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quarta-feira, 6 de março de 2019

Chanceler exerce "autoritarismo inedito no Itamaraty", diz diplomata punido - Jamil Chade

Chanceler exerce "autoritarismo inédito no Itamaraty", diz diplomata punido

Jamil Chade
Blogosfera, 5/03/2019
Em entrevista ao blog, Paulo Roberto de Almeida diz que foi exonerado por ter questionado Olavo de Carvalho e aponta que existe um clima de "temor" dentro do Itamaraty. Para ele, diplomatas continuam sem saber qual é a política externa do chanceler Ernesto Araújo.
GENEBRA – Os diplomatas brasileiros até agora não sabem qual é a política externa do governo de Jair Bolsonaro. Quem faz o alerta é Paulo Roberto de Almeida, embaixador que foi demitido nesta segunda-feira do cargo de diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (Ipri), entidade ligada ao Itamaraty.
A exoneração ocorreu depois de o diplomata publicar, em seu blog pessoal, textos em que se questionava a ação do Brasil na Venezuela. Oficialmente, o Itamaraty argumentou que a mudança já estava prevista. Mas a história não foi a mesma relatada em um telefonema em plena segunda-feira de carnaval ao embaixador.
Em entrevista ao blog, Almeida fez uma análise das diretrizes atuais da política externa e relatou o clima de medo que se vive hoje dentro de uma das instituições mais tradicionais do País. O embaixador também ataca Olavo de Carvalho, o acusa de "inepto" e "nefasto" para a política externa brasileiro e aponta que foi afastado de suas funções justamente por tê-lo questionado. "Eu ofendi aquele a quem o ministro de Estado deve seu cargo", lançou.
Mas ele também aponta: o atual chanceler Ernesto Araújo pratica uma espécie de "autoritarismo inédito" dentro da casa de Rio Branco.
Eis os principais trechos da entrevista:
P – Qual foi o argumento usado para sua exoneração?
Almeida – Eu fui despertado na manhã de segunda-feira de carnaval por uma chamada do chefe-de-gabinete do ministro de Estado. Na semana anterior, eu havia conversado com ele sobre meu futuro no Ipri. Com a mudança de governo, eu imaginava que haveria o desejo da administração, como é normal, de escolher novos assessores. Fui informado de que, naquele momento, não haveria mudança alguma. Ainda se aguarda o próximo presidente da Funag, que deve assumir em breve. E que Depois falaríamos sobre o Ipri. Devo dizer que, desde o início do ano, todas as atividades foram interrompidas por instruções expressas da nova chefia. O Ipri não deveria empreender nenhuma atividade até a aprovação de um novo programa de trabalho. Na ligação da segunda-feira, me foi dito que o ministro estava muito descontente com as minhas postagens, especialmente a última que foi feita no domingo. Eu tinha reunido os textos mais importantes de política externa, incluindo uma palestra de Rubens Ricupero, um artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e uma postagem do chanceler Araújo em seu blog, respondendo e atacando ambos. Coloquei isso no meu blog Diplomatizzando e convidei a um debate sobre a política externa, ou aquilo que poderia ser chamado de política externa desse governo.
P – E o que foi dito na conversa ao telefone?
R – Que eu teria extravasado os limites e que diplomatas, mesmo tendo certa liberdade de expressão, precisam guardar alguma disciplina nas manifestações públicas. Eu acho isso correto. Mas há uma alegação, que veio a posteriori, de que eu teria ofendido o ministro (Araújo) e de que fiz acusações pessoais. Não me lembro de ter feito isso. O que eu fiz, sim, foi dirigido ao Olavo de Carvalho, que eu considero uma presença nefasta na política externa. Trata-se de uma pessoa inepta em relações internacionais e que aparentemente tem influenciado algumas vertentes da política externa, como a questão do antiglobalismo, a luta contra o marxismo cultural, o "climatismo" e outras bobagens. É muito negativo o Itamaraty ter entre suas pessoas "inspiradoras" e mestre uma pessoa tão destrambelhada como o quem eu chamo de "sofista da Virgínia". Eu ataquei a pessoa que foi talvez mais influente na designação do ministro atual.
P – Como o sr. avalia essa influência de Olavo de Carvalho?
R – Eu não estou sendo punido por ter colocado artigos do Fernando Henrique ou palestras do Ricúpero. É apenas um pretexto. Isso de que eu tenha feito ofensas pessoais ao ministro é uma acusação indevida. Eu fiz sim ofensas a Olavo de Carvalho e isso é que motivou a punição. Eu acredito que essa seja a razão real. Eu ofendi aquele a quem o ministro de Estado deve seu cargo.
P – Como o pensamento de Olavo de Carvalho pode continuar a afetando a carreira diplomática e o Itamaraty? 
R – Olavo de Carvalho é um ser primitivo em relações internacionais, rústico mesmo. Exibe um estado de confusão mental. Ele explora esses jovens sedentos de alguma instrução filosófica ou política. Ele teve um papel importante na denúncia do Foro de São Paulo e o marxismo vulgar das nossas academias. Mas hoje ele tem um papel nefasto na política externa. Ele surfou na onda da crítica da direita à corrupção do PT e na onda anti-petista. Mas eu não vejo nenhuma influência boa para a política externa brasileira. Apenas um debate estéril sobre conceitos vagos, esse monstro metafísico do globalismo. São pessoas absolutamente ignorantes em relações internacionais.
P – Houve uma primeira nota do Itamaraty dizendo que a exoneração do sr. já estava planejada e depois, nas redes sociais, o assessor de política externa, Filipe Martins, indicou que, de fato, teria sido por supostas ofensas. 
R – Eu gostaria de saber quais são essas ofensas, por que não as fiz: falei dos eflúvios olavistas sobre a política externa. Essa talvez seja a razão do rancor do chanceler contra mim: ele se sentiu pessoalmente atingido por eu te depreciado o seu guru.

Foto: Vivi Zanatta/ Folhapres
Olavo de Carvalho

P – Outros embaixadores também já foram exonerados no atual governo. Qual o clima que se vive hoje dentro do Itamaraty?
R – É um clima deprimente. Desde o final de novembro, tivemos vários desencontros entre o chanceler designado e os diplomatas. O primeiro foi na própria montagem dos convidados à posse (de Jair Bolsonaro). O Cerimonial do Planalto convidou todos os países com os quais o Brasil tem relações diplomáticas. O chanceler mandou desconvidar Cuba, Venezuela e depois Nicarágua. A Convenção de Viena indica que se deve tratar todos os países com os quais temos relações diplomáticas de forma igual, sem discriminação com base em ideologia. Isso é sem precedentes na história do Itamaraty e o chefe do Cerimonial do Planalto foi defenestrado antes mesmo de começar o governo. Depois tivemos alguns casos de embaixadores que foram "despromovidos". Os subscretários-gerais, todos embaixadores, foram dispensados a partir de 1 de janeiro. As novas secretarias foram ocupadas por ministros de segunda classe, algo compatível com o chanceler, que é, por assim dizer, um embaixador júnior. Isso também é inédito no Itamaraty, por representar uma quebra de hierarquia. São coronéis mandando em generais. Em segundo lugar, houve uma espécie de isolamento dos assessores de Araújo e eles começaram a reformar o Itamaraty sem nenhuma consulta à casa. Isso foi especialmente chocante. O clima, portanto, é de desalento, de passividade, de inércia, de bastante temor. Ninguém ousa dizer nada. Houve uma espécie de acomodação mútua. A quebra da hierarquia e a imposição de uma reforma pelo alto são elementos chocantes. Mas o chanceler Ernesto vem exercendo uma espécie de autoritarismo inédito no Itamaraty.
P – E qual a percepção do que é a política externa do atual governo?
R – No plano substantivo, todos estão esperando para saber qual é de fato a política externa. O discurso de posse de Araújo foi extremamente decepcionante, pois não trouxe quaisquer indicações sobre o que seria, efetivamente, a política externa.
P – O sr. já tinha notado alguma indicação de que a preparação dos diplomatas seria modificada?
R – Sim, fui até mesmo consultado sobre isso e me recusei a participar desse exercício. Aleguei que não tinha conhecimento suficiente, por não ser professor do Instituto Rio Branco. Eu já previa, pelos discursos e artigos, que viria uma tempestade sobre o Rio Branco. Imaginei que fariam as transformações ideológicas que eu julgava nefastas. A única consideração que eu fiz foi a de consultar em primeiro lugar os alunos, depois o próprio Instituto Rio Branco e insistir mais na formação profissional. Soube que o estudo da América Latina saiu do currículo.
P – Existe hoje um espaço para um debate sobre política externa dentro do Itamaraty?
R – Não, não há. E isso fica evidenciado pelo tema principal atual, que é a Venezuela. Ele está sendo tratado pelo gabinete e sem os responsáveis pela área. No passado, era comum diplomatas "da base" serem chamados ao gabinete para debater os temas do momento com o chanceler. No caso da Venezuela, não há notícia de que esteja havendo uma interação política a partir da base.
P – Hoje, a política externa é resultado da avaliação do interesse nacional ou de uma ideologia?
R – É uma questão difícil de responder. Vemos um amalgama de influências espúrias sobre a política externa. O processo de tomada de decisões no Itamaraty foi sempre alvo de consultas, até fora da chancelaria. Isso foi muito alterado sob Lula. A presidência e o partido ditavam as grandes orientações. A base esperava a decisão da cúpula. Lembro-me de casos envolvendo barreiras da Argentina a produtos brasileiros. Sob FHC, o Itamaraty tinha uma posição clara de acionar os mecanismos de solução de controvérsias no Mercosul ou o GATT. Sob Lula não se fez isso, para "poupar" a Argentina. Pode ser que esse tipo de distorção venha a ocorrer novamente. Mas o mais importante é saber se existe realmente uma política externa. Essa é a questão mais importante. Eu me pergunto: qual é a política externa do atual governo? Eu não sei. Até hoje eu não sei. Aliás, os diplomatas também não sabem.
P – Mas Venezuela é uma questão concreta.
R – Claro. Mas aparentemente está sendo resolvida pelo Conselho de Defesa, com a cúpula militar. Há certa tutela dos militares sobre a política externa.
P – Como essa falta de clareza pode impactar o Brasil no exterior?
R – O Brasil já se submeteu ao ridículo de anunciar sua retirada – depois recuando – do Acordo de Paris, como também anunciou a mudança da embaixada para Jerusalem. Tivemos ainda a proposta de uma base americana no Brasil. A "desassinatura" do Pacto Global de Migrações também é outra medida que confronta nossa história e é ridícula.
P – Ao longo de sua carreira, o sr. também foi alvo de um isolamento por parte do governo do PT. Qual a diferença agora?
R – A forma é a mesma. São dois governos autoritários, ideologicamente motivados que afastam dissidentes. Desde sempre, expressei minhas opiniões. Nunca deixei meu cérebro em casa ao ir trabalhar. Eu sofri punições antes do lulopetismo por publicar artigos sobre a política externa sem autorização. Depois, sob o lulopetismo fiquei "congelado", sem qualquer função, sem nenhum cargo por treze anos. A biblioteca foi meu escritório por muitos anos e agora volto para lá. Ou, como se diz, o Departamento de Escadas e Corredores. Formalmente, não há diferenças. Mas, desta vez, houve uma animosidade pessoal e ideológica. Os petistas sabiam quem eu era e eu escrevia o que eu achava antes mesmo de eles tomarem posse. O ex-chanceler Celso Amorim me ofereceu uma embaixada no exterior, que eu recusei. Mas eu escrevia contra a política externa. Hoje, eu apenas sofro de uma animosidade pessoal dos atuais chefes da casa.

terça-feira, 5 de março de 2019

“Isso de limpar o petismo do Itamaraty é uma grande bobagem”, diz Paulo Roberto de Almeida

Os olavistas vão "adorar" que eu transcreva o Diário do Centro do Mundo, os petistas menos, mas o fato é que eles selecionaram justo a minha frase fetiche que os deixa contentes. 
Como é que eu, um marxista cultural, poderia concordar com essa limpeza dos petistas do Itamaraty, justo nós que seguimos escrupulosamente a Convenção Internacional de Proteção das Espécies Ameaçadas de Extinção (Cites)?
Eu acho mesmo que os petistas devem ser protegidos. Como é que a gente iria se divertir, sem eles? Onde é que a Direita iria encontrar os inimigos ideais?
Eu, todo ano, escrevia as minhas previsões imprevidentes, que eram aquelas apostas sobre o NÃO iria acontecer durante o ano. Por exemplo: o governo petista se render ao liberalismo (ou até ao capitalismo), o MST apoiar o agronegócio, essas coisas. Sem os petistas tudo ficou sem graça. Vamos preservar os petistas...

Paulo Roberto de Almeida

“Isso de limpar o petismo do Itamaraty é uma grande bobagem”, diz Paulo Roberto de Almeida

Diário do Centro do Mundo, 5/03/2018

Em entrevista ao Estadão, o embaixador exonerado pelo ministro Ernesto Araújo, Paulo Roberto de Almeida, falou sobre sua saída a qual ele diz ter sido por conta de seu “espírito libertário”, mas que já esperava que isso fosse acontecer.
O chefe de gabinete então deixou claro que a exoneração tinha relação com as postagens?
Sim, claro. Com meu blog, sem dúvida nenhuma. Mas isso já era previsível. Eu já estava preparado. Porque o ministro de Estado demitiu todos os chefes da Casa. Desde antes de tomar posse, em dezembro, eles estavam anunciando que todos os subsecretários, os embaixadores, estavam dispensados.
E no lugar, hoje, os embaixadores estão obedecendo a ministros de segunda classe no Itamaraty. E todas as secretarias são ocupadas por funcionários juniores, ou menos antigos dos que estavam antes. Há muito embaixador sem função, o que vai ser meu caso agora também.
Por que o senhor acredita que isso ocorreu?
Isso ocorreu porque o chanceler Ernesto Araújo também é um embaixador júnior. E ele está usando um critério geracional, digamos assim, para renovar a chefia. O que pode ocorrer em determinadas circunstâncias, mas o fato é que houve uma quebra de hierarquia muito clara no Itamaraty desde janeiro. Houve também uma ruptura dos procedimentos quanto à reforma na Casa, totalmente sem consulta, sem nenhuma preparação.
Como o senhor vê o desempenho do chanceler até este momento?
Não sou eu que estou vendo. Os jornalistas todos têm feito comentários sobre as posturas anti-globalista, anti-climatista, essas questões envolvendo a Venezuela. Os militares parecem também terem visto isso e adotaram uma espécie de “cordão sanitário” ao redor do chanceler.
(…)
O senhor acredita que ainda podem haver novas exonerações no Itamaraty?
Vários embaixadores já foram exonerados de seus cargos que estão sem função. Então, acho que há essa perspectiva geracional. Não conheço nenhum diplomata petista. Talvez tenha dois ou três, mas devem estar quietos. Essa coisa de limpar o petismo do Itamaraty, o marxismo cultural, isso é uma grande bobagem. Porque o Itamaraty é feito por profissionais, que, claro, atendem ao presidente, seguem a política externa do Palácio. Algumas medidas tomadas recentemente são pouco compatíveis com a chamadas tradições do Itamaraty.

Indulging with myself: meu amigo Eduardo Aydos me presta homenagem

Normalmente sou avesso a qualquer coisa encomiástica, e evito até de lançar meus próprios livros por excesso de timidez. Mas, a hora talvez seja de acionar o modo "resistência", como disse em outra postagem.
Resistência contra as coisas erradas que vejo no Brasil, contra a corrupção, o desperdício, os abusos, as mordomias, os privilégios, e também a burrice. Nada me entristece mais do que a insensatez daqueles que deveriam administrar os negócios públicos.
Por isso, permito-me postar aqui a mensagem de Eduardo Aydos, sobre a minha nova travessia do deserto, depois de uma ou duas anteriormente.
Sempre é bom revisar o passado para não cair novamente nos mesmos erros.
Mas, como já descobriu um amigo embaixador, eu sou um "accident prone diplomat", estou sempre buscando confusão.
A culpa não é minha, mas dos que não concordam comigo...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 5 de março de 2019

Eduardo Dutra Aydos 
GOVERNO BOLSONARO, EM RITMO DE CARNAVAL, ANTECIPA A SUA QUARTA-FEIRA DE CINZAS, reduzido ao espectro da sua própria inconsistência e estreiteza de horizontes. 
A exoneração do EMBAXADOR PAULO ROBERTO DE ALMEIDA, da direção do IPRI - Instituto de Pesquisas em Relações Internacionais, corta na própria carne as melhores expectativas de um enorme contingente de brasileiros que aplaudiu a passagem do Capitão na passarela do samba das eleições passadas. 
Paulo Roberto é internacionalmente reconhecido como um dos esteios do combate à corrupção e à política externa do Lulo-petismo, além de defensor aguerrido da causa liberal neste país. 
Sua posição foi conquistada em décadas de uma massiva, constante, incisiva e consistente produção intelectual, que testemunha, também, o ostracismo que lhe foi imposto pela chancelaria petista ao exercício das atividades funcionais. Sua independência intelectual e respeito aos estatutos da carreira diplomática, ao mesmo tempo que o impediram de servir à tirania, mantiveram íntegra a sua passagem pelos anos de vergonha e de submissão institucional do Itamaraty aos desígnios do crime organizado que governou este país. 
Nessa condição ímpar, o EMBAIXADOR PAULO ROBERTO teve a sua dignidade pessoal resgatada e a sua experiência, afinal, conectada ao desenvolvimento institucional do Itamaraty, pelo Governo Temer. 
Nas instituições de Estado, afetas à produção do CONHECIMENTO, como condição estratégica da própria eficácia na consecução dos seus objetivos (como é o caso das UNIVERSIDADES, na sua relação com os Governos, e por analogia dos institutos especiais de pesquisa, em relação às Agências Governamentais que se utilizam dos seus desenvolvimentos) a REGRA FUNDAMENTAL da sua composição e funcionamento é a condição da sua AUTONOMIA na produção do Saber. 
Condição essa que, para todos os objetivos, da transição política que vivenciamos, assim como da sua consolidação no âmbito da Chancelaria Brasileira, tem na biografia do EMBAIXADOR PAULO ROBERTO DE ALMEIDA, um ícone que ultrapassa, em significado político-institucional, quaisquer dimensões menores de afeto, empatia ou mesmo divergência político-partidária. 
A sua exoneração pelo Governo Bolsonaro, quando poderia (e, no meu expresso entendimento, deveria...) ter sido conduzido à Chefia da Chancelaria Brasileira, sejam quais forem as suas razões, ou meramente administrativas (como alega o porta-voz do Chanceler), e/ou 'politicamente' induzidas (como transparece na confrontação dos fatos), é um zero à esquerda deste bloco político que entrou pela direita, nem bem se consolidou no centro da passarela, e já atravessa desastrosamente o samba na avenida. 
Tais fatos e circunstâncias impõem, de par com a minha solidariedade incondicional ao Embaixador Paulo Roberto de Almeida, minha oposição incisiva ao descompasso do Governo Bolsonaro. com o clamor das ruas que o elegeu. 

(Publicado em minha página do Facebook, 03/03/2019)

“Ernesto Araújo enganou o presidente”, diz embaixador demitido - Paulo Roberto de Almeida, Caio Junqueira (Crusoe)


“Ernesto Araújo enganou o presidente”, diz embaixador demitido

Paulo Roberto de Almeida
Entrevista com o jornalista Caio Junqueira, da revista Crusoé (5/03/2019)

O embaixador Paulo Roberto de Almeida (foto) recebeu na manhã de segunda-feira, 4, um telefonema de Pedro Wollny, chefe de gabinete do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. A ligação era para demiti-lo do cargo de presidente do Instituto de Pesquisas de Relações Internacionais, órgão acadêmico ligado ao Itamaraty. O motivo: uma postagem em seu blog pessoal na noite anterior com artigos críticos à política externa atual.
A demissão chamou a atenção de diplomatas. Muito mais pelo histórico do demitido do que pelos artigos em si. Almeida é um antigo opositor do petismo, que caíra no ostracismo por reprovações feitas à diplomacia dos governos Lula e Dilma Rousseff. Em entrevista a Crusoé nesta terça-feira, 5, ele diz que Araújo só passou a defender teses da direita por oportunismo, e critica os padrinhos do chanceler: o deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, e o escritor Olavo de Carvalho.
Diplomata de carreira desde 1977, Almeida foi ministro-conselheiro na Embaixada do Brasil em Washington e trabalhou entre 2003 e 2007 como Assessor Especial no Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Ele afirma que quem está mandando mesmo nas questões envolvendo o Brasil com outros países são os militares. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Como foi sua demissão?
Eu publiquei no domingo uma postagem no meu blog remetendo a um PDF que montei com base em três documentos sobre política externa do Brasil: uma palestra do Rubens Ricupero, um artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sobre a Venezuela e um artigo do chanceler Ernesto Araújo. Juntei os três e convidei os leitores a fazer um debate sobre política externa. Isso foi usado na segunda-feira pela manhã para me exonerar. O chefe de gabinete (Pedro Wollny) me ligou e disse que eu tinha demonstrado inconveniência ao postar os documentos no meu blog pessoal. Ora, fiz isso ao longo de todo o lulopetismo e talvez para o meu próprio prejuízo, porque fiquei no ostracismo completo. Durante os dois anos do governo Michel Temer, quando fui finalmente chamado para exercer um cargo no Itamaraty, postei constantemente. Coloquei no blog tudo o que achava relevante sobre política externa. Fui tomado de surpresa agora, por ter sido dispensado a mim o mesmo tipo de tratamento que tive no passado, de censura, isolamento e, de certa forma, punição.

O sr. acredita que foi essa postagem que gerou sua demissão?
Na verdade, o que foi levado em conta foram comentários anteriores que fiz no blog e no Twitter sobre o Olavo de Carvalho, que acho um personagem nefasto para a política externa brasileira. É um inepto em relações políticas internacionais e vem se pronunciando sobre essa fantasmagoria do globalismo, que parece que contaminou o nosso chanceler.

Qual sua avaliação sobre o chanceler?
O Ernesto nunca, jamais, em nenhum momento da história anterior e do regime lulopetista, se manifestou contra o marxismo cultural, contra o apoio a governos esquerdistas. Ele se aproveitou dessa onda antipetista e contra a esquerda para ascender. Como fez o Samuel Pinheiro Guimarães (secretário-geral do Itamaraty e depois secretário de Assuntos Estratégicos no governo Lula), que no final do governo FHC começou a falar contra a Alca (Área de Livre Comércio das Américas idealizada pelos Estados Unidos e cuja participação brasileira Lula barrou), contra o Mercosul neoliberal, e se tornou um dos principais gurus do lulopetismo. O Ernesto farejou essa ascensão da direita. E sendo ou não conservador, religioso ou direitista, aderiu completamente a ela. Criou um blog em que apoiava abertamente Bolsonaro e se pronunciava em tons ásperos contra os marxistas e contra os esquerdistas. Contra a China maoísta, algo que não existe há mais ou menos 40 anos. E contra o climatismo. Tem muito de construído aí. Eu o considerava um diplomata normal. Competente, como são os diplomatas em geral. Essa transformação de burocrata normal da diplomacia para arauto da luta contra o globalismo é uma construção artificial e feita de forma um pouco oportunista para entrar nessa onda bolsonarista e da direita. Ele enganou os olavistas verdadeiros e o próprio presidente para conquistar esse cargo.

Então, no fundo, foram suas críticas a Olavo de Carvalho que causaram a sua demissão?
Olavo é um guru distante que pode ter sido influente politicamente, mas não determinante nas medidas que são adotadas pelo chanceler em relação à Venezuela, ao Pacto das Migrações, à mudança da embaixada brasileira em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém. Ele defende a luta contra o globalismo e nosso chanceler encampa isso. Como eu me pronunciei contra o que eu chamo de “sofista de Virginia”, isso deve ter chocado muito o chanceler.

Eduardo Bolsonaro também tem influência sobre o chanceler?
O Eduardo Bolsonaro também é um personagem nefasto para a política externa brasileira, porque vive pregando não uma adesão aos Estados Unidos, mas ao governo Trump, o que é de uma inconveniência total. Ele certamente é o grande responsável pela aceitação do Ernesto como chanceler, juntamente com o Filipe Martins, que era assessor de assuntos internacionais do PSL (e atual assessor especial da Presidência da República).

Filipe é outra eminência parda na política externa brasileira? 
Ele é um desses verdadeiros crentes que ascenderam na onda da direita e foi guindado a essa posição por influência dos chamados bolsokids (os filhos do presidente). Não acho que tenha muita influência, não. O vice-presidente, general Hamilton Mourão, já mostrou que não dá muita importância a um garoto que já foi chamado de Robespirralho ou Sorocabannon (termo que une Sorocaba, cidade natal de Filipe, a Steve Bannon, um dos estrategistas do presidente americano Donald Trump). Tem lá sua influência porque foi quem fez o desastroso discurso de Jair Bolsonaro em Davos, de seis minutos, em que o presidente não disse absolutamente nada. Tem uma influência marginal. Reúne-se sempre com o Ernesto. Faz parte daquilo que o Ricupero denominou como lunatic fringe: a franja lunática do governo Trump. É um verdadeiro crente nessa coisa de olavismo. Uma ideologia muito difusa e confusa, à qual aderem os jovens carentes de formação mais completa.

Como avalia a política externa atual conduzida pelo ministro Ernesto Araújo?
Gostaria de responder positivamente, se houvesse uma política externa do Ernesto Araújo. Não vejo nenhuma. Não tenho nenhuma exposição clara, abrangente, completa e sistemática de todos os pontos do que pudesse ser chamado de política externa do Ernesto Araújo. Se você descobrir e me enviar, agradeço e vou me pronunciar sobre ela. O que você tem são esses artigos no blog dele e declarações no discurso de posse que não têm quase nada de política externa. São chamamentos a uma missão salvadora, de resgatar o nosso Itamaraty do marxismo. Isso é uma ofensa aos diplomatas, que, na maior parte das vezes, são profissionais dedicados a questões técnicas da política externa e não a causas salvacionistas.

Por que é uma ofensa?
Se tiver petistas no Itamaraty, são dois ou três. O resto é oportunista, porque quer promoção, posto, remoção. Se o presidente fosse o Paulo Maluf, eles seriam malufistas. Com Lula, houve no Itamaraty uma grande adesão às causas lulopetistas, ao desenvolvimentismo, à política Sul-Sul. Mas diplomatas são burocratas bem-comportados, no mais das vezes.

Então pode haver também uma adesão à política externa bolsonarista, não?
Não sei. Essa adesão à luta contra o marxismo cultural, contra o globalismo… Não sei o que os diplomatas teriam a fazer porque tudo isso é muito confuso.

Como está o Itamaraty hoje?
Está parado. Há uma grande paralisia quanto a definições para saber o que se deve fazer.

Com isso tudo acontecendo, os militares estão assumindo a política externa?
Eles têm uma determinação maior que a do próprio chanceler. Isso se revelou desde o início, em temas como a instalação de uma base americana no Brasil, China, embaixada em Jerusalém e outros elementos da política externa que ficaram sob controle estrito da ala militar do governo. Há uma espécie de comitê de tutela da ala militar sobre o chanceler. Isso está muito claro e se revelou agora de novo na reunião do grupo de Lima (reunião de países formada para debater a crise na Venezuela), quando o vice-presidente foi o chefe da delegação e expressou claramente posições dos militares brasileiros contra o chanceler. Há uma liderança diplomática exercida por militares.

Eles que mandam de fato?
Não diria que eles mandam porque tem aí, digamos, um conselho de defesa que se reúne com militares e o chanceler. O conselho toma posições de substância. Eu imagino que essas duas próximas visitas do presidente a Israel e aos Estados Unidos estejam sendo planejadas por um conselho que extravase o Itamaraty. Imagino que a opinião dos militares será mais determinante do que a do chanceler nessas questões de acordos, anúncios e declarações.

O Itamaraty vê com bons olhos a influência militar sobre seu trabalho?
Soldados e diplomatas sempre se entenderam muito bem em todos os países. São dois grandes esteios do estado nacional e da defesa e segurança do país. Atuam conjuntamente. Mas no Brasil está havendo uma inversão. Atualmente, são os soldados que estão defendendo posições mais diplomáticas, e o chanceler, uma posição mais dura e de intervenção em assuntos internos dos outros países. Há uma indefinição quanto às grandes linhas da política externa. Não se sabe o que vamos fazer, por exemplo, com China, Estados Unidos e Venezuela. E os militares entram nesse vácuo. São um corpo bem preparado, democrático e consciente dos grandes desafios do país, ao passo que no Itamaraty há indefinição sobre tudo isso.

Já há exemplos da supremacia militar sobre o Itamaraty neste governo?
Sim. Você começou o ano com o anúncio de uma grande base americana no Brasil, que foi rechaçada pelos militares. Teve anúncio da mudança da embaixada de Israel de Tel-Aviv para Jerusalém, descartada por pressão dos agricultores e dos militares. Teve a demonstração de animosidade em relação à China, tanto do presidente quanto do chanceler, minimizada pelos militares. Teve anúncio de retirada do Acordo de Paris, que não se consagrou por ser uma medida inócua, por ignorância do que representa o acordo sobre mudanças climáticas, algo até benéfico as políticas do Brasil.

É possível comparar sua demissão à perseguição que  sofreu na era petista?
Pela motivações autoritárias e censuradoras, sim. Na substância, não. Na era petista, eu já tinha um passado de comentários sobre a política externa do PT, sobre as posições do Lula em matéria de política agrícola, de subsídio, ou sobre a aliança com pobres e oprimidos para enfrentar os vilões hegemônicos. Eles sabiam bem quem eu era e fui vetado logo no início, até mesmo para exercer um cargo que não tinha nada a ver com diplomacia: ia assumir o mestrado do Instituto Rio Branco e fui impedido. E depois fui vetado pelo Celso Amorim em diferentes cargos no Itamaraty. Ele acabou me oferecendo uma embaixada na Ásia, que não aceitei. E aí fiquei anos nos corredores sem função, trabalhando na biblioteca. Hoje é diferente. Você tem uma pessoa insegura (Ernesto Araújo). Vamos falar claramente: o ministro é uma pessoa insegura, que precisa firmar sua autoridade, e até para uma perspectiva geracional, ele está trocando todas as chefias mais antigas por pessoas mais jovens. Precisava se livrar dos mais velhos. Em algum momento, eu seria substituído. Mas,na verdade, fui defenestrado por suposta insubordinação ou inconveniência de postar coisas no meu blog. Acho que o espírito é o mesmo, mas as motivações talvez sejam diferentes. O petismo sabia bem o que queria fazer, e portanto eu era um opositor ideológico identificado desde o início. Agora, eles não sabem bem o que fazer, mas se revoltam contra todos os supostos opositores.

Para onde o senhor vai agora? 
Não espero nada agora. Vou ficar nos corredores e vou para a biblioteca como sempre fiz.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 5 de março de 2019

A exoneracao vista pelo Estadao - juniores no comando


Embaixador exonerado aponta 'quebra de procedimento' no Itamaraty
Paulo Roberto de Almeida publicou textos críticos a Ernesto Araújo nas redes sociais; para diplomata, ministro é um 'júnior' na carreira
Camila Turtelli, O Estado de S.Paulo 
04 de março de 2019 | 21h17
BRASÍLIA - O embaixador Paulo Roberto de Almeidaexonerado do cargo de presidente do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (Ipri), nesta segunda-feira, 4, afirmou ao Estadão/Broadcast que sua saída aconteceu devido ao seu “espírito libertário”, expresso principalmente em suas redes sociais. 
Almeida disse que já estava esperando a atitude do Itamaraty e critica a atuação do novo governo frente à Casa. “Os embaixadores estão obedecendo a ministros de segunda classe no Itamaraty. E todas as secretarias são ocupadas por funcionários juniores, ou menos antigos dos que estavam antes”, afirmou Almeida, que é diplomata de carreira desde 1977 e já serviu em diversos postos no exterior, inclusive na Bélgica. 
Em relação ao chanceler Ernesto Araújo, diz que os próprios militares que integram o governo já demonstraram incômodo com algumas de suas posturas. “Os militares parecem também terem visto isso e adotaram uma espécie de ‘cordão sanitário’ ao redor do chanceler”, afirmou. 
Como foi que o senhor ficou sabendo da sua exoneração?
Recebi um telefonema do Chefe de Gabinete do Ministro de Estado (Pedro Gustavo Ventura Wollny) reclamando das minhas postagens no meu blog pessoal. Realmente, coloquei aquela palestra do (Rubens) Ricupero na segunda-feira passada, coloquei o artigo do Fernando Henrique Cardoso, no domingo, e o próprio artigo do chanceler (Ernesto Araújo) à noite. E claro, teci comentários.  
Há também outras postagens, anteriores a estas, que são críticas...
Sim, eu sou um espírito libertário, enfim, acredito que posso debater tudo. Enfim, eles ficaram irritados e ele (Wollny) me telefonou para dizer que não era saudável. 
O chefe de gabinete então deixou claro que a exoneração tinha relação com as postagens?
Sim, claro. Com meu blog, sem dúvida nenhuma. Mas isso já era previsível. Eu já estava preparado. Porque o ministro de Estado demitiu todos os chefes da Casa. Desde antes de tomar posse, em dezembro, eles estavam anunciando que todos os subsecretários, os embaixadores, estavam dispensados. 
E no lugar, hoje, os embaixadores estão obedecendo a ministros de segunda classe no Itamaraty. E todas as secretarias são ocupadas por funcionários juniores, ou menos antigos dos que estavam antes. Há muito embaixador sem função, o que vai ser meu caso agora também. 
Por que o senhor acredita que isso ocorreu?
Isso ocorreu porque o chanceler Ernesto Araújo também é um embaixador júnior. E ele está usando um critério geracional, digamos assim, para renovar a chefia. O que pode ocorrer em determinadas circunstâncias, mas o fato é que houve uma quebra de hierarquia muito clara no Itamaraty desde janeiro. Houve também uma ruptura dos procedimentos quanto à reforma na Casa, totalmente sem consulta, sem nenhuma preparação. 
Como o senhor vê o desempenho do chanceler até este momento?
Não sou eu que estou vendo. Os jornalistas todos têm feito comentários sobre as posturas anti-globalista, anti-climatista, essas questões envolvendo a Venezuela. Os militares parecem também terem visto isso e adotaram uma espécie de “cordão sanitário” ao redor do chanceler. 
Isso porque foram várias coisas anunciadas que eles tiveram de dizer não, como a base militar nos Estados Unidos, a postura anti-China, a mudança da nossa embaixada em Israel de Tel Aviv para Jerusalém. Teve também uma primeira reunião do Grupo de Lima em que ele aceitou a cessação de qualquer relação militar com o governo de Nicolás Maduro
Há muitos elementos aí que criam um certo desconforto tanto na Casa quanto fora dela. Acredito que o fato de eu repercutir um pouco esse debate público incomodou um pouco.  
O senhor acredita que ainda podem haver novas exonerações no Itamaraty?
Vários embaixadores já foram exonerados de seus cargos que estão sem função. Então, acho que há essa perspectiva geracional. Não conheço nenhum diplomata petista. Talvez tenha dois ou três, mas devem estar quietos. Essa coisa de limpar o petismo do Itamaraty, o marxismo cultural, isso é uma grande bobagem. Porque o Itamaraty é feito por profissionais, que, claro, atendem ao presidente, seguem a política externa do Palácio. Algumas medidas tomadas recentemente são pouco compatíveis com a chamadas tradições do Itamaraty.