantial numbers of troops away from their operations in eastern Ukraine even to recover territory back home. Three months later, with Ukrainian forces still in Kursk, Moscow instead brought in North Korean troops to help push them out—the first time in more than a century that Russia has invited foreign troops onto its soil.

Moscow’s actions underscore how, after almost three years since Russia’s full-scale invasion of its neighbor, Putin is now more committed than ever to the war with Ukraine and his broader confrontation with the West. Although the conflict is first and foremost an imperial pursuit to end Ukraine’s independence, Putin’s ultimate objectives are to relitigate the post–Cold War order in Europe, weaken the United States, and usher in a new international system that affords Russia the status and influence Putin believes it deserves.

These goals are not new. But the war has hardened Putin’s resolve and narrowed his options. There is no turning back: Putin has already transformed Russia’s society, economy, and foreign policy to better position the Kremlin to take on the West. Having accepted the mantle of a rogue regime, Russia is now even less likely to see a need for constraint.

The stage is set for the confrontation with Russia to intensify, despite the incoming Trump administration’s apparent interest in normalizing relations with Moscow. The war is not going well for Ukraine, in part because the limited assistance the West has sent to Kyiv does not match the deep stake it claims to have in the conflict. As a result, Russia is likely to walk away from the war emboldened and, once it has reconstituted its military capacity, spoiling for another fight to revise the security order in Europe. What’s more, the Kremlin will look to pocket any concessions from the Trump administration for ending the current war, such as sanctions relief, to strengthen its hand for the next one. Russia is already preparing the ground through the sabotage and other special operations it has unleashed across Europe and through its alignment with other rogue actors, including Iran and North Korea. European countries are only slightly more prepared to handle the Russian challenge on their own than they were three years ago. And depending on how the war in Ukraine ends, the possibility of another war with Russia looms.

The question is not whether Russia will pose a threat to the United States and its allies but how to assess the magnitude of the danger and the effort required to contain it. China will remain the United States’ primary competitor. But even with much of its attention called to Asia, Washington cannot ignore a recalcitrant and revanchist adversary in Europe, especially not one that will pose a direct military threat to NATO members.

The Russian problem is also a global one. Putin’s willingness to invade a neighbor, assault democratic societies, and generally violate accepted norms—and his seeming ability to get away with it—paves the way for others to do the same.The Kremlin’s provision of military equipment and know-how to current and aspiring U.S. adversaries will amplify these threats, multiplying the challenges that Washington will face from China, Iran, North Korea, and any other country that Russia backs.

The United States and Europe, therefore, must invest in resisting Russia now or pay a far greater cost later. The incoming Trump administration, in particular, does not have the luxury of shoving Russia down its list of policy priorities. If Putin sees Washington doing so, he will grow only more brazen and ambitious in his efforts to weaken the United States and its allies, both directly and through the axis of upheaval that Russia supports. To prevent that outcome, Washington and its allies must help Ukraine strengthen its position ahead of negotiations to end the current war. The United States is right to prioritize China, but in order to effectively compete with Beijing, it first needs to set European security on the right path. Washington must remain the primary enabler of that security for now, while making sure that Europe ramps up the investments required to better handle its own defense in the years ahead. By taking the steps necessary to counter Russia today, the United States and Europe can ensure that the threat they face tomorrow will be a manageable one.

IN TOO DEEP

Putin has changed Russia in ways that will ensure it remains a challenge to the West as long as he is in power and likely well beyond. Confrontation is now the hallmark of Russia’s foreign policy, with Putin citing his country’s “existential struggle” with the West to justify his regime and its actions. This idea of a Russian civilization in constant conflict with its Western foes strengthens the ideological foundation of his rule—a source of legitimacy he now needs to safeguard his hold on power.

Putin’s increased reliance on repression has generated risks to the stability of his regime. Political science research shows that repression is effective in the sense that it increases autocrats’ longevity in office. But depending too heavily on it, as Putin has done, can raise the prospect that leaders will make destabilizing mistakes. Heavy-handed tactics compel people to mask their private views and avoid sharing anything but what the government wants to hear, which means the autocrat, too, loses access to accurate information. High levels of repression also create a rising reservoir of general dissatisfaction, so that even a small outburst of discontent can quickly spiral into trouble for the regime. To mitigate these risks and reinforce his hold on power, Putin has used his control over the information environment to convince the Russian people that their country is at war with a West that wants to break it apart.

The war has hardened Putin’s resolve and narrowed his options.

Putin has also reoriented the Russian economy around his war. Russia’s defense spending is set to reach its highest point since the collapse of the Soviet Union, with $145 billion allocated in the 2025 budget—the equivalent of 6.3 percent of GDP and more than double the $66 billion Russia budgeted for defense in 2021, the year before the invasion. And the true amount of such spending will likely be higher, possibly exceeding eight percent of GDP, once other, unofficial forms of defense-related expenditures are accounted for. (When also adjusting for considerable differences in purchasing power parity between Russia and the United States, Russia’s actual defense spending is much higher than $145 billion, exceeding $200 billion.) Russian factories producing military equipment have added shifts to increase production; workers have moved from civilian to military sectors, where the wages are higher; and payouts for military service have skyrocketed. The war has become a wealth transfer mechanism channeling money to Russia’s poor regions, and many economic elites have moved into the defense sector to cash in on lucrative opportunities. Elites have, by now, adjusted to the system’s current configuration, enabling them not just to survive but to profit from it.

Having gone through the pain of shifting the economy to a wartime footing and feeling the pressure of new vested interests, Putin is unlikely to undo these changes quickly. After the fighting in Ukraine ends, he will probably instead look to justify the continuation of the wartime economy. Such was the inclination of Soviet leader Joseph Stalin, who, after the Allied victory in World War II, soon began to speak of Moscow’s new five-year plans as necessary preparation for the next inevitable war.

Russian foreign policy is also transforming in ways that will be difficult to undo. The invasion of Ukraine has made it impossible for Russia to build ties with the West, and Moscow has had to look for opportunities elsewhere. Its deepening partnerships with China, Iran, and North Korea may have been driven largely by necessity: Russia needs their help to sustain its economy and warfighting machine. But Moscow also understands that by working with these countries, it is in a better position to sustain a long-term competition with the United States and its allies. Not only does their support make Russia less isolated and less vulnerable to the United States’ tools of economic warfare; Russia also benefits from having cobelligerents working in tandem to weaken the West. The Kremlin has gone all in on these partnerships, having abandoned caution in cooperating with North Korea, overcome its concern with overdependence on China, and elevated relations with Iran beyond transactional engagement. All of this amounts to a new strategy for Moscow, one that will not simply disappear after the fighting in Ukraine subsides or ends.

RUSSIA RELOADS

Russia’s military threat is not going away, either. The question of Russian military reconstitution is not an if but a when. Even if Russia cannot sustain its current wartime spending, the defense budget is likely to remain substantially above prewar levels for some time to come. The Russian military, too, is unlikely to shrink back to the relatively small army Russia fielded before the war. One lesson that Russia’s military brass took from Ukraine is that the Russian army was not “Soviet” enough in that it lacked mass and the capacity to replace losses. In reality, the Russian military was stuck in a halfway state, having acquired some advanced or modernized capabilities but also retaining some Soviet-era characteristics, including conscription and a culture of centralized command that discouraged initiative. Now, Russia is likely to maintain a large overall force with an expanded structure and greater manpower allocation, although it will still depend on mobilization in the event of war to reduce the cost of its standing army.

Reconstitution is about not just materiel but also the capacity to conduct large-scale combat operations.The Russian military has shown that it can learn as an organization; it is capable of scaling the deployment of new technology such as drones and electronic warfare systems onto the battlefield, and it will be a changed force after its experience in Ukraine. Despite its initial poor showing, the Russian military has demonstrated staying power and the ability to withstand high levels of attrition.

Russia’s military reconstitution will face headwinds, especially from the country’s limited defense industrial capacity and skilled labor shortage. Russian industry has not been able to significantly scale the production of major platforms and weapons systems. Labor and machine tools remain major constraints because of Western sanctions and export controls. Russia has still been able to significantly increase the production of missiles, precision-guided weapons, drones, and artillery munitions, and it has set up an effective repair and refurbishment pipeline for existing equipment. But it is also drawing from aging stocks that it inherited from the Soviet Union for much of its land force equipment. Thus, as it expands its forces and replaces losses, it is depleting its resources.

Military drills in the southern Krasnodar region, Russia, December 2024 Sergey Pivovarov / Reuters

From now on, the Russian military will have a duality to it, with areas of strength but equally prominent weaknesses. On the one hand, it has become much better at dynamic targeting, precision strikes, the integration of drones in combat operations, and more sophisticated methods of employing long-range precision-guided weapons. Russia has adapted to—and in some cases developed effective tactics to counter—the Western capabilities it confronted in Ukraine. Over time, Russian forces reorganized logistics and command and control, coming up with ways to reduce the efficacy of Western equipment and intercept Western munitions, and they have learned to operate with the presence of Western long-range precision-guided weapons, intelligence, and targeting.

For NATO, this ought to set off alarms. Some analysts argue that the way Ukraine is fighting now is not the way NATO would fight in a potential future war with Russia.They contend specifically that NATO would quickly earn and maintain air superiority, changing the nature of the conflict. Although this may be true, airpower will not solve every battlefield challenge NATO might face. And most European air forces lack munitions for a sustained conventional war. The time it would take to deplete their arsenals can best be measured in weeks and in many cases days.

On the other hand, a substantial percentage of the Russian ground force will likely continue to field dated Soviet equipment, and it will take years to rebuild force quality and replace the officers lost in Ukraine.The outlook for Russia’s defense capacity will also depend on whether its economy is running flat out and the defense sector has already maximized production or if there is still room for production to increase as new and refurbished plants and facilities come online. Overall, the Russian military will remain a patchwork, with some parts more advanced and capable than they were at the start of 2022 and other parts still using equipment from the middle of the Cold War, if not earlier. But the chances of the Russian armed forces being decisively knocked out and unable to pose a major threat for a prolonged period are low.

A GROWING GAP

The risks from the reconstitution of Russia’s military are compounded by the West’s lackluster response to rising Russian aggression. Europe still has a long way to go before it is prepared to handle the threat from Russia on its own. European defense production is insufficient to meet rearmament goals, despite Europe’s advantages in capital, machine tools, and labor productivity. European countries have substantially depleted their stocks by transferring older equipment to Ukraine, limiting their militaries’ mobilization potential. These countries will soon face the dual pressure of funding Ukraine’s war effort and recovery while replacing their own expended war materiel. Given how limited their arsenals were to begin with, if they want to be equipped to handle Russian belligerence, they will need to build well beyond 2022 levels—not just restore what was lost.

Current trends suggest that although European defense spending is likely to rise, the increases may not be enough to significantly expand military capability. There are exceptions, such as Poland and the Baltic states. But many countries with large budgets, such as Italy and Spain, are lagging behind. Many have yet to meet the commitment made by all NATO allies to spend the equivalent of two percent of GDP on defense. Across Europe, defense production is constrained by industrial capacity, the slow pace of finalizing contracts, and competing budgetary imperatives. All these issues can be overcome with sufficient political will, but European leaders first have to be clear-eyed in their assessment of the security environment. The United States is not going to significantly expand its presence in Europe; at best, Washington’s commitment to European security will remain constant as it pushes Europe to do more, and there is a real risk that it will turn its focus elsewhere. Europe must prepare to foot more of the bill to ensure that Ukraine is in a position to defend itself and to deter future Russian aggression against both Ukraine and Europe as a whole.

American leaders, for their part, will have to be realistic about Europe’s capabilities. Even those countries that are now investing heavily in equipment and procurement are still having issues recruiting, retaining, and training sufficient forces. And defense spending does not easily translate into the ability to conduct large-scale combat operations. Modern operations are complex, and European countries generally cannot execute them without U.S. support. Most militaries on the continent have coevolved to complement the U.S. military rather than to operate independently.

European militaries and NATO have made some progress matching their defense investments with the requirements of regional defense plans. But the forces active on the continent are not capable of handling a large-scale war on their own. They would find it difficult to agree on who would lead such an operation and who would provide the necessary supporting elements. European militaries would struggle to defend a fellow NATO member, or Ukraine, without U.S. help—a dependence that Washington has, to some extent, perpetuated. Thus, although the United States should continue to press its European allies to take on more of the security burden, Washington must appreciate that it will take a long time for Europe to get there.

THE RISING RISK OF WAR

Europe and the United States are not preparing for some far-off threat. Moscow is already waging an unconventional war against Europe. Within the past few years, suspected Russian-backed actors have set fire to warehouses in Germany and the United Kingdom that were full of arms and ammunition for Ukraine, tampered with water purification centers in Finland, pushed migrants from the Middle East and North Africa crossing through Belarus and Russia to the borders of Poland and Finland, targeted railway infrastructure in the Czech Republic and Sweden, assassinated a Russian military defector in Spain, and even plotted to assassinate the German head of a major European arms manufacturer. The Kremlin’s goal with these measures is to show European governments and citizens that Russia can retaliate for their support for Kyiv.

Yet once the war in Ukraine ends, Russia’s efforts won’t subside. Moscow’s broader aim in pursuing these tactics is to degrade the West and its ability to counter Russia. It wants to weaken Western societies, drive wedges between the United States and Europe, reduce Europe’s capacity for collective action, and convince Europeans that it’s not worth the trouble to push back against Moscow. Part of its strategy is to use nuclear intimidation, such as the recent changes to Russian nuclear doctrine that seem to lower the threshold for nuclear use, to heighten Western fears of confronting Russia.

The stage is set for the West’s confrontation with Russia to intensify.

Russia is not in a position to challenge NATO directly. The current low-scale conflict with NATO countries is likely to persist until the Russian military rebuilds—a process that could take years. But the Kremlin will then be looking for opportunities to further undermine NATO. Moscow will still have reason for caution, not least because it considers the alliance to be a superior force, but it may be tempted if it becomes clear that the allies—the United States the most important among them—lack the resolve for collective defense. The Kremlin would be most prone to make this calculation if the United States is engaged in a major conflict with China in the Indo-Pacific, which Washington has deemed its highest national security priority. Should the Kremlin calculate that Washington would not or could not come to Europe’s defense and that Europe alone would not be capable of victory, then Moscow could target a country on NATO’s eastern flank, daring NATO to respond.

The picture is further complicated by the Kremlin’s propensity for both risk-taking and miscalculation. Already, Moscow has seriously misjudged its ability to rapidly defeat the Ukrainian military and to shake Western resolve. Personalist autocrats such as Putin are the type of leader most inclined to make mistakes, in part because they surround themselves with yes men and loyalists who tell the leaders what they want to hear. Washington and its allies should thus not sleep comfortably even if NATO forces are well equipped to defeat the Russian military. Having confidence that NATO would prevail in the end is not enough, especially having observed what Ukraine is experiencing now: cities destroyed, tens of thousands killed, millions made refugees, and areas under prolonged Russian occupation. Even if Russia were defeated today, a future war with Russia could be devastating for the country it invades and for the NATO alliance. The imperative for the United States and NATO is to make sure Moscow never tries.

AIDING AND ABETTING

The confrontation with Russia will remain most intense in Europe, but the challenge from Moscow is global. Although the United States and Europe levied significant costs on Russia in the aftermath of its invasion of Ukraine, Moscow has circumvented Western sanctions and export controls and defied predictions of international isolation. In October, Russia hosted the annual summit of BRICS (whose first five members were Brazil, Russia, India, China, and South Africa), with dozens of world leaders in attendance, demonstrating a growing interest in the group’s role as a platform for challenging Western power and influence.

The more that Putin clashes with the United States and its allies and is perceived to get away with it, the more other countries will be emboldened to issue challenges of their own. Russia’s war in Ukraine is exposing not only a gap between the West’s rhetoric and its practical commitment but also the limits of Western military capacity. This is not to say that a seeming Russian success in Ukraine would automatically prompt Chinese leader Xi Jinping to invade Taiwan; other factors, such as the military balance of power in the region and political imperatives in Beijing, will be more decisive in shaping Xi’s calculus. Yet China is taking notes, as are onlookers around the world. Would-be Western adversaries are assessing the price of using force and considering what they might expect were they to launch a similar gambit. Likewise, the inadequate response to Russian sabotage in Europe might encourage other potential foes to get in the game.

Not content to simply inspire, Moscow is also actively aiding opponents of the West. Russia has lent support to rogue actors across the Sahel region of Africa, dispensing materiel and diplomatic backing that enabled military officials to forcibly seize power in Mali in 2021, in Burkina Faso in 2022, and in Niger in 2023 and subsequently curtail ties with the United States and Europe. Russia is also sending arms into Sudan, prolonging the country’s civil war and the resulting humanitarian crisis, and has lent support to the Houthi militias in Yemen, who have attacked vessels in the Red Sea, disrupting global trade, and have fired missiles at Israel, a close U.S. ally.

After a Russian drone strike in Kyiv, Ukraine, November 2024 Valentyn Ogirenko / Reuters

Although the consequences for the United States of any one of these developments may be limited, in aggregate, Russia’s actions are magnifying the challenges facing Washington. In Niger, Russian support eased the new government’s decision to force the United States to abandon a base it used to launch counterterrorism missions in the Sahel. If Russia were to ramp up its support for the Houthis and provide them with antiship missiles, the militant group would be better able to strike commercial vessels in the Red Sea and raise the threat to the U.S. and European warships defending them. Once the fighting in Ukraine ends, Russia could devote significantly more resources and attention to the Houthis and other groups or countries that threaten U.S. interests.

Some observers have held out hope that China’s concern for its economic interests will induce it to rein in Russia. But Beijing’s actions so far indicate no such effort. China did not object to Russia’s support for the Houthis, despite the risks to global shipping. Even if Beijing is wary of Russia’s deepening relations with North Korea, it is unlikely to intervene, not least because it does not want to spoil its long-standing relationship with Pyongyang. Instead, China seems content to let Russia roil the international system and take advantage of the resulting disorder to further its own rise. If there is to be any check on Russia’s destabilizing activities, then, it will have to come from the West.

THE AXIS OF UPHEAVAL

Russia’s effort to support China, Iran, and North Korea is among the most pernicious problems posed by Moscow. Russia’s war in Ukraine has spurred a level of cooperation among those countries that few thought was possible, and the Kremlin has operated as the critical catalyst. The arrival of North Korean troops in Russia is a worrisome reminder that with highly personalized authoritarian regimes at the helm in Russia and North Korea and with the regimes in China and to a lesser extent Iran moving in this direction, cooperation can evolve rapidly and in unpredictable ways.

A body of political science research shows that this particular type of regime tends to produce the most risky and aggressive foreign policies. Countries with personalist authoritarians at the helm are the most likely to initiate interstate conflicts, the most likely to fight wars against democracies, and the most likely to invest in nuclear weapons. Russia’s growing military and political support for China, Iran, and North Korea will only facilitate these tendencies. And Moscow, by now having shed its concern with its international reputation, is likely to become even less constrained in its willingness to aid even the most odious of regimes.

Russian support for fellow members of this axis of upheaval, therefore, could bring disorder to key regions. Take the Chinese-Russian relationship. Although Moscow has supplied Beijing with arms for years—including advanced fighter aircraft, air defense systems, and antiship missiles—their defense ties have deepened at an alarming rate. In September, for example, U.S. officials announced that Russia had provided China with sophisticated technology that will make Chinese submarines quieter and more difficult to track. Such an agreement was hard to imagine just a few years ago, given the sensitive nature of the technology. With Beijing and Moscow working together, the U.S. military advantage over China could erode, making a potential conflict in the Indo-Pacific more likely if China believes it has the upper hand.

The costs of resisting Russia will only rise.

Russia’s support for Iran is similarly troubling. Moscow has long sent tanks, helicopters, and surface-to-air missiles to Tehran, and it is now supporting the Iranian space and missile programs. Since Russia’s intervention in Syria in 2015 to shore up the rule of President Bashar al-Assad—joining Iran in that effort—Moscow and Tehran’s increased interaction has enabled them to overcome a historic distrust and build the foundations of a deeper and more durable partnership. A decade ago, Russia participated (if warily) in the international negotiations that led to the 2015 Iran nuclear deal. But today, Moscow seems far less interested in arms reduction or nonproliferation. As the wars in the Middle East degrade Iran’s proxies and expose the limits of its ability to deter Israel, Tehran’s interest in acquiring a nuclear weapon may grow—and it may turn to Russia for help. That help could be overt, with Moscow offering the expertise needed for weapon miniaturization, for example, or it could be indirect, with Russia shielding Tehran from UN action. Iran’s acquisition of a nuclear weapon, in turn, could send other countries in the region, such as Egypt or Saudi Arabia, scrambling to nuclearize, effectively ending the current era of nonproliferation in the Middle East.

In the case of North Korea, Russia’s support raises the risk of instability on the Korean Peninsula. According to South Korean officials, Pyongyang has requested advanced Russian technologies to improve the accuracy of its ballistic missiles and to expand the range of its submarines in return for North Korea sending its troops, ammunition, and other military support to Russia. And it is not just advanced equipment that could make North Korea more able and, perhaps, more willing to engage in a regional conflict. North Korean troops deployed to Russia are now gaining valuable battlefield experience and insight into modern conflict. Moscow and Pyongyang also signed a treaty in November establishing a “comprehensive strategic partnership” and calling on each side to come to the other’s aid in case of an armed attack—an agreement that could potentially bring Russia into a fight between North Korea and South Korea.

It is tempting to imagine that if the United States presses Ukraine to end the war and pursues a more pragmatic relationship with Russia, Moscow’s cooperation with members of this axis could lessen. Yet this is wishful thinking. The growing ties among China, Iran, North Korea, and Russia are driven by incentives far deeper than the transactional considerations created by the war in Ukraine. If anything, concessions made to Russia to end the war would only enhance the Kremlin’s ability to help its partners weaken the United States.

ORDER OF OPERATIONS

Russian ambitions may not stop at Ukraine, and in the absence of Western action today, the costs of resisting Russian aggression will only rise. Russia is a declining power, but its potential to stir conflict remains significant. Thus, the burden of deterrence and defense against it is not going to lighten in the near term. And because changes to defense spending, procurement, and force posture require significant lead times, Washington and its allies must think beyond the current war in Ukraine and start making investments now to prevent Russian opportunistic aggression later on. Europe must channel its rising defense spending into expanding the organizational capacity and logistical support necessary to make independent action possible if the U.S. military is engaged elsewhere. Giving in to Russia’s demands will not make it any easier or cheaper to defend Europe—just look at the events of the past two decades. At every turn—the war in Georgia in 2008, Russia’s first invasion of Ukraine in 2014, and its deployment of troops to Syria in 2015—Putin has grown only more willing to take risks as he comes to believe that doing so pays off.

Washington undoubtedly has competing priorities that will shift its focus away from the Russian threat—China foremost among them. But to effectively address China, Washington must first set European security on the right path. The United States cannot simply hand off European security to a Europe that is not yet capable of managing the Russian threat. If Washington downsized its commitment to Europe prematurely, Moscow could take it as a sign of growing U.S. disinterest and use the opportunity to press ahead.

 

A Ukrainian soldier in Zaporizhzhia region, Ukraine, December 2024 Stringer / Reuters

 

The prioritization of U.S. policies is important, but so is the sequencing. The Trump administration will first have to manage the war in Ukraine. Helping Ukraine achieve an end to the war on favorable terms is the clearest way to reduce the threat of aggression from Russia and the axis of upheaval that supports it. This agreement would need to be embedded in a larger strategy to contain Russia and preserve Ukrainian security. NATO should do away with the 1997 NATO-Russia Founding Act, which prohibits permanent deployments of allied forces near Russia, and station troops on NATO’s eastern flank. The alliance should also raise its members’ defense spending targets, increase its readiness, and improve its ability to deploy forces to defend threatened member states. Western countries should maintain and better enforce sanctions and export controls on Russia for at least as long as Putin remains in power. Western countries must also invest in Ukraine’s defense sector and ensure that Ukraine can sustain its own armed forces to deter Russia from invading again. Although these measures would not end the confrontation with Russia, they would blunt Moscow’s ambitions and its capacity to both stir conflict in Europe and strengthen its partners in other parts of the world.

The Trump administration must also preserve the United States’ role as the primary enabler of European security while working to reduce the burden of its maintenance. European states must become more capable of collective action that does not require U.S. aid. They may still rely on the United States in some circumstances, but the extent of their dependence can be significantly reduced. Over time, the United States will become freer to focus on China as it shifts more defense responsibilities to Europe. And in the meantime, it will avoid an overly hasty, chaotic pivot that would only encourage and embolden Moscow and could result in Russia eventually launching a reckless war, either against NATO or once again against Ukraine.

There is no easy resolution to the West’s confrontation with Russia. Russian revisionism and aggression are not going away. Even if the current war in Ukraine is settled via an armistice, without some kind of security guarantee for Ukraine, another war is likely. Ignoring Russia or assuming that it can be easily managed as the United States turns its attention to China would only allow the threat to grow. It would be far better for the United States and its allies to take the challenge from Russia seriously today than to let another conflict become a more costly proposition tomorrow.