Diário Oficial da União – Seção 1 – Pág. 53
Nº 227, terça-feira, 27 de novembro de 2007
Ministério das Relações Exteriores
GABINETE DO MINISTRO
PORTARIA N° - 768, DE 23 DE NOVEMBRO DE 2007
O MINISTRO DE ESTADO DAS RELAÇÕES EXTERIORES, no uso de suas atribuições, e tendo em vista o disposto nos artigos 1o- e 5o- do Regulamento do Instituto Rio Branco, aprovado pela Portaria de 20 de novembro de 1998, publicada no Diário Oficial da União de 25 de novembro de 1998, e alterado pela Portaria no- 11, de 17 de abril de 2001, publicada no Diário Oficial da União de 25 de abril de 2001, resolve:
Art. 1° - Ficam estabelecidas as normas que se seguem para o Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata de 2008.
Art. 2° - O Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata de 2008 constará, na Primeira Fase, de prova objetiva, de caráter eliminatório, constituída de questões de Português, de História do Brasil, de História Mundial, de Geografia, de Política Internacional, de Inglês, de Noções de Direito e Direito Internacional Público e de Noções de Economia.
Art. 3º - A Segunda Fase constará de prova discursiva eliminatória e classificatória de Português.
Parágrafo único. Será estabelecida nota mínima para a prova de Português.
Art. 4º - A Terceira Fase constará de provas discursivas de História do Brasil, de Geografia, de Política Internacional, de Inglês, de Noções de Direito e Direito Internacional Público e de Noções de Economia Parágrafo 1o- As seis provas da Terceira Fase terão peso equivalente.
Art. 5º - A Quarta Fase constará de prova escrita, de caráter exclusivamente classificatório, de uma segunda língua estrangeira, que poderá ser, conforme a opção do candidato, Alemão, Árabe, Chinês (Mandarim), Espanhol, Francês, Japonês ou Russo. Parágrafo único. Para efeitos de classificação, a prova da Quarta Fase terá peso equivalente à metade do peso de cada uma das provas da Terceira Fase.
Art. 6º - Serão oferecidas, no Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata de 2008, 105 (cento e cinco) vagas para a classe inicial da Carreira de Diplomata.
Art. 7º - O Diretor-Geral do Instituto Rio Branco fará publicar o Edital do Concurso.
CELSO AMORIM
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
quinta-feira, 29 de novembro de 2007
domingo, 25 de novembro de 2007
811) Para os candidatos à carreira diplomática: clásssicos da cultura brasileira
Série "Folha Explica" de clássicos da cultura brasileira
Esta série de livros da FolhaSP pode ajudar no trabalho de leitura e compreensão dos grandes clássicos do pensamento brasileiro. Como se trata de obras volumosas, por vezes prolixas, um resumo-introdutório, explicando as teses principais do autor, pode ser útil aos que nao têm tempo ou condições de ler toda a série de clássicos em versao integral.
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Guia abre caminho para leitura de "Casa-Grande e Senzala"
Folha Online, 12/03/2007
Escrito em uma linguagem criativa e inovadora, com métodos de pesquisa pouco ortodoxos e idéias anti-racistas que desafiaram os preconceitos da época, "Casa-Grande e Senzala" (1933) é um grande ensaio de interpretação do Brasil. O primeiro capítulo pode ser lido abaixo.
Por sua importância, o livro é tema de um dos volumes da coleção "Folha Explica", que abre caminhos para a leitura da maior obra brasileira, segundo o antropólogo Darcy Ribeiro, abordando ainda a trajetória controversa e conservadora, irreverente e saudosista do seu autor, Gilberto Freyre (1900-87).
O livro é assinado por Roberto Ventura, que foi professor de teoria literária e literatura comparada na USP (Universidade de São Paulo).
Como o nome indica, a série "Folha Explica" ambiciona explicar os assuntos tratados e fazê-lo em um contexto brasileiro: cada livro oferece ao leitor condições não só para que fique bem informado, mas para que possa refletir sobre o tema, de uma perspectiva atual e consciente das circunstâncias do país.
"Casa-Grande e Senzala"
Autor: Roberto Ventura
Editora: Publifolha
Páginas: 96
Quanto: R$ 17,90
Onde comprar: nas principais livrarias, pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Publifolha
Um Livro Controverso
"Casa-Grande & Senzala"
Grande livro que fala
Desta nossa leseira
Brasileira.
Manuel Bandeira
Gilberto Freyre é o mais amado e odiado escritor brasileiro. Casa-Grande & Senzala, seu principal livro, é uma das obras mais polêmicas já publicadas no país. Monteiro Lobato comparou o seu lançamento em 1933 com a fulgurante aparição do cometa Halley nos céus. Jorge Amado saudou o livro como uma revolução, que deslumbrava o país, ao falar dele como nunca se falara antes. O ensaio de Freyre foi aclamado como uma ruptura nos estudos históricos e sociais tanto pelo tema --a formação de uma sociedade agrária, escravocrata e híbrida-- quanto pelas idéias, como a valorização do escravo negro e da cultura afro-brasileira, mas sobretudo pela linguagem, fortemente oral e coloquial, avessa a qualquer ranço acadêmico ou jargão especializado.
Freyre foi endeusado nas décadas de 1930 e 1940 como o descobridor da identidade do país e criador de uma nova auto-imagem do brasileiro, que passava de negativa a positiva, de disfórica a eufórica. Os críticos João Ribeiro e Lúcia Miguel Pereira consideraram o livro definitivo, por alargar os limites da nação e afastar os temores infundados sobre a inferioridade racial de sua população. Para o antropólogo Roquete-Pinto, era uma obra que já nascia clássica, de consulta indispensável para todos aqueles que quisessem entender o país.1
Antes tomado como inferno da depravação sexual e da degeneração étnica, o Brasil se converteu pelas mãos de Gilberto Freyre em paraíso tropical e mestiço, em que se daria a confraternização de raças e culturas oriundas da Europa, África e América. A idéia de uma história em que os conflitos se harmonizam passou a fazer parte do senso comum do brasileiro e da cultura política do país, tendo sido veiculada pelos sucessivos governos a partir dos anos 40. Incorporado por grande parte da população, o mito da "democracia racial" se tornou um obstáculo para o enfrentamento das questões étnicas e sociais e uma barreira para as minorias, como os negros, os índios, as mulheres e os homossexuais, cujos movimentos lutam por identidades diferenciadas e reivindicações específicas.
Freyre se tornou, junto com o romancista Jorge Amado, o escritor brasileiro de maior sucesso internacional, pelo menos até a aparição do esotérico Paulo Coelho no mercado editorial dos anos 90. Tanto Freyre quanto Amado difundiram a imagem do brasileiro bom e sorridente, doce e não-agressivo, que se deixa seduzir pela mulata, cuja sensualidade ardente é glorificada quer em Casa-Grande & Senzala, quer nos romances do escritor baiano, como Gabriela, Cravo e Canela, Tenda dos Milagres, Tereza Batista Cansada de Guerra e Tieta do Agreste, inúmeras vezes reeditados e adaptados para a televisão e o cinema.
Casa-Grande & Senzala é até hoje o ensaio brasileiro mais traduzido, com versões em inglês, francês, espanhol, italiano, alemão e polonês, além de mais de 20 edições no Brasil. Homenageado com colóquios, medalhas e títulos, Freyre é doutor honoris causa pelas universidades de Columbia, Coimbra, Paris, Sussex, Münster, Oxford e Recife. Obteve os prêmios Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras, Aspen do Instituto de Estudos Humanísticos dos EUA e La Madonnina da Itália. Foi condecorado pela França, México, Venezuela, Portugal e Espanha e recebeu a Ordem do Império Britânico das mãos da rainha Elizabeth 2ª.
Mas Casa-Grande & Senzala também provocou fortes reações. A obra foi atacada por sua linguagem, tida como vulgar e obscena. Um obscuro escritor mineiro xingou o livro de "pornográfico" devido à referência ao modo brasileiro de defecar. Com o apoio de um colégio religioso do Recife, alguns exemplares foram queimados em praça pública. E o escritor logo provocaria novas controvérsias, ao organizar no Recife, em 1934, o Primeiro Congresso Afro-Brasileiro. Seu interesse pela cultura afro-brasileira lhe valeu a acusação de "subversivo", "comunista" e "soviético", por seus supostos ataques à família brasileira e à moral cristã. Foi hostilizado pela elite pernambucana, à qual era ligado por relações profissionais e políticas e também por laços de parentesco, ao propor à Cooperativa dos Usineiros de Pernambuco o estudo das condições de vida dos trabalhadores rurais. O Dops (Delegacia de Ordem Política e Social) de Pernambuco o fichou em 1935, em companhia dos pintores Di Cavalcanti e Cícero Dias, como "agitador, organizador da Frente Única Sindical, orientadora das greves preparatórias do movimento comunista".
Freyre se opôs ao governo autoritário de Getúlio Vargas e foi presidente da UDN (União Democrática Nacional) em seu estado. Foi preso e espancado em 1942, junto com o pai, devido a um artigo no Diário de Pernambuco em que acusava um beneditino alemão de Olinda de ser racista e pró-nazista. Foi indiciado ao Tribunal de Segurança Nacional em 1945, já no fim do governo Vargas, por ter discursado em manifestação contra a ditadura no Recife, em que a polícia política matou a tiros duas pessoas. Com a redemocratização do país, elegeu-se deputado pela UDN e participou da Assembléia Constituinte e da Câmara dos Deputados, à qual propôs a criação no Recife do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, depois Fundação Joaquim Nabuco, com o objetivo de fazer investigações de caráter rural.
Já sexagenário, assumiu posições polêmicas, que o tornaram maldito por mais de duas décadas para os setores de esquerda. Apoiou o golpe militar de 1964, cujo governo forte via como o restabelecimento de uma ordem patriarcal e hierárquica, destruída pela urbanização e modernização. Conforme observou o jornalista Mario Cesar Carvalho, em artigo na Folha de S.Paulo publicado no centenário de seu nascimento,2 o homem que criou a mitológica imagem de um Brasil tolerante acabou por adotar posições políticas marcadas pela intolerância...
Movido por aquilo que o antropólogo Darcy Ribeiro chamou de "tara direitista", Freyre acusou o reitor da Universidade do Recife de ser conivente com a propaganda comunista e pediu a sua renúncia ao cargo. Tinha exigido antes, em 1963, o afastamento de supostos esquerdistas da Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste). E chegou a propor, em 1972, ao senador Filinto Müller, ex-chefe da polícia política de Vargas, um programa para a Arena (Aliança Renovadora Nacional), partido de sustentação dos militares no poder. Segundo ele, a Arena deveria defender a crescente superação das diferenças raciais no Brasil pela criação de um povo "além-raça". Encantado com a ditadura de Antônio Salazar em Portugal, que ocupou o poder por mais de quatro décadas, de 1928 a 1974, foi conivente com a política colonialista da antiga metrópole na África e na Ásia em nome do "luso-tropicalismo", entendido como a civilização original e maleável criada pelos portugueses em três continentes.
Foi atacado nas décadas de 1960 e 1970 por sociólogos da Universidade de São Paulo, como Florestan Fernandes, Octávio Ianni e Fernando Henrique Cardoso, que criticaram sua visão idílica do passado colonial e a idéia de que se vive em uma "democracia racial", sem conflitos entre brancos e negros. A partir dos anos 80, foi redescoberto por historiadores interessados na história do cotidiano, da sexualidade e da intimidade, que resgataram a sua visão da escravidão.
Voltou a ser valorizado agora como um precursor da virada antropológica e psicológica dos estudos históricos, que se dera a partir da década de 1970 com a terceira geração da escola dos Annales e os representantes da "nova história" francesa, como Fernand Braudel, Georges Duby e Philippe Ariès. Passou a ser elogiado como pioneiro por seu foco nos "novos objetos" e em figuras até então marginais, como o escravo, a mulher, a criança, a arquitetura e os artefatos, os hábitos culturais e as tradições culinárias e alimentares. Os maiores intelectuais do século 20, dentre eles o crítico Roland Barthes e os historiadores Febvre e Braudel, já o tinham aclamado como escritor sensível à matéria palpável e renovador dos estudos históricos e sociais.
Por que Casa-Grande & Senzala e seu autor, Gilberto Freyre, tidos como revolucionários e progressistas nos anos 30 e 40, passaram a ser criticados a partir da década de 1960 como conservadores e reacionários? Como o sociólogo, que os usineiros nordestinos chamaram de "comunista" e de "soviético" nos anos 30, conseguiu se tornar o ideólogo informal do regime militar? De que modo se deu o resgate de sua obra, a partir dos anos 80, como pioneira dos novos rumos da historiografia? São essas as perguntas que este livro procura responder.
1 Os artigos de João Ribeiro, Lúcia Miguel Pereira e Roquete-Pinto se encontram reproduzidos em: Edson Nery da Fonseca (org.), Casa-Grande & Senzala e a Crítica Brasileira de 1933 a 1944. Recife: Ed. de Pernambuco, 1985.
2 Caderno "Mais!", 12 mar. 2000, dossiê "Céu & Inferno de Gilberto Freyre".
Leia mais
# Estilo de Graciliano Ramos marcou construção do Brasil
# Livro desvenda Macunaíma, o herói sem nenhum caráter
# Roteiro indica o que ler de Carlos Drummond de Andrade
# Alfredo Bosi desvenda vida e obra de Machado de Assis
# Livro explica obra de 60 autores da literatura brasileira atual
# Livro interpreta biografia, canções e carreira de Chico Buarque
Especial
# Leia o que já foi publicado sobre lançamentos da Publifolha
Esta série de livros da FolhaSP pode ajudar no trabalho de leitura e compreensão dos grandes clássicos do pensamento brasileiro. Como se trata de obras volumosas, por vezes prolixas, um resumo-introdutório, explicando as teses principais do autor, pode ser útil aos que nao têm tempo ou condições de ler toda a série de clássicos em versao integral.
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Guia abre caminho para leitura de "Casa-Grande e Senzala"
Folha Online, 12/03/2007
Escrito em uma linguagem criativa e inovadora, com métodos de pesquisa pouco ortodoxos e idéias anti-racistas que desafiaram os preconceitos da época, "Casa-Grande e Senzala" (1933) é um grande ensaio de interpretação do Brasil. O primeiro capítulo pode ser lido abaixo.
Por sua importância, o livro é tema de um dos volumes da coleção "Folha Explica", que abre caminhos para a leitura da maior obra brasileira, segundo o antropólogo Darcy Ribeiro, abordando ainda a trajetória controversa e conservadora, irreverente e saudosista do seu autor, Gilberto Freyre (1900-87).
O livro é assinado por Roberto Ventura, que foi professor de teoria literária e literatura comparada na USP (Universidade de São Paulo).
Como o nome indica, a série "Folha Explica" ambiciona explicar os assuntos tratados e fazê-lo em um contexto brasileiro: cada livro oferece ao leitor condições não só para que fique bem informado, mas para que possa refletir sobre o tema, de uma perspectiva atual e consciente das circunstâncias do país.
"Casa-Grande e Senzala"
Autor: Roberto Ventura
Editora: Publifolha
Páginas: 96
Quanto: R$ 17,90
Onde comprar: nas principais livrarias, pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Publifolha
Um Livro Controverso
"Casa-Grande & Senzala"
Grande livro que fala
Desta nossa leseira
Brasileira.
Manuel Bandeira
Gilberto Freyre é o mais amado e odiado escritor brasileiro. Casa-Grande & Senzala, seu principal livro, é uma das obras mais polêmicas já publicadas no país. Monteiro Lobato comparou o seu lançamento em 1933 com a fulgurante aparição do cometa Halley nos céus. Jorge Amado saudou o livro como uma revolução, que deslumbrava o país, ao falar dele como nunca se falara antes. O ensaio de Freyre foi aclamado como uma ruptura nos estudos históricos e sociais tanto pelo tema --a formação de uma sociedade agrária, escravocrata e híbrida-- quanto pelas idéias, como a valorização do escravo negro e da cultura afro-brasileira, mas sobretudo pela linguagem, fortemente oral e coloquial, avessa a qualquer ranço acadêmico ou jargão especializado.
Freyre foi endeusado nas décadas de 1930 e 1940 como o descobridor da identidade do país e criador de uma nova auto-imagem do brasileiro, que passava de negativa a positiva, de disfórica a eufórica. Os críticos João Ribeiro e Lúcia Miguel Pereira consideraram o livro definitivo, por alargar os limites da nação e afastar os temores infundados sobre a inferioridade racial de sua população. Para o antropólogo Roquete-Pinto, era uma obra que já nascia clássica, de consulta indispensável para todos aqueles que quisessem entender o país.1
Antes tomado como inferno da depravação sexual e da degeneração étnica, o Brasil se converteu pelas mãos de Gilberto Freyre em paraíso tropical e mestiço, em que se daria a confraternização de raças e culturas oriundas da Europa, África e América. A idéia de uma história em que os conflitos se harmonizam passou a fazer parte do senso comum do brasileiro e da cultura política do país, tendo sido veiculada pelos sucessivos governos a partir dos anos 40. Incorporado por grande parte da população, o mito da "democracia racial" se tornou um obstáculo para o enfrentamento das questões étnicas e sociais e uma barreira para as minorias, como os negros, os índios, as mulheres e os homossexuais, cujos movimentos lutam por identidades diferenciadas e reivindicações específicas.
Freyre se tornou, junto com o romancista Jorge Amado, o escritor brasileiro de maior sucesso internacional, pelo menos até a aparição do esotérico Paulo Coelho no mercado editorial dos anos 90. Tanto Freyre quanto Amado difundiram a imagem do brasileiro bom e sorridente, doce e não-agressivo, que se deixa seduzir pela mulata, cuja sensualidade ardente é glorificada quer em Casa-Grande & Senzala, quer nos romances do escritor baiano, como Gabriela, Cravo e Canela, Tenda dos Milagres, Tereza Batista Cansada de Guerra e Tieta do Agreste, inúmeras vezes reeditados e adaptados para a televisão e o cinema.
Casa-Grande & Senzala é até hoje o ensaio brasileiro mais traduzido, com versões em inglês, francês, espanhol, italiano, alemão e polonês, além de mais de 20 edições no Brasil. Homenageado com colóquios, medalhas e títulos, Freyre é doutor honoris causa pelas universidades de Columbia, Coimbra, Paris, Sussex, Münster, Oxford e Recife. Obteve os prêmios Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras, Aspen do Instituto de Estudos Humanísticos dos EUA e La Madonnina da Itália. Foi condecorado pela França, México, Venezuela, Portugal e Espanha e recebeu a Ordem do Império Britânico das mãos da rainha Elizabeth 2ª.
Mas Casa-Grande & Senzala também provocou fortes reações. A obra foi atacada por sua linguagem, tida como vulgar e obscena. Um obscuro escritor mineiro xingou o livro de "pornográfico" devido à referência ao modo brasileiro de defecar. Com o apoio de um colégio religioso do Recife, alguns exemplares foram queimados em praça pública. E o escritor logo provocaria novas controvérsias, ao organizar no Recife, em 1934, o Primeiro Congresso Afro-Brasileiro. Seu interesse pela cultura afro-brasileira lhe valeu a acusação de "subversivo", "comunista" e "soviético", por seus supostos ataques à família brasileira e à moral cristã. Foi hostilizado pela elite pernambucana, à qual era ligado por relações profissionais e políticas e também por laços de parentesco, ao propor à Cooperativa dos Usineiros de Pernambuco o estudo das condições de vida dos trabalhadores rurais. O Dops (Delegacia de Ordem Política e Social) de Pernambuco o fichou em 1935, em companhia dos pintores Di Cavalcanti e Cícero Dias, como "agitador, organizador da Frente Única Sindical, orientadora das greves preparatórias do movimento comunista".
Freyre se opôs ao governo autoritário de Getúlio Vargas e foi presidente da UDN (União Democrática Nacional) em seu estado. Foi preso e espancado em 1942, junto com o pai, devido a um artigo no Diário de Pernambuco em que acusava um beneditino alemão de Olinda de ser racista e pró-nazista. Foi indiciado ao Tribunal de Segurança Nacional em 1945, já no fim do governo Vargas, por ter discursado em manifestação contra a ditadura no Recife, em que a polícia política matou a tiros duas pessoas. Com a redemocratização do país, elegeu-se deputado pela UDN e participou da Assembléia Constituinte e da Câmara dos Deputados, à qual propôs a criação no Recife do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, depois Fundação Joaquim Nabuco, com o objetivo de fazer investigações de caráter rural.
Já sexagenário, assumiu posições polêmicas, que o tornaram maldito por mais de duas décadas para os setores de esquerda. Apoiou o golpe militar de 1964, cujo governo forte via como o restabelecimento de uma ordem patriarcal e hierárquica, destruída pela urbanização e modernização. Conforme observou o jornalista Mario Cesar Carvalho, em artigo na Folha de S.Paulo publicado no centenário de seu nascimento,2 o homem que criou a mitológica imagem de um Brasil tolerante acabou por adotar posições políticas marcadas pela intolerância...
Movido por aquilo que o antropólogo Darcy Ribeiro chamou de "tara direitista", Freyre acusou o reitor da Universidade do Recife de ser conivente com a propaganda comunista e pediu a sua renúncia ao cargo. Tinha exigido antes, em 1963, o afastamento de supostos esquerdistas da Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste). E chegou a propor, em 1972, ao senador Filinto Müller, ex-chefe da polícia política de Vargas, um programa para a Arena (Aliança Renovadora Nacional), partido de sustentação dos militares no poder. Segundo ele, a Arena deveria defender a crescente superação das diferenças raciais no Brasil pela criação de um povo "além-raça". Encantado com a ditadura de Antônio Salazar em Portugal, que ocupou o poder por mais de quatro décadas, de 1928 a 1974, foi conivente com a política colonialista da antiga metrópole na África e na Ásia em nome do "luso-tropicalismo", entendido como a civilização original e maleável criada pelos portugueses em três continentes.
Foi atacado nas décadas de 1960 e 1970 por sociólogos da Universidade de São Paulo, como Florestan Fernandes, Octávio Ianni e Fernando Henrique Cardoso, que criticaram sua visão idílica do passado colonial e a idéia de que se vive em uma "democracia racial", sem conflitos entre brancos e negros. A partir dos anos 80, foi redescoberto por historiadores interessados na história do cotidiano, da sexualidade e da intimidade, que resgataram a sua visão da escravidão.
Voltou a ser valorizado agora como um precursor da virada antropológica e psicológica dos estudos históricos, que se dera a partir da década de 1970 com a terceira geração da escola dos Annales e os representantes da "nova história" francesa, como Fernand Braudel, Georges Duby e Philippe Ariès. Passou a ser elogiado como pioneiro por seu foco nos "novos objetos" e em figuras até então marginais, como o escravo, a mulher, a criança, a arquitetura e os artefatos, os hábitos culturais e as tradições culinárias e alimentares. Os maiores intelectuais do século 20, dentre eles o crítico Roland Barthes e os historiadores Febvre e Braudel, já o tinham aclamado como escritor sensível à matéria palpável e renovador dos estudos históricos e sociais.
Por que Casa-Grande & Senzala e seu autor, Gilberto Freyre, tidos como revolucionários e progressistas nos anos 30 e 40, passaram a ser criticados a partir da década de 1960 como conservadores e reacionários? Como o sociólogo, que os usineiros nordestinos chamaram de "comunista" e de "soviético" nos anos 30, conseguiu se tornar o ideólogo informal do regime militar? De que modo se deu o resgate de sua obra, a partir dos anos 80, como pioneira dos novos rumos da historiografia? São essas as perguntas que este livro procura responder.
1 Os artigos de João Ribeiro, Lúcia Miguel Pereira e Roquete-Pinto se encontram reproduzidos em: Edson Nery da Fonseca (org.), Casa-Grande & Senzala e a Crítica Brasileira de 1933 a 1944. Recife: Ed. de Pernambuco, 1985.
2 Caderno "Mais!", 12 mar. 2000, dossiê "Céu & Inferno de Gilberto Freyre".
Leia mais
# Estilo de Graciliano Ramos marcou construção do Brasil
# Livro desvenda Macunaíma, o herói sem nenhum caráter
# Roteiro indica o que ler de Carlos Drummond de Andrade
# Alfredo Bosi desvenda vida e obra de Machado de Assis
# Livro explica obra de 60 autores da literatura brasileira atual
# Livro interpreta biografia, canções e carreira de Chico Buarque
Especial
# Leia o que já foi publicado sobre lançamentos da Publifolha
sábado, 24 de novembro de 2007
810) Juca, a revista dos alunos do Instituto Rio Branco
Acaba de ser lançado o primeiro número da revista "Juca", escrita e editada pelos alunos do Curso de Formação/Mestrado em Diplomacia do Instituto Rio-Branco, com a colaboração da FUNAG.
A revista é de excelente qualidade gráfica e editorial. Foi batizada em homenagem ao apelido familiar do Patrono da dipomacia brasileira, chamado de "Juca Paranhos" na adolescência e no início de sua carreira no Itamaraty, muito antes de receber o título nobiliárquico de Barão do Rio Branco.
Entre outras matérias, o número inaugural da revista "Juca" traz entrevistas com os Embaixadores Alberto da Costa e Silva e João Clemente Baena Soares. Segue o link: http://www.irbr. mre.gov.br/ juca_web. pdf
A revista é de excelente qualidade gráfica e editorial. Foi batizada em homenagem ao apelido familiar do Patrono da dipomacia brasileira, chamado de "Juca Paranhos" na adolescência e no início de sua carreira no Itamaraty, muito antes de receber o título nobiliárquico de Barão do Rio Branco.
Entre outras matérias, o número inaugural da revista "Juca" traz entrevistas com os Embaixadores Alberto da Costa e Silva e João Clemente Baena Soares. Segue o link: http://www.irbr. mre.gov.br/ juca_web. pdf
quinta-feira, 22 de novembro de 2007
809) Obscurantismo no IPEA?
Não sei bem o que está acontecendo no IPEA, pois há muito tempo não falo com alguém de lá, não vou ao edifício-sede, nem assisti, nas últimas semanas, a qualquer evento organizado por esse órgão reputado pela qualidade técnica dos seus estudos de economia brasileira.
Sou sim um colaborador voluntário, benévolo, do veículo que me parecia um excelente canal de comunicação entre o Instituto e o público at large, a revista Desafios do Desenvolvimento, na qual assumi, voluntariamente e desde o início, o papel de colaborador na seção Estante, oferecendo resenhas (curtas, médias, ampliadas) sobre literatura econômica em geral. Uma listagem (incompleta, e agora imagino inacessível) de minhas resenhas pode ser vista neste link do meu site:
http://www.pralmeida.org/06LinksColabor/03Desafios.html
Devo ter feito mais ou menos 50 resenhas, sempre com grande liberdade de expressão, com exceção de pequenos cortes pontuais, mais justificados por questões de editoração, do que necessariamente por alguma censura política.
O antigo site da revista foi modificado: em lugar de www.desafios.org.br, somos dirigidos agora a http://www.desafios.ipea.gov.br/.
A simples mudança de org para gov talvez já seja um indicativo das mudanças em curso.
Espero, otimisticamente, que para melhor, mas tenho minhas dúvidas.
Imagino que os novos mandatários do IPEA estejam reorganizando a revista, o seu site, bem como o resto do IPEA, e eles devem ter idéias próprias sobre quem pode ou não pode colaborar com a revista.
Talvez seja melhor assim: eu poderei ler meus livros em paz, sem prazos a cumprir e sem limitações de espaço quanto ao tamanho das minhas resenhas (que costumam ser enormes) e não precisarei mais me preocupar em colaborar benevolamente com um veículo de comunicação.
Abaixo, um pequeno reflexo das mudanças no IPEA...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 21.11.2007
Tempos difíceis
Miriam Leitão
O Globo, 21.11.2007
Quando o e-mail circulou no Ipea convidando para um almoço de despedida dos quatro economistas afastados do órgão, ninguém achava que tanta gente compareceria. Para lá foram, inclusive, pessoas que discordam dos expurgados, mas discordam muito mais do expurgo em si. O afastamento é a parte mais visível do festival de obscurantismo e maus modos que atacou o instituto de pesquisa do governo.
Marcio Pochmann é o terceiro presidente do Ipea do governo Lula. É o primeiro a usar os métodos que usa. No instituto, todo mundo acha normal que uma nova direção troque diretores, tire DAS, faça suas escolhas. Mas a nova direção está encurralando quem pensa diferente, com exonerações, expurgos, retirada de dinheiro de pesquisa, interrupção de trabalhos em andamento, suspensão de convênios e o que é pior: tenta legitimar tudo o que faz levantando uma suspeita de que existia antes algo "irregular". Os convênios com a Anpec, por exemplo, sempre foram a ligação do Ipea com todos os cursos de pós-graduação do país. O Ipea vive em regime de intervenção. O clima está "indigesto", define um dos vários economistas com quem a coluna conversou. A produção caiu, estudos foram interrompidos, há pessoas valiosas fazendo as malas, como o Ricardo Paes de Barros, considerado, dentro e fora do instituto, um gênio.
No dia da posse, Pochmann encontrou Regis Bonelli e disse:
— Professor, já te conheço de nome, espero continuar contando com a sua ajuda.
Bonelli é aposentado do Ipea, mas há anos tem feito trabalhos eventuais para o instituto. Não recebia salário. Recebia por contratos de pesquisa específicos. Estava, naquele momento, terminando um texto sobre o "Estado e o Desenvolvimento" para o novo número de "O Estado de uma Nação". O texto que entregou criticava os gastos públicos mostrando que eles não têm levado a mais desenvolvimento. Analisou 10 anos para não ser visto como crítica a um governo, mas ao Estado gastador. Não agradou. Nem esse, nem qualquer outro estudo.
O "Estado de uma Nação" foi criado no atual governo e seu objetivo é agregar o resultado das novas pesquisas do Ipea e incluir idéias surgidas fora do instituto. Quando estava quase tudo pronto, o economista Paulo Tafner foi avisado por um telefonema que estava exonerado do cargo de editor. Outra revista mais acadêmica, "Pesquisa e Planejamento Econômico", recebeu também informação de que terá novo editor.
Na semana passada, Bonelli foi chamado à sala de João Sicsú. Lá estava não o titular do cargo, mas seu assistente, Renault Michel. E o diálogo foi curioso.
— Quero lhe agradecer o trabalho que o senhor sempre fez no Ipea.
— Fiz não, ainda faço.
— O senhor fez várias coisas boas. Aliás, a única coisa boa que o Malan fez aqui foram os trabalhos com o senhor. Mas agora queremos corrigir umas irregularidades.
— Eu não faço nenhuma irregularidade e, se você quiser a minha sala, basta me avisar.
Que alguma coisa esquisita tinha começado a acontecer até os corredores do Ipea descobriram em abril, quando dois assessores do senador Marcelo Crivella entraram no prédio, pediram para falar com a diretoria de recursos humanos. Queriam saber quantos DAS tinha o Ipea.
O novo diretor do Rio é o primeiro de fora da carreira que assume o posto. Mas isso não é o relevante. O esquisito é a maneira como essa direção lida com as pessoas que estão no instituto há décadas. Ele convocou todos para sua posse. Chegou uma hora e meia atrasado, ficou alguns minutos e foi embora. O breve discurso, para uma platéia de mestres e doutores, foi patético:
— Meu nome é Sicsú. Sic-sú! O dever de casa de todos é aprender como se pronuncia o meu nome. Se quiserem alguma coisa comigo, a senha é professor. Me chamem de professor.
O "professor" tem estado muito ausente, não comparece aos seminários da casa, quase não recebe quem pede para conversar. A não ser para conversas tensas, como a que teve com Fábio Giambiagi, quando ele foi perguntar se o convênio com o BNDES seria mantido. Nela, ele não respondeu a pergunta direta. Depois é que a notícia circulou.
O convênio com o BNDES era um grande negócio para o Ipea. Por ele, o instituto tinha dois excelentes economistas, Fábio e Otávio Tourinho, sem gastar um tostão. O pretexto para afastá-los foi ridículo: de que se quer estudar "agora" o longo prazo. Mas é exatamente o que os dois sempre fizeram, como no caso dos estudos sobre previdência. Com Gervásio Rezende e Regis, o Ipea também não tinha gastos e tinha a vantagem de contar com a maturidade dos economistas. Regis Bonelli, há anos, ajuda a formação dos jovens que entram no instituto.
O esquisito é que não é uma perseguição ideológica a inimigos da política econômica. Na verdade, parece o oposto. Michel e Sicsú têm publicado artigos contra a política monetária e a política cambial. O pensamento vivo da turma pode ser resumido: eles são contra o Banco Central e a favor da gastança. Alguns dos argumentos que usam são constrangedores, pelo que revelam de desconhecimento de teoria econômica.
O ministro Mangabeira Unger avisou na posse que iria "organizar o dissenso". Está organizando o obscurantismo. Quando a notícia do expurgo chegou aos jornais, Pochmann reagiu: "Deve ser coisa orquestrada." Essa reação é um clássico do autoritarismo. A mistura de obscurantismo e autoritarismo é um filme muito velho, que o Ipea, nascido numa ditadura militar, não pensou que veria, aos 43 anos, e em plena democracia.
Transcrito de O Globo de 21/11/2007
Sou sim um colaborador voluntário, benévolo, do veículo que me parecia um excelente canal de comunicação entre o Instituto e o público at large, a revista Desafios do Desenvolvimento, na qual assumi, voluntariamente e desde o início, o papel de colaborador na seção Estante, oferecendo resenhas (curtas, médias, ampliadas) sobre literatura econômica em geral. Uma listagem (incompleta, e agora imagino inacessível) de minhas resenhas pode ser vista neste link do meu site:
http://www.pralmeida.org/06LinksColabor/03Desafios.html
Devo ter feito mais ou menos 50 resenhas, sempre com grande liberdade de expressão, com exceção de pequenos cortes pontuais, mais justificados por questões de editoração, do que necessariamente por alguma censura política.
O antigo site da revista foi modificado: em lugar de www.desafios.org.br, somos dirigidos agora a http://www.desafios.ipea.gov.br/.
A simples mudança de org para gov talvez já seja um indicativo das mudanças em curso.
Espero, otimisticamente, que para melhor, mas tenho minhas dúvidas.
Imagino que os novos mandatários do IPEA estejam reorganizando a revista, o seu site, bem como o resto do IPEA, e eles devem ter idéias próprias sobre quem pode ou não pode colaborar com a revista.
Talvez seja melhor assim: eu poderei ler meus livros em paz, sem prazos a cumprir e sem limitações de espaço quanto ao tamanho das minhas resenhas (que costumam ser enormes) e não precisarei mais me preocupar em colaborar benevolamente com um veículo de comunicação.
Abaixo, um pequeno reflexo das mudanças no IPEA...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 21.11.2007
Tempos difíceis
Miriam Leitão
O Globo, 21.11.2007
Quando o e-mail circulou no Ipea convidando para um almoço de despedida dos quatro economistas afastados do órgão, ninguém achava que tanta gente compareceria. Para lá foram, inclusive, pessoas que discordam dos expurgados, mas discordam muito mais do expurgo em si. O afastamento é a parte mais visível do festival de obscurantismo e maus modos que atacou o instituto de pesquisa do governo.
Marcio Pochmann é o terceiro presidente do Ipea do governo Lula. É o primeiro a usar os métodos que usa. No instituto, todo mundo acha normal que uma nova direção troque diretores, tire DAS, faça suas escolhas. Mas a nova direção está encurralando quem pensa diferente, com exonerações, expurgos, retirada de dinheiro de pesquisa, interrupção de trabalhos em andamento, suspensão de convênios e o que é pior: tenta legitimar tudo o que faz levantando uma suspeita de que existia antes algo "irregular". Os convênios com a Anpec, por exemplo, sempre foram a ligação do Ipea com todos os cursos de pós-graduação do país. O Ipea vive em regime de intervenção. O clima está "indigesto", define um dos vários economistas com quem a coluna conversou. A produção caiu, estudos foram interrompidos, há pessoas valiosas fazendo as malas, como o Ricardo Paes de Barros, considerado, dentro e fora do instituto, um gênio.
No dia da posse, Pochmann encontrou Regis Bonelli e disse:
— Professor, já te conheço de nome, espero continuar contando com a sua ajuda.
Bonelli é aposentado do Ipea, mas há anos tem feito trabalhos eventuais para o instituto. Não recebia salário. Recebia por contratos de pesquisa específicos. Estava, naquele momento, terminando um texto sobre o "Estado e o Desenvolvimento" para o novo número de "O Estado de uma Nação". O texto que entregou criticava os gastos públicos mostrando que eles não têm levado a mais desenvolvimento. Analisou 10 anos para não ser visto como crítica a um governo, mas ao Estado gastador. Não agradou. Nem esse, nem qualquer outro estudo.
O "Estado de uma Nação" foi criado no atual governo e seu objetivo é agregar o resultado das novas pesquisas do Ipea e incluir idéias surgidas fora do instituto. Quando estava quase tudo pronto, o economista Paulo Tafner foi avisado por um telefonema que estava exonerado do cargo de editor. Outra revista mais acadêmica, "Pesquisa e Planejamento Econômico", recebeu também informação de que terá novo editor.
Na semana passada, Bonelli foi chamado à sala de João Sicsú. Lá estava não o titular do cargo, mas seu assistente, Renault Michel. E o diálogo foi curioso.
— Quero lhe agradecer o trabalho que o senhor sempre fez no Ipea.
— Fiz não, ainda faço.
— O senhor fez várias coisas boas. Aliás, a única coisa boa que o Malan fez aqui foram os trabalhos com o senhor. Mas agora queremos corrigir umas irregularidades.
— Eu não faço nenhuma irregularidade e, se você quiser a minha sala, basta me avisar.
Que alguma coisa esquisita tinha começado a acontecer até os corredores do Ipea descobriram em abril, quando dois assessores do senador Marcelo Crivella entraram no prédio, pediram para falar com a diretoria de recursos humanos. Queriam saber quantos DAS tinha o Ipea.
O novo diretor do Rio é o primeiro de fora da carreira que assume o posto. Mas isso não é o relevante. O esquisito é a maneira como essa direção lida com as pessoas que estão no instituto há décadas. Ele convocou todos para sua posse. Chegou uma hora e meia atrasado, ficou alguns minutos e foi embora. O breve discurso, para uma platéia de mestres e doutores, foi patético:
— Meu nome é Sicsú. Sic-sú! O dever de casa de todos é aprender como se pronuncia o meu nome. Se quiserem alguma coisa comigo, a senha é professor. Me chamem de professor.
O "professor" tem estado muito ausente, não comparece aos seminários da casa, quase não recebe quem pede para conversar. A não ser para conversas tensas, como a que teve com Fábio Giambiagi, quando ele foi perguntar se o convênio com o BNDES seria mantido. Nela, ele não respondeu a pergunta direta. Depois é que a notícia circulou.
O convênio com o BNDES era um grande negócio para o Ipea. Por ele, o instituto tinha dois excelentes economistas, Fábio e Otávio Tourinho, sem gastar um tostão. O pretexto para afastá-los foi ridículo: de que se quer estudar "agora" o longo prazo. Mas é exatamente o que os dois sempre fizeram, como no caso dos estudos sobre previdência. Com Gervásio Rezende e Regis, o Ipea também não tinha gastos e tinha a vantagem de contar com a maturidade dos economistas. Regis Bonelli, há anos, ajuda a formação dos jovens que entram no instituto.
O esquisito é que não é uma perseguição ideológica a inimigos da política econômica. Na verdade, parece o oposto. Michel e Sicsú têm publicado artigos contra a política monetária e a política cambial. O pensamento vivo da turma pode ser resumido: eles são contra o Banco Central e a favor da gastança. Alguns dos argumentos que usam são constrangedores, pelo que revelam de desconhecimento de teoria econômica.
O ministro Mangabeira Unger avisou na posse que iria "organizar o dissenso". Está organizando o obscurantismo. Quando a notícia do expurgo chegou aos jornais, Pochmann reagiu: "Deve ser coisa orquestrada." Essa reação é um clássico do autoritarismo. A mistura de obscurantismo e autoritarismo é um filme muito velho, que o Ipea, nascido numa ditadura militar, não pensou que veria, aos 43 anos, e em plena democracia.
Transcrito de O Globo de 21/11/2007
terça-feira, 20 de novembro de 2007
808) Reflexão sobre a felicidade a partir de coisas simples...
Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.
Cora Coralina, poeta de Goiás (1889-1985)
Tomei conhecimento tardiamente da frase acima de Cora Coralina e, quando dela me “apossei”, constatei que outros milhares de leitores, um tribo imensa de curiosos, professores e candidatos a poetas já a tinham incorporado em centenas de outras citações, provavelmente esparsas e incompletas. O Google “devolveu” 107 mil resultados para uma busca com essas palavras entre aspas, o que descontando as inúmeras repetições consolida, ainda assim, vasto repositório de citações de uma frase simples e no entanto imensamente poética e cativante.
Creio, como muitos outros antes de mim, que a felicidade pode estar justamente nesse ato de ensino-aprendizado, que de fato me parece uma dupla atividade, nos dois sentidos captados pela poeta de Goiás velho. Sempre aprendemos algo tentando ensinar alguma coisa a outras pessoas, pois a própria atividade docente constitui um aprendizado constante. Eu pelo menos estou sempre lendo algo para melhorar minhas aulas, trazendo novos materiais em classe, enviando artigos aos alunos, esforçando-me para que eles consigam superar o volume forçosamente limitado daquilo que é humanamente possível transmitir em sala de aula.
Eu me permitiria acrescentar à singela constatação da poeta goiana uma outra fonte de felicidade, que aliás está implícita no se sentido do ensino: o hábito da leitura. Aproveito para transcrever uma outra frase, de um escritor e dramaturgo conhecido, autor reputado popular, ainda que personalidade sabidamente complicada:
“Eu não tenho o hábito da leitura. Eu tenho a paixão da leitura. O livro sempre foi para mim uma fonte de encantamento. Eu leio com prazer e com alegria”. Ariano Suassuna.
Creio poder dizer que eu não tenho apenas a paixão da leitura. Talvez minha atitude esteja mais próxima da obsessão, da compulsão, um verdadeiro delirium tremens na fixação do texto escrito, qualquer que seja ele, do mais simples ao mais elaborado. Quando digo obsessão, não pretendo de forma alguma referir-me a algo doentio, fora de controle, pois sou absolutamente calmo e controlado em minhas visitas a livrarias e bibliotecas: contemplo com calma cada lombada ou capa e apenas ocasionalmente retiro um livro para consultar seu interior. Não me deixo dominar pelos livros e de forma alguma sou um bibliófilo ou mesmo um colecionador de livros. Na verdade, não consigo me enquadrar em nenhuma categoria dessas que supostamente compõem o mundo dos amantes de livros.
Para começar, não tenho nenhum respeito pelos livros, nenhuma devoção especial, nenhum cuidado em manuseá-los ou guardá-los (muito mal, por sinal, pois acabo me perdendo na selva de livros que constitui minha caótica biblioteca, se é que ela merece mesmo esse título). Os livros, para mim, são objetos de uso, de consumo, de manuseio indiferente, eles não valem que pelo seu conteúdo, como instrumentos de aquisição de um saber, que este sim, eu reputo indispensável a uma vida merecedora de ser vivida.
Não hesitaria um só instante em trocar todos os meus livros por versões eletrônicas, se e quando esse formato se revelar mais cômodo e mais interessante ao manuseio e leitura. Não hesito em sacrificar um livro se devo lê-lo em condições inadequadas, pois o que vale é o que podemos capturar em seu interior, não sua aparência externa ou sua conservação impecável. Ou seja, não sou um colecionador de livros, sou um “colhedor” de leituras, um agricultor da página impressa, um cultivador do texto editado, eventualmente também um semeador de conhecimento a partir dessas leituras contínuas.
De fato, o que me permite ser professor, resenhista de livros (tudo menos profissional, já que só resenho os livros que desejo) e, talvez até, um escrevinhador contumaz, antes que de sucesso, é esse hábito arraigado da leitura ininterrupta, em toda e qualquer circunstância, para grande desespero de familiares e outros “convivas”. Estou sempre lendo, algumas vezes até quando dirijo carro – o que, sinceramente, não recomendo –, mas ainda não encontrei um livro impermeável à água para leitura na ducha (na banheira seria mais fácil, mas não tenho paciência para esse tipo de prática).
Creio que a felicidade pode ser encontrada nesse tipo de coisas simples: um bom livro, uma boa música, um ambiente acolhedor, um sofá confortável, o que, confesso, raramente acontece comigo. Acabo lendo na mesa do computador, segurando o livro com a perna e teclando de modo desajeitado ao anotar coisas para registro escrito do que li. Aliás, as duas mesas de trabalho que existem em meu escritório, já não comportam mais nenhum livro: as pilhas se acumulam dos dois lados do teclado, e a outra mesa já está alta de jornais, revistas e livros, muitos livros, que também se esparramam pelo chão, como as batatinhas daquele poema infantil.
Leitor anárquico que sou, tenho livros em processo de leitura espalhados pelos diversos cômodos da casa, um pouco em todas as partes, novamente para desespero dos familiares. Não creio que venha a mudar agora esses maus hábitos. O que me deixa mesmo pensativo é a dúvida sobre quantos anos ainda terei pela frente para “liquidar” todos os livros (meus e de outras procedências), que aguardam leitura. Preciso de mais 80 ou 100...
Paulo Roberto de Almeida
(www.pralmeida.org)
Brasília, 1838: 19 novembro 2007
Cora Coralina, poeta de Goiás (1889-1985)
Tomei conhecimento tardiamente da frase acima de Cora Coralina e, quando dela me “apossei”, constatei que outros milhares de leitores, um tribo imensa de curiosos, professores e candidatos a poetas já a tinham incorporado em centenas de outras citações, provavelmente esparsas e incompletas. O Google “devolveu” 107 mil resultados para uma busca com essas palavras entre aspas, o que descontando as inúmeras repetições consolida, ainda assim, vasto repositório de citações de uma frase simples e no entanto imensamente poética e cativante.
Creio, como muitos outros antes de mim, que a felicidade pode estar justamente nesse ato de ensino-aprendizado, que de fato me parece uma dupla atividade, nos dois sentidos captados pela poeta de Goiás velho. Sempre aprendemos algo tentando ensinar alguma coisa a outras pessoas, pois a própria atividade docente constitui um aprendizado constante. Eu pelo menos estou sempre lendo algo para melhorar minhas aulas, trazendo novos materiais em classe, enviando artigos aos alunos, esforçando-me para que eles consigam superar o volume forçosamente limitado daquilo que é humanamente possível transmitir em sala de aula.
Eu me permitiria acrescentar à singela constatação da poeta goiana uma outra fonte de felicidade, que aliás está implícita no se sentido do ensino: o hábito da leitura. Aproveito para transcrever uma outra frase, de um escritor e dramaturgo conhecido, autor reputado popular, ainda que personalidade sabidamente complicada:
“Eu não tenho o hábito da leitura. Eu tenho a paixão da leitura. O livro sempre foi para mim uma fonte de encantamento. Eu leio com prazer e com alegria”. Ariano Suassuna.
Creio poder dizer que eu não tenho apenas a paixão da leitura. Talvez minha atitude esteja mais próxima da obsessão, da compulsão, um verdadeiro delirium tremens na fixação do texto escrito, qualquer que seja ele, do mais simples ao mais elaborado. Quando digo obsessão, não pretendo de forma alguma referir-me a algo doentio, fora de controle, pois sou absolutamente calmo e controlado em minhas visitas a livrarias e bibliotecas: contemplo com calma cada lombada ou capa e apenas ocasionalmente retiro um livro para consultar seu interior. Não me deixo dominar pelos livros e de forma alguma sou um bibliófilo ou mesmo um colecionador de livros. Na verdade, não consigo me enquadrar em nenhuma categoria dessas que supostamente compõem o mundo dos amantes de livros.
Para começar, não tenho nenhum respeito pelos livros, nenhuma devoção especial, nenhum cuidado em manuseá-los ou guardá-los (muito mal, por sinal, pois acabo me perdendo na selva de livros que constitui minha caótica biblioteca, se é que ela merece mesmo esse título). Os livros, para mim, são objetos de uso, de consumo, de manuseio indiferente, eles não valem que pelo seu conteúdo, como instrumentos de aquisição de um saber, que este sim, eu reputo indispensável a uma vida merecedora de ser vivida.
Não hesitaria um só instante em trocar todos os meus livros por versões eletrônicas, se e quando esse formato se revelar mais cômodo e mais interessante ao manuseio e leitura. Não hesito em sacrificar um livro se devo lê-lo em condições inadequadas, pois o que vale é o que podemos capturar em seu interior, não sua aparência externa ou sua conservação impecável. Ou seja, não sou um colecionador de livros, sou um “colhedor” de leituras, um agricultor da página impressa, um cultivador do texto editado, eventualmente também um semeador de conhecimento a partir dessas leituras contínuas.
De fato, o que me permite ser professor, resenhista de livros (tudo menos profissional, já que só resenho os livros que desejo) e, talvez até, um escrevinhador contumaz, antes que de sucesso, é esse hábito arraigado da leitura ininterrupta, em toda e qualquer circunstância, para grande desespero de familiares e outros “convivas”. Estou sempre lendo, algumas vezes até quando dirijo carro – o que, sinceramente, não recomendo –, mas ainda não encontrei um livro impermeável à água para leitura na ducha (na banheira seria mais fácil, mas não tenho paciência para esse tipo de prática).
Creio que a felicidade pode ser encontrada nesse tipo de coisas simples: um bom livro, uma boa música, um ambiente acolhedor, um sofá confortável, o que, confesso, raramente acontece comigo. Acabo lendo na mesa do computador, segurando o livro com a perna e teclando de modo desajeitado ao anotar coisas para registro escrito do que li. Aliás, as duas mesas de trabalho que existem em meu escritório, já não comportam mais nenhum livro: as pilhas se acumulam dos dois lados do teclado, e a outra mesa já está alta de jornais, revistas e livros, muitos livros, que também se esparramam pelo chão, como as batatinhas daquele poema infantil.
Leitor anárquico que sou, tenho livros em processo de leitura espalhados pelos diversos cômodos da casa, um pouco em todas as partes, novamente para desespero dos familiares. Não creio que venha a mudar agora esses maus hábitos. O que me deixa mesmo pensativo é a dúvida sobre quantos anos ainda terei pela frente para “liquidar” todos os livros (meus e de outras procedências), que aguardam leitura. Preciso de mais 80 ou 100...
Paulo Roberto de Almeida
(www.pralmeida.org)
Brasília, 1838: 19 novembro 2007
sábado, 17 de novembro de 2007
807) Um retrato dos nossos "estudantes"
Abaixo uma demanda, surpreendente, para mim, mas provavelmente nao inédita nesse tipo de "mercado", recebida pelo link de contato do meu site, e mais abaixo a minha resposta.
Começo a ficar estarrecido com a desfaçatez de certos jovens estudantes...
-------------
Paulo Roberto de Almeida
Begin forwarded message:
From: xxx
Date: 17 de novembro de 2007 12h23min41s GMT-02:00
To: paulomre@gmail.com
Subject: Formulario do SITE Paulo Roberto de Almeida: Sem assunto
Mensagem enviada pelo formulário de Contato do SITE.
Nome: Gleida B
Cidade: VITORIA
Estado: ES
Email: xxx
Assunto: Sem assunto
Mensagem: Estou precisando da RESENHA ANALÍTICA do livro “O Mal-Estar da Pós Modernidade”, de Zygmunt Balman, nas normas da ABNT, com no mínimo 15 laudas sem transcrição de texto, e respondendo na conclusão: Qual é o mal-estar pós moderno?
Caso vc tenha, preciso para o inicio de dezembro/07. Quanto custa? Qual a forma de pagamento? Como será entregue, impresso ou email?
Estarei no aguardo.
Obrigada.
===========
Não estou nesse mercado, e surpreende-me que voce, sem saber ou sem sequer se interessar em saber se o meu site é comercial, já começa encomendando -- melhor, determinando -- o trabalho e já tratando dos aspectos "contratuais".
Parece que a mediocridade crescente do sistema de ensino está sendo completada pela preguiça congenital de certos estudantes...
-------------
Paulo Roberto de Almeida
pralmeida@mac.com www.pralmeida.org
http://diplomatizzando.blogspot.com/
Mensagem enviada pelo formulário de Contato do SITE.
On 17/11/2007, at 14:30, gxxxxxx@oi.com.br wrote:
Vc tem toda razão.
Mas não deveria julgar "quem vc não conhece".
Isso sim é uma mediocridade.
Valeu!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
==========
Você não devia ter respondido de maneira tão grosseira.
Isso me obriga a postar a sua mensagem no meu blog...
-------------
Paulo Roberto de Almeida
pralmeida@mac.com www.pralmeida.org
http://diplomatizzando.blogspot.com/
Começo a ficar estarrecido com a desfaçatez de certos jovens estudantes...
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Paulo Roberto de Almeida
Begin forwarded message:
From: xxx
Date: 17 de novembro de 2007 12h23min41s GMT-02:00
To: paulomre@gmail.com
Subject: Formulario do SITE Paulo Roberto de Almeida: Sem assunto
Mensagem enviada pelo formulário de Contato do SITE.
Nome: Gleida B
Cidade: VITORIA
Estado: ES
Email: xxx
Assunto: Sem assunto
Mensagem: Estou precisando da RESENHA ANALÍTICA do livro “O Mal-Estar da Pós Modernidade”, de Zygmunt Balman, nas normas da ABNT, com no mínimo 15 laudas sem transcrição de texto, e respondendo na conclusão: Qual é o mal-estar pós moderno?
Caso vc tenha, preciso para o inicio de dezembro/07. Quanto custa? Qual a forma de pagamento? Como será entregue, impresso ou email?
Estarei no aguardo.
Obrigada.
===========
Não estou nesse mercado, e surpreende-me que voce, sem saber ou sem sequer se interessar em saber se o meu site é comercial, já começa encomendando -- melhor, determinando -- o trabalho e já tratando dos aspectos "contratuais".
Parece que a mediocridade crescente do sistema de ensino está sendo completada pela preguiça congenital de certos estudantes...
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Paulo Roberto de Almeida
pralmeida@mac.com www.pralmeida.org
http://diplomatizzando.blogspot.com/
Mensagem enviada pelo formulário de Contato do SITE.
On 17/11/2007, at 14:30, gxxxxxx@oi.com.br wrote:
Vc tem toda razão.
Mas não deveria julgar "quem vc não conhece".
Isso sim é uma mediocridade.
Valeu!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
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Você não devia ter respondido de maneira tão grosseira.
Isso me obriga a postar a sua mensagem no meu blog...
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Paulo Roberto de Almeida
pralmeida@mac.com www.pralmeida.org
http://diplomatizzando.blogspot.com/
806) Por que o Brasil nunca teve um Nobel?
Por que nunca ganhamos o Nobel?
16/11/2007
Um dos termômetros dos rumos da ciência é o anúncio dos ganhadores do Nobel, feito anualmente na primeira quinzena de outubro. Em sua coluna desta semana, o biólogo Jerry Borges explica como são escolhidos os agraciados com o mais prestigioso prêmio de ciência. O colunista discute ainda fatores que ajudam a explicar por que o Brasil nunca teve um ganhador dessa láurea.
-------------
Por que nunca ganhamos o Nobel?
Colunista explica como são escolhidos os ganhadores do mais prestigioso prêmio científico
(Foto) O químico sueco Alfred Nobel (1833-1896), cuja herança financia o mais prestigioso prêmio científico do mundo (foto: Gösta Florman).
Anualmente, um dos termômetros dos rumos científicos da humanidade é o anúncio dos ganhadores do Nobel, feito na primeira quinzena de outubro em Estocolmo, capital da Suécia. O prêmio é concedido pela fundação criada pelo químico e engenheiro sueco Alfred Nobel (1833-1896), com fundos amealhados após a criação de 355 patentes e de indústrias em cerca de 20 países. Nobel, porém, também costuma ser lembrado pela invenção e pelo patenteamento da dinamite.
Entre a repercussão atual da premiação criada por ele e a acolhida inicial de sua iniciativa, ocorreu uma enorme mudança de atitude por parte da sociedade. A divulgação do testamento de apenas uma página de Alfred Nobel em 27 de novembro de 1895 recebeu críticas contundentes, inclusive da realeza sueca, que não compreendia os motivos para que a quase totalidade de sua enorme fortuna fosse empenhada na criação de um prêmio para agraciar pessoas – inclusive estrangeiros – que tivessem contribuído para o progresso cientifico. A influência e o sucesso atual dos prêmios Nobel mostram, no entanto, que ele foi um visionário que compreendeu que o progresso da humanidade está muito além de nações e raças.
Cinco categorias do prêmio – física, fisiologia e medicina, química, literatura e paz – foram instituídas originalmente no testamento de Nobel e concedidas a partir de 1901. O prêmio de economia foi criado posteriormente em memória de Nobel pelo Banco Central Sueco e é concedido desde 1968.
A presença de prêmios para literatura e paz pode, à primeira vista, parecer estranha para uma fundação criada por alguém que inventou a dinamite, que contribuiu para a evolução armamentista. Contudo, uma análise da vida de Nobel indica que ele era também alguém interessado nos destinos da humanidade e na cultura e que, inclusive, escrevia poemas e peças teatrais.
O processo de escolha
As premiações da Fundação Nobel são concedidas por seis comitês independentes, que analisam os candidatos às premiações em cada uma das áreas. Apesar de serem auxiliados por assessores externos, esses comitês são compostos por um número reduzido de pessoas. O comitê de química, por exemplo, é formado por apenas oito membros. Os membros desses comitês têm mandatos renováveis de três anos e, em sua grande maioria, são professores universitários que, durante parte do ano, são remunerados para exercerem essa “atividade extra”.
Os nomes desses candidatos são sugeridos por organizações representativas de suas áreas, que atuam em seus países natais ou nos locais onde eles fizeram sua carreira. Todas as propostas a serem analisadas devem ser enviadas a Estocolmo antes do inicio de fevereiro. Embora esse número varie de ano a ano, podem concorrer a um prêmio algumas centenas de candidatos a cada edição.
(Foto) Sede da Real Academia Sueca de Ciências, em Estocolmo. Essa instituição indica os membros do comitê que seleciona os ganhadores do Nobel nas categorias física, química e economia (foto: Wikimedia Commons).
Obviamente esses comitês recebem pressões sutis vindas das mais diversas instâncias, pois, atualmente, ganhar essa honraria é algo que não é apenas significativo para os agraciados, mas também para sua instituição e até para seu país. É quase como se estivesse sendo decidida uma medalha de ouro olímpica ou a Copa do Mundo!
Após o exame das sugestões, uma série de candidatos promissores é selecionada e, então, são conduzidas avaliações mais detalhadas. Os procedimentos para a outorga dos prêmios e os nomes dos candidatos são secretos e as atas das reuniões das comissões permanecem sob sigilo durante 50 anos. Outra característica do Nobel é que não podem ser concedidos prêmios póstumos, a menos que o agraciado tenha falecido durante a análise dos candidatos.
Dinheiro e prestígio
Os agraciados recebem, além de um diploma e uma medalha, entregues em um jantar solene com a família real sueca, uma quantia de cerca de 1,5 milhões de dólares. Além disso, o prêmio representa prestígio e maiores oportunidades de se obterem verbas de vulto para o financiamento de pesquisas.
Porém, dificilmente o Nobel vai para um cientista novo na sua área: trata-se provavelmente de um nome consagrado, que já teve seu trabalho reconhecido inúmeras vezes. O prêmio é, portanto, apenas uma etapa – talvez culminante – de uma vida dedicada à ciência. Deve também de ser enfatizado que, atualmente, o sucesso de algum cientista depende do número de colaborações e intercâmbios que esse profissional tem com outros grupos de pesquisa em seu país e no exterior, assim como a qualidade da equipe na qual ele está inserido. Portanto, apesar de termos um único cientista premiado (ou, quando muito, dois ou três), seu sucesso deve ser compartilhado com sua equipe: pós-doutorandos, doutorandos, mestrandos, técnicos de laboratório etc.
Apesar de ter um componente político, a escolha anual dos agraciados na imensa maioria dos casos é técnica e procura contemplar pesquisas básicas que tenham contribuído para desenvolver uma determinada área do conhecimento humano. Uma exceção a essa regra é o Nobel da paz que, freqüentemente, procura sinalizar uma posição política especifica. Nesse sentido, por exemplo, foram agraciados o Papa João Paulo II, o ex-presidente americano Jimmy Carter, o Dalai Lama e, neste ano, o ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore e o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, na sigla em inglês), envolvidos na luta contra o aquecimento global.
Dos 779 prêmios concedidos até hoje para indivíduos e 19 para organizações, cerca da metade foi para os Estados Unidos (305) e para a Grã-Bretanha (114). Porém, 64 países como o Vietnã, as Ilhas Faroe, Gana, Nigéria, Timor Leste, Guatemala e Venezuela já tiveram laureados pelo Nobel.
(Foto) O físico brasileiro Cesar Lattes (1924-2005) é freqüentemente citado como um brasileiro que merecia ter levado o Nobel de física. Lattes integrou a equipe que descobriu o méson pi e obteve a partícula em laboratório. Clique na imagem para ler um perfil de Lattes.
O predomínio dos Estados Unidos se fez notar sobretudo após a debandada em massa de cientistas europeus para esse país após a ascensão dos nazistas na Alemanha em 1933. Contudo, deve ser lembrado que o sucesso continua até hoje, graças ao investimento maciço desse país em instituições científicas com metas claras a serem alcançadas em médio e longo prazo. Esses investimentos em ciência e tecnologia são feitos sempre com base em uma filosofia pragmática e competitiva de gerenciamento e na descentralização das pesquisas realizadas em universidades e centros privados e públicos de pesquisa.
E o Brasil?
Neste ano, mais uma vez acompanhamos o anúncio do Nobel sem qualquer candidato brasileiro agraciado com o prêmio. Será que por aqui não somos capazes de fazer ciência de qualidade? Ou será que não temos ainda sorte ou influência para que um nome brasileiro seja selecionado por uma das comissões avaliadoras dos candidatos ao Nobel?
A segunda opção parece a mais correta. Alberto Santos-Dumont (1873-1932), pioneiro da aviação, Cesar Lattes (1924-2005), um dos descobridores do méson pi, Carlos Chagas (1879-1934), que descreveu a doença que leva seu nome, Oswaldo Cruz (1872-1917), que comandou a reforma sanitária do Rio de Janeiro, o romancista João Guimarães Rosa (1908-1967), o poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) e o ativista dos direitos humanos Herbert de Sousa (1935-1997) são apenas alguns nomes, entre outros tantos, que poderiam ter sido agraciados com a premiação.
Além deles, existe atualmente uma série de cientistas e cidadãos competentíssimos que poderiam aspirar à láurea. Contudo, nosso país não é o único injustiçado. Basta lembra que o russo naturalizado americano George Gamow (1904-1968), um dos pais da teoria do Big Bang, o escritor argentino Jorge Luis Borges (1899-1986) e o inventor americano (1847-1931) Thomas Edison nunca ganharam um Nobel. E mesmo o líder pacifista indiano Mahatma Gandhi (1869-1948) foi preterido pelo comitê do Nobel, apesar ter sido candidato por cinco vezes.
Se na atual conjuntura de nosso país alguém for escolhido, seria apenas uma feliz coincidência – ou talvez um trabalho isolado feito por alguém de qualidade excepcional. Contudo, sabemos que a escolha de um laureado com o Nobel só será possível se houver de maneira constante um investimento em ciência e tecnologia e uma mudança na postura política que passe a encarar a educação e a ciência com outros olhos e como um instrumento para o crescimento do país. No Brasil, por enquanto, infelizmente ainda estamos longe disso...
Jerry Carvalho Borges
Colunista da CH On-line
16/11/2007
SUGESTÕES PARA LEITURA
Espmark, K. The Nobel Prize in Literature. A Study of the Criteria behind the Choices. Boston: G.K. Hall & Co, 1991.
Feldman, B. The Nobel Prize: A History of Genius, Controversy, and Prestige. New York: Arcade, 2000.
Levinovitz, A.W., Ringertz, N. The Nobel Prize: The First 100 Years. London: Imperial College Press and World Scientific Publishing Co. Pte. Ltd., 2001.
The Nobel Foundation: http://nobelprize.org/nobelfoundation/index.html
16/11/2007
Um dos termômetros dos rumos da ciência é o anúncio dos ganhadores do Nobel, feito anualmente na primeira quinzena de outubro. Em sua coluna desta semana, o biólogo Jerry Borges explica como são escolhidos os agraciados com o mais prestigioso prêmio de ciência. O colunista discute ainda fatores que ajudam a explicar por que o Brasil nunca teve um ganhador dessa láurea.
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Por que nunca ganhamos o Nobel?
Colunista explica como são escolhidos os ganhadores do mais prestigioso prêmio científico
(Foto) O químico sueco Alfred Nobel (1833-1896), cuja herança financia o mais prestigioso prêmio científico do mundo (foto: Gösta Florman).
Anualmente, um dos termômetros dos rumos científicos da humanidade é o anúncio dos ganhadores do Nobel, feito na primeira quinzena de outubro em Estocolmo, capital da Suécia. O prêmio é concedido pela fundação criada pelo químico e engenheiro sueco Alfred Nobel (1833-1896), com fundos amealhados após a criação de 355 patentes e de indústrias em cerca de 20 países. Nobel, porém, também costuma ser lembrado pela invenção e pelo patenteamento da dinamite.
Entre a repercussão atual da premiação criada por ele e a acolhida inicial de sua iniciativa, ocorreu uma enorme mudança de atitude por parte da sociedade. A divulgação do testamento de apenas uma página de Alfred Nobel em 27 de novembro de 1895 recebeu críticas contundentes, inclusive da realeza sueca, que não compreendia os motivos para que a quase totalidade de sua enorme fortuna fosse empenhada na criação de um prêmio para agraciar pessoas – inclusive estrangeiros – que tivessem contribuído para o progresso cientifico. A influência e o sucesso atual dos prêmios Nobel mostram, no entanto, que ele foi um visionário que compreendeu que o progresso da humanidade está muito além de nações e raças.
Cinco categorias do prêmio – física, fisiologia e medicina, química, literatura e paz – foram instituídas originalmente no testamento de Nobel e concedidas a partir de 1901. O prêmio de economia foi criado posteriormente em memória de Nobel pelo Banco Central Sueco e é concedido desde 1968.
A presença de prêmios para literatura e paz pode, à primeira vista, parecer estranha para uma fundação criada por alguém que inventou a dinamite, que contribuiu para a evolução armamentista. Contudo, uma análise da vida de Nobel indica que ele era também alguém interessado nos destinos da humanidade e na cultura e que, inclusive, escrevia poemas e peças teatrais.
O processo de escolha
As premiações da Fundação Nobel são concedidas por seis comitês independentes, que analisam os candidatos às premiações em cada uma das áreas. Apesar de serem auxiliados por assessores externos, esses comitês são compostos por um número reduzido de pessoas. O comitê de química, por exemplo, é formado por apenas oito membros. Os membros desses comitês têm mandatos renováveis de três anos e, em sua grande maioria, são professores universitários que, durante parte do ano, são remunerados para exercerem essa “atividade extra”.
Os nomes desses candidatos são sugeridos por organizações representativas de suas áreas, que atuam em seus países natais ou nos locais onde eles fizeram sua carreira. Todas as propostas a serem analisadas devem ser enviadas a Estocolmo antes do inicio de fevereiro. Embora esse número varie de ano a ano, podem concorrer a um prêmio algumas centenas de candidatos a cada edição.
(Foto) Sede da Real Academia Sueca de Ciências, em Estocolmo. Essa instituição indica os membros do comitê que seleciona os ganhadores do Nobel nas categorias física, química e economia (foto: Wikimedia Commons).
Obviamente esses comitês recebem pressões sutis vindas das mais diversas instâncias, pois, atualmente, ganhar essa honraria é algo que não é apenas significativo para os agraciados, mas também para sua instituição e até para seu país. É quase como se estivesse sendo decidida uma medalha de ouro olímpica ou a Copa do Mundo!
Após o exame das sugestões, uma série de candidatos promissores é selecionada e, então, são conduzidas avaliações mais detalhadas. Os procedimentos para a outorga dos prêmios e os nomes dos candidatos são secretos e as atas das reuniões das comissões permanecem sob sigilo durante 50 anos. Outra característica do Nobel é que não podem ser concedidos prêmios póstumos, a menos que o agraciado tenha falecido durante a análise dos candidatos.
Dinheiro e prestígio
Os agraciados recebem, além de um diploma e uma medalha, entregues em um jantar solene com a família real sueca, uma quantia de cerca de 1,5 milhões de dólares. Além disso, o prêmio representa prestígio e maiores oportunidades de se obterem verbas de vulto para o financiamento de pesquisas.
Porém, dificilmente o Nobel vai para um cientista novo na sua área: trata-se provavelmente de um nome consagrado, que já teve seu trabalho reconhecido inúmeras vezes. O prêmio é, portanto, apenas uma etapa – talvez culminante – de uma vida dedicada à ciência. Deve também de ser enfatizado que, atualmente, o sucesso de algum cientista depende do número de colaborações e intercâmbios que esse profissional tem com outros grupos de pesquisa em seu país e no exterior, assim como a qualidade da equipe na qual ele está inserido. Portanto, apesar de termos um único cientista premiado (ou, quando muito, dois ou três), seu sucesso deve ser compartilhado com sua equipe: pós-doutorandos, doutorandos, mestrandos, técnicos de laboratório etc.
Apesar de ter um componente político, a escolha anual dos agraciados na imensa maioria dos casos é técnica e procura contemplar pesquisas básicas que tenham contribuído para desenvolver uma determinada área do conhecimento humano. Uma exceção a essa regra é o Nobel da paz que, freqüentemente, procura sinalizar uma posição política especifica. Nesse sentido, por exemplo, foram agraciados o Papa João Paulo II, o ex-presidente americano Jimmy Carter, o Dalai Lama e, neste ano, o ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore e o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, na sigla em inglês), envolvidos na luta contra o aquecimento global.
Dos 779 prêmios concedidos até hoje para indivíduos e 19 para organizações, cerca da metade foi para os Estados Unidos (305) e para a Grã-Bretanha (114). Porém, 64 países como o Vietnã, as Ilhas Faroe, Gana, Nigéria, Timor Leste, Guatemala e Venezuela já tiveram laureados pelo Nobel.
(Foto) O físico brasileiro Cesar Lattes (1924-2005) é freqüentemente citado como um brasileiro que merecia ter levado o Nobel de física. Lattes integrou a equipe que descobriu o méson pi e obteve a partícula em laboratório. Clique na imagem para ler um perfil de Lattes.
O predomínio dos Estados Unidos se fez notar sobretudo após a debandada em massa de cientistas europeus para esse país após a ascensão dos nazistas na Alemanha em 1933. Contudo, deve ser lembrado que o sucesso continua até hoje, graças ao investimento maciço desse país em instituições científicas com metas claras a serem alcançadas em médio e longo prazo. Esses investimentos em ciência e tecnologia são feitos sempre com base em uma filosofia pragmática e competitiva de gerenciamento e na descentralização das pesquisas realizadas em universidades e centros privados e públicos de pesquisa.
E o Brasil?
Neste ano, mais uma vez acompanhamos o anúncio do Nobel sem qualquer candidato brasileiro agraciado com o prêmio. Será que por aqui não somos capazes de fazer ciência de qualidade? Ou será que não temos ainda sorte ou influência para que um nome brasileiro seja selecionado por uma das comissões avaliadoras dos candidatos ao Nobel?
A segunda opção parece a mais correta. Alberto Santos-Dumont (1873-1932), pioneiro da aviação, Cesar Lattes (1924-2005), um dos descobridores do méson pi, Carlos Chagas (1879-1934), que descreveu a doença que leva seu nome, Oswaldo Cruz (1872-1917), que comandou a reforma sanitária do Rio de Janeiro, o romancista João Guimarães Rosa (1908-1967), o poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) e o ativista dos direitos humanos Herbert de Sousa (1935-1997) são apenas alguns nomes, entre outros tantos, que poderiam ter sido agraciados com a premiação.
Além deles, existe atualmente uma série de cientistas e cidadãos competentíssimos que poderiam aspirar à láurea. Contudo, nosso país não é o único injustiçado. Basta lembra que o russo naturalizado americano George Gamow (1904-1968), um dos pais da teoria do Big Bang, o escritor argentino Jorge Luis Borges (1899-1986) e o inventor americano (1847-1931) Thomas Edison nunca ganharam um Nobel. E mesmo o líder pacifista indiano Mahatma Gandhi (1869-1948) foi preterido pelo comitê do Nobel, apesar ter sido candidato por cinco vezes.
Se na atual conjuntura de nosso país alguém for escolhido, seria apenas uma feliz coincidência – ou talvez um trabalho isolado feito por alguém de qualidade excepcional. Contudo, sabemos que a escolha de um laureado com o Nobel só será possível se houver de maneira constante um investimento em ciência e tecnologia e uma mudança na postura política que passe a encarar a educação e a ciência com outros olhos e como um instrumento para o crescimento do país. No Brasil, por enquanto, infelizmente ainda estamos longe disso...
Jerry Carvalho Borges
Colunista da CH On-line
16/11/2007
SUGESTÕES PARA LEITURA
Espmark, K. The Nobel Prize in Literature. A Study of the Criteria behind the Choices. Boston: G.K. Hall & Co, 1991.
Feldman, B. The Nobel Prize: A History of Genius, Controversy, and Prestige. New York: Arcade, 2000.
Levinovitz, A.W., Ringertz, N. The Nobel Prize: The First 100 Years. London: Imperial College Press and World Scientific Publishing Co. Pte. Ltd., 2001.
The Nobel Foundation: http://nobelprize.org/nobelfoundation/index.html
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