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segunda-feira, 13 de junho de 2016

Tarefas economicas do governo: entrevista com Edmar Bacha

Um amigo me enviou esta entrevista com Edmar Bacha, um dos pais do Plano Real, e ficou espantado com algumas medidas propostas, que ele comparou a um "AI-5" do governo interino (ou definitivo) do presidente Michel Temer.
Não concordo, e escrevi o que vai abaixo. Mas antes, cabe a leitura da entrevista.
Paulo Roberto de Almeida

Entrevista. Edmar Bacha
Um dos pais do Plano Real lembra que maior parte da despesa é rígida e prevista na Constituição; se isso não mudar, governo não terá verba para comprar um lápis

'Teto dos gastos vai parar o governo se não for bem feito', diz Bacha

Alexa Salomão
O Estado de S.Paulo, 12 de junho de 2016

Na avaliação do economista Edmar Bacha, diretor do Instituto de Estudos de Política Econômica da Casa das Garças e um dos pais do Plano Real, há dois pontos que merecem atenção redobrada no ajuste fiscal em curso. O primeiro é a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que vai fixar o teto para os gastos públicos.

A proposta precisa, obrigatoriamente, ser acompanhada pela suspensão temporária das despesas obrigatórias previstas na Constituição. “Se você impuser um teto de gasto, com a pequeníssima margem que existe hoje, poderia fazer o governo parar por não ter lápis nem papel higiênico para poder operar”, diz Bacha.

Para Edmar Bacha, Brasil precisa mudar sistema político, mexer na Previdência e também na estrutura de imposto

O outro ponto importante é que o governo precisa deixar mais claro à população que o tamanho do rombo das contas públicas é muito maior do que o projetado quando se inclui o pagamento dos juros da dívida. “O buraco não é de R$ 170 bilhões. É de R$ 570 bilhões. Por alguma razão, o pessoal esquece que a gente precisa pagar juros.” A seguir, os principais trechos da entrevista que o economista concedeu ao Estado.

Como o sr. avalia as primeiras semanas do governo em exercício?
Achei melhor do que a encomenda. O início foi muito auspicioso. Temos agora uma equipe econômica excelente. Foi uma mudança da água para o vinho. Agora tem gente que entende do que está fazendo. É um pessoal da mesma linhagem do Plano Real. Estou especialmente impressionado com a capacidade do governo de fazer passar coisas que eram muito difíceis no governo Dilma. Passaram agora, com enorme facilidade, a DRU (Desvinculação de Receitas da União). E passaram com uma votação impressionante a favor. Eu lembro, lá atrás, a dureza que foi passar o fundo social de emergência (uma espécie de DRU, esse fundo deu ao governo de Fernando Henrique Cardoso o controle de 20% das verbas ao governo federal). Lá atrás eram 20%. Agora, eles passaram 30% e aplicando para os governos estaduais e municipais também. Se fosse a Dilma, a proposta já tinha sido toda desvirtuada e não andaria.

E como o sr. viu o apoio do governo ao projeto que aumenta o salário dos servidores e eleva gastos?
Parece que havia essa herança e tiveram de acomodar. Obviamente, não quiseram comprar essa briga logo na saída. É um dano, mas é parcial. Esse governo precisa saber como se equilibrar na questão política de uma forma que não é necessariamente a que mais gostaríamos. A situação para ele é muito precária. Tem a questão da interinidade e da incerteza que ainda permanece em relação à votação final do impeachment. Por outro lado, ainda tem a Lava Jato. Não se sabe até onde ela vai. Esses são dois grandes fatores de insegurança.

Em um artigo recente, o sr. ressaltou que o déficit projetado pelo governo em exercício, de R$ 170 bilhões, era apenas um pedaço do buraco. Poderia explicar melhor?
Os R$ 170 bilhões incluem apenas o déficit primário (despesas com pessoal, previdência, saúde, educação, benefícios sociais e investimentos). Não incluem a conta dos juros (da dívida pública). Eu fiz uma conta de quanto haverá de juros, baseada no que os juros foram no ano passado e até maio deste ano, comparado com maio do ano passado. Deu R$ 400 bilhões. O buraco não é de R$ 170 bilhões. É de R$ 570 bilhões. As pessoas não estão levando isso em consideração. Por alguma razão, o pessoal só conversa sobre o primário e esquece que a gente também precisa pagar juros da dívida.

Vários colegas seus, economistas, se queixam que a discussão dos juros fica de lado.
Eles têm mesmo razão de se queixar. Essa conta é muito salgada.

E como resolver essa conta?
Tem duas maneiras. A maneira errada é dar o calote. A maneira certa é fazer um esforço fiscal do ponto de vista de curto, de médio e, especialmente, de longo prazo, que aponte para a sustentabilidade da dívida. A partir daí, com a confiança de que as contas vão se equilibrar – não agora, mas que isso está a caminho, por medidas legislativas e ações do governo. Isso cria no mercado, instantaneamente, uma (perspectiva de) queda do juro no longo prazo.

E a questão da inflação?
Contribui agora termos um Banco Central com mais credibilidade, com um novo presidente afirmando, com ênfase, que vai perseguir o centro da meta de inflação (de 4,5% ao ano). Isso cria expectativa favorável quanto ao curso futuro dos juros. Os dois fatores – confiança no equilíbrio fiscal futuro e a responsabilidade monetária sendo restabelecida – criam condições para que as expectativas em relação à inflação baixem. Isso permite ao Banco Central, em função dessa queda de perspectiva inflacionária, reduzir os juros mais fortemente. Essas condições não existiam antes. Vamos ver como será a próxima etapa crucial para que cheguemos a isso: o presidente Michel Temer levar ao Congresso a emenda constitucional que estabelece o teto para os gastos.

Como o sr. viu a iniciativa de fixar o teto para os gastos?
Foi ótima. Para definir a medida, Meirelles (Henrique Meirelles, ministro da Fazenda) está usando uma palavra com muito simbolismo: nominalismo. Muito simbolismo para meia dúzia de pessoas. No caso, economistas.

O sr. pode explicar qual o simbolismo do ‘nominalismo’ do ministro?
O simbolismo da medida é que, com ela, nós não vamos acomodar a inflação. Não vamos fazer como os militares, que indexaram tudo e deixaram a inflação correr. As pessoas andam preocupadas com detalhes da medida. Obviamente, precisam ser avaliados. Mas o importante é que a expectativa em torno da medida não se frustre. A margem de manobra que o governo tem sobre os gastos do orçamento, com as regras constitucionais hoje existentes, é muito pequena. Se você impuser um teto de gasto, com a pequeníssima margem que existe hoje, poderia fazer o governo parar por não ter lápis nem papel higiênico para poder operar. Por isso, essa medida precisa ser acompanhada de outras que flexibilizem gastos obrigatórios – que também são constitucionais. É a mensagem mais importante.

Essa questão é considerada fundamental, principalmente porque não há consenso de que bastaria desvincular os gastos na própria emenda ou se seria necessária uma série de medidas paralelas para desarmar o engessamento. O sr. tem uma sugestão?
A PEC que estabelece o teto teria de valer durante um período, de 10 ou 20 anos. Não seria ad infinitum. Precisaria de um prazo de vigência longo, mas não para sempre. E enquanto a PEC estiver valendo, você suspende a constitucionalidade das vinculações, da estabilidade do funcionalismo e da gratuidade da saúde e da educação, por exemplo. Pode ir tudo junto, na mesma PEC. É mais ou menos assim: no artigo primeiro, estabelece-se o teto, e, no artigo segundo, já vem algo como: ‘enquanto estiver valendo o teto, as seguintes regras constitucionais deixam de ser observadas e passam a ser reguladas por meio de leis complementares’. Assim, vai se fixar como fica o financiamento e o copagamento no sistema de saúde, no ensino público superior e as desvinculações em geral. Pode ser na mesma emenda, em disposições transitórias. O que não pode é estabelecer um teto e paralisar o governo. Precisa mexer no gasto obrigatório. A flexibilização significa que o governo vai ter de deixar de fazer algumas coisas. Hoje ele faz A, B e C. Ele vai ter de parar de pagar C, para que A e B possam funcionar. Mas esse C está protegido pela Constituição. A flexibilidade é necessária.

O governo ainda não explicou quem vai pagar a conta do ajuste. Ao pedir as desvinculações, os críticos alegam que vai sobrar para a população, que depende dos serviços básicos que o sr. mencionou. Há esse risco?
Não é verdade. A saúde pública e a educação pública podem até melhorar, mas elas não vão mais estar disponíveis, de graça, para quem pode pagar. Para quem tem recursos é preciso que a medida venha acompanhada de um regime de coparticipação. Assim, a boa saúde e a boa educação públicas ficam disponíveis para quem não tem recursos. O Zé Márcio (José Márcio Camargo, economista da Opus) tem uma proposta: quem pagou ensino médio, paga ensino superior. Quem tem seguro médico, paga o SUS. O tratamento aos mais pobres deve ser mantido. O que não pode é essa judicialização da saúde. Pessoas com recursos conseguem acesso a tratamentos ultra sofisticados e a remédios caríssimos pelo SUS. Isso acontece porque diz lá na Constituição: é gratuito, é universal. Então, precisa dizer que temporariamente não será.

O sr. concorda que nada disso está claro ainda?
Não está claro e é compreensível que o governo não queira levantar essas lebres agora, antes da definição do impeachment. Ele lança agora o teto, é importante criar essa expectativa. Nos próximos dois meses, vamos discutir como dar efetividade ao teto. Depois do impeachment, vamos ver quais são as medidas necessárias para que o governo continue a funcionar com o teto – e isso protegendo integralmente os gastos que se destinam à parcela mais pobre da população.

Seus colegas de Plano Real dizem que ele ficou incompleto. Daqui para frente, há espaço para implementar as reformas que faltaram?
Eu não gosto dessa mitologia sobre o Plano Real. Eu mesmo sou culpado por isso. Acabei de falar da linhagem do Plano Real. Vamos deixá-lo para trás. Virou história. Mas, olhando para frente, a mãe de todas as reformas é a reforma política. Precisamos de um sistema político minimamente decente – essa é a palavra a ser usada. O sistema precisa ser redefinido de modo que tenha a representação mais fidedigna da vontade popular de hoje. Não dá para ficar com o sistema que esta aí.

Há outras reformas vitais?
Precisamos dar um jeito no sistema tributário. A Previdência precisa apontar para o equilíbrio. A reforma trabalhista precisa vir para acabar com o grau de informalidade e a extraordinária rotatividade no emprego, que impede o aprendizado do trabalhador. Temos de retomar as coisas que foram abandonadas. Precisamos de um mecanismo para que o governo, junto com o setor privado, possa investir. E finalmente tem o meu tema predileto: a abertura da economia. Nossa participação ínfima no comércio internacional é uma anomalia.

O sr. se considera otimista?
É muito difícil ficar otimista com essa situação. Tem um grau de incerteza brutal, por causa da interinidade do governo e da extensão da Lava Jato. A interinidade se resolve em agosto; a Lava Jato, segundo uma declaração de Sérgio Moro, pode mudar em dezembro. Estamos agora na fase de quem deveria (ser envolvido), já foi. Quem não foi, não vai mais. E foi muita gente. Até o japonês da Federal.

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Meu comentário ( Paulo Roberto de Almeida ): 

A aproximação das medidas a serem tomadas pelo governo, agora, ou quando for confirmado, com o famigerado AI-5 da ditadura militar não se justifica. Bacha não falou em medidas impostas de cima para baixo, e sim em LEIS COMPLEMENTARES, ou seja, discussão no Congresso e aprovação por via democrática de medidas que acabem com o engessamento constitucional de despesas absolutamente ilegítimas.
    Eu também sou pelo fim da estabilidade no serviço público, salvo para determinadas funções e cargos muito delimitados e necessários. O resto precisa acabar, inclusive para professores em geral.
    Sou contra a “cultura” dos “direitos adquiridos”, que são espertezas corporativas feitas para assaltar o Estado, contra a maioria dos cidadãos, especialmente os mais pobres.
    Sou contra a gratuidade universal de saúde e educação, e por um sistema básico de saúde para os pobres, na linha do que ele sugere, e fim da universidade gratuita para todos, sempre no modelo da capacidade financeira do indivíduo: pagamento para os que podem pagar, bolsa e atendimento para os que não podem.
    Não creio que seu argumento sobre o AI-5 seja correto, e não é isso que ele está dizendo.
    Li com atenção, e também considero que o Plano Real foi incompleto, inclusive porque o Itamar não queria recessão e desemprego, o que obrigou a ajustes na segunda versão do Plano, daí derivando os juros altos porque a equipe não conseguiu fazer o forte ajuste fiscal que acompanha todo e qualquer programa de estabilização e de desindexação da economia.
    Mas não concordo com o Bacha sobre a reforma política: seria uma perda de tempo e um desvio de foco, ainda que eu ache que ela é importante. Mas não dá para paralisar todo o resto e discutir eternamente o que fazer na área política, pois nada de muito racional vai sair. Ela virá aos poucos, com a pressão da cidadania.
O importante agora é fazer a reforma tributária, no sentido da REDUÇÃO da carga fiscal e das despesas públicas, ainda que eu reconheça que isso é difícil, justamente devido ao sistema político. Mas NUNCA haverá sistema político ideal no sentido da diminuição dos gastos públicos em qualquer regime ou sistema político que se conceba. Políticos são animais dedicados a gastar o dinheiro dos outros, e sempre será assim.
Paulo Roberto de Almeida

La Closerie de Lilas, onde os artistas e escritores se encontram - Fabio Pereira Ribeiro


Sam — Por Fábio Pereira Ribeiro
Anos e anos naquele bar. Servindo com primazia, muitas vezes firme e nervoso, mas sem perder a ternura, e não precisava de um clichê à lá Che. Era só chegar no La Closerie des Lilas que Sam sempre estava de prontidão, e com um sorriso daqueles. Você não precisava falar francês, Sam sempre se esforçava em falar a sua língua. Um dia eu…

6 min read: https://medium.com/@fabiopereiraribeiro/sam-por-f%C3%A1bio-pereira-ribeiro-4c459622a02#.tps1o0a5w

Bretton Woods, 70 anos atras, 70 anos a frente - Center for Financial Stability









Honoring the 70th anniversary of the original conference, Bretton Woods 2014: The Founders and the Future was held at the Mount Washington Resort in New Hampshire from Sept. 3rd to Sept. 4th. The hotel was exclusively available for the conference, just as it was in 1944. The event gathered prominent leaders from government, business, and academia in a working-group environment to focus on the future of finance and the international monetary system.
 http://www.centerforfinancialstability.org/bw2014.php
Topics included prospects for the world’s foreign exchange system; future of finance and financial institutions; technology and the future of the international financial system; how to better anticipate and manage future crises; the future of sovereign debt restructuring; the future role of the IMF and World Bank; and history and leadership at Bretton Woods in 1944.

Bretton Woods 2014 gathered prominent leaders from government, business, and academia in a working-group environment to focus on the future of finance and the international monetary system. Please see more about the conference to see other remarks, presentations, and photos from the conference.
Future Prospects for the World‘s Foreign Exchange Rate System: Political Design vs. Evolution, Otmar Issing
Read remarks |  Read slides
Nice-Squared - Near an Internationally Cooperative Equilibrium, John B. Taylor  Read remarks |  See video
A Few Thoughts on the Current International Monetary System, Liu Mingkang  Read paper
Bretton Woods Reconsidered:The Dollar Standard and the Role of China, Ronald McKinnon   Read paper | Read slides
Marriner Eccles: Father of the Modern Federal Reserve, Spencer F. Eccles  Read remarks
Critical Issues for the Bretton Woods Institutions, William R. Rhodes  Read remarks
The 1944 Keynes Plan: An Idea Whose Time Has Now Returned?, Charles Goodhart  Read remarks
Summary and Next Steps, Randal K. Quarles  Read remarks
Thoughts on World War II in July 1944, Carole Brookins  Read remarks
What Have We Learned from Recent Research on Bretton Woods? Eric Helleiner, Eric Rauchway, and Kurt Schuler  Read paper

A trindade impossivel: interacao entre a estabilidade fiscal, monetaria e financeira - Jens Weidemann (Deutsche Bundesbank)

Interessante, para países já estabilizados, ou de macroeconômica relativamente estável. Era o caso do Brasil, tentativamente, entre 1994-99 e 2004-2005, depois a coisa degringolou, como todos sabemos...
Paulo Roberto de Almeida

An impossible trinity? The interplay of monetary, financial and fiscal stability

Jens Weidmann

BIS e-mail alert, 13 June 2016

Welcome remarks by Dr Jens Weidmann, President of the Deutsche Bundesbank and Chairman of the Board of Directors of the Bank for International Settlements, at the Bundesbank Spring Conference "Monetary, financial and fiscal stability", Eltville, 10 June 2016.

1. Introduction
Ladies and gentlemen
I would like to welcome all of you to the Bundesbank Spring Conference. It is a great pleasure to have you here.
An old joke about economics is that it's "the only field in which two people can win a Nobel Prize for saying exactly the opposite thing". But sometimes, it is also a field in which people say exactly the same thing - and even Nobel-prize-worthy things - without having ever talked to one another beforehand.
That was the case with Robert Mundell and Marcus Fleming - at least if anecdote is to be believed. They conducted research on the same topic - stabilisation policies for open economies; they worked at the same institution - the IMF; and they came to basically the same conclusions. But they did not join forces to produce the insights that form the basis of our understanding of open-economy macroeconomics to this day.
One of the insights offered by what is known as the Mundell-Fleming model is that you cannot have it all - a fixed exchange rate, free movement of capital and an independent monetary policy - at the same time. This insight came to be known as the impossible trinity. Our conference today will not be dealing with the ramifications of this trinity, although it remains the subject of academic debate, as the research work by Hélène Rey, for example, shows.
Instead, it's another trinity, the trinity of monetary, financial and fiscal stability, that is the focus of today's conference. And while this trinity should not be an impossible one, the recent financial and sovereign debt crises suggest that it might be a more improbable one than everyone perhaps thought ten years ago.
Even if Robert Mundell and Marcus Fleming are counter-examples, I think that economic research benefits from an exchange of views. More often than not, it's discussion with others that produces a new idea or uncovers a flaw in reasoning, whereas a breakthrough is seldom achieved working alone.
What is true of economic research in general seems to be particularly true of research on the interplay of monetary, financial and fiscal policies, which is currently on the research agenda of so many different institutions. As a case in point, the Deutsche Bundesbank initiated the Trinity research network along with the Sveriges Riksbank, the Bank of Canada and the Federal Reserve Bank of New York under the auspices of Markus Brunnermeier (of Princeton University) and Eric Leeper (of Indiana University).
The aim of the network is to foster high-quality research on this topic and to boost interactions among the organising institutions as well as external researchers. Consequently, this year's Spring Conference is dedicated to the Trinity research network, and I am absolutely confident that it will make an important contribution towards achieving the aim of the network.
2. Monetary and financial policy
Ladies and gentlemen
In the years before the financial crisis, we had almost forgotten that generations of economists had grappled with one central question: how to achieve macroeconomic stability.
For many people, the success of the so-called "Great Moderation" provided the answer to this question. Inflation had apparently been conquered, and large swings in economic output seemed a thing of the past as well. By keeping prices stable, central banks also appeared to be able to moderate the business cycle, thereby providing for overall macroeconomic stability.
In hindsight, it looks as if, for a while, confidence had turned into complacency. But the financial crisis has reconnected everybody with the reality that the success of monetary policy depends on conditions it cannot create on its own. In particular, it is dependent on a stable financial system. And as the sovereign debt crisis has reminded us, sound fiscal policies remain as important as ever for monetary policy to be able to deliver price stability.
In recent years, however, academic progress has been made on all counts: with regard to the effects of unconventional monetary policy instruments, the principles of a stable financial system and of sound fiscal policies. And one additional insight is that, while the instruments for these three policy areas are different, the areas are nonetheless interdependent.
True to the adage that central bankers are concerned more with what they cannot control than what they can, in my remarks I will touch upon a few selected issues regarding monetary, financial and fiscal policy. These are: the interdependency between the monetary transmission process and financial market conditions, the minimum standards for bail-inable capital, the distortions stemming from the privileged regulatory treatment of sovereign debt, and the possible use of GDP-linked bonds as a tool through which private investors would bear fiscal risks.
The financial crisis has shown in no uncertain terms that the transmission of monetary policy depends heavily on financial market conditions. When the financial markets were disrupted in autumn 2008 after the collapse of Lehman Brothers, the traditional interest rate pass-through of our conventional monetary policy measures was obviously hampered.
But even today, the effectiveness of our monetary policy depends on financial market conditions. This can be illustrated, for example, by the role asset managers play in how non-standard monetary policy measures impact on longer-term interest rates.
Recent research by Morris and Shin1 suggests that, in trying to avoid ranking last in short-term performance tables, asset managers' portfolio choices could lead to large jumps in risk premiums in anticipation of small future changes in central bank policy rates. Due to their own payment arrangements, asset managers cannot usually afford to be the last to notice a switch in monetary policy, because the financial loss in the funds under management increases if many others try to sell their securities before them.
Consequently, they might become increasingly nervous the longer monetary policymakers try to maintain the low-interest-rate policy. This, in turn, could raise the probability of a sudden hike in risk premiums, the longer forward guidance is in place and the more aggressively quantitative easing is pursued. Monetary policymakers have to take this into account in order to avoid unintended consequences.
But it is not only the behaviour of asset managers that is relevant to monetary policy. The crisis has reminded us that financial exuberance, too, is potentially a harbinger of unstable consumer prices. But this does not mean that monetary policy is the way to go in terms of pre-empting financial instability as well.
Tinbergen's timeless insight continues to apply: to reach each policy goal reliably, at least one separate instrument is needed for each policy area. The crisis has therefore spawned a whole new set of instruments - macroprudential policies - designed to target specific sectors of the financial system. Rather than focusing on individual financial institutions, macroprudential policies that seek to prevent exuberance in entire financial sectors can take systemic interdependencies into account.
What is a treasure trove for researchers - the host of questions surrounding the functioning of the new set of instruments - is tricky terrain for policymakers, and for central bankers in particular. Shedding light on the use and effectiveness of different macroprudential instruments therefore remains an eminent task of economic research, and I am positive this conference will provide a valuable contribution.
Does this mean that monetary policymakers can ignore the financial stability implications of their actions? I don't think so. While I am not in favour of a dual monetary policy mandate, I am convinced that monetary policy cannot stand on the sidelines when financial imbalances build up.
First, we cannot be sure that macroprudential policies will eliminate financial imbalances. The experience with macroprudential instruments is still limited, and the toolkit is still incomplete.
Second, the crisis has vividly demonstrated how financial instability affects inflation developments and the capacity of the central bank to safeguard price stability. Therefore, monetary policy would be wise to take the implications of financial imbalances for price stability into account.
As a first line of defence, however, it is financial regulation that has to bear the brunt of the financial stability burden. With regard to traditional microprudential regulation, the direction for reform seems clear: realigning risk and reward in a way that sets incentives for sustainable action. Privatising gains and socialising losses is not only socially corrosive: it also produces bad economic results, as financial actors are encouraged to take on excessive risks.
A cornerstone of the international efforts to ensure the resolvability of systemic banks is the standard for bail-in debt, the so called Total Loss Absorbing Capacity (TLAC). It requires those banks to hold a minimum of debt that can absorb losses in the case of a bank resolution. This shields the taxpayer from footing the bill.
Europe already has a bail-in standard of its own, the so called minimum requirements on eligible liabilities (MREL). For efficiency and financial stability purposes, one could argue that TLAC and MREL should be as similar as justifiable.
Systemically relevant banks pose a special challenge when it comes to resolving them without creating substantial repercussions for the wider financial system. For that reason, the Single Resolution Fund exists. When resolving a systemic bank, the Single Resolution Board, which is the relevant European authority, can draw on the resources of this fund - but only after at least 8 % of the banks' liabilities have been bailed in. It seems therefore sensible that MREL for systemically important banks is guided by this threshold.
When it comes to bailing in creditors, the fear of contagion is probably the most important reason for refraining from doing so. Naturally, contagion risk is high when the creditors who are to be bailed in are banks themselves. Currently, the MREL standards do not discourage banks from holding another institution's bail-in debt. In the interests of financial stability, this has to change.
3. Fiscal and financial policy
The importance of realigning risk and return has come to the fore with regard to yet another issue: the research of Todd Walker and of Sascha Steffen and Joseph Korte2 - both works will be presented at this conference - are examples of a growing body of scientific evidence that the zero-risk weighting of sovereign debt distorts capital allocation and therefore acts as a drag on growth. The absence of exposure limits also encourages loading up on sovereign debt, potentially creating cluster risks that can pose a threat to financial stability as well.
The research is there; what is needed now are political results. The regulation of sovereign exposures is under discussion at both the European and the Basel level. And while progress at both levels is desirable, it is particularly urgent in the euro area.
In contrast to other jurisdictions, the Eurosystem is forbidden to act as a lender of last resort for governments. Such a function would be tantamount to mutualising sovereign risk, which would be incompatible with the decentralised Maastricht framework. The risk profile of euro-area sovereign debt is therefore different.
Doing away with sovereign debt as a cluster risk would also pave the way for the orderly restructuring of sovereign debt. If necessary, an orderly restructuring would be possible without endangering the stability of the overall financial system - and this would be good not only for euro-area countries but for other countries, too. In this case, financial risks would be borne by those who took them: the private investors. But an orderly restructuring of sovereign debt is not the only way in which financial market participants can be involved in bearing fiscal risks in a structured way.
A recent initiative by the Bank of England is pushing for the introduction of standardised GDP-linked bonds. By tying coupon payments, and potentially the principal as well, to a country's growth rate, investors share both the upside and the downside risk of a country's economic development. That way, a country can potentially retain fiscal space even when faced with adverse economic events. GDP-linked bonds exhibit equity-like features, which of course gives rise to questions as well.
How would a financial system cope with the fact that sovereign debt would cease to exist as a "safe asset"? How many investors would be interested in GDP-linked bonds and, leading on from there, how would a GDP-linked bond be priced? These are the questions that need to be answered before GDP-linked bonds can ever become a widespread vehicle for transferring fiscal risks - upside as well as downside ones - to private investors. But it is an avenue worth exploring.
Limiting fiscal risks, however, should be the first line of defence. An effective mechanism to achieve this aim would be to pursue a sound fiscal policy. This would also help to plug a constant source of uncertainty, at least in the euro area. As Eickmeier, Metiu and Prieto3 show, this might help to increase the effectiveness of monetary policy as well. When uncertainty is reduced, actors behave in a less risk-averse manner, which heightens responsiveness to monetary policy impulses.
The benefits of pursuing sound policies in a particular area are therefore not confined to that area, but extend to other policy areas as well. Triggering a virtuous cycle of sound monetary, fiscal and financial policies therefore seems like the surest and fastest way to resolve the conundrum the euro area faces right now.
The euro area still has a long way to go, especially with regard to fiscal policy. Unfortunately, the spill-over from monetary policy - savings through lower interest expenses - has not been used as much as it could to press ahead with improving public budgets.
4. Conclusion
Ladies and gentlemen
Macroeconomic stability is multidimensional, and this is essentially what this year's Spring Conference seeks to capture. While sound policies have to be pursued in each area to safeguard overall economic stability, the benefits of pursuing a sound policy spill over to other areas as well.
A virtuous circle of sound monetary, financial and fiscal policies is without doubt an enticing prospect, not only for the euro area, and I am confident this conference can enrich our understanding of how to make it happen.
I wish us all an exciting conference.

1 See Stephen Morris and Hyun Song Shin (2015), Risk Premium Shifts and Monetary Policy: A Coordination Approach, Princeton University - William S Dietrich II Economic Theory Center Research Paper No 075_2016, 2015.
2 Korte, J, and S Steffen (2014), "Zero Risk Contagion - Banks' Sovereign Exposure and Sovereign Risk Spillovers", Working Paper.
3 Sandra Eickmeier, Norbert Metiu and Esteban Prieto (2016), "Time-varying volatility, financial intermediation and monetary policy", IWH Discussion Papers No. 19/2016.

Versão PDF: http://www.bis.org/review/r160610e.pdf

Sobre a Revolucao industrial - David Landes e Ludwig von Mises

Recebo, hoje, um comentário a uma resenha minha (de 2005) do livro de David Landes sobre a revolução industrial, Unbound Prometheus, que prefiro ao título brasileiro Prometeu Desacorrentado. Está aqui, nesta postagem de 31/01/2012:
 http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2012/01/revolucao-industrial-por-seu-mais.html
Quando fui ver, havia um outro comentário, também da mesma época, feito pelo

Eduardo Rodrigues, Rio

4 anos atrás
Paulo, obrigado por mais esse artigo. Ofereço-lhe um texto sobre o mesmo assunto escrito por um gigante. -- Fatos e mitos sobre a "Revolução Industrial" --, por Ludwig von Mises http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1056

remetendo a esse artigo do Ludwig von Mises, que transcrevo aqui:

Fatos e mitos sobre a "Revolução Industrial"
Instituto Ludwig von Mises Brasil, terça-feira, 1 de janeiro de 2013



Industrial.jpgAutores socialistas e intervencionistas costumam dizer que a história do industrialismo moderno, e especialmente a história da "Revolução Industrial" na Inglaterra, constitui uma evidência empírica da procedência da doutrina denominada "realista" ou "institucional", e refuta inteiramente o dogmatismo "abstrato dos economistas".[1] Os economistas negam categoricamente que os sindicatos e a legislação trabalhista possam e tenham beneficiado a classe dos assalariados e elevado o seu padrão de vida de forma duradoura.  Porém, dizem os antieconomistas, os fatos refutaram essas ideias capciosas.
Segundo eles, os governantes e legisladores que regulamentaram as relações trabalhistas revelaram possuir uma melhor percepção da realidade do que os economistas.  Enquanto a filosofia do laissez-faire, sem piedade nem compaixão, pregava que o sofrimento das massas era inevitável, o bom senso dos leigos em economia conseguia terminar com os piores excessos dos empresários ávidos de lucro.  A melhoria da situação dos trabalhadores se deve, pensam eles, inteiramente à intervenção dos governos e à pressão sindical.
São essas ideias que impregnam a maior parte dos estudos históricos que tratam da evolução do industrialismo moderno.  Os autores começam esboçando uma imagem idílica das condições prevalecentes no período que antecedeu a "Revolução Industrial". Naquele tempo, dizem eles, as coisas eram, de maneira geral, satisfatórias.  Os camponeses eram felizes.  Os artesãos também o eram, com a sua produção doméstica; trabalhavam nos seus chalés e gozavam de certa independência, uma vez que possuíam um pedaço de jardim e suas próprias ferramentas.  Mas, aí, "a Revolução Industrial caiu como uma guerra ou uma praga" sobre essas pessoas.[2]  O sistema fabril transformou o trabalhador livre em virtual escravo; reduziu o seu padrão de vida ao mínimo de sobrevivência; abarrotando as fábricas com mulheres e crianças, destruiu a vida familiar e solapou as fundações da sociedade, da moralidade e da saúde pública.  Uma pequena minoria de exploradores impiedosos conseguiu habilmente subjugar a imensa maioria.
A verdade é que as condições no período que antecedeu à Revolução Industrial eram bastante insatisfatórias.  O sistema social tradicional não era suficientemente elástico para atender às necessidades de uma população em contínuo crescimento.  Nem a agricultura nem as guildas conseguiam absorver a mão de obra adicional.  A vida mercantil estava impregnada de privilégios e monopólios; seus instrumentos institucionais eram as licenças e as cartas patentes; sua filosofia era a restrição e a proibição de competição, tanto interna como externa.
O número de pessoas à margem do rígido sistema paternalista de tutela governamental cresceu rapidamente; eram virtualmente párias.  A maior parte delas vivia, apática e miseravelmente, das migalhas que caíam das mesas das castas privilegiadas.  Na época da colheita, ganhavam uma ninharia por um trabalho ocasional nas fazendas; no mais, dependiam da caridade privada e da assistência pública municipal.  Milhares dos mais vigorosos jovens desse estrato social alistavam-se no exército ou na marinha de Sua Majestade; muitos deles morriam ou voltavam mutilados dos combates; muitos mais morriam, sem glória, em virtude da dureza de uma bárbara disciplina, de doenças tropicais e de sífilis.[3]
Milhares de outros, os mais audaciosos e mais brutais, infestavam o país vivendo como vagabundos, mendigos, andarilhos, ladrões e prostitutos.  As autoridades não sabiam o que fazer com esses indivíduos, a não ser interná-los em asilos ou casas de correção.  O apoio que o governo dava ao preconceito popular contra a introdução de novas invenções e de dispositivos que economizassem trabalho dificultava as coisas ainda mais.
O sistema fabril desenvolveu-se, tendo de lutar incessantemente contra inúmeros obstáculos.  Teve de combater o preconceito popular, os velhos costumes tradicionais, as normas e regulamentos vigentes, a má vontade das autoridades, os interesses estabelecidos dos grupos privilegiados, a inveja das guildas.  O capital fixo das firmas individuais era insuficiente, a obtenção de crédito extremamente difícil e cara.  Faltava experiência tecnológica e comercial.  A maior parte dos proprietários de fábricas foi à bancarrota; comparativamente, foram poucos os bem-sucedidos.  Os lucros, às vezes, eram consideráveis, mas as perdas também o eram.  Foram necessárias muitas décadas para que se estabelecesse o costume de reinvestir a maior parte dos lucros e a consequente acumulação de capital possibilitasse a produção em maior escala.
A prosperidade das fábricas, apesar de todos esses entraves, pode ser atribuída a duas razões.  Em primeiro lugar, aos ensinamentos da nova filosofia social que os economistas começavam a explicar e que demolia o prestígio do mercantilismo, do paternalismo e do restricionismo.  A crença supersticiosa de que os equipamentos e processos economizadores de mão de obra causavam desemprego e condenavam as pessoas ao empobrecimento foi amplamente refutada.  Os economistas do laissez-faire foram os pioneiros do progresso tecnológico sem precedentes dos últimos duzentos anos.
Um segundo fator contribuiu para enfraquecer a oposição às inovações.  As fábricas aliviaram as autoridades e a aristocracia rural de um embaraçoso problema que estas já não tinham como resolver.  As novas instalações fabris proporcionavam trabalho às massas pobres que, dessa maneira, podiam ganhar seu sustento; esvaziaram os asilos, as casas de correção e as prisões.  Converteram mendigos famintos em pessoas capazes de ganhar o seu próprio pão.[4]
Os proprietários das fábricas não tinham poderes para obrigar ninguém a aceitar um emprego nas suas empresas. Podiam apenas contratar pessoas que quisessem trabalhar pelos salários que lhes eram oferecidos.  Mesmo que esses salários fossem baixos, eram ainda assim muito mais do que aqueles indigentes poderiam ganhar em qualquer outro lugar.  É uma distorção dos fatos dizer que as fábricas arrancaram as donas de casa de seus lares ou as crianças de seus brinquedos.  Essas mulheres não tinham como alimentar os seus filhos.  Essas crianças estavam carentes e famintas.  Seu único refúgio era a fábrica; salvou-as, no estrito senso do termo, de morrer de fome.
É deplorável que tal situação existisse.  Mas, se quisermos culpar os responsáveis, não devemos acusar os proprietários das fábricas, que — certamente movidos pelo egoísmo e não pelo altruísmo — fizeram todo o possível para erradicá-la.  O que causava esses males era a ordem econômica do período pré-capitalista, a ordem daquilo que, pelo que se infere da leitura das obras destes historiadores, eram os "bons velhos tempos".
Nas primeiras décadas da Revolução Industrial, o padrão de vida dos operários das fábricas era escandalosamente baixo em comparação com as condições de seus contemporâneos das classes superiores ou com as condições atuais do operariado industrial.  A jornada de trabalho era longa, as condições sanitárias dos locais de trabalho eram deploráveis.
A capacidade de trabalho do indivíduo se esgotava rapidamente.  Mas prevalece o fato de que, para o excedente populacional — reduzido à mais triste miséria pela apropriação das terras rurais, e para o qual, literalmente, não havia espaço no contexto do sistema de produção vigente —, o trabalho nas fábricas representava uma salvação. Representava uma possibilidade de melhorar o seu padrão de vida, razão pela qual as pessoas afluíram em massa, a fim de aproveitar a oportunidade que lhes era oferecida pelas novas instalações industriais.
A ideologia do laissez-faire e sua consequência, a "Revolução Industrial", destruíram as barreiras ideológicas e institucionais que impediam o progresso e o bem-estar.  Demoliram a ordem social na qual um número cada vez maior de pessoas estava condenado a uma pobreza e a uma penúria humilhantes.  A produção artesanal das épocas anteriores abastecia quase que exclusivamente os mais ricos.  Sua expansão estava limitada pelo volume de produtos de luxo que o estrato mais rico da população pudesse comprar.  Quem não estivesse engajado na produção de bens primários só poderia ganhar a vida se as classes superiores estivessem dispostas a utilizar os seus serviços ou o seu talento.  Mas eis que surge um novo princípio: com o sistema fabril, tinha início um novo modo de comercialização e de produção.
Sua característica principal consistia no fato de que os artigos produzidos não se destinavam apenas ao consumo dos mais abastados, mas ao consumo daqueles cujo papel como consumidores era, até então, insignificante. Coisas baratas, ao alcance do maior número possível de pessoas, era o objetivo do sistema fabril.  A indústria típica dos primeiros tempos da Revolução Industrial era a tecelagem de algodão.  Ora, os artigos de algodão não se destinavam aos mais abastados.  Os ricos preferiam a seda, o linho, a cambraia.  Sempre que a fábrica, com os seus métodos de produção mecanizada, invadia um novo setor de produção, começava fabricando artigos baratos para consumo das massas.  As fábricas só se voltaram para a produção de artigos mais refinados, e portanto mais caros, em um estágio posterior, quando a melhoria sem precedentes no padrão de vida das massas tornou viável a aplicação dos métodos de produção em massa também aos artigos melhores.
Assim, por exemplo, os sapatos fabricados em série eram comprados apenas pelos "proletários", enquanto os consumidores mais ricos continuavam a encomendar sapatos sob medida.  As tão malfaladas fábricas que exploravam os trabalhadores, exigindo-lhes trabalho excessivo e pagando-lhes salário de fome, não produziam roupas para os ricos, mas para pessoas cujos recursos eram modestos.  Os homens e mulheres elegantes preferiam, e ainda preferem, ternos e vestidos feitos pelo alfaiate e pela costureira.
O fato marcante da Revolução Industrial foi o de ela ter iniciado uma era de produção em massa para atender às necessidades das massas.  Os assalariados já não são mais pessoas trabalhando exaustivamente para proporcionar o bem-estar de outras pessoas; são eles mesmos os maiores consumidores dos produtos que as fábricas produzem.  A grande empresa depende do consumo de massa.  Em um livre mercado, não há uma só grande empresa que não atenda aos desejos das massas.  A própria essência da atividade empresarial capitalista é a de prover para o homem comum.  Na qualidade de consumidor, o homem comum é o soberano que, ao comprar ou ao se abster de comprar, decide os rumos da atividade empresarial.  Na economia de mercado não há outro meio de adquirir e preservar a riqueza, a não ser fornecendo às massas o que elas querem, da maneira melhor e mais barata possível.
Ofuscados por seus preconceitos, muitos historiadores e escritores não chegam a perceber esse fato fundamental.  Segundo eles, os assalariados labutam arduamente em benefício de outras pessoas.  Nunca questionaram quem são essas "outras" pessoas.
O Sr. e a Sra. Hammond [citados na nota de referência número 2] nos dizem que os trabalhadores eram mais felizes em 1760 do que em 1830.[5]  Trata-se de um julgamento de valor arbitrário.  Não há meio de comparar e medir a felicidade de pessoas diferentes, nem da mesma pessoa em momentos diferentes.
Podemos admitir, só para argumentar, que um indivíduo nascido em 1740 estivesse mais feliz em 1760 do que em 1830.  Mas não nos esqueçamos de que em 1770 (segundo estimativa de Arthur Young) a Inglaterra tinha 8,5 milhões de habitantes, ao passo que em 1830 (segundo o recenseamento) a população era de 16 milhões.[6]  Esse aumento notável se deve principalmente à Revolução Industrial.  Em relação a esses milhões de ingleses adicionais, as afirmativas dos eminentes historiadores só podem ser aprovadas por aqueles que endossam os melancólicos versos de Sófocles: "Não ter nascido é, sem dúvida, o melhor; mas para o homem que chega a ver a luz do dia, o melhor mesmo é voltar rapidamente ao lugar de onde veio".
Os primeiros industriais foram, em sua maioria, homens oriundos da mesma classe social que os seus operários. Viviam muito modestamente, gastavam no consumo familiar apenas uma parte dos seus ganhos e reinvestiam o resto no seu negócio.  Mas, à medida que os empresários enriqueciam, seus filhos começaram a frequentar os círculos da classe dominante.  Os cavalheiros de alta linhagem invejavam a riqueza dos novos-ricos e se indignavam com a simpatia que estes devotavam às reformas que estavam ocorrendo.  Revidaram investigando as condições morais e materiais de trabalho nas fábricas e editando a legislação trabalhista.
A história do capitalismo na Inglaterra, assim como em todos os outros países capitalistas, é o registro de uma tendência incessante de melhoria do padrão de vida dos assalariados.  Essa evolução coincidiu, por um lado, com o desenvolvimento da legislação trabalhista e com a difusão do sindicalismo, e, por outro, com o aumento da produtividade marginal.  Os economistas afirmam que a melhoria nas condições materiais dos trabalhadores se deve ao aumento da quota de capital investido per capita e ao progresso tecnológico decorrente desse capital adicional.  A legislação trabalhista e a pressão sindical, na medida em que não impunham a concessão de vantagens superiores àquelas que os trabalhadores teriam de qualquer maneira, em virtude de a acumulação de capital se processar em ritmo maior do que o aumento populacional, eram supérfluas.  Na medida em que ultrapassaram esses limites, foram danosas aos interesses das massas.  Atrasaram a acumulação de capital, diminuindo assim o ritmo de crescimento da produtividade marginal e dos salários.  Privilegiaram alguns grupos de assalariados às custas de outros grupos.  Criaram o desemprego em grande escala e diminuíram a quantidade de produtos que os trabalhadores, como consumidores, teriam à sua disposição.
Os defensores da intervenção do governo na economia e do sindicalismo atribuem toda melhoria da situação dos trabalhadores às ações dos governos e dos sindicatos.  Se não fosse por isso, dizem eles, o padrão de vida atual dos trabalhadores não seria maior do que nos primeiros anos da Revolução Industrial.
Certamente essa controvérsia não pode ser resolvida pela simples recorrência à experiência histórica.  Os dois grupos não têm divergências quanto a quais tenham sido os fatos ocorridos.  Seu antagonismo diz respeito à interpretação desses fatos, e essa interpretação depende da teoria escolhida.  As considerações de natureza lógica ou epistemológica que determinam a correção ou a falsidade de uma teoria são, lógica e temporalmente, antecedentes à elucidação do problema histórico em questão.  Os fatos históricos, por si só, não provam nem refutam uma teoria.  Precisam ser interpretados à luz da compreensão teórica.
A maioria dos autores que escreveu sobre a história das condições de trabalho no sistema capitalista era ignorante em economia e disso se vangloriava.  Entretanto, tal desprezo por um raciocínio econômico bem fundado não significa que esses autores tenham abordado o tema dos seus estudos sem preconceitos e sem preferência por uma determinada teoria; na realidade, estavam sendo guiados pelas falácias tão difundidas que atribuem onipotência ao governo e consideram a atividade sindical como uma bênção.  Ninguém pode negar que os Webbs, assim como Lujo Brentano e uma legião de outros autores menores, estavam, desde o início de seus estudos, imbuídos de uma aversão fanática pela economia de mercado e de uma entusiástica admiração pelas doutrinas socialistas e intervencionistas.  Foram certamente honestos e sinceros nas suas convicções e deram o melhor de si.  Sua sinceridade e probidade podem eximi-los como indivíduos; mas não os eximem como historiadores.  As intenções de um historiador, por mais puras que sejam, não justificam a adoção de doutrinas falaciosas.  O primeiro dever de um historiador é o de examinar com o maior rigor todas as doutrinas a que recorrerá para elaborar suas interpretações históricas.  Caso ele se furte a fazê-lo e adote ingenuamente as ideias deformadas e confusas que têm grande aceitação popular, deixa de ser um historiador e passa a ser um apologista e um propagandista.
O antagonismo entre esses dois pontos de vista contrários não é apenas um problema histórico: está intimamente ligado aos problemas mais candentes da atualidade.  É a razão da controvérsia naquilo que se denomina hoje de relações industriais.
Salientemos apenas um aspecto da questão: em vastas regiões — Ásia Oriental, Índias Orientais, sul e sudeste da Europa, América Latina — a influência do capitalismo moderno é apenas superficial.  A situação nesses países, de uma maneira geral, não difere muito da que prevalecia na Inglaterra no início da "Revolução Industrial".  Existem milhões de pessoas que não encontram um lugar seguro no sistema econômico vigente.  Só a industrialização pode melhorar a sorte desses desafortunados; para isso, o que mais necessitam é de empresários e de capitalistas.
Como políticas insensatas privaram essas nações do benefício que a importação de capitais estrangeiros até então lhes proporcionava, precisam proceder à acumulação de capitais domésticos.  Precisam percorrer todos os estágios pelos quais a industrialização do Ocidente teve de passar.  Precisam começar com salários relativamente baixos e com longas jornadas de trabalho.  Mas, iludidos pelas doutrinas prevalecentes hoje em dia na Europa Ocidental e na América do Norte, seus dirigentes pensam que poderão consegui-lo de outra maneira.  Encorajam a pressão sindical e promovem uma legislação pretensamente favorável aos trabalhadores.  Seu radicalismo intervencionista mata no nascedouro a criação de uma indústria doméstica.  Seu dogmatismo obstinado tem como consequência a desgraça dos trabalhadores braçais indianos e chineses, dos peões mexicanos e de milhões de outras pessoas que se debatem desesperadamente para não morrer de fome.


[1] A atribuição da expressão "Revolução Industrial" ao período dos reinados dos dois últimos reis da casa de Hanover — George III e George IV (1760-1830) — resultou do desejo de dramatizar a história econômica, de maneira a ajustá-la aos esquemas marxistas procustianos.* A transição dos métodos medievais de produção para o sistema de livre iniciativa foi um processo longo que começou séculos antes de 1760 e que, mesmo na Inglaterra, em 1830, ainda não tinha terminado.  Entretanto, é verdade que o desenvolvimento industrial na Inglaterra acelerou-se bastante na segunda metade do século XVIII.  Consequentemente, é admissível usar a expressão "Revolução Industrial" ao se examinarem as conotações emocionais que lhe foram imputadas pelo fabianismo, pelo marxismo e pela Escola Historicista.
* Relativo a Procusto, gigante salteador da Ática que, segundo a mitologia grega, despojava viajantes e torturava-os deitando-os num leito de ferro: se a vítima fosse maior, cortava-lhe os pés; se menor, esticava-a por meio de cordas até que atingisse as dimensões do leito. O termo serve para metaforizar o ato de se tentar ajustar arbitrariamente a realidade a um sistema ou teoria previamente concebidos. (N.T.)
[2] J.L. Hammond and Barbara Hammond, The Skilled Labourer, 1760-1832, 2. ed., Londres, 1920, p. 4.

[3] Na guerra dos Sete Anos, 1.512 marinheiros ingleses morreram em combate, enquanto 133.708 morreram de doenças ou desapareceram. Ver W.L.Dorn, Competition for Empire 1740-1763, Nova York, 1940, p.114.

[4] No sistema feudal inglês, a maior parte da área rural constituía-se de campos e florestas. Grande parte dessas áreas era utilizada para o cultivo de grãos e criação de gado para consumo próprio. Com o advento da produção agrícola para o mercado e não para o senhor feudal, essas terras começaram a ser cercadas e apropriadas.  Diversos atos do Parlamento, no século XVIII e parte do século XIX, endossaram esse movimento, que tinha oposição das classes inferiores.  Tal situação resultou num aumento da produção agrícola e na criação de um proletariado rural, que veio a se tornar a força de trabalho usada pelas fábricas inglesas na "Revolução Industrial".

[5] J.L. Hammond e Barbara Hammond, op. cit.

[6] F.C. Dietz, An Economic History of England, Nova York, 1942, p. 279 e 392.

Ludwig von Mises  foi o reconhecido líder da Escola Austríaca de pensamento econômico, um prodigioso originador na teoria econômica e um autor prolífico.  Os escritos e palestras de Mises abarcavam teoria econômica, história, epistemologia, governo e filosofia política.  Suas contribuições à teoria econômica incluem elucidações importantes sobre a teoria quantitativa de moeda, a teoria dos ciclos econômicos, a integração da teoria monetária à teoria econômica geral, e uma demonstração de que o socialismo necessariamente é insustentável, pois é incapaz de resolver o problema do cálculo econômico.  Mises foi o primeiro estudioso a reconhecer que a economia faz parte de uma ciência maior dentro da ação humana, uma ciência que Mises chamou de "praxeologia".

Thomas Skidmore: um gigante do brasilianismo academico - David V. Fleischer


Brazil Focus David Fleischer
Special Report   June 12 2016

Thomas E. Skidmore

 

Troy, Ohio (22 July 1932) - Westerly, RI (11 June 2016)



            Prof. Thomas E. Skidmore was a “giant” among American Brazilianists.  He was born in Troy, Ohio on July 22, 1932, but when he was six months old his family moved to Cincinnati where he grew up and completed Wyoming High School.  In 1954, he completed his BA at Denison University, majoring in Political Science and Philosophy.  He received a Fulbright Scholarship to study at Magdalen College, Oxford University where he completed a second BA in Philosophy, Politics and Economics (1956) and his MA (1959).  While at Oxford, Skidmore met his future wife, Felicity – who was employed at The Urban Institute Press in Washington, DC after they left Madison, Wisconsin in 1986.

         He received his Ph.D. from Harvard University (1960) with a dissertation on The Chancellorship of Caprivi: A Constitutional Study.  In the wake of the Cuban Revolution, Harvard awarded Skidmore a three-year post-doctoral fellowship to study the Latin American country of his choice and he chose Brazil.  Tom quipped – “I am one of Castro’s sons”.  This three-year period ended with the Brazilian military coup that toppled Pres. João Goulart on 31st March 1964.  The product of this research was a seminal book on Brazil – Politics in Brazil (1930-64): An Experiment in Democracy. (1967). The Brazilian translation was Brasil - De Getúlio [Vargas] a Castelo [Branco].  This book became required reading for students of Brazil and I read this work in my graduate courses at the University of Florida (Latin American Politics and Brazilian Politics) in the late 1960s.

         In 1966, Tom Skidmore joined the faculty at the University of Wisconsin in Madison with a major role in its Latin American Studies Program and edited the Luso-Brazilian Review.  In the late 1960s and 1970s, the university housed the Land Tenure Center that studied the problems of land ownership in Latin America.  Also, the SDS-Students for a Democratic Society was born at UW-Madison. 

         I first met Tom in June 1969 when I participated in a conference at the University of Wisconsin.  He graciously invited me to his house and we chatted about Brazil for some two hours.  I was on my way to Brazil to conduct field research for my doctoral dissertation based at the DCP-UFMG (1969-1971).  Since then, we met on many occasions and maintained a long and productive relationship.

         After 20 years in Madison, in 1986, he moved to Brown University in Providence, RI as the Carlos Manuel de Céspedes Professor of Modern Latin American History and Professor of Portuguese and Brazilian Studies.  He was Director of Brown’s Center for Latin American Studies until he retired in 1999.  After Fernando Henrique Cardoso left the Presidency of Brazil in 2003, he spent five years at Brown as a senior visiting scholar attached to the Watson Institute.  In 1989, I visited Brown University at the invitation of Tom Skidmore and prior to my presentation, he asked the audience if I should speak in English or Portuguese.  Some 2 or 3 persons said “English” – so my talk was in that language.

         Skidmore became a very well known academic in Brazil.  In 1988, he published his “sequel” on Brazilian Politics – The Politics of Military Rule in Brazil: 1964-1985 (Oxford University Press) reviewing the 21-year military regime.  The Brazilian translation was Brasil: de Castelo a Tancredo, Paz e Terra.

         Tom was a very active founding member of LASA-Latin American Studies Assn. – a member of the LASA Executive Board (1968-1973) and President (1972-1973).  He was also a founder of BRASA-Brazilian Studies Assn. in 1994. During the 8th International BRASA Conference at Vanderbilt University in October 2006, he received the BRASA Lifetime Contribution Award – complete with a video of his life, his accomplishments, and contribution to Brazilian Studies.     


         He was very active in organizing academic opposition to Brazil’s military regime.  In 1970 (anos de chumbo) along with three other prominent brazilianists, he drafted an open letter condemning the imprisonment of leading Marxist historian Caio Prado Junior.  He also sponsored a LASA resolution condemning the military regime’s systematic repression of Brazilian academics.  As a result, the Brazilian government denied him a research visa to teach a seminar at UNICAMP in the summer of 1970.  In the late 1970s and early 1980s – the distensão/abertura final stage of the military regime – Skidmore was granted visas to visit Brazil.  Several times he visited our University of Brasília and lectured to students and faculty.  In 1984, he participated in the Roda Viva TV interview program where he criticized the military government.  As a result, when he reached Salvador he was taken to the Federal Police HQ where officers read the “Foreigners Law” to him and explained that any repetition of such comments would result in his expulsion from Brazil.  These charges were later dropped after many academics, politicians and journalists came to his defense.

         Later Roda Viva interviews can be viewed here:







         While visiting one of his three sons in Chicago, their car was hit broadside by another car that ran a red light and Tom suffered serious injuries – broken hip, leg and arm and spent several weeks in hospital.  As a result, his mobility was impaired and he was in a wheelchair and later used a cane.      

         Skidmore also published other important books on Brazil and Latin America è Black into White: Race and Nationality in Brazilian Thought (1870-1930), Oxford, 1974; Brazil: Five Centuries of Change, Oxford, 1999; O Brasil Visto de Fora, Paz e Terra, 2000, Television, Politics, and the Transition to Democracy in Latin America, Johns Hopkins, 1993 (ed.); and Modern Latin America (with Peter H. Smith & James Green), Oxford, 1984. 

         Because he was suffering from Alzheimer’s disease, in 2009, Thomas Skidmore was transferred to an assisted care facility in Westerly, RI where he died on 11th June 2016 after suffering a heart attack on 9th June.  He was 83.