sábado, 12 de abril de 2025

Economia dos EUA à venda - Fareed Zakaria (OESP)

Economia dos EUA à venda

Fareed Zakaria

Complexidade gera corrupção e o sistema tarifário está agora preparado para o desastre

O Estado de S. Paulo, 12/04/2025

Tarifas ainda estão no nível mais alto em mais de 100 anos, segundo Laboratório Orçamentário de Yale

Foi uma reviravolta aclamada em todo o mundo. Depois de insistir que não mudaria de ideia sobre suas tarifas e classificar qualquer um que o pressionasse a fazê-lo como um “Panican (um novo partido de pessoas fracas e estúpidas)”, o presidente Donald Trump mudou de ideia e suspendeu suas tarifas recíprocas por 90 dias (exceto sobre a China) enquanto negocia acordos com os países.

Mas pode ser prematuro suspirar aliviado. Por exemplo, as tarifas americanas ainda estão no nível mais alto em mais de 100 anos segundo o Laboratório Orçamentário de Yale, o que custará caro aos americanos. Ainda mais importante, essas negociações tarifárias inevitavelmente resultarão numa torrente de corrupção. A economia americana está se transformando do maior livre-mercado do mundo no principal exemplo de capitalismo clientelista.

Uma economia de mercado funciona melhor quando as restrições são limitadas – e especialmente quando essas restrições são claras, justas e aplicáveis a todos. Quanto mais complexos os impostos, as regras e as regulações, maior a ineficiência – conforme demonstram estudos realizados em vários países, como Índia, Nigéria e Marrocos.

Mais significativo, porém, é que quanto maior for a complexidade, maior será a corrupção. Junto com as tarifas vêm as isenções tarifárias, frequentemente concedidas a centenas de setores, empresas e até produtos específicos. Em 2018 e 2019, o governo Trump anunciou uma série de tarifas, incluindo 25% sobre o aço, e também um programa de isenções, que recebeu cerca de 500 mil solicitações.

INSTINTO. Nesta semana, quando questionado sobre como determinaria essas isenções, Trump respondeu: “instintivamente”. Estudos mostram que instintos de políticos geralmente favorecem seus financiadores, o que, por sua vez, incentiva a corrupção generalizada.

Isso ocorreu em relação a tarifas durante grande parte da história americana, até que Franklin Roosevelt mudou o sistema e, com o tempo, nas palavras de Paul Krugman, “a política tarifária deixou de ser notoriamente suja para se tornar notavelmente limpa”.

Agora, está ficando mais suja rapidamente. Um estudo acadêmico detalhado sobre as tarifas impostas no primeiro mandato de Trump constatou que “empresas que fizeram investimentos substanciais em conexões políticas com republicanos, anteriormente e no início do governo, tiveram maior probabilidade de obter isenções para produtos que, de outra forma, estariam sujeitos a tarifas. Por outro lado, empresas que fizeram contribuições para políticos democratas tiveram menores chances de obter aprovação em isenções tarifárias”.

O estudo analisou mais de 7 mil pedidos de isenção de tarifas para a China no primeiro mandato e constatou que uma doação de apenas US$ 4 mil a candidatos democratas reduziu as chances das empresas de obter isenção para menos de 1 em 10.

Conforme observou Timothy Carney, do centro de análise conservador AEI, “a primeira eleição de Trump provocou uma explosão no lobby comercial” – de 921 clientes com lobistas trabalhando em comércio exterior para um pico de 1.419, em 2019.

Com as tarifas mais altas do mundo industrializado, o bazar americano abriu. Países e empresas irão a Washington fechar acordos e obter exceções, isenções e condições especiais. Nas últimas semanas, o Vietnã anunciou uma série de medidas destinadas para obter um bom acordo comercial.

Entre elas, a aprovação para a Starlink, de Elon Musk, operar no país e um plano para acelerar um projeto da Trump Organization. De fato, pelo menos 19 projetos imobiliários com a marca Trump em todo o mundo estarão em desenvolvimento enquanto ele for presidente, e possivelmente muitos outros estão em preparação.

Trump lançou sua própria empresa de rede social e sua própria moeda meme; outros países certamente veem tudo isso como um convite para investir – e influenciar as políticas externa e econômica dos EUA.

WALL STREET. Tem sido profundamente desanimador ver alguns dos capitalistas americanos lendários – figuras canônicas de Wall Street – endossarem um processo de negociação por meio do qual o livremercado dos EUA será marcado por tarifas, impostos, regras, isenções e exceções.

Vale a pena relembrar a repetida advertência de Milton Friedman: “Você pode conseguir que qualquer empresário de destaque faça um discurso eloquente sobre as virtudes do livre-mercado. Mas, quando se trata de seus próprios negócios, eles querem ir a Washington obter uma tarifa especial para proteger seus negócios. Querem alguma dedução fiscal especial. Querem algum subsídio fiscal.”

A Índia em que cresci era um país cheio de tarifas, barreiras altas projetadas para defender a indústria nacional e protegêla do que era percebido como uma concorrência estrangeira desleal. Isso gerou estagnação, pobreza e muita corrupção, politizando completamente a economia. Nenhuma empresa de qualquer porte na Índia seria capaz de sobreviver sem uma boa relação com o governo.

Quando cheguei aos EUA, fiquei entusiasmado ao ver que a maioria das empresas realizava seu trabalho pouco se preocupando com quem estivesse na Casa Branca. Mas agora vejo pioneiros da tecnologia exaltando servilmente a genialidade de Trump em entrevistas e titãs de Wall Street apressando-se em postar felicitações ao presidente em estilo norte-coreano por seu brilhantismo ao salvar a economia de suas próprias ações – e me pergunto: em que país estou vivendo? •

TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO · 12 abr. 2025

É COLUNISTA DO ‘WASHINGTON POST’, PUBLICADO NO ‘ESTADÃO’ AOS SÁBADOS.

Uma reflexão sobre certos desvios da História por fatores contingentes - Paulo Roberto de Almeida

Uma reflexão sobre certos desvios da História por fatores contingentes

Paulo Roberto de Almeida

Nos EUA, Trump foi e é o responsável pela mais importante deformação histórica e estrutural do pensamento médio americano e pela inversão do papel dos EUA na conformação de padrões civilizatórios que eram partilhados pelo chamado mundo ocidental. Essa tendência ainda permanece nos EUA, antes que algum choque ou declínio visivel se manifestem, para tentar corrigir a atual condição deplorável dessa grande nação assaltada por um sociopata criminoso.

No Brasil, a massa informe e confusa do lulopetismo ideológico também foi responsável por certa deformação, embora menor, de nossa história e de nossas tradições. Nada comparável, porém, à imensa aberração doentia do chamado bolsonarismo, que impôs um retrocesso mental deplorável, que impregnou largas camadas da população e que está sendo explorada por políticos oportunistas, levando de arrasto até falsos liberais ingênuos. Repito o que já escrevi neste espaço: 

A História é feita de grandes processos, que passam despercebidos, pois que são lentos e de longa duração, e de pequenos eventos históricos, que assumem proporções importantes pela exploração que deles se faz uso oportunamente.

A ignorância pode ser, em certas circunstâncias, mais poderosa do que o conhecimento, pois que não requer nenhum esforço de reflexão; basta se deixar dominar por certos instintos. Em alguns momentos, a ignorância impulsionada pela vontade pode mudar o curso da História. 

No passado, Napoleão, Bismarck, Lenin, Mussolini, Hitler e Stalin imprimiram suas marcas em seus respectivos países e em certas partes do mundo, mas Roosevelt e Churchill também o fizeram, conseguindo estabelecer um curso mais positivo durante algumas décadas. 

Na presente quadra histórica, Putin e Trump deformaram seus paises e partes do mundo: ainda não temos uma força contrária mais positiva capaz de contrarrestar essas tendências negativas do presente. 

No pequeno espaço que é o nosso, ainda não conseguimos acumular inteligência suficiente para impulsionar o Brasil para caminhos e processos mais virtuosos: ignorância e corrupção parecem dominar o universo de nossas possibilidades. Continuaremos tentando…

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 12/04/2025


O ódio e a mentira como armas políticas: a rede de Trump como doença americana - Julia Estanislau (FSP)

O ódio e a mentira como armas políticas: a rede de Trump como doença americana

Olympio Pinheiro transcreve no seu FB matéria de Julia Estanislau (na FSP) sobre o inacreditável mundo doentio de Donald Trump, familiares e associados, na disseminação de um conteúdo abjeto, escabroso, mentiroso e doentio, que forma o núcleo de apoio fanatizado ao responsável pelo maior retrocesso civilizatório e humanitário na história dos EUA e de parte do mundo, incluindo o universo mental também doentio de Jair Bolsonaro e de seus apoiadores no Brasil. É um asco e um verdadeiro delirio tomar conhecimento das deformações e mentiras que estão sendo criadas e sendo disseminadas e tomadas como verdades por essa tropa de alienados demenciais. 

Eu ainda não tinha uma ideia precisa de quão escabrosos e criminosos podem ser os promotores e seguidores dessa tribo de bárbaros sociopatas. Paulo Roberto de almeida


 ONDA DE ÓDIO NA REDE SOCIAL DO TRUMP

Onda de ódio pós-tarifas toma conta da Truth Social e apoiadores de Trump chamam chineses de 'parasitas'

Onda de ódio pós-tarifas toma conta da Truth Social e apoiadores de Trump chamam chineses de "parasitas".

JULIA ESTANISLAU

Folha de S. Paulo, 10/04/2025

Um mergulho na rede social de Donald Trump, a Truth Social, é capaz de elucidar a forma de pensar do presidente americano e dos seus apoiadores. Sem restrição a conteúdos extremistas, a plataforma é uma contradição entre postagens sobre comida e animais de um lado e, de outro, falas xenófobas direcionadas aos chineses e aos imigrantes, ilegais ou não.

Após o anúncio das tarifas adicionais à China nesta quinta-feira (10), mensagens em apoio à medida lotaram a rede social. Nelas, internautas dizem que as tarifas vão recuperar os empregos, fortalecer a economia e tornar os EUA ricos e poderosos de novo. Essas mesmas mensagens culpam a China pelos problemas econômicos atuais dos Estados Unidos e se ancoram na taxação como solução para o país.

Recebendo apelidos como "o maior país abusador" e "trapaceiros" por parte do presidente americano, o país asiático é atacado por trumpistas que se referem aos chineses como "parasitas". As críticas de Trump à China, que começaram antes do anúncio das tarifas, aquecem um ambiente já tomado pela xenofobia, principalmente em relação aos imigrantes.

Diferente da postura adotada no X (ex-Twitter), Trump faz da Truth Social seu diário particular: usa palavras em caps lock, expressa opiniões pessoais sem filtro algum e escreve mensagens reafirmando que seus planos econômicos vão funcionar. Ele tem 9,4 milhões de seguidores na rede.

"Fiquem tranquilos! Tudo vai dar certo. Os EUA vão ser maiores e melhores do que antes!", escreve o presidente. Em outro post, diz: "Algum dia, as pessoas vão perceber que as tarifas, para os Estados Unidos da América, são uma coisa linda". Também compartilhou em seu perfil um vídeo sobre suas ações serem propositais para quebrar o mercado.

Os americanos que entraram em pânico sobre as tarifas e as criticaram receberam o nome de "panican", cunhado por Trump na Truth Social nesta segunda (7). Segundo ele, "panican" é de pessoas fracas e estúpidas.

Em entrevista à CNBC, o diretor do Budget Lab da Universidade de Yale, Ernie Tedeschi, afirmou que o aumento das tarifas pode fazer com que o desemprego saia dos atuais 4,2% para 4,7%. Como a Folha mostrou, as famílias americanas devem perder, em média, U$ 3,800 (cerca de $ 21.900).

Além dos apoiadores de Trump, a plataforma também é ocupada por seguidores do QAnon (conspiracionistas de extrema direita) e pessoas anti-vacina. Donald Trump Jr., filho do presidente, segue a linha de seu pai e também utiliza a Truth Social para inflamar a base de apoio trumpista.

"Se você pensa que é ruim que a Ucrânia nunca agradeceu por tudo que os Estados Unidos fez para ela, o fato de não terem contado que esse sociopata tentou comprar armas deles para assassinar meu pai parece um assunto mais importante", escreveu Trump Jr. na rede social.

Jair Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro (PL-SP) também usam a rede social. O deputado licenciado escreve em inglês e pede por anistia, enquanto o ex-presidente posta feitos de seu governo.

COMO FUNCIONA

A plataforma foi fundada em 2021 e faz parte do Trump Media & Technology Group, que tem como máxima oferecer canais de mídia a favor da liberdade de expressão. Segundo o site da empresa, a ideia é que sejam espaços sem discriminação política, que atuem para "cancelar a cultura do cancelamento" e serem um ponto de resistência às big techs —hoje alinhadas a Trump.

Ao se cadastrar, a plataforma pede ao usuário que siga alguns perfis a fim de ajudar o algoritmo a entender quais são seus gostos. Porém, não há total liberdade de escolha: mesmo sem ter selecionado, a rede social faz o usuário seguir automaticamente o perfil oficial da Casa Branca e outros membros do alto escalão do governo Trump, como Karoline Levitt (porta-voz da Casa Branca), Sean Duffy (secretário de Transportes), Tulsi Gabbard (diretora de Inteligência Nacional) e Robert Kennedy Jr. (secretário da Saúde).

Estão incluídos também 44 perfis de notícias, todos alinhados ao governo, entre eles Fox News, The Daily Wire, Armed Forced Press, PJMedia, MxM News e Resist the Mainstream. Os perfis de Donald Trump e de seu vice, JD Vance, não fazem parte dessa pré-seleção. Entre outras sugestões, aparecem Jair Messias Bolsonaro e o ator Russell Brand, acusado de estupro e agressão sexual por quatro mulheres no início de abril.

Essa escolha (ou falta dela) não é em vão. Quem entra na rede social é bombardeado de notícias sobre o presidente, mensagens trumpistas ou que reafirmam a visão de mundo da extrema direita. Na plataforma, essas postagens recebem o nome de "truths", "verdades" em português. A interface, que se assemelha à do X e a do Bluesky, dá pouco espaço para outros lados do espectro político.”

FSP 10.04.2025

sexta-feira, 11 de abril de 2025

O fenômeno Sputnik: soviético, americano, agora chinês - Simon Schwartzman

O novo Sputnik

By Simon Schwartzman on Apr 11, 2025 06:25 am

(Publicado em O Estado de São Paulo, 11 de abril de 2025)

Em 1957, os Estados Unidos tomaram um susto quando souberam que a União Soviética havia lançado o primeiro satélite ao espaço, indicando que o sistema de ciência e tecnologia soviético poderia ter superado o americano.  A superioridade americana que havia se consolidado depois da Segunda Guerra se apoiava em pelo menos três pilares. Primeiro, na big science, a capacidade de investir e coordenar conhecimentos, recursos humanos e materiais em grande escala, no projeto da bomba atômica e, mais amplamente, na tecnologia militar. Segundo, na política apoio às ciências em todos os seus aspectos, estabelecida no documento liderado por Vanenevar Bush que ficou conhecido como Science, the Endless Frontier, que incluía desde o apoio à pesquisa básica nas ciências naturais, sociais e humanidades, sem objetivos imediatos, com destaque para a pesquisa universitária e instituições como a National Science Foundation, até a ciência aplicada na área da saúde e outras. E terceiro, no fortalecimento da cooperação entre universidades, governo e indústria, que consolidou os Estados Unidos como o país mais avançado na pesquisa, na produtividade econômica e na educação superior, atraindo talentos de todo o mundo.

Como explicar que a União Soviética tivesse passado à frente? O que os russos fizeram foi levar ao extremo um modelo extremamente concentrado e centralizado de investimento de recursos e talentos em seus projetos militares de big science, provavelmente em escala semelhante à americana, mas sem seus dois outros componentes, um sistema universitário aberto e vigoroso e um setor produtivo independente capaz de absorver e multiplicar as inovações tecnológicas que surgiam. O fracasso da pesquisa agrícola, sufocada pela recusa ideológica em aceitar os avanços da pesquisa genética mendeliana, deixou claro seus limites.  A reação americana ao choque do Sputnik foi reforçar a política de ciência sem limites, e em pouco tempo o país havia não somente superado a União Soviética na corrida espacial, como consolidado sua liderança nos outros dois componentes, como uma sociedade aberta e plural.

O novo Sputnik surgiu aos poucos, com o inesperado sucesso da indústria japonesa nos anos 70, e depois da  Coreia do Sul, até a década de 90. De repente, os americanos perceberam não só que as fábricas japonesas e coreanas de eletrônicos e depois automóveis eram mais eficientes, como que seus produtos eram melhores, e a custos muito mais baixos. Diferente dos Estados Unidos, os novos “tigres asiáticos” investiam quase nada em ciência básica, e suas universidades se dedicavam sobretudo à formação de técnicos especializados. Ao invés de grandes projetos estatais, desenvolviam forte parceria entre o governo e conglomerados de empresas privadas no desenvolvimento de indústrias de bens de consumo para o mercado internacional. No início, os americanos tentaram copiar os métodos dos asiáticos, como por exemplo na adoção de sistemas de produção just-in-time e círculos de qualidade, mas aos poucos foram entendendo que a melhor alternativa era estabelecer parcerias comerciais e industriais com estas economias em ascensão.

Mas é com a China, a partir da década de 2000, que o novo Sputnik mostra sua força. Igual à antiga União Soviética e os Estados Unidos, ela desenvolve uma ciência estatal de grande porte na área militar, espacial e de infraestrutura. Igual aos tigres asiáticos, abre espaço para um setor empresarial privado que se beneficia de parcerias e apoio governamental para produzir em grande escala para o mercado internacional,  com produtividade  e qualidade crescentes. E, igual aos Estados Unidos do pós-guerra, expande seus investimentos em educação superior e pesquisa básica em quantidade e qualidade. No início, como com a União Soviética no passado, os Estados Unidos imaginaram que o sucesso da China se devia à espionagem e pirataria da tecnologia americana. Hoje é obvio que, ainda que isto possa ter existido, e que os Estados Unidos ainda mantenham a liderança em muitas áreas de alta tecnologia, a China já é a potência dominante em produção industrial e em muitas áreas de tecnologia aplicada, sem falar em sua consolidação como potência militar.

Desta vez, no entanto, ao invés reforçar suas qualidades e procurar se integrar a um novo cenário internacional mais competitivo, o  que vemos por parte dos governos americanos é uma dupla reação negativa. Por um lado, fechar sua economia e tentar reprimir a expansão da China, negando acesso a tecnologias avançadas e impondo barreiras a seus produtos. Por outro, internamente, concentrando poder político e econômico em alguns segmentos do setor privado, às custas tanto do sistema nacional de pesquisa e desenvolvimento quanto das universidades, que perdem sua autonomia intelectual, gerencial e financeira. Do antigo e imbatível tripé de governo, universidade e empresas, parece que só restará parte destas últimas. Ao invés de uma sociedade aberta e plural, o totalitarismo ideológico. É difícil imaginar que com isto seja possível fazer a América grande de novo.

 

O Pix mundial chinês

 O Pix mundial chinês vai deixar o Trump ainda mais raivoso, com a tal ameaça de tarifaço a quem dispensar o dólar…


*BIG BREAKING*

The People's Bank of China suddenly announced that the digital RMB (Renminbi, Chinese Yuan) cross-border settlement system will be fully connected to the ten ASEAN countries and six Middle Eastern countries, which means that 38% of the world's trade volume will bypass the SWIFT system dominated by the US dollar and directly enter the "digital RMB moment". This financial game, which The Economist called the "Bretton Woods System 2.0 Outpost Battle", is rewriting the underlying code of the global economy with blockchain technology.


While the SWIFT system is still struggling with the 3-5 day delay in cross-border payments, the digital currency bridge developed by China has compressed the clearing speed to 7 seconds. In the first test between Hong Kong and Abu Dhabi, a company paid a Middle Eastern supplier through digital RMB. The funds no longer went through six intermediary banks, but were received in real time through a distributed ledger, and the handling fee dropped by 98%. This "lightning payment" capability makes the traditional clearing system dominated by the US dollar instantly look clumsy.


What makes the West even more frightened is the technical moat of China's digital currency. The blockchain technology used by the digital RMB not only makes transactions traceable, but also automatically enforces anti-money laundering rules. In the China-Indonesia "Two Countries, Two Parks" project, Industrial Bank used digital RMB to complete the first cross-border payment, which took only 8 seconds from order confirmation to funds arrival, 100 times more efficient than traditional methods. This technical advantage has enabled 23 central banks around the world to actively join the digital currency bridge test, among which Middle Eastern energy traders have reduced settlement costs by 75%.


The deep impact of this technological revolution lies in the reconstruction of financial sovereignty. When the United States tried to sanction Iran with SWIFT, China had already built a closed loop of RMB payments in Southeast Asia. Data shows that the cross-border RMB settlement volume of ASEAN countries exceeded 5.8 trillion yuan in 2024, an increase of 120% over 2021. Six countries including Malaysia and Singapore have included RMB in their foreign exchange reserves, and Thailand has completed the first oil settlement with digital RMB. This wave of "de-dollarization" made the Bank for International Settlements exclaim: "China is defining the rules of the game in the era of digital currency."


But what really shocked the world was China's strategic layout. Digital RMB is not only a payment tool, but also a technical carrier of the "Belt and Road" strategy. In projects such as the China-Laos Railway and the Jakarta-Bandung High-Speed ​​Railway, the digital RMB is deeply integrated with Beidou navigation and quantum communication to build a "Digital Silk Road". When European car companies use digital RMB to settle freight through the Arctic route, China is using blockchain technology to increase trade efficiency by 400%. This virtual-real strategy makes the US dollar hegemony feel a systemic threat for the first time.


Today, 87% of countries in the world have completed the adaptation of the digital RMB system, and the scale of cross-border payments has exceeded 1.2 trillion US dollars. While the United States is still debating whether digital currency threatens the status of the US dollar, China has quietly built a digital payment network covering 200 countries. This silent financial revolution is not only about monetary sovereignty, but also determines who can control the lifeline of the future global economy!


👉 *This is very big news  It means De-dollarisation in a big way. It can completely re-set the world*

A ‘pegadinha’ de Trump (Editorial do Estadão)

A ‘pegadinha’ de Trump

Editorial do Estadão, 11/04/2025


É inútil procurar lógica nas decisões do presidente dos EUA, cujo único interesse é acumular poder e exercê-lo para bagunçar o mundo conforme seus ‘instintos’. A loucura apenas começou


É como se o mundo tivesse sido vítima de uma “pegadinha” do presidente dos EUA, Donald Trump. Meros sete dias depois de ter bombardeado todas as nações com tarifas severas, bagunçando o comércio global e derretendo bolsas planeta afora, Trump simplesmente decidiu, num estalar de dedos, suspender a maioria delas por 90 dias. Ato contínuo, as bolsas dispararam, e houve alívio momentâneo – mas obviamente ninguém está tranquilo. Afinal, a única coisa clara na lambança de Trump é que ninguém sabe o que ele quer nem qual será seu próximo passo – nem ele mesmo. As perdas desde o dia do anúncio do tarifaço foram mitigadas, mas não recuperadas. Além disso, o piso tarifário de 10% foi mantido, e a guerra comercial contra a China segue escalando perigosamente. Pior: nada do que Trump e seus assessores dizem indica qualquer estratégia lógica. É tocante o esforço de trumpistas e trumpólogos para extrair algum “plano astucioso” ou “estratégia de negociação” de um conjunto heteróclito de ideias fixas, caprichos, rancores e uma dose de niilismo misturados na cabeça de Trump. Dois dias antes de suspender o tarifaço, ele ridicularizava republicanos por “panicarem” ante o desastre. A um repórter que perguntou quanto tempo toleraria a dor nos mercados, retrucou: “Acho sua pergunta estúpida”. Dois dias depois, explicando a outro repórter por que recuou, disse: “Achei que as pessoas estavam saindo um pouco da linha, ficando um pouco nervosas”. A verdade é que os títulos do governo dos EUA, outrora porto seguro em tempos de crise, estavam sendo liquidados, dissolvendo a fronteira entre uma recessão com a marca de Trump e uma depressão com a marca de Trump. Até para Trump a negação da realidade tem limites. Mas não para os bajuladores na sua equipe. Pouco antes de Trump “piscar”, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, dizia que a economia está em “ótima forma”. Pouco depois, seus acólitos começaram a fabricar racionalizações sem sentido. Um dos mais desavergonhados chegou a dizer que estamos diante da “maior estratégia econômica de um presidente americano na História”. E como Trump, o “Grande Estrategista”, tomará sua próxima decisão? Ele mesmo respondeu: “É realmente mais um instinto, acho, do que qualquer outra coisa”. A busca por uma “estratégia oculta” parece ser uma necessidade psicológica de encontrar ordem no caos. Um “plano” – ainda que ruim ou maligno – é mais reconfortante que nenhum. Trump tem, é verdade, um punhado de convicções: a de que ele é um mestre da negociação; de que déficits comerciais são maus; empregos no chão de fábrica são bons; e tarifas são uma espécie de panaceia. Outra: os EUA estão sendo “pilhados” por outras nações, especialmente as aliadas – é natural a quem está sempre tentando pilhar os outros presumir que estão sempre tentando pilhá-lo. Por baixo de todo esse exercício mental, resta o descomunal apetite de Trump por acúmulo de poder. O controle total sobre as políticas tarifárias lhe dá a chance de chantagear empresários no mercado doméstico e agentes estrangeiros que querem acesso a ele. É a mesma lógica das ameaças de invasão territorial ou de implodir alianças como a Otan. “Ao dizer ao mundo que tanto as regras do comércio quanto as garantias de segurança dependem exclusivamente de sua vontade, ele está concentrando a maior quantidade possível de poder em suas mãos”, resumiu o articulista do Wall Street Journal Walter Russell Mead. Se há um método nessa loucura, portanto, é este: concentração de poder pessoal. Por mais incômodo que seja ao resto do mundo, é mais racional admitir de vez a irracionalidade do homem mais poderoso do planeta. A única certeza sobre sua política é de que é impossível confiar em Trump e, por extensão, nos EUA, pelo menos enquanto ele for presidente. Sejam lá quais forem as decisões, boas ou ruins, que os “instintos” de Trump vierem a ditar, essa atmosfera permanente de incerteza e caos por si só impõe um custo incalculável aos EUA e, consequentemente, à ordem econômica e geopolítica da qual os americanos foram o principal avalista por 80 anos, que tomará anos para ser recuperado – isso se for.


Paralelos históricos (que alguns acham que só se encontram no infinito da ignorância diplomática) - Paulo Roberto de Almeida

Paralelos históricos (que alguns acham que só se encontram no infinito da ignorância diplomática)

Paulo Roberto de Almeida

        Existe um critério mais simples para avaliar a política externa de Lula do que doutas análises acadêmicas apoiadas em conceitos sedutores do pessoal já engajado na causa: basta verificar que estará ao lado de Lula na tribuna de honra dos ilustres mandatários estrangeiros convidados por Putin para participar das comemorações pelos 80 anos do final da Grande Guerra Patriótica, em 8 de maio de 1945, que é como Stalin chamava a defesa soviética contra as tropas da Wehrmacht (com enorme ajuda anglo-americana, que não será mencionada), esquecendo, também convenientemente (e nenhum dos ilustres convidados perguntará por isso) de que a tal “guerra patriótica” iniciada em junho de 1941 tinha, na verdade, começado dois anos antes justamente devido ao sórdido apoio de Stalin ao projeto criminoso de Hitler de invadir e eliminar a Polônia do mapa das nações soberanas por meio do Pacto Ribbentrop-Molotov, por acaso firmado em Moscou em 26 de agosto de 1939. 

        Poucos, provavelmente nenhum, desses convidados estrangeiros farão algum paralelo histórico com a “aliança sem limites” entre duas grandes autocracias antes da guerra de agressão de Putin contra uma outra nação soberana, a Ucrânia, à qual, como a Polônia, 83 anos antes, foi denegado o direito de existir, o que justamente constituiu um sórdido pacto para dar início à maior operação militar “especial” na Europa, desde a IIGM.  Tais detalhes históricos, inconvenientemente comparativos, passarão de forma indiferente pela consciência desses respeitáveis dirigentes estrangeiros que ousarem apertar a mão de um legítimo sucessor de Hitler no século XXI.

        Não deixarei de registrar neste meu quilombo de resistência intelectual estes pequenos detalhes históricos.

        Para isso existem os arquivos diplomáticos: para dar algum sentido de memória a pequenos e grandes fatos históricos que perpassam a trajetória das políticas externas de pequenos e grandes países. 

Paulo Roberto Almeida

Brasília, 11/04/2025

(Voltarei em 8/05/2025, podem estar certos disso)


Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...