O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Lulo-petismo: o escorbuto do Brasil em sua travessia maritima para a democracia

Os marinheiros da época dos Descobrimentos eram vitimados pelo escorbuto, nas longas travessias marítimas sem acesso a comida fresca. Demorou até que os empreendedores mercantis, em seu interesse próprio aliás, descobrissem medidas práticas para vencer o mal.
Pois o Brasil é afetado pela mesma doença em sua difícil travessia para a democracia de qualidade. O escorbuto do Brasil se chama lulo-petismo, e é uma enfermidade que se espera temporária e extinguível, de preferência definitivamente.
Esta comparação entre antipetismo e antissemitismo é moralmente abjeta e politicamente deplorável, e deve ser absolutamente rejeitada, como faz este conhecido jornalista.
Paulo Roberto de Almeida 


Reinaldo Azevedo, 09/07/2015
 às 6:43

Vídeo esquerdista associa o antipetismo ao antissemitismo. Judeus do Brasil e de todo o mundo, levantem sua voz contra essa vergonha

Circula na Internet um troço asqueroso — oriundo daqueles blogs chamados “sujos”, que nada mais são do que extensões do PT — que associa o crescente repúdio da sociedade ao partido à perseguição sofrida pelos judeus na Alemanha nazista. O vídeo está abaixo. Volto em seguida.
A primeira imagem que aparece na tela já é de uma notável delinquência intelectual. Está lá: “Os petistas, os judeus… e o nazismo, o que ele têm em comum?”
Mesmo para os propósitos asquerosos da peça, a pergunta é energúmena. Houvesse alguma lógica no lixo moral, indagar-se-ia outra coisa: “O antipetismo, o antissemitismo e o nazismo, o que eles têm em comum?”.
E, em qualquer caso, a resposta seria “nada”. Comparar qualquer coisa ao nazismo raramente resulta em pensamento que preste. É o caso de lembrar a “Lei de Godwin”, referência a uma afirmação do advogado Mike Godwin: “À medida que se exacerba um debate online, a probabilidade de surgir uma comparação envolvendo Adolf Hitler ou o nazismo aproxima-se de 1” — ou seja, de 100%. Acontecerá. Portanto, de saída, associações dessa natureza já se descredenciam.
A menos, claro, que as similaridades sejam realmente apontadas, factualmente indicadas, que não se fique apenas na retórica oca. E, é claro, isso o vídeo petista não faz porque é impossível.
Notem: o nazismo era uma corrente de militância que nasceu antissemita — e, no caso, pouco importava o que os judeus fizessem ou deixassem de fazer. Os nazistas resolveram apontar o “mal” que eles causariam à Alemanha partindo do princípio de que agiram do mesmo modo história e mundo afora porque conspiradores pela própria natureza. A loucura antissemita havia atingido o estado da arte no fim do século 19 com o surgimento, na Rússia czarista, dos “Protocolos dos Sábios de Sião”, um suposto plano de judeus e maçons para dominar o mundo.
O antissemitismo, à diferença do antipetismo, não se sustenta em uma base objetiva de dados. Os judeus carregriamam o mal porque judeus, e, se são judeus, só podem ser maus. E ponto. É preconceito na sua acepção mais original, primitiva. Se uma máquina de guerra chega ao poder num país tendo o ódio aos judeus como um pilar, as consequências são aquelas conhecidas.
Preconceito contra o PT? Como assim? O partido elegeu quatro vezes o presidente da República. Trata-se da legenda com o maior número de filiados do país. O Brasil votou majoritariamente num ex-operário — repudiando o preconceito de classe — e numa mulher, repudiando o preconceito de gênero. Criou-se, em torno de Lula, ao contrário do que vai naquela peça lamentável, uma esfera de preconceito positivo: passou-se a cultivar a imagem de um homem naturalmente sábio, que já teria vindo ao mundo com a memória da humanidade; que não precisaria nem se entregar ao luxo de estudar.
Os judeus não assaltaram os cofres da Alemanha.
Os judeus não assaltaram as empresas públicas.
Os judeus não conduziram a Alemanha à ruína econômica.
Os judeus não se colocavam como a fonte única da virtude.
Os judeus não procuraram ser a única força da qual poderia emanar o bem possível.
Se, hoje, em número crescente, brasileiros identificam o PT com o roubo e com a bandalheira, é porque petistas, no poder, se entregaram ao roubo e à bandalheira. Judeus não saíram na Alemanha hitlerista a acusar adversários depois de flagrados metendo a mão no dinheiro público — até porque isso não aconteceu.
O antipetismo que está nas ruas não nasce de um preconceito, mas de uma constatação. Não se repudia exatamente o petista, mas o partido. Embora, na maioria das vezes, um petista saiba o que significa o petismo.
À diferença do que está no vídeo, ademais, ninguém acusa o PT de deter o monopólio do roubo. Ao contrário: o que se cobra é onde está aquele partido que dizia ter o monopólio da virtude.
Não se esgota aí a vigarice intelectual do vídeo. Quem discrimina um judeu por seu judeu, um gay por ser gay, um negro por ser negro, um branco por ser branco, um hétero por hétero (e por aí afora…) está, na prática pedindo a exclusão do mundo não apenas do objeto particular de seu repúdio, mas de todos os que exibem aquele mesmo “defeito” original. Não se pode escolher ser judeu, gay, negro, hétero…
Mas se pode, sim, escolher ser petista ou não. Que eu saiba, não se trata de um etnia, de uma raça, da qual não se possa abrir mão, ainda que alguém eventualmente quisesse.
O petismo é tão-somente a escolha de um partido e da forma como se entende a política. Nada mais. O mesmo vale para qualquer outra legenda.
É estupefaciente que se comparem os militantes de uma máquina de assalto ao poder com os judeus perseguidos na Alemanha. É, além de tudo, ofensivo. Quantos petistas irão para a câmara de gás? Quanto serão fuzilados sem defesa? Quando serão enterrados em vala comum? Quantos terão confiscados seus bens?
Judeus do Brasil e de todo o mundo, com essa peça publicitária, essa gente, definitivamente, passou dos limites. Até porque, fosse o caso de comparar, o que o tal vídeo fala sobre a imprensa remete às palavras de Goebbels, ministro da propaganda nazista, num comício de 10 de fevereiro de 1933, 11 dias depois de Hitler se tornar chanceler. O vídeo segue abaixo. A tradução do que ele disse está aqui:
Encerro
O PT, felizmente, ainda não virou nem uma raça nem uma condição humana. Trata-se apenas de um partido que produziu alguns desastres no Brasil. E, por isso, é alvo da crítica de muita gente.
Judeus do Brasil e de todo mundo, repudiem a associação indecorosa que empresta ao antipetismo a importância que não tem e retira do holocausto judaico a importância que tem.
Texto publicado originalmente às 20h30 desta quarta
Por Reinaldo Azevedo

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Comunismo: livro "O Retrato", de Osvaldo Peralva (2a. edicao)

Este livro já era famoso, e esgotado, "inencontrável", quando eu estava me iniciando no marxismo, no início dos anos 1960. Tinha sido sabotado pelos comunistas, do Partidão, e pelas demais correntes de esquerda, e nunca foi reimpresso ou reeditado.
Tive de aproveitar uma ida ao Rio de Janeiro, em algum momento muito depois, para ler o exemplar original na Biblioteca Nacional.
Sempre tive excelente impressão dessa obra, muito sincera, pois conhecia o caso de outros "renegados" do comunismo soviético, e sabia exatamente o que tinha sido o stalinismo e o comunismo soviético.
Acredito que vale a leitura ainda hoje, sobretudo pela introdução de Antonio Paim, outro dos jovens "comunistas" que deixaram de sê-lo depois de uma viagem a Moscou e ao travar conhecimento direto com a fraude que era o regime socialista soviético, um sistema de mentira, de fraude, de opressão, de mediocridade, exatamente como são os companheiros ainda hoje.
O título da matéria da Folha é execrável: "virar casaca" significa trair uma causa, abandonar a postura que se tinha, em troca de alguma vantagem material. Não parece ao autor do título que o jornalista em questão apenas descobriu que a realidade era muito diversa, o contrário, do que lhe pintavam antes.
Nesse sentido, o título correto da matéria deveria ser:
Jornalista descobre a fraude do comunismo soviético, ao conhecer a realidade do stalinismo
Paulo Roberto de Almeida

FolhS. Paulo, 06/05/2015 - 16h22

Jornalista comunista vira a casaca depois de visitar a URSS de Stálin

da Livraria da Folha
Ouvir o texto
Isonomia e liberdade do proletariado que se emancipou dos grilhões do capital. Era isso que o jornalista Osvaldo Peralva queria ver quando foi estudar em Moscou em 1953, mas descobriu um governo autoritário fundamentado na violência e no medo.
Em "O Retrato", a narrativa autobiográfica de uma desilusão, Peralva descreve a experiência na União Soviética e apresenta um panorama do Partido Comunista no Brasil.
O autor, que conviveu com os famintos que vagavam pelo interior da Bahia, entrou no PCB em 1942. Apaixonado pela ideologia marxista e pela militância no partido, ele foi à URSS como representante do Kominform, organização que controlava os Partidos Comunistas de todo o mundo.
Peralva foi o quarto homem na hierarquia do Partido, atrás do chefe do PC em Moscou, de Luís Carlos Prestes e do secretário-geral Diógenes Arruda Câmara. A Escola em Moscou não se limitava ao ensino dos fundamentos teóricos do marxismo-leninismo e a formar revolucionários de tipo bolchevista.
Segundo o autor, o curso era uma espécie de lavagem cerebral, que buscava produzir agentes capazes de executar "as ordem mais absurdas", sem vacilar, e que "não tentasse pensar, a não ser por meio de chavões, para evitar desvios da linha do Partido, fixada pela direção suprema".
"Através da pressão ideológica e do próprio regime de internato, onde se fazia a apologia da obediência cega e do endeusamento de tudo que fosse soviético", conta, "buscava-se transformar cada aluno em um indivíduo despersonalizado, sem quaisquer interesses ou vontade que não fosse os interesses e a vontade da direção do Partido".
Divulgação
Um dos mais contundentes relatos políticos brasileiros do século 20
Um dos mais contundentes relatos políticos brasileiros do século 20
A decepção o acompanhou na volta para o Brasil. As contradições do PCB, que reproduzia o terrorismo ideológico e o culto à personalidade, destruíram a ilusão do jornalista.
No 20º Congresso do Partido Comunista da União Soviética (PUCS), em 1956, Nikita Kruschev revelou os crimes do período em que Stálin governou a URSS (1924-53). O Relatório de Kruschev, também chamado de "relatório secreto", provocou uma crise no comunismo quando o texto foi divulgado.
Os militantes se dividiram. Alguns refletiram sobre a própria ideologia, outros preferiram acreditar que se tratava de uma fraude elaborada pela CIA. Peralva rompeu com o comunismo no fim da década de 1950.
"A leitura de 'O retrato' pode contribuir para que pessoas de bom senso revejam esse tipo de opção", escreve Antonio Paim na apresentação à edição.
Nascido na Bahia, em 1918, Osvaldo Peralva escreveu para os jornais "Última Hora", Correio da Manhã" e Folha de S.Paulo. Apesar de o autor ter abandonado o comunismo, ele foi preso e exilado após o AI-5, em 1968. Viveu na Alemanha Ocidental e regressou ao Brasil com a Lei da Anistia, em 1979. Morreu em 1992, no Rio de Janeiro.
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O RETRATO
AUTOR Osvaldo Peralva
EDITORA Três Estrelas
QUANTO R$ 59,90 (preço promocional*)
Políticos são iguais em todo lugar. Eles prometem construir pontes mesmo onde não há rios. Nikita Kruschev

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Comentário de 

Carlos U Pozzobon

1 dia atrás  -  Compartilhada publicamente
 
Tenho uma edição dos anos 60, em formato de bolso. O Peralva assumiu com dignidade os erros cometidos no Kominform e conseguiu relatar com serenidade uns 15 anos de militância no PCB, a maior parte convivendo com comissários do Comitê Central. Fornece detalhes preciosos sobre a vida clandestina do PC e sobre as ações internacionais de Moscou, citando uma grande plêiade de comissários do período. Foi um dos que se desiludiu com a causa a partir do relatório Kruvchov. Ele conta que ao ler a denúncia contra Stálin em Bucareste, onde funcionava o Kominform, ficou 5 dias sem poder dormir, tremendo com o desconforto de ver o pai dos povos ser denunciado como um tirano assassino. A partir daí começou a observar melhor os seus pares e concluiu que o movimento comunista era gerido por uma mística (sic) em que os fatos e narrativas tinham uma simbologia própria de interpretação da realidade. Seu livro tem a preciosidade de ser uma fonte de dados sobre o comportamento dos próceres comunistas em uma época que passou, mas que deixou sequelas em sociedades atrasadas onde o niilismo se tornou uma doença social tão renitente quanto o subdesenvolvimento que as sufocam. 
 

Brasil: o futuro do país está no passado (de outros países...) - Paulo Roberto de Almeida

Um texto de 2012, feito para subsidiar palestras minhas a jovens empresários e estudantes no Rio Grande do Sul e em Minas Gerais, e que ainda se revela válido para os tempos atuais.


Brasil: o futuro do país está no passado (de outros países...):
proposta para uma Fronda Empresarial

Paulo Roberto de Almeida

As revoluções e os progressos institucionais: dilemas históricos
O título deste ensaio pode parecer contraditório, mas nele pretendo argumentar que a sociedade brasileira, por não ter passado por transformações institucionais, ou culturais, que outras nações lograram alcançar no passado, enfrenta hoje sérias dificuldades para realizar todo o potencial de desenvolvimento e de prosperidade, a que seu povo está legitimamente no direito de aspirar.
Qualquer observador sensato do cenário econômico e político do Brasil contemporâneo concordaria em que o país necessita de sérias reformas, nas mais diferentes vertentes da vida nacional, e até em suas relações externas. Dirigentes sensatos costumam empreender reformas, periodicamente, como meio de evitar crises políticas ou turbulência econômicas, ou até distúrbios mais graves, eventualmente, inclusive, conflitos sociais, podendo chegar até a rupturas revolucionárias. Países que empreendem reformas, como parte de seu processo natural de adaptação a novos desafios domésticos ou à dinâmica da economia internacional, poupam a si mesmos de sofrimentos inúteis nos planos econômico ou político. Existem também aqueles que acreditam que o Brasil necessita de uma verdadeira revolução, em várias áreas.
Revoluções não são planejadas; elas acontecem; não existem líderes políticos, por mais poderosos ou convincentes que sejam, por mais messiânicos que apareçam aos olhos da massa, que consigam “produzir” revoluções verdadeiras, no seu sentido contemporâneo, ou seja: processos violentos de transformação da ordem política e social comportando a derrocada, mais ou menos completa, e o afastamento do poder de antigas elites dominantes e sua substituição por novos estratos dirigentes, geralmente aqueles que ascendem como líderes no curso do processo revolucionário.
As grandes revoluções sociais conhecidas nos últimos séculos, desde a revolução inglesa do século 17 – a de Oliver Cromwell, cuja condução da guerra civil entre o Parlamento e o rei levou à decapitação deste último – até a revolução camponesa conhecida na China do século 20 – que terminou numa guerra de posições entre os exércitos do Partido Comunista e o do Kuomintang – não ocorreram como decisão de nenhum líder político ou militar: elas ocorreram como resultado de forças sociais muito poderosas, cujas iniciativas e ações muitas vezes escaparam ao controle de seus principais protagonistas. Entre esses exemplos, muitas outras revoluções sociais ocorreram, sempre pela conjunção de variáveis imprevisíveis e de fatores contingentes, com algum elemento fortuito atuando como gatilho: fomes, profundas crises econômicas, guerras, cisão das elites dirigentes no comando do Estado, enfim, grandes comoções sociais que alteram o jogo normal do processo político e seu encaminhamento normal.
Grandes líderes políticos ou dirigentes sociais podem, no máximo, conduzir revoltas, conflitos, enfrentamentos, guerras de guerrilha, ou até putschs e golpes de Estado, como fizeram Lênin, Mussolini, Getúlio Vargas, além de muitos outros, sempre no quadro de crises políticas mais ou menos graves em suas respectivas sociedades. Também existem aqueles que ascendem pela via eleitoral, mas que depois provocam alterações profundas no sistema político, até no sentido de ditaduras perfeitas, como pode ter sido o caso de Hitler, nos anos 1930, e, atualmente, num país bem perto do Brasil.
Nem todas as revoluções atuam num sentido positivo, ou seja, remodelar a estrutura social e o sistema político em certas sociedades, de modo a renovar as elites dirigentes num sentido progressista, ou libertário, modernizando o aparelho do Estado e permitindo a incorporação de novos estratos sociais ao jogo político, se necessário com a redução do poder político e econômico de velhas elites dirigentes. Várias delas terminam em tragédia, resultando, na prática – senão em intenção – em ditaduras criminosas, como pode ter sido o caso da revolução bolchevique (na verdade, um simples putsch leninista, em sua origem), o da conquista do poder pelo Partido Comunista da China, sob a liderança de Mao Tsé-tung, bem como a própria revolução cubana, atualmente um dos últimos e tristes exemplos de um stalinismo anacrônico, junto com seu outro regime irmão, ainda mais surrealista, o da Coréia do Norte.
A revolução francesa, que é considerada o protótipo ideal de uma grande revolução social – pelo menos para os historiadores marxistas –, ainda que resultando, teoricamente, na derrocada do Ancien Régime e na ascensão da burguesia e de um Estado moderno, não representou, necessariamente, um progresso social e econômico decisivo para a França do século 19. Aliás, até mesmo um historiador marxista, como Eric Hobsbawm, reconhece que a revolução francesa pode ter atrasado a remodelação do país num sentido capitalista, ao ter fragmentado exageradamente a propriedade da terra, obstaculizando a modernização capitalista da agricultura, e ao criar um Estado extremamente centralizado, com burocracia poderosa, que manteve muitos negócios sob o estrito controle de elites dirigentes que tendem, ainda hoje, a reproduzir os privilégios do Antigo Regime. Não é novidade para ninguém que a França tem enormes dificuldades para empreender reformas modernizantes, que vive dominada por corporações que controlam o Estado e que é, possivelmente, o país europeu mais estatizado do continente, com aproximadamente 25% da população economicamente ativa na condição de funcionários públicos. Talvez o Brasil aprecie esse modelo.
Outras revoluções produzem resultados bem mais favoráveis, tanto do ponto de vista político, como social, abrindo espaço para o desenvolvimento dos negócios, a riqueza e a prosperidade; tal é indiscutivelmente o caso da chamada “Revolução Gloriosa”, ocorrida na Inglaterra em 1688, que completou a obra da desastrosa guerra civil que a precedeu, no sentido de reafirmar a preeminência do Parlamento sobre o poder autocrático do soberano, mas sem necessitar decapitá-lo, desta vez, apenas remetendo-o ao exílio e importando uma outra casa reinante; trata-se da mesma que sobrevive até hoje no Reino Unido, mas que absolutamente não governa, sendo o país o sistema mais antigo, no mundo, de regime parlamentar plenamente democrático e estável. Outro exemplo, cem anos após, mas contra o rei e o parlamento britânicos, é o da revolução da independência americana, feita sob a inspiração de iluministas escoceses e ingleses, mas influenciada também por constitucionalistas franceses, e que foi conduzida sob a forma de uma revolta cidadã contra a extorsão tributária que o rei inglês pretendia impor aos seus súditos das treze colônias americanas.
 (...)

Leiam o resto nos links indicados:  http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/2433FuturoBrasilFrondaEmpres.pdf e
https://www.academia.edu/5962599/2433_Brasil_o_futuro_do_pa%C3%ADs_est%C3%A1_no_passado_de_outros_pa%C3%ADses..._proposta_para_uma_Fronda_Empresarial_2102_

Itamaraty e funcionarios publicos: reajuste sub-inflacionario

Reajuste de 21% em quatro anos é, de fato, arrocho salarial, em vista da inflação crescente dos últimos anos e da deste ano e do próximo. Governo do PT retoma práticas do regime militar. 
Paulo Roberto de Almeida 

ASSOCIAÇÃO DOS DIPLOMATAS BRASILEIROS        ADB

 

Nota ADB nº 002/2015

 

 

NEGOCIAÇÕES DE REAJUSTE SALARIAL NO MPOG: 

JUIZ ANULA VOTAÇÃO DO SINDITAMARATY. ADB PARTICIPA DE REUNIÃO NO MPOG.

 

Em decisão liminar proferida em ação judicial movida pela Associação dos Diplomatas Brasileiros (ADB), a Dra. Patrícia Birchal Becattini, Juíza do Trabalho, declarou nulas as deliberações do Sinditamaraty tomadas durante a Assembleia-Geral Extraordinária de 1º e 2 de julho passado, bem como votação "on line"realizada ontem – as quais permitiriam à entidade propor, ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão(MPOG)critério assimétrico para a recomposição das perdas inflacionárias das três carreiras integrantes do Serviço Exterior Brasileiro (SEB).

 

A ADB havia ajuizado a ação, em 6 de julho, alegando que as deliberações do Sinditamaraty teriam lesado os interesses dos diplomatas, uma vez que o pagamento não-linear do reajuste salarial, atualmente em negociação no MPOG, implicaria perdas reais significativas para a classe. A ADB invocou, ainda, irregularidades procedimentais na condução do processo decisório no Sindicato.

 

Transcrevem-se, abaixo, trechos relevantes da decisão liminar:

 

"A votação e a assembleia do sindicato estão eivadas de nulidade, pois não foi permitida a votação e participação de toda a categoria, com mudança das regras de votação dentro da mesma assembleia.

Desse modo, concedo a medida liminar requerida, declarando nulas as deliberações da assembleia do sindicato réu nos dias 01 e 02 de julho de 2015 e votação on line finalizada no dia 06/07/2015 às 18 horas por não refletir a manifestação de toda a categoria e em face da não observância da convocação inicial que chamou todos os servidores para participarem e votarem. (...)"

 

ADB participa de reunião no MPOG sobre reajuste salarial

 

Em mais uma ação voltada à defesa dos interesses dos diplomatas, a ADB participou de reunião com o Secretário de Relações do Trabalho do MPOG, em 7 de julho corrente. Na ocasião, 56 entidades representativas de 1 milhão e 200 mil servidores públicos apresentaram suas primeiras reações à contraproposta do MPOG de recomposição inflacionária de 21,3%, distribuídos ao longo de quatro anos.

Em sua intervenção, o representante designado pela ADB, Ministro Adriano Pucci, ressaltou que a Associação se somou ao processo de negociação porque a fórmula de reajuste não-linear defendida pelo Sinditamaratyacarretaria graves perdas financeiras unicamente para a categoria dos diplomatas no curso do quadriênio. Citou, nesse contexto, a liminar concedida à ADB como indicativo de que aquelas deliberações não haviam sido tomadas em conformidade com a legislação sindical.

O Dr. Sérgio Mendonça (SRT/MPOG) tomou por unânime a recusa das entidades presentes ao reajuste ofertado. Tendo ouvido as diversas reivindicações, dividiu-as em doiplanosgeral e setorial. No plano geral, indicou que o Governo tomará em conta a preocupação com a insegurança que uma proposta plurianual suscita e que considerará a possibilidade de nova oferta, em linha com as reações registradas hoje, observada a premissa do equilíbrio entre as despesas de pessoal do funcionalismo e as exigências fiscais em vigor. No plano específico das distintas carreiras, acolheu a sugestão de organizar negociações sob a forma de mesas setoriais restritas às demandas prioritárias de cada categoria. A ADB continuará a participar de ambos os processos, em sintonia com as postulações dos diplomatas.

 

Sessão Informativa sobre a Negociação em Curso no MPOG

9 de julho, quinta-feira, 14h – Auditório Paulo Nogueira Batista

 

A ADB convida todos os diplomatas (associados ou não) a participar de encontro informativo, a ser realizadono dia 09/07/2015 (próxima quinta-feira), às 14h00, no Auditório Paulo Nogueira Batista (Palácio Itamaraty, Anexo II, Térreo), quando a Diretoria apresenta um balanço preliminar da reunião realizada hoje no Planejamento. Na oportunidadeserão examinadas as propostas de negociação e discutidos os principais pleitos dos diplomatas.

 

Brasília (DF), 7 de julho de 2015.

 

A marcha do impeachment: editoral despudorado do Estadao

Parece que a coisa vai se acelerar em agosto, mês aziago.
Paulo Roberto de Almeida 

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, talvez por dever de oficio, reagiu à intensificação do movimento pelo afastamento da presidente Dilma Rousseff acusando a oposição de, inspirada por reprovável “despudor democrático”, estar promovendo o golpismo e o revanchismo eleitoral. As declarações de Cardozo foram feitas no mesmo dia em que o Estado publicou artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso contendo uma lúcida e aguda análise do papel das oposições diante da crise que o País enfrenta. Argumentou o ex-presidente que das oposições se espera que não tenham “o propósito antidemocrático de derrubar governos, mas tampouco o temor de cumprir seus deveres constitucionais, se os fatos e a lei assim o impuserem”.
Em entrevista à Folha de S.Paulo, o ministro da Justiça afirmou: “É de um profundo despudor democrático e de um incontido revanchismo eleitoral falar em impeachment da presidente como têm falado alguns parlamentares da oposição”. E acrescentou: “O desejo de golpe sob o manto da aparente legalidade é algo reprovável do ponto de vista jurídico e ético”.
Preocupado em mostrar serviço por pressão de seu próprio partido, Cardozo equivoca-se. As condições para que a discussão sobre eventual afastamento da presidente da República tenha entrado na agenda política não foram dadas pela oposição, mas pela própria Dilma Rousseff e pela incompetência de seu governo, que têm sido alvo de duros ataques até mesmo por parte do ex-presidente Lula. Foram as investigações da Lava Jato e as delações premiadas, e não a oposição, que levantaram suspeitas sobre a arrecadação de recursos na campanha reeleitoral de Dilma, abrindo a possibilidade de o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) vir a cassar-lhe o mandato. É o Tribunal de Contas da União (TCU), e não a oposição, que acha que as “pedaladas” fiscais de Dilma atentam contra a Lei de Responsabilidade Fiscal e por isso ameaça reprovar as contas, o que abriria a possibilidade de, neste caso, o Congresso cassar-lhe o mandato. Não havia nada parecido com tudo isso quando, na oposição, o PT do ministro Cardozo sentiu-se no direito de exigir “Fora FHC”, por despudor democrático.
As condições políticas que estimulam a discussão do impeachment no âmbito do Congresso foram criadas pela incompetência de Dilma e de seus conselheiros políticos que, sob o efeito inebriante da vitória eleitoral em outubro, tiveram a pretensão de passar por cima de seu principal aliado, o PMDB, e impor sua vontade na eleição do novo presidente da Câmara dos Deputados. Deu no que se vê.
Não é, portanto, o “despudor democrático” da oposição que está colocando em risco o mandato de Dilma Rousseff. As forças políticas que se opõem ao governo têm a responsabilidade – enfatizada por Fernando Henrique – de apontar um rumo para o País diante da crescente possibilidade de que Dilma seja legalmente impedida ou até mesmo se afaste espontaneamente da Presidência da República.
Se isso vier a ocorrer terá sido o resultado não de um golpe, como querem os defensores da presidente, mas da aplicação das medidas constitucionais destinadas a garantir a estabilidade das instituições republicanas, hoje ameaçadas – nunca é demais repetir – pela corrupção apascentada por eminentes líderes do PT e aliados, pela incompetência gerencial e pela desastrada ação política da chefe do governo, que resultaram na ampla reprovação popular a seu desempenho.
É preciso levar em conta ainda o fato de que o afastamento de Dilma pode representar, por paradoxal que pareça, o melhor caminho para a sobrevivência, no prazo mais curto, do projeto de poder do PT e da ambição de mando de seu principal líder. Pois parece ser isso o que leva Lula, diante da improvável perspectiva de recuperação da economia em tempo hábil para tornar possível a sua eleição em 2018, a dar uma no cravo e outra na ferradura quando se refere a sua criatura, sinalizando a intenção de descolar-se do desastre em que se transformou o governo de sua pupila e sucessora.
Com o impeachment ou a renúncia de Dilma, quaisquer que sejam os desdobramentos constitucionais, Lula estaria livre para assumir o comando da oposição com tempo suficiente para destilar o discurso de vendedor de ilusões que sempre embalou sua carreira populista. Aí sim, se consumaria o verdadeiro despudor democrático. (Estadão).

terça-feira, 7 de julho de 2015

Itamaraty: desventuras bolivarianas se acumulam

Oh céus, depois de tanto tempo dando certo, todo mundo se locupletando e se beneficiando, foi acontecer logo comigo, urubu no meu pedaço, mosca na minha sopa, caroço no meu angu?
Eu mereço isso?
O tempora, o mores...

Blog Lauro Jardim, terça-feira, 7 de julho de 2015

11:32 \ Governo

Em campanha por Madri

Simões tem se articulado

Simões tem se articulado

Indicado por Dilma para a embaixada do Brasil em Madri,Antonio Simões tem se articulado para evitar ser boicotado pela oposição em sua sabatina no Senado.

Durante a leitura do relatório da indicação, Romero Jucá e Edison Lobão foram à Comissão de Relações Exteriores elogiá-lo.

O temor é que o clima contrário à política externa do governo para a América do Sul prejudique sua indicação.

Atualmente, Simões é subsecretário-geral de América do Sul no Itamaraty e, portanto, está diretamente envolvido nas relações com os países vizinhos.

Por Lauro Jardim

Global Economic Prospects; the world in transition - a World Bank Report

Global Economic Prospects, June 2015 : The Global Economy in Transition

cb
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Global growth is expected to be 2.8 percent in 2015, but is expected to pick up to 3.2 percent in 2016–17. Growth in developing countries and some high-income countries is set to disappoint again this year. The prospect of rising borrowing costs will compound the challenges many developing countries are facing as they adapt to an era of low commodity prices. Risks to this outlook remain tilted to the downside. This edition of Global Economic Prospects includes two Special Features that analyze the policy challenges raised by the two transitions in developing countries: the risks associated with the first U.S. central bank interest rate increase since 2006 and the implications of persistently low commodity prices for low-income countries. Global Economic Prospects is a World Bank Group Flagship Report that examines global economic developments and prospects, with a special focus on developing countries, on a semiannual basis (in January and June). The January edition includes in-depth analyses of topical policy challenges faced by developing countries while the June edition contains shorter analytical pieces.
Citation
“World Bank Group. 2015. Global Economic Prospects, June 2015 : The Global Economy in Transition. Washington, DC: World Bank. © World Bank. https://openknowledge.worldbank.org/handle/10986/21999 License: CC BY 3.0 IGO.”
Collections
Global Economic Prospects

Reflexoes sobre o Brasil feitas em viagem - Paulo Roberto de Almeida


Um legado de desunião
O que foi feito do Brasil e o que cabe fazer no Brasil

Paulo Roberto de Almeida

O Brasil de 2014 se apresentava como um país profundamente dividido quando ele começou a sentir os primeiros efeitos da crise autoconstruída que se manifestaria com especial acuidade em 2015. Mas o Brasil de 2013 também já tinha sido dividido, assim como o mesmo Brasil dos anos anteriores, recuando no tempo até treze anos atrás aproximadamente. Foi naquele momento que o país começou a ser formalmente dividido em categorias sociais distintas – retoricamente separado entre “eles” de um lado, “nós” do outro – numa caracterização totalmente artificial, mas que valia de discurso político em diferentes circunstâncias, não apenas nas conjunturas eleitorais.
Esse tipo de discurso, na verdade, vigorava desde antes de 2003, mas passou a ser exercido em toda a sua exuberância a partir desse ano, quando chegou ao poder o partido salvacionista, maquiavelicamente envelopado na falsa retórica da “esperança que venceu o medo”. O discurso da separação era tradicional no partido segregacionista, na agremiação da luta de classes, no movimento maniqueísta que pretendia o resgate da profunda desigualdade social que sempre dividiu o país desde tempos imemoriais.
O discurso da separação exibia certa legitimidade, já que tinha fundamento nos dados da realidade brasileira, mas nas fileiras do partido segregacionista o argumento era defendido com ódio, com despeito, com desejos de vingança, mas sobretudo com a decisão de integrar um projeto de poder. Assim foi feito, e o Brasil mudou. Mudou para melhor? Talvez, pelo menos no plano da distribuição de alguns benefícios monetários a contingentes consideráveis de brasileiros desfavorecidos, não necessariamente porque eles constituíssem um exército de necessitados absolutos, mas porque eram uma parte assessória, mas importante, do mesmo projeto de poder.
O Brasil chegou a 2015 menos dividido do que se esperava, uma vez que parte considerável da cidadania decidiu romper com a mística fraudulenta da separação dos brasileiros entre “nós” e “eles”, ainda que para isso tenham contribuído duas crises simultâneas: a econômica, derivada dos equívocos acumulados por uma gestão particularmente inepta dos assuntos econômicos, e a política, que dela emergiu por que a sociedade que despertou do pesadelo da fraude separatista levou lideranças políticas a divergirem do partido hegemônico, convertido em partido das minorias. O legado de desunião semeado durante anos pelo partido segregacionista ainda produz efeitos no país, mas já não tem o poder de paralisar a cidadania e de determinar a agenda política. Ele sempre foi incapaz de unir, mas escondia esse fato sob a coberta do resgate social, que lhe serviu durante anos como retórica de legitimidade política. Isso agora acabou.
O Brasil de 2015 tem de recompor seu discurso político, seu tecido social, e as bases de funcionamento da governança, a começar pela restauração dos fundamentos econômicos que o coloquem novamente no caminho do crescimento, depois do imenso descalabro provocado pela inépcia dos segregacionistas. Não será uma tarefa fácil, nem pelo lado da eliminação dos desequilíbrios e desajustes econômicos, nem pela correção dos fundamentos morais da governança política, profundamente abalada pela gigantesca fraude causada por um partido composto por dirigentes eticamente delinquentes, e que ainda têm contas a ajustar com a justiça, mas sobretudo com a história.
O que falta fazer no Brasil é a recuperação do sentido moral da atividade política e a restauração da crença cidadã numa governança responsável. Para que isso seja feito, os anões morais precisam ser afastados do poder e banidos da política, abrindo espaço a que novas lideranças possam reconstruir o país segundo princípios que já figuram em sua carta maior, mas que foram vilmente ignorados e vilipendiados pelos delinquentes políticos que assaltaram o poder treze anos atrás. Os brasileiros estão prontos para banir a retórica da desunião, o discurso da separação, o apelo ao ódio de classes sociais e as falsas divisões regionais. A quase totalidade da cidadania disso já se convenceu: ela vai dar o empurrão final na classe política para que esta cumpra o seu dever.
A longa travessia do deserto dos homens e mulheres de bem, dos cidadãos simplesmente sensatos, está próxima do final. Um último esforço e o Brasil vai conseguir superar o legado da desunião.
Assim espero...

Em voo, Atlanta-Brasília, 2839: 7 de julho de 2015, 2 p.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Trapalhadas automotivas dos companheiros: Japao contra Brasil na OMC

BRASIL – OMC

Denúncia do Japão contra política industrial do Brasil surpreende governo
Assis Moreira
Valor Econômico, 6/07/2015

A denúncia feita pelo Japão contra o Brasil na Organização Mundial do Comercio (OMC), atacando as bases da política industrial no governo Dilma Rousseff, na semana passada, "causou ondas" e mal estar em Brasília. A decisão de Tóquio de comprar briga com o Brasil foi recebida com surpresa, justamente quando as duas diplomacias preparam visitas de alto nível para reforçar as relações econômicas: o príncipe herdeiro Nahurito pode ir ao Brasil entre fim de outubro e início de novembro; e a presidente Dilma Rousseff tem planos de ir ao Japão em dezembro.
Visivelmente crente de que tem um caso para ganhar, o Japão resolveu ampliar a pressão contra a política industrial turbinada por exigência de conteúdo local, que é pessoalmente defendida por Dilma Rousseff, passando de "terceira parte" na disputa aberta pela União Europeia (UE) para protagonista de seu próprio caso na OMC contra o Brasil.
Se o governo tivesse negociado com os países, que não cessaram de reclamar em comitês da OMC antes de recorrer aos juízes da entidade, provavelmente teria garantido a essência do Inovar-Auto e dos outros programas e evitado esses contenciosos. No entanto, diante da rigidez do governo, os parceiros foram adiante. Fontes do governo, ainda atônitas, dizem que houve conversas com as montadoras para mostrar que não valia questionar o Brasil na OMC por causa do Inovar-Auto, já que elas seriam ganhadoras com o programa.
O Japão, assim como fez a UE, ataca 14 programas brasileiros no total, desde o Inovar-Auto até setores de informática, automação, inclusão digital e outros. É possível que forças internas no Japão tenham prevalecido sobre as montadoras, no mínimo para evitar que o exemplo brasileiro seja copiado por outros emergentes - o que não reduz o mal estar bilateral.
Tóquio acusa o Brasil de ter adotado uma série de medidas fiscais que seriam discriminatórias contra produtos estrangeiros, e de concessão de "ajuda proibida" aos exportadores nacionais.
Esse litígio ilustra como, na ausência da reforma tributária e outras, o custo Brasil pesa tão fortemente em toda a cadeia produtiva que o jeito é inventar remendos para dar alguma competitividade, como o Inovar-Auto. Só que era possível fazer isso sem atropelar frontalmente as regras internacionais e ficar exposto a sanções dos parceiros. A própria maneira de descrever as medidas adotadas tem peso. O Ministério da Fazenda, por exemplo, sob o controle de Guido Mantega, chegou a definir o Regime Especial de Aquisição de Bens de Capital para Empresas Exportadoras (Recap) como programa para beneficiar "predominantemente companhias exportadoras", o que já coloca o Brasil na defensiva diante dos parceiros.
O histórico de 20 anos mostra que Brasil sabia usar as regras internacionais para derrubar barreiras para seus exportadores e para defender seu mercado. Foi assim que ganhou a briga do aço e de autidumping contra os EUA, do frango contra Argentina e UE, do açúcar contra a UE. Agora, a expectativa é sobre até que ponto os negociadores vão conseguir reduzir o impacto da condenação na OMC.