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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 9 de junho de 2019

Ataque à Lava Jato de Curitiba

Força-tarefa informa a ocorrência de ataque criminoso à Lava Jato

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Procuradores mostram tranquilidade quanto à legitimidade da atuação, mas revelam preocupação com segurança pessoal e com falsificação e deturpação do significado de mensagens
Força-tarefa informa a ocorrência de ataque criminoso à Lava Jato
A força-tarefa da Lava Jato no Ministério Público Federal do Paraná (MPF/PR) vem a público informar que seus membros foram vítimas de ação criminosa de um hacker que praticou os mais graves ataques à atividade do Ministério Público, à vida privada e à segurança de seus integrantes. 
A ação vil do hacker invadiu telefones e aplicativos de procuradores da Lava Jato usados para comunicação privada e no interesse do trabalho, tendo havido ainda a subtração de identidade de alguns de seus integrantes. Não se sabe exatamente ainda a extensão da invasão, mas se sabe que foram obtidas cópias de mensagens e arquivos trocados em relações privadas e de trabalho. 
Dentre as informações ilegalmente copiadas, possivelmente estão documentos e dados sobre estratégias e investigações em andamento e sobre rotinas pessoais e de segurança dos integrantes da força-tarefa e de suas famílias.
Há a tranquilidade de que os dados eventualmente obtidos refletem uma atividade desenvolvida com pleno respeito à legalidade e de forma técnica e imparcial, em mais de cincoanos de Operação.
Contudo, há três preocupações. Primeiro, os avanços contra a corrupção promovidos pela Lava Jato foram seguidos, em diversas oportunidades, por fortes reações de pessoas que defendiam os interesses de corruptos, não raro de modo oculto e dissimulado.
A violação criminosa das comunicações de autoridades constituídas é uma grave e ilícita afronta ao Estado e se coaduna com o objetivo de obstar a continuidade da Operação, expondo a vida dos seus membros e famílias a riscos pessoais. Ninguém deve ter sua intimidade – seja física, seja moral – devassada ou divulgada contra a sua vontade. Além disso, na medida em que expõe rotinas e detalhes da vida pessoal, a ação ilegal cria enormes riscos à intimidade e à segurança dos integrantes da força-tarefa, de seus familiares e amigos.
Em segundo lugar, uma vez ultrapassados todos os limites de respeito às instituições e às autoridades constituídas na República, é de se esperar que a atividade criminosa continue e avance para deturpar fatos, apresentar fatos retirados de contexto, falsificar integral ou parcialmente informações e disseminar “fake news”.
Entretanto, os procuradores da Lava Jato não vão se dobrar à invasão imoral e ilegal, à extorsão ou à tentativa de expor e deturpar suas vidas pessoais e profissionais. A atuação sórdida daqueles que vierem a se aproveitar da ação do “hacker” para deturpar fatos, apresentar fatos retirados de contexto e falsificar integral ou parcialmente informações atende interesses inconfessáveis de criminosos atingidos pela Lava Jato.
Por fim, os procuradores da Lava Jato em Curitiba mantiveram, ao longo dos últimos cincoanos, discussões em grupos de mensagens, sobre diversos temas, alguns complexos, em paralelo a reuniões pessoais que lhes dão contexto. Vários dos integrantes da força-tarefa de procuradores são amigos próximos e, nesse ambiente, são comuns desabafos e brincadeiras. Muitas conversas, sem o devido contexto, podem dar margem para interpretações equivocadas. A força-tarefa lamenta profundamente pelo desconforto daqueles que eventualmente tenham se sentido atingidos.
Diante disso, em paralelo à necessária continuidade de seu trabalho em favor da sociedade, a força-tarefa da Lava Jato estará à disposição para prestar esclarecimentos sobre fatos e procedimentos de sua responsabilidade, com o objetivo de manter a confiança pública na plena licitude e legitimidade de sua atuação, assim como de prestar contas de seu trabalho à sociedade.
Contudo, nenhum pedido de esclarecimento ocorreu antes das publicações, o que surpreende e contraria as melhores práticas jornalísticas. Esclarecimentos posteriores, evidentemente, podem não ser vistos pelo mesmo público que leu as matérias originais, o que também fere um critério de justiça. Além disso, é digno de nota o viés tendencioso do conteúdo até o momento divulgado, o que é um indicativo que pode confirmar o objetivo original do hacker de, efetivamente, atacar a operação Lava Jato.
De todo modo, eventuais críticas feitas pela opinião pública sobre as mensagens trocadas por seus integrantes serão recebidas como uma oportunidade para a reflexão e o aperfeiçoamento dos trabalhos da força-tarefa.
Em paralelo à necessária reflexão e prestação de contas à sociedade, é importante dar continuidade ao trabalho. Apenas neste ano, dezenas de pessoas foram acusadas por corrupção e mais de 750 milhões de reais foram recuperados para os cofres públicos. Apenas dois dos acordos em negociação poderão resultar para a sociedade brasileira na recuperação de mais de R$ 1 bilhão em meados deste ano. No total, em Curitiba, mais de 400 pessoas já foram acusadas e 13 bilhões de reais vêm sendo recuperados, representando um avanço contra a criminalidade sem precedentes. Além disso, a força-tarefa garantiu que ficassem no Brasil cerca de 2,5 bilhões de reais que seriam destinados aos Estados Unidos.
Em face da agressão cibernética, foram adotadas medidas para aprimorar a segurança das comunicações dos integrantes do Ministério Público Federal, assim como para responsabilizar os envolvidos no ataque hacker, que não se confunde com a atuação da imprensa. Desde o primeiro momento em que percebidas as tentativas de ataques, a força-tarefa comunicou a Procuradoria-Geral da República para que medidas de segurança pudessem ser adotadas em relação a todos os membros do MPF. Na mesma direção, um grupo de trabalho envolvendo diversos procuradores da República foi constituído para, em auxílio à Secretaria de Tecnologia da Informação e Comunicação da PGR, aprofundar as investigações e buscar as melhores medidas de prevenção a novas investidas criminosas.
Em conclusão, os membros do Ministério Público Federal que integram a força-tarefa da operação Lava Jato renovam publicamente o compromisso de avançar o trabalho técnico, imparcial e apartidário e informam que estão sendo adotadas medidas para esclarecer a sociedade sobre eventuais dúvidas sobre as mensagens trocadas, para a apuração rigorosa dos crimes sob o necessário sigilo e para minorar os riscos à segurança dos procuradores atacados e de suas famílias. 
Lava Jato – Acompanhe todas as informações oficiais do MPF sobre a Operação Lava Jato no site www.lavajato.mpf.mp.br

Assessoria de Comunicação – Ascom
Ministério Público Federal no Paraná

Atendimento à imprensa
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Atendimento ao cidadão
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Lectures on History of Monetary Thought through the eyes of the Classics: Pedro Schwartz

The Institute of International Monetary Research (IIMR, https://mv-pt.org/) is delighted to announce a series of four lectures on money, banking and central banking by our colleague, Professor Pedro Schwartz (IEA and IIMR fellow), in collaboration with the Vinson Centre for Liberal Economics and EntrepreneurshipHistory of Monetary Thought through the eyes of the Classics.
Please, find the link to the programme below for further details on the topics that will be addressed and the days of the lectures, all in the summer term (July 16th , 17th and 31st and August 1st, 17:15 – 18:30 hrs. University of Buckingham, UK):  https://mv-pt.org/pedro-schwartz-gives-four-lectures-on-the-history-of-monetary-thought-through-the-eyes-of-the-classics/.
The nature of the topics to be covered in the lecture series is very much interdisciplinary. One of our main aims at the IIMR is to show the need to incorporate historical and institutional analysis in the understanding of money and banking, as well as the decisions made by central banks nowadays. We are delighted and very privileged to have an excellent speaker to address these topics; as detailed in his bio (https://www.buckingham.ac.uk/directory/professor-pedro-schwartz/ ), he has a very comprehensive background in Economics and Humanities and a vast experience in the teaching of these topics in several universities; he also has experience in policy-making as a former member of the staff of a national central bank and a former advisor to the ECON Committee of the European Parliament, among other institutions.  
Those interested in attending the lectures please RSVP Gail Grimston at gail.grimston@buckingham.ac.uk.
We look forward to welcoming you all to the IIMR and the Vinson Centre at the University of Buckingham very soon.
Juan C.
Dr Juan Castaneda
Director, Institute of International Monetary Research
University of Buckingham, Hunter Street Campus, Buckingham, MK18 1EG, UK
00 44 (0)1280827548
Juan.castaneda@buckingham.ac.uk
http://www.mv-pt.org/

Pedro Schwartz gives four lectures on the History of Monetary Thought through the eyes of the Classics

By Prof. Pedro Schwartz (IIMR, IEA fellow) 
B. Ll., Dr. Iuris (Madrid), MSc. Econ., PhD. (LSE) 
  • 16th July – 1st August (selected days, see programme below). At the University of Buckingham (Vinson Building, Hunter street campus. Buckingham, MK18 1EG
  • Event open to the public. RSVP gail.grimston@buckingham.ac.uk
  • The lectures will be recorded and made available to the public afterwards on the IIMR YouTube channel
What the lectures will cover
The institution of money is not at the centre of the research programmes of mainstream macroeconomics. In most models proposed by the profession money is inserted as an afterthought – if at all. This contrasts with the importance generally attributed to financial and monetary institutions when analysing the political economy of crashes such as the Great Recession and its aftermath. History can help remedy this contradiction. Since money is such an abstract institution the same problems recur across time and place, so that the study of past and present monetary theories will turn out to be surprisingly relevant in the present moments of perplexity.
Programme and Lectures’ topics
16th July; 17:15 – 18:30.
Lecture 1. – The institution of money. – Two theories about the origin of money: the reduction of the transaction costs of barter (Carl Menger); or the recording of debt and its cancellation (New Chartism, Knapp 1905, Lerner 1947). – Narrow and broad money. – Adam Ferguson: the emergence of institutions. – Fractional reserve and Bank money. The money multiplier. – Network goods: Digital currencies.
17th July; 17:15 – 18:30.
Lecture 2. – The ‘Quantity Theory’. –  Azpilcueta, Bodin, Cantillon, Hume, Smith, Fisher, Cambridge England, Friedman. – The problem of small change. – Thornton’s Paper Credit. – Developments:  bank notes; deposits. – Theories of inflation: Keynes v.Friedman. – Monetarism. – Expectations and velocity: adaptive (Friedman) and rational (Muth, Lucas). – Heresies: money and growth (the Phillips curve); debt and growth (‘Modern Monetary Theory’).
31st July; 17:15 – 18:30.
Lecture 3. – Money in an open economy. – Hume and the self-regulating specie flow model. – The gold standard: problems: bimetallism. – David Ricardo and Bullionism. -The controversy around Scottish Free Banking. – The Currency School v. the Banking School. – J.S. Mill’s half-way house; monetary competition. – Keynes’s Tract and the management of fiat money. Keynes at Bretton Woods. – Lender of last resort. – Friedman on flexible exchange rates. – Harry Johnson’s monetary theory of the balance of payments. – Mundell’s impossibility triangle.
1st August; 17:15 – 18:30
Lecture 4. –  Central banking. – Central banks and government. – Thornton’s 1802 Paper Credit. – Ricardo’s Economical and Secure Currency (1816). – Robert Peel’s 1844 Act. -J.S. Mill on central banking.  – Walter Bagehot’s Lombard Street. – Rules or discretion: Milton Friedman on central banking. – Robert Lucas’s critique of macroeconomic models. – Monetary or fiscal policies; the new Keynesians. – Tim Congdon: Money supply and nominal GDP. – Hayek on the privatisation of money.

Ayn Rand by Masha Gessen - The New Yorker

The Persistent Ghost of Ayn Rand, the Forebear of Zombie Neoliberalism

The New Yorker, June 8, 2019

In a dark corner of my house, where a built-in bookshelf curves out of sight and out of reach, near the ceiling, I keep a couple dozen books that I haven’t brought myself to get rid of but don’t want anyone to see. It’s a connoisseur’s collection of the writing of Ayn Rand and her disciples, assembled by teen-age me a long, long time ago. My first girlfriend, an older woman in her early twenties, introduced me to Rand. I had recently immigrated to the United States from Russia, come out, and dropped out of high school, and somehow Rand’s writing spoke to me, made the world appear simple and conquerable. My Rand phase was relatively brief, but, before it ended, I bluffed my way into my first job in publishing by talking Rand with my future boss, a trailblazing gay publisher who was similarly obsessed with her.
According to a new book, this is normal, sort of. In “Mean Girl: Ayn Rand and the Culture of Greed,” Lisa Duggan, a professor of social and cultural analysis at New York University, notes that, although Rand’s brand of sexual liberation didn’t extend to homosexuality, her female heroines refuse to conform to feminine norms, and her male heroes are all in love with one another. I was certainly not the only queer teen-ager who was seduced by these books, which Duggan calls “conversion machines that run on lust.” The therapeutic value of Duggan’s book goes well beyond freeing me from shame for my teen-age lack of literary taste and political discernment; it also provides an explanation for our current cultural and political moment.
Part of American Studies Now, a series of slim volumes published by the University of California Press, Duggan’s book sums up Rand’s life and philosophy in under ninety pages—an affront to a novelist whose magnum opus, “Atlas Shrugged,” came in at more than ten times that length. “How could a thousand-plus-page novel, featuring cartoonish characters moving through a melodramatic plot peppered with long didactic speeches, attract so many readers and so much attention?” Duggan asks. “Clearly, the fantasies animating the novel struck a deep chord.”
Rand’s novels promised to liberate the reader from everything that he had been taught was right and good. She invited her readers to rejoice in cruelty. Her heroes were superior beings certain of their superiority. They claimed their right to triumph by destroying those who were not as smart, creative, productive, ambitious, physically perfect, selfish, and ruthless as they were. Duggan calls the mood of the books “optimistic cruelty.” They are mean, and they have a happy ending—that is, the superior beings are happy in the end. The novels reverse morality. In them, there is no duty to God or one’s fellow-man, only to self. Sex is plentiful, free of consequence, and rough. Money and other good things come to those who take them. Rand’s plots legitimize the worst effects of capitalism, creating what Duggan calls “a moral economy of inequality to infuse her softly pornographic romance fiction with the political eros that would captivate a mass readership.”
Duggan traces Rand’s influence, both direct and indirect, on American politics and culture. Rand’s fiction was a vehicle for her philosophy, known as Objectivism, which consecrated an extreme form of laissez-faire capitalism and what she called “rational egoism,” or the moral and logical duty of following one’s own self-interest. Later in life, Rand promoted Objectivism through nonfiction books, articles, lectures, and courses offered through an institute that she established, called the Foundation for the New Intellectual. She was closely allied with Ludwig von Mises, an economist and historian who helped shape neoliberal thinking. When Rand was actively publishing fiction—from the nineteen-thirties until 1957, when “Atlas Shrugged” came out—hers was a marginal political perspective. Critics panned her novels, which gained their immense popularity gradually, by word of mouth. Mid-century American political culture was dominated by New Deal thinking, which prized everything that Rand despised: the welfare state, empathy, interdependence. By the nineteen-eighties, however, neoliberal thinking had come to dominate politics. The economist Alan Greenspan, for example, was a disciple of Rand’s who brought her philosophy to his role as chairman of the Council of Economic Advisers under President Gerald Ford and, from 1987 until 2006, as the chairman of the Federal Reserve.
Duggan doesn’t blame Rand for neoliberalism, exactly, but she spotlights the Randian spirit of what she calls the “Neoliberal Theater of Cruelty.” This theatre would include players we don’t necessarily describe as neoliberal. Paul Ryan, the former House Speaker, is a Rand evangelist who gave out copies of “Atlas Shrugged” as Christmas presents to his staff and said that she “did the best job of anybody to build a moral case of capitalism.” When the Tea Party came out in force against the Affordable Care Act, in 2009, some of its members carried signs reading “Who Is John Galt?,” a reference to “Atlas Shrugged.” Rand’s spirit is prominent in Silicon Valley, too: the billionaires Peter Thiel, Elon Musk, Travis Kalanick, and others have credited Rand with inspiring them. The image of the American tech entrepreneur could have come from one of her novels. If she were alive today, she would probably adopt the word “disruption.”
The collapse of the subprime-mortgage market and the financial crisis of 2007 and 2008 should have brought about the death of neoliberalism by making plain the human cost of deregulation and privatization; instead, writes Duggan, “zombie neoliberalism” is now stalking the land. And, of course, the spirit of Ayn Rand haunts the White House. Many of Donald Trump’s associates, including the Secretary of State, Mike Pompeo, and his predecessor, Rex Tillerson, have paid homage to her ideas, and the President himself has praised her novel “The Fountainhead.” (Trump apparently identifies with its architect hero, Howard Roark, who blows up a housing project he has designed for being insufficiently perfect.) Their version of Randism is stripped of all the elements that might account for my inability to throw out those books: the pretense of intellectualism, the militant atheism, and the explicit advocacy of sexual freedom. From all that Rand offered, these men have taken only the worst: the cruelty. They are not even optimistic. They are just plain mean.

Meu perfil no Blogspot - Paulo Roberto de Almeida

Não sei bem qual botão apertei, mas apareceu este "Meu Perfil" no Blogspot, algo que eu nunca tinha visto antes.
Como revela blogs que já tive, e dos quais já tinha completamente esquecido, vale o registro de uma copiosa produção de letras, e frases, argumentos no meio, talvez algumas ideias válidas...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 9 de junho de 2019

Meus blogs

Sobre mim

Vasily Grossman - Stalingrad, and other works (NYRB)

BY VASILY GROSSMAN
Translated by Robert Chandler and Elizabeth Chandler
Vasily Grossman's novel Life and Fate is one of the great works of twentieth century literature, a modern story with the scope and power of War and Peace. Now, for the first time, the prequel to Life and Fate is available in English.
Stalingrad introduces the wide cast of characters whose stories continue in Life and Fate, including the physicist Viktor Shtrum and the other members of his troubled family, the Shaposhnikov clan in Stalingrad, soldiers and officers and nurses caught up in battle, and historical figures such as Hitler and Mussolini. The novel begins in the summer of 1942 with the Red Army in headlong retreat before the invading Germans and ends as the Soviets prepare to make their last stand on the banks of the Volga. Centered on the lives of the Shtrums and the Shaposhnikovs, Vasily Grossman's sweeping novel shows war touching on and transforming every aspect of human existence. It is there at the dinner table and in the science lab as much as at the battle front. And yet even in the midst of a devastating conflict where civilization itself is at stake, life and love, in all their complexity, fragility, and fraught beauty, must find a way to persist. Stalingrad, along with Life and Fate, is a story of extraordinary power and deep empathy—tender and fearless, intimate and epic. 
"As a stand-alone novel, this is both gripping and enlightening, a tour de force. When considered as a whole with Life and Fate, this diptych is one of the landmark accomplishments of 20th-century literature.”
Publishers Weekly, starred review

For three days only, Stalingrad, along with these other titles by Vasily Grossman, will be available at 30% off. 

 

Join us for a special celebration of Stalingrad on

Monday, June 24, at 7pm at
McNally Jackson Booksellers
52 Prince Street, NYC

with
Phil Klay, Sam Sacks, and Edwin Frank

O Brasil dos generais e a França dos liberais - livro de Paulo Cesar Gomes

O Brasil dos generais e a França dos liberais: no meio, exilados políticos vigiados

Pesquisador lança livro em que aborda as relações entre os governos: de um lado, a ditadura que expulsava brasileiros e de outro, a democracia que acolhia os exilados, sem deixar de monitorá-los

São Paulo –  Pesquisador e criador de um site voltado à história da ditadura brasileira, Paulo Cesar Gomes dedicou quatro anos a um trabalho que resultou no livro Liberdade vigiada: as relações entre a ditadura militar brasileira e o governo francês – do golpe à anistia (editora Record), que terá lançamento neste sábado (8), às 16h, na livraria Tapera Taperá, localizada na Galeria Metrópole, na região central de São Paulo. Um desses quatro anos foi em Paris, e o autor lembra que não se trata de um trabalho de história oral, com entrevistas e depoimentos. “Eu trabalhei com documentos oficiais ostensivos e sigilosos tanto da diplomacia francesa quanto da brasileira, além dos acervos dos órgãos de segurança e informações ligados ao Itamaraty (Divisão de Segurança e Informações do Ministério das Relações Exteriores e Centro de Informações do Exterior). Fiz essa escolha porque quis que o cerne do meu trabalho fosse a visão oficial das relações franco-brasileiras durante a ditadura”, explica.
Seu interesse estava relacionado ao fato de que a Europa em geral e Paris em particular concentrou o maior número de brasileiros que tentavam escapar das perseguições do regime instalado em 1964. “Eu queria entender como as relações bilaterais foram influenciadas pelo golpe de Estado e pela instauração de um regime de exceção do Brasil, já que, além da presença de exilados brasileiros, a imprensa francesa, até mesmo a vertente mais conservadora, adotou posições muito duras acerca da tomada do poder pelos militares. Não podemos esquecer que a França é reconhecida como o berço da democracia liberal, além de ter construído a tradição de ser uma terra de asilo”, observa o pesquisador, que também assessorou a Comissão Nacional da Verdade.
Suas pesquisas narram, por exemplo, a atuação do general Aurélio de Lyra Tavares como embaixador do Brasil na França, de 1º de junho de 1970 a 16 de dezembro de 1974. “Foi o período em que se buscou estabelecer regras mais rígidas para o monitoramento de brasileiros opositores ao regime no exterior. Esse período foi também quando as transações comerciais de armamentos militares atingiram seu auge como, por exemplo, a compra dos caças Mirage, que custaram uma fortuna ao Brasil e foram exibidos com grande pompa no desfile de 7 de setembro de 1973”, diz o historiador. Lyra Tavares também foi ministro do Exército e integrante da Junta Militar que governou o país durante seis meses entre 1966 e 1967.
À primeira vista, pode surpreender o fato de a França ter mantido sob observação os brasileiros exilados, por sua tradição liberal. Mas, embora os acolhesse, o país – também interessado em desenvolver relações comerciais – sempre esteve atento às suas atividades políticas, lembra Gomes. Mesmo seus líderes à época, o presidente Charles de Gaulle e o primeiro-ministro, Georges Pompidou, nunca manifestaram-se criticamente em relação à ditadura na nação sul-americana. O mesmo não aconteceu em relação à imprensa francesa, mesmo a conservadora, como aponta o pesquisador.
 Quando se pensa em 1964, lembramos imediatamente dos Estados Unidos, no contexto da Guerra Fria. Por que a França? Qual foi seu interesse?
As relações dos Estados Unidos e da França com o Brasil são muito distintas. O Brasil está na zona de influência estadunidense e, como outros pesquisadores já demonstraram, os Estados Unidos tiveram uma atuação direta no golpe de 1964 e, não sem razão, foram os primeiros a reconhecer o regime que se instaurou após o rompimento constitucional. Assim, o governo dos EUA estava muito bem informado do que ocorria no Brasil. Há inúmeros documentos que comprovam essa configuração histórica. Inicialmente, meu interesse em analisar as relações franco-brasileiras após o golpe estava ligado ao fato de que Paris foi a capital europeia que recebeu o maior número de brasileiros que buscavam escapar das perseguições políticas que vinham sofrendo no Brasil. Eu queria entender como as relações bilaterais foram influenciadas pelo golpe de Estado e pela instauração de um regime de exceção do Brasil, já que, além da presença de exilados brasileiros, a imprensa francesa, até mesmo a vertente mais conservadora, adotou posições muito duras acerca da tomada do poder pelos militares. Não podemos esquecer que a França é reconhecida como o berço da democracia liberal, além de ter construído a tradição de ser uma terra de asilo.
Após a Lei de Acesso à Informação (LAI), promulgada no final de 2011, assim que os documentos sigilosos do Itamaraty, bem como os acervos dos órgãos de informações ligados a esse ministério, foram liberados para o público, fui consultá-los. Na medida em que eu ficava mais familiarizado com o modus operandi do Itamaraty desde os momentos posteriores ao golpe, percebi que as questões eram mais complexas do que eu havia pensado inicialmente. Por esse motivo, resolvi ampliar o objetivo do meu trabalho e comecei a desenvolver uma pesquisa mais aprofundada sobre as relações franco-brasileiras. Decerto, o Brasil não tinha a mesma importância para a França como tinha para os Estados Unidos. Ao mesmo tempo, nosso país não era desprezível no contexto mundial. Havia interesse da França não apenas de reforçar sua influência cultural, que desde a 2ª Guerra vinha decrescendo, mas também havia a intenção de fortalecer as relações comerciais com o Brasil. É preciso lembrar que, ao longo do século 20, a França se especializou na venda de armamentos militares e esse comércio representa, até hoje, uma parcela muito significativa do PIB francês. Nesse sentido, é muito interessante analisar a tensão que começou a se criar entre as denúncias feitas por exilados brasileiros, por religiosos, pela imprensa e por setores da sociedade franceses, até mesmo alguns parlamentares, e a posição oficial do governo francês diante da ditadura. Ao longo de todo o período que analisei, o governo francês fez prevalecer seus interesses comerciais e financeiros e nunca emitiu qualquer crítica oficial ao Brasil. Quando ocorria de haver algum questionamento direto sobre esse posicionamento, a resposta padrão era a de que a França adotava o princípio de não intervir em questões internas de outros países.
De Gaulle reconheceu imediatamente o novo regime brasileiro? E quanto ao primeiro-ministro Pompidou?
Ao contrário dos Estados Unidos, logo após o golpe, os meios governamentais franceses não entenderam muito bem o que estava acontecendo em nosso país. No entanto, assim que Castello Branco foi eleito indiretamente pelo Congresso Nacional, a França reconheceu o novo regime. O governo de Jango era visto pelos meios diplomáticos franceses como muito bagunçado e instável. Posso citar, por exemplo, dois conflitos importantes que aconteceram entre os dois países nesse período: o contencioso franco-brasileiro e a chamada “guerra da lagosta”. Assim, ao menos no âmbito das correspondências sigilosas, a queda de Goulart foi muito bem avaliada pelo governo francês, pois, aparentemente, os militares trariam mais ordem ao país.
De Gaulle tinha uma visita oficial agendada para o Brasil em razão de um convite feito ainda durante o governo de Goulart. De início, chegou-se a comentar a possibilidade de excluir o Brasil da viagem, que incluía diversos outros países da América Latina. No entanto, quando o governo brasileiro soube, extraoficialmente, dessa possibilidade, tratou de reforçar o convite, que foi prontamente aceito. A visita ocorreu em outubro de 1964. O presidente francês foi recebido com euforia por todos os lugares por onde passou. Há diversos registros iconográficos dessa viagem. O evento acabou simbolizando internacionalmente o reconhecimento do regime militar por uma grande potência mundial, o que foi excelente para a imagem externa do Brasil. Assim, nem o general De Gaulle, nem Pompidou emitiram publicamente qualquer crítica ao novo governo brasileiro. A mesma postura se manteve até o início da década de 1980, com a chegada de (François) Mitterrand ao poder. De todo modo, nem mesmo nesse período chegou a haver uma mudança radical de posicionamento da França com relação ao Brasil.
 Essa colaboração não chega a ser surpreendente, quando imaginamos que a Europa, particularmente a França, ainda que tivesse um governo conservador, era um destino comum dos exilados brasileiros? 
Em um primeiro momento, esse monitoramento dos exilados brasileiros tanto pela ditadura como pelo governo francês pode parecer surpreendente. No entanto, quando se observa o contexto da época com mais atenção, percebemos que a França, embora acolhesse esses indivíduos, sempre esteve atenta às suas atividades políticas. Um dos requisitos para conseguir a carta de residência, por exemplo, era não se envolver em atividades políticas. De todo modo, é possível observar que os militantes que tiveram algum tipo de envolvimento com a luta armada eram observados com muito mais atenção. Assim, o tratamento dado aos primeiros exilados, que eram aqueles que tinham alguma ligação com o governo de Jango, tais como Samuel Wainer, Josué de Castro, Celso Furtado e até mesmo Juscelino Kubitschek, que já tinham projeção internacional, foi muito diferente daqueles que chegaram após 1968, sobretudo depois do golpe do Chile. Seja como for, embora tenha sido possível comprovar articulações pontuais entre os órgãos oficiais brasileiros e franceses, não consegui comprovar que essa colaboração tenha sido sistemática ao longo da ditadura.
 E havia também uma forte mobilização, na Europa, para denunciar os crimes da ditadura. Essas atividades eram monitoradas?
Sim. Essas atividades foram as que provocaram mais preocupação por parte da ditadura. A quantidade de documentos produzidos sobre todas as denúncias contra o Brasil feitas na Europa é assustadora. A imprensa europeia era minuciosamente analisada e tudo que fazia menção, sobretudo negativa, ao Brasil era incluído pela mala diplomática para ser enviado ao SNI. Além disso, as atividades políticas dos exilados eram detidamente vigiadas. Não podemos esquecer do papel fundamental que dom Helder Câmara exerceu nesse contexto. O bispo, que chegou a ter sua candidatura ao Nobel boicotada por pressões do governo brasileiro, buscou direcionar sua trajetória para denunciar no exterior não apenas as violações aos direitos humanos, mas também a extrema desigualdade social do país, característica brasileira muito marcante até os dias atuais.
Havia posições distintas, então, entre a imprensa e o governo francês?
Claramente. A imprensa francesa, até mesmo a mais conservadora, buscou denunciar desde os momentos posteriores ao golpe todos os abusos que eram cometidos pelas autoridades brasileiras. Foram raras as exceções de veículos, em geral pouco relevantes, que tinham uma posição anticomunista e, portanto, de apoio à ditadura. Por esse motivo, em diversas ocasiões, os diplomatas brasileiros, por ordem do SNI, buscaram interceder junto aos editores dos principais jornais franceses para tentar conter o tom das críticas ao Brasil. Nos arquivos do Itamaraty, há diversos exemplos dessa tentativa de censura por parte do governo brasileiro. Houve inclusive alguns embates entre o editor do Le Monde, por exemplo, e funcionários diplomáticos.
Como se dava a participação do Itamaraty? Havia um esquema de vigilância, de arapongas?
Durante algum tempo, chegou-se a pensar que a DSI-MRE e o Ciex eram órgãos autônomos, uma espécie de corpos estranhos apenas alocados no Itamaraty. No entanto, quando analisamos de maneira detalhada e comparativa a documentação produzida por esses órgãos, observamos que todas essas estruturas estavam interligadas. Os órgãos subordinados ao SNI utilizavam as informações produzidas cotidianamente pelo serviço diplomático para alimentar o sistema de espionagem da ditadura. Havia mesmo diretrizes sobre os temas que deveriam ser encaminhados diretamente ao SNI. Apenas recentemente se começou a entender a complexidade e a amplitude do sistema de informações estruturado pela ditadura. Havia a intenção de criar não apenas um instrumento de monitoramento dos chamados subversivos, mas pretendia-se implantar um mecanismo de controle social de maneira mais ampla. Interessava ao SNI não apenas as questões estritamente políticas, mas também tudo que tocasse temas relativos à moral e aos bons costumes.
 No Brasil ainda há grande dificuldade em acessar determinadas informações relacionadas ao período autoritário. E na França?
Eu discordo em parte de que, no Brasil, haja dificuldades de acessar documentos relativos à ditadura. Desde 2011, com o surgimento da LAI, que foi criada no mesmo dia da Comissão Nacional da Verdade, o acesso aos documentos sigilosos da ditadura ficou muito mais fácil. No entanto, é preciso reforçar que os documentos produzidos pelos órgãos de segurança e informações ligados aos ministérios militares, incluindo aqueles produzidos pelos adidos militares no exterior, nunca foram liberados para a consulta pública. Embora a CNV tenha tido muitos problemas e limitações, o órgão foi muito importante para a disponibilização de documentos da ditadura para um público mais amplo, inclusive com um investimento considerável em digitalização. Na França, um dos berços da arquivística, essas questões são muito mais claras. Há um código do patrimônio que estabelece regras muito rígidas para o acesso a documentos sigilosos, incluindo os casos em que é possível haver exceções. Na França, eu tive acesso a todos os documentos que solicitei para consultar. No entanto, ainda há muitos registros que se encontram dentro do prazo de manutenção do sigilo. Por isso, nos próximos anos, é possível que muito mais detalhes do que consegui pesquisar sejam acessados com a liberação paulatina dos acervos concernentes ao Brasil.

Bolsonaro e a égide do excesso - Rodrigo Levino (Epoca)

A esta altura, aqueles não bolsonaristas que votaram no capitão para evitar a volta dos petistas ultra-corruptos já devem estar arrependidíssimos, não por terem votado contra os petralhas, mas por terem escolhido um dos piores presidentes que o Brasil já teve, senão o pior, absoluta e relativamente (a Dilma é hors concours, pois era apenas um poste desmiolado que provocou a maior recessão de nossa história, mas na continuidade da formidável inépcia administrativa e da gigantesca corrupção dos governos petistas).
Estamos não só com um homem totalmente despreparado para o exercício do cargo, sem qualquer noção de governança, mas igualmente com uma tropa de aloprados que pode representar décadas de atraso para o Brasil. Pode não: já está representando, dentro e fora do Executivo.
A classe média deve estar profundamente preocupada, com o impasse criado por essa tropa de malucos (os que não se enquadram na tribo lutam bravamente para manter o mínimo de racionalidade e de operacionalidade no governo). Não temos muita esperança de que a coisa melhora, pois segundo o dito popular, pau que nasce torto...
Não sou responsável pelo desastre, e tenho me esforçado para fazer alertas gerais contra as maiores loucuras e impropriedades. Sinto pelo país, passando vergonha aqui dentro e lá fora...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 9 de junho de 2019

Bolsonaro e a égide do excesso

Inebriado de muitas vontades e pouco tutano nas ideias, o presidente proclama um futuro tão forte na realização atabalhoada quanto arriscado nas consequências

Rodrigo Levino
Revista Época, 08/06/2019
Presidente Jair Bolsonaro está em visita oficial à Argentina Foto: Agustin Marcarian / Reuters
Presidente Jair Bolsonaro está em visita oficial à Argentina Foto: Agustin Marcarian / Reuters
Diz o ex-chanceler americano Henry Kissinger, em seu livro Ordem Mundial, que ‘a missão suprema de quem governa é moldar o futuro dos governados’. O apoio ao cumprimento dessas intenções pode tanto investir no reforço de identidades sociais e políticas pré-existentes, como Otto Bismarck na construção da Alemanha, ou derivar até uma nova cosmovisão, como foi capaz Kamel Atartük, na Turquia.  

Veja, Kissinger cita outros tantos exemplos, inclusive do próprio Nixon, a quem serviu como ponte no restabelecimento das relações diplomáticas com a China. Mas as pretensões, se não tão claramente definidas para o próprio presidente, mas certamente por gente que o rodeia, acho que passeiam pelas inspirações possíveis acima mencionadas, nos termos gerais de reforma e cosmovisão. Isso para o pessoal que confunde política com RPG no Planalto. Sigamos.  

A verdade, assinala o velho conselheiro de presidentes, é que poucos na história são capazes de feitos dessa magnitude. Quer dizer, de construir pontes com o porvir, de estabelecer, organizar e liderar hoje a construção de um legado.
Leia mais: Os Bolsonaros têm tentado se comportar (um pouco e por enquanto) 

Imaginemos que o presidente Jair Bolsonaro tenha em sua mente um panorama desse futuro para o Brasil e sabe exatamente como prepará-lo. Não é demais imaginar, pela atuação do governo nos últimos cinco meses, que o excesso é a égide desse futuro, a desmesura, o ímpeto aliado a escassez de reflexão. 

A húbris bolsonarista se manifesta, por exemplo, quando o presidente vai até o Congresso despachar um projeto que abranda leis de trânsito — dando o fim ao exame toxicológico para motoristas profissionais (é a legalização do arrebite) e concedendo permissão de direção mesmo a motoristas que tenham atingido o limites de pontos na CNH — um ramo da vida moderna que ceifa, segundo dados do Ministério da Saúde de 2016, cerca de 40 mil vidas por ano no Brasil —, sem qualquer embasamento a não ser o desprezo pelos limites; Isso no mesmo dia em que caduca a medida provisória do marco regulatório do saneamento básico, essa sim, uma sinalização clara de compromisso com as gerações futuras. Quem disso usa, disso cuida. Dessa articulação pró-meio ambiente o governo resolveu largar mão. 

Há uma bom exemplo desse pacto na previsão do Ministério dos Transportes de investir até R$ 100 bilhões nas rodovias nacionais nos próximos quatro anos. É uma notícia alvissareira para quem se arrisca dirigindo nesse país, como os caminhoneiros a quem volta e meia o governo recorre ou se acanha. A qualidade das estradas também concorre para a redução dos acidentes. Mas o que poderia ser o início de um círculo virtuoso foi atropelado pela presunção, pela vaidade de dar, a despeito do que preguem as estatísticas, "o prazer de dirigir" ao motorista brasileiro, esse monumento de responsabilidade e segurança. O argumento do presidente foi explanado numa de suas live, com estética pendida para anúncio da Al Qaeda, como "o cara não é imbecil" de entrar numa curva a oitenta por hora acima do permitido. 
Junte ao abrandamento das regras de trânsito a eficiência capenga da nossa justiça, fermento de impunidade, e a única expressão a que podemos recorrer é "Deus tenha misericórdia dessa nação". No que as medidas defendidas pelo governo podem impedir que escárnios como a soltura do ex-deputado paranaense Carli Filho não se repitam? 

Se é verdade que a liderança inspira, como o "racheiro" que põe vidas em risco enquanto alimenta seu prazer de dirigir não vai se sentir premiado e representado por quem alarga os limites de pontos permitidos na CNH, permitindo que ele permaneça nas ruas afiando sua letalidade? 

A mesma estratégia de confronto e terra arrasada tem sido executada no Ministério da Educação, de onde sai todo tipo de milacria autoritária e inoperância gerencial, mas nenhuma articulação ou satisfação a respeito do futuro do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), fundamental para o planejamento a longo prazo do MEC.  

A força tem sido aplicada no desmonte, no deboche e no desprezo pelos focos de oposição, reais e imaginários, enquanto o que aponta para o futuro e é fundamental para o desenvolvimento social, como a aplicação da Política Nacional de Alfabetização, é deixado à margem. Política essa, aliás, que é lavra do atual governo, assinada em abril passado, e que se bem defendida e afinada junto à sociedade, pode ser um marco importante na educação. A soberba de subjugar os adversários, no entanto, é o que parece mover a instituição. 

A tal húbris, coisa dos gregos, a que os romanos chamavam petulantia, com raras exceções não leva ao erro trágico. Dos poucos excessos aqui listados, por exemplo, podem sair aumento de mortes nas estradas, adiamento do processo de universalização do saneamento básico assim como da alfabetização, alicerces de futuros promissores.  

Inebriado de muitas vontades e pouco tutano nas ideias, o presidente proclama um futuro tão forte na realização atabalhoada quanto arriscado nas consequências. Podia ouvir Clitemnestra, rainha de Agamemnon, tragédia de Ésquilo, quando recomendou que ‘dominem os conquistadores a soberba/ e não se deixem arrastar pela cobiça/ a temerárias, a sacrílegas pilhagens!/ A luta não termina com a vitória; falta/ a volta, que é metade de um longo caminho’. Como estaremos ao final deste, dirigidos por uma gente tão sem comedimento?
Rodrigo Levino, de 36 anos, é cozinheiro. Atuou e colaborou como jornalista por 12 anos na Folha de S.Paulo , Playboy , Poder , piauí e em outras publicações


sábado, 8 de junho de 2019

O povo bolsonarista: anti-iluminismo que descamba para o fascismo - Claudia Antunes (Epoca)

Bolsonaristas expulsam da 'nação' quem não faz parte de seu 'povo'

É um pensamento que ultrapassa a ala dita olavista do governo, como ficou patente em uma entrevista que o general Augusto Heleno deu recentemente

Revista Época, 8/06/2019

É frequente na retórica de autoridades do governo Bolsonaro a pretensão de falar e agir em nome do “povo”. Os olavistas do governo, como o chanceler Ernesto Araújo, estão entre os que mais batem nessa tecla em suas declarações.
No dia da manifestação pró-Bolsonaro ocorrida no final de maio, por exemplo, Araújo escreveu no Twitter: “O Brasil caminha rumo ao exercício do poder pelo povo. Rumo a desfazer as amarras que sempre ataram o povo: amarras políticas, econômicas e também amarras ideológicas e culturais do politicamente correto e do marxismo de contrabando”.
Na retórica do governo Bolsonaro, uma parte do povo — às vezes chamada de “os homens de bem” — é tomada por sua totalidade, mesmo quando se sabe que, até no universo dos brasileiros que votaram no presidente, o “povo” do tuíte de Araújo é uma fração do todo. Em relação a várias iniciativas do governo, como a liberalização da posse e do porte de armas, as pesquisas mostram que uma maioria até mais ampla do que o conjunto dos cidadãos que não votaram em Bolsonaro discorda de suas posições .
Como em tudo que faz parte da ideologia bolsonarista, não há nada de original nisso. Em uma entrevista imperdível ao repórter André Duchiade, do “Globo”, o historiador israelense Zeev Sternhell, especialista no pensamento anti-iluminista, lembrou que há duas concepções de nação.
Os iluministas — que se insurgiram contra a junção de fé e poder e desenvolveram a ideia da igualdade dos homens e dos direitos humanos —, definiram a nação simplesmente como  um “conjunto de pessoas que vivem em um determinado território delimitado por certas fronteiras e obedecem ao mesmo governo”. A nação, disse Sternhell, “é vista com uma comunidade de cidadãos, que podem definir os seus próprios destinos”.
Na concepção anti-iluminista, que no século XX deu origem ao fascismo, a nação é vista como um corpo orgânico, “onde os indivíduos não têm interesses antagonísticos entre si”, explicou o historiador.  Segundo essa tradição, as pessoas, presas a culturas nacionais atávicas, não têm autonomia de decisão e compõem uma massa homogênea, cuja função é servir o Estado.
Os bolsonaristas demonstram que compartilham dessa concepção quando põem para fora da nação todos os que não consideram que fazem parte do seu “povo”. É um pensamento que ultrapassa a ala dita olavista do governo, como ficou patente na entrevista que o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional, deu recentemente ao jornal “Valor”.
Ao comparar os protestos estudantis contra os cortes no ensino superior à manifestação pró-Bolsonaro, Heleno expulsou da sua nação particular os milhares de jovens —  muito mais diversos na sua cor e origem social do que os estudantes de 1968 — que saem às ruas porque veem sua esperança de futuro pela educação decepada por um governo obcecado pelo sexo alheio e por instrumentos de morte, sejam eles as armas propriamente ou volantes de carro.
“Uma das coisas que ficaram demonstradas na manifestação [a favor de Bolsonaro] é que existe uma grande parcela do povo brasileiro que foi para a rua com a bandeira do Brasil. Na manifestação dos estudantes havia pouquíssimas bandeiras do Brasil. Isso para mim é um absurdo, é fruto de toda essa doutrinação ideológica que foi feita nos últimos 20 anos. Então, nossos jovens não têm o país na cabeça”, disse Heleno, dias depois de Bolsonaro chamar os estudantes de “idiotas inúteis”.
O presidente  — secundado por um de seus ministros mais influentes  — transformou uma multidão diversa em uma turba de “doutrinados” por supostos alienígenas, sem capacidade de pensamento próprio, sem autonomia. Nada surpreendente para quem, em um banquete para Steve Bannon e Olavo de Carvalho na embaixada brasileira em Washington, em março, pronunciou a fala definidora do seu mandato: “Eu sempre sonhei em libertar o Brasil da ideologia nefasta de esquerda (...). O Brasil não é um terreno aberto onde nós pretendemos construir coisas para o nosso povo. Nós temos é que desconstruir muita coisa. Desfazer muita coisa. Para depois nós começarmos a fazer”.